LEITURA ESPIRITUAL
OBJEÇÃO: Esta humildade excessiva, diz a maior parte das
pessoas do mundo, enerva a alma e tira-lhe toda a confiança em suas forças.
Acham que uma pessoa humilde seja sinônimo de uma pessoa deprimida, sem coragem
e energia.
RESPOSTA: Vamos provar que é precisamente o contrário que é
a verdade. Mas, antes permitam-me explicar melhor o principal móvel da
humildade em sumo grau. Além do amor à verdade e à justiça como motivadores da
suma humildade, quero, antes de refutar a objeção, explanar um pouco mais um
outro motivo poderoso, um atrativo irresistível que incita as almas grandes às
humilhações e desprezo: É O EXEMPLO DO DIVINO MESTRE.
Caríssimos, no Céu não podia o Verbo eterno humilhar-se; é
Filho de Deus, em tudo igual a seu Pai. Desce à terra, faz-se homem. Como
homem, é inferior, pode abater-se. Vede agora como abraça as humilhações e os
desprezos, como percorre todos os graus da abjeção e aniquilamento. Diz S.
Paulo: "Aniquilou-se a si mesmo,
tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e sendo reconhecido
por condição como homem. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte, e
morte de cruz" (Filipenses II, 7 e 8). Nasce num estábulo, passa sua
vida na oficina dum pobre carpinteiro; morre numa cruz, saturado de opróbrios e
afrontas... Que lição, que exemplo, que estímulo! No mundo afinal, não chega a
fascinar os mundanos a paixão por uma vil criatura, de quem o coração se
enamorou, até fazer-lhes amar seus defeitos, seus caprichos, até imitá-los?!
Não se impõem cada dia os sensuais peníveis sacrifícios para agradar a um ídolo
de barro?!
E não pode o amor divino arrebatar uma alma, e inspirar-lhe
transportes tão vivos, tão veementes como o amor profano? Não pode um cristão
inebriar-se tanto no amor do seu Salvador, que ache sua glória e sua dita em se
lhe assemelhar, em ser como Ele escarnecido e pisado?
"Fanatismo", dirá o mundo. Mas é que para ele a santa loucura da cruz é um mistério; ignora qual é o preço das humilhações, desde que o Homem-Deus as tomou por divisa.
"Devaneio!" insistirá o mundo.
"Fanatismo", dirá o mundo. Mas é que para ele a santa loucura da cruz é um mistério; ignora qual é o preço das humilhações, desde que o Homem-Deus as tomou por divisa.
"Devaneio!" insistirá o mundo.
Caríssimos, interrogai a maior parte das pessoas do mundo,
mesmo essas que se prezam de sábias e instruídas, e perguntai-lhes: O que é um
cristão humilde? Responder-vos-ão: É um homem que só tem aspirações rasteiras. Dizem
ainda: é um homem a quem a devoção destituiu de todo o sentimento da sua
dignidade, de toda coragem, de toda magnanimidade, isto é, de todas as energias
para grandes ações.
Eis aí como julga das coisas o mundo insensato! Pois, é
justamente o contrário que é a verdade. Conheceis um orgulhoso? Toda a sua aspiração
é distinguir-se, dar que falar de si [se desculpam dizendo que é para vencer o
respeito humano]. Para atingir seus fins, irá agora arrojar-se ante os grandes
da terra e adorar seus devaneios, logo adular ignobilmente a alguém que arvoram
em ídolo. O orgulhoso descerá às mais vis, às mais vergonhosas intrigas para
suplantar um êmulo e elevar-se em sua queda. Adorador de si mesmo, tendo estima
só por si, comprimiu-lhe o egoísmo seu coração, paralisou-lhe todas as potências
de sua alma. Debalde esperareis dele sacrifícios generosos em prol do bem
público. Joguete de suas paixões, adulador, escravo dos que dispõem das honras
e das riquezas, ou se desvanece nas fumaças do orgulho, ou se estira na lama.
Na verdade, só os humildes mantêm a dignidade da natureza
humana. Pois, na pessoa humilde nunca o conhecimento do seu nada e de sua
miséria está isolado do conhecimento das grandezas e bondades de Deus. É nada,
e de si mesmo nada tem; e assim todo bem que vê em si, reconhece ter recebido
de Deus. E sabe que Deus o criou para glória d'Ele, que lhe deu um nobre
destino, que por graça de sua misericórdia o admitiu à adoção de seus filhos.
Não andará à busca da aprovação duma vil criatura. Sabe que é nobre vassalagem
depender senão de Deus! Mas sabe que criado por Deus, deve reverter a Deus;
que, redimido pelo sangue de Jesus Cristo, tem o Céu como herança. Os humildes
deixam que os amadores da vaidade e da ilusão se fatiguem em demanda das
honras, das riquezas e prazeres. Eles puseram suas esperanças bem mais alto e
assim as comodidades sensuais mas efêmeras deste mundo, as pessoas humildes as
calcam aos pés; livram-se de todos os empecilhos que tolhem os vôos de seus corações nobres e
generosos. A alma dos humildes deixa a terra e voa em busca dos bens celestes e
imortais.
