sexta-feira, 20 de setembro de 2019

O CELIBATO SACERDOTAL - PAPA PAULO VI - ( II )

SIGNIFICADO ECLESIOLÓGICO DO CELIBATO

   "Preso por Cristo Jesus" (Fil. III, 12) até ao abandono total de si mesmo a Ele, o sacerdote configura-se mais perfeitamente a Cristo, também no amor com que o Eterno Sacerdote amou a Igreja  Seu Corpo, oferecendo-se inteiramente por ela, para a tornar Esposa sua, gloriosa, santa e imaculada (cf. Ef. V, 25-27). A virgindade consagrada dos sacerdotes manifesta, de fato, o amor virginal de Cristo para com a Igreja e a fecundidade virginal e sobrenatural desta união em que os filhos de Deus não são gerados pela carne e pelo sangue (S. Jo. I, 13).
   O sacerdote, dedicando-se ao serviço do Senhor Jesus e do Seu Corpo Místico, em plena liberdade, facilitada pela sua oferta total, realiza, de modo mais completo, a unidade e a harmonia da vida sacerdotal; torna-se mais capaz de ouvir a Palavra de Deus e de se entregar à oração. Na verdade a palavra de Deus, conservada pela Igreja, deixa na alma do sacerdote, que diariamente a medita, vive, e anuncia, os ecos mais vibrantes e mais profundos.
   Deste modo, como Cristo, aplicado total e exclusivamente às coisas de Deus e da Igreja (cf. S. Luc. II, 49; 1 Cor.VII, 32) , o ministro do Senhor, à imitação do Sumo Sacerdote sempre vivo na presença de Deus a interceder por nós (Hebr. IX, 24 e VII, 25), encontra na recitação devota e atenta do Ofício Divino (Breviário) - na qual empresta a sua voz à Igreja que ora em união com o Seu Esposo - alegria e impulso incessantes e sente necessidade de ser mais assíduo na oração, dever eminentemente sacerdotal( Atos, VI, 2).
   E tudo o mais quanto forma a vida do sacerdote, adquire maior plenitude de significado e de eficácia santificadora. Com efeito, o seu compromisso especial de santificação encontra novos incentivos no ministério da graça e no da Eucaristia, em que está encerrado todo o bem da Igreja: operando em nome de Cristo, o sacerdote une-se mais intimamente à oferta, colocando sobre o altar a sua vida inteira, marcada com sinais de holocausto.
  Quantas considerações poderíamos acrescentar ainda sobre o aumento de capacidade, de serviço, de amor e sacrifício! Cristo disse de si mesmo: "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só; mas, se morrer, dará muito fruto". (S. Jo. XII, 24); e o Apóstolo São Paulo não hesitava em expor-se à morte de todos os dias, para possuir nos seus fiéis a glória em Cristo Jesus (1Cor. XV, 31). Assim o sacerdote, na morte cotidiana de toda a sua pessoa, na renúncia ao amor legítimo a uma família própria, por amor de Jesus e do Seu Reino, encontrará a glória duma vida em Cristo pleníssima e fecunda, porque, como Ele e n'Ele, ama e se entrega a todos os filhos de Deus.
   Na comunidade dos fiéis confiados aos seus cuidados, o sacerdote é Cristo presente; daqui a suma conveniência de que ele reproduza em tudo a imagem de Cristo e lhe siga o exemplo, tanto na vida íntima como na vida do próprio ministério. Para os seus filhos em Cristo, é o sacerdote sinal e penhor das realidades sublimes e novas do reino de Deus, das quais é distribuidor, possuindo-as em si no grau mais perfeito e alimentando a fé e a esperança de todos os cristãos, que, como tais, são obrigados à observância da castidade segundo o próprio estado.
   A consagração a Cristo, em virtude dum título novo e excelso como é o celibato, concede, além disso, ao sacerdote, mesmo no campo prático como é evidente, a máxima eficiência e a melhor aptidão psicológica e afetiva para o exercício contínuo daquela caridade perfeita que lhe permitirá, de maneira mais ampla e concreta, dar-se todo para o bem de todos (2 Cor. XII, 15), e garante-lhe, como é óbvio, maior liberdade e disponibilidade no ministério pastoral, na sua ativa e amorosa presença no mundo, ao qual Jesus Cristo o enviou (S. Jo. XVII, 18), a fim de que ele pague inteiramente a todos os filhos de Deus a dívida que tem para com eles (Rom. I, 14). 

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