Caríssimos, basta compulsarmos a vida dos santos para
constatarmos a verdade do que acabamos de escrever. E só para indicar alguns
exemplos: Santo Agostinho, S. João Batista M. Vianney, S. Bernardo, S.
Francisco de Sales, S. Francisco de Assis, S. Vicente Ferrer, S. Francisco
Xavier, S. Vicente de Paulo, Santa Catarina de Sena etc. Não eram todos
humildes? Claro que sim, em sumo grau, do contrário não seriam os grandes
santos que foram. E, no entanto, que sublimidade em seus pensamentos, que
maravilhas no predomínio que exerceram em seus contemporâneos, quando se chega
ao conhecimento de seus imortais escritos, sermões, cartas e feitos caritativos e
apostólicos. Caríssimos, podemos estar certos que os santos acharam o princípio
de sua força e grandeza exatamente na virtude da mais alta humildade.
Enquanto o orgulho, enfatuando as almas de presunção e
vaidade, obceca o homem a tal ponto que coloca alguém ou a si mesmo como ídolo,
a humildade, fazendo-o curvar aos pés do Soberano Senhor, põe-no em via de
receber os mais preciosos dons do céu, a luz para conhecer, e a força para
operar. Somos nada, mas tudo podemos em Deus quando oramos com humildade. Tudo
podemos em Deus que dá sua graça aos humildes. Assim, nos erguemos do nosso pó,
tornando-nos de alguma sorte semelhantes a Deus, fortes de sua força, sábios
de sua sabedoria, onipotentes de sua onipotência. Ao contrário, Deus resiste ao soberbo e
abandona-o aos seus próprios recursos, isto é, ao seu nada, e todas as suas
obras são infecundas. Agora veio-me a mente um fato: quando se tratou de
escolher um candidato ao episcopado para conservação da Tradição em Campos,
dois dos nossos padres, foram perguntar a D. Antônio de Castro Mayer qual a sua
indicação e ele respondeu: "escolham a Monsenhor Licínio porque ele é
humilde".
Quando Jesus Cristo apareceu na terra, havia pelo mundo reis
e imperadores, não faltavam oradores afamados e profundos filósofos. Jesus
escolheu a estes? Não... bem outro foi o plano concebido pela Sabedoria eterna.
Escolheu pobres pescadores, rudes e alguns ignorantes. Ninguém os tinha em
consideração. Mas, eis aí, os instrumentos que se há mister nas mãos de Deus
para fazer coisas maravilhosas. Sua missão era nada menos que conquistar e mais
ainda reformar o mundo inteiro. E como o farão: sofrendo a fome, a sede, as
calúnias, as perseguições, as zombarias, os suplícios e a morte. E por que?
Para que os mais cegos não possam deixar de ver que não são os homens mas a mão
do Onipotente, que tudo fez. Ó sabedoria humana, que confia em seu pretensos
dotes e em seu dinheiro e renome, confunde-te! Quão diversos são os juízos de
Deus! Deus escolhe as coisas fracas para confundir os fortes!
Olhemos agora o outro lado da moeda considerando apenas um
exemplo: Martinho Lutero. Tal homem havia recebido do céu talentos raros, um
engenho muito grande; era dever seu fazer disto homenagem ao autor de todo dom
perfeito, pô-los ao serviço de Sua glória. Mas ele se maravilha de si mesmo,
atém-se às suas próprias forças e ideias. Mas, logo Deus se afastou dele; e eis
a razão que se abala das mais altas
regiões, cai e desmorona-se, de queda em queda, aos mais vergonhosos desvios,
aos mais incríveis delírios diabólicos. Deus rejeitou o orgulhoso!
Donde devemos concluir sem a menor sombra de dúvida: só os
humildes podem esperar de Deus ajuda, amparo e proteção. Só eles, portanto, são
capazes de efetuar coisas grandes na ordem sobrenatural e levantar monumentos
que sobrevivam às catástrofes dos impérios. Eles, na verdade, nada empreendem,
cônscios que estão de sua própria impotência, mas oram com humildade, pedem
luzes, pedem forças, e Deus sempre os atende. Deus inspira-lhes algum
pensamento para a glória Sua, e ei-los à obra com denodo; não há dificuldade
que os amedronte; é seu sentir que, a despeito do seu nada pecador, alentados
da força do alto, chegariam a revolver o universo. Não têm em vista nem estima
nem respeito. Estão conscientes de que toda a glória do bom êxito deve ser atribuída a Deus que é quem lhes dá a
luz e a força. E Deus reconhece aí a sua obra e por vezes se compraz de
sinalá-la com o selo da sua imortalidade. Assim entendemos o porquê de tantas
maravilhas operadas no Cristianismo por homens simples e desprezíveis no pensar
do mundo.
JESUS MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO! FAZEI O NOSSO CORAÇÃO
SEMELHANTE AO VOSSO! Amém!
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