domingo, 24 de dezembro de 2017

VIGÍLIA DO NATAL


NOTA: Quando o 4º Domingo do Advento coincide (como neste ano) com a Vigília do Santo Natal, celebra-se a Missa da Vigília  sem comemoração do Domingo.

Caríssimos, com a graça de Deus, vamos meditar sobre a VIAGEM A BELÉM. Vemos a sabedoria e bondade de Deus em ordenar esta viagem. O imperador César Augusto ordena o recenseamento de todos os seus súditos. Julga não trabalhar senão pela própria glória, e trabalha pela de Jesus Cristo, preparando provas da Sua divina missão. Para se realizarem as profecias, é necessário que o Messias nasça em Belém, que seja autenticamente reconhecido por filho de Davi. É necessário que Jesus entre neste mundo no estado mais humilde possível, pois vem fundar um reino espiritual que terá por alicerces a humildade, a paciência, a pobreza. Tudo está na mão de Deus. Ele faz concorrer tudo para o cumprimento de seus desígnios. A vaidade de Augusto contribuirá para isso, como a humildade de Maria Santíssima.

Que tesouros de merecimentos, que consolações vão achar Maria e José neste viagem tão penosa aos olhos dos homens!

Caríssimos, contemplemos a obediência e confiança de Maria Santíssima e S. José nesta viagem de Nazaré a Belém. Na verdade, os santos esposos tinham sólidas razões para se eximirem desta viagem ; mas seu amor à obediência não lhes permite ver senão a autoridade de Deus na do imperador. Partem. Preveem os trabalhos; mas a sua confiança é inalterável. Que tinham eles a temer? Maria levava em seu seio virginal o Senhor do universo. Nada é difícil quando Jesus está presente, tudo é bom!!!


Caríssimos, em breve Maria Santíssima vai dar-nos Jesus. Já se ouve um canto jubiloso. Só algumas horas nos separam de tão feliz vinda. Oh!  que grata não é para todos os cristãos a noite de Natal!

O AMOR DO CORAÇÃO DO MENINO DEUS NO PRESÉPIO

O Coração de Jesus se mostra amável em toda sua vida: em Belém, em Nazaré, na sua vida pública, na sua Paixão, na sua Ressurreição e Ascensão, na Santíssima Eucaristia e na glória do Céu! Em todos os mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo vemos brilhar de modo todo particular o AMOR. E tomamos o seu Coração como órgão símbolo deste amor. Na verdade foi o amor que fez Jesus nascer numa carne passível,  inspirou a obscuridade da Sua vida oculta, alimentou o zelo da Sua vida pública. No Calvário é por excesso dum amor sem medida que se entrega à morte por nós; se ressuscita é pelo amor afim de nos justificar: "Para nossa justificação" (Rom. IV, 25). Se sobe aos céus é o seu amor que O leva a preparar para nós um lugar, naquele Pátria de felicidade perfeita e eterna. É o Seu amor que nos envia o Divino Espírito Santo. E a Santíssima Eucaristia? São João diz tudo: "Tendo amado os seus que estavam neste mundo, amo-os até o fim". Caríssimos, todos estes mistérios têm a sua origem no amor; e o órgão e símbolo deste amor é o Seu Coração amabilíssimo.

Hoje vamos contemplá-Lo em Belém. Primeiramente, nos braços de Sua Mãe Santíssima, com o seu coraçãozinho já palpitando de amor por nós! Reclinado numa manjedoura sobre palha tiritando de frio por nosso amor. O Divino Infante olha para nós com doçura, estende para nós os seus bracinhos. Caríssimos, na verdade, como diz São Paulo: "Quando se manifestou a bondade de Deus nosso Salvador e o seu amor pelos homens, não pelas obras de justiça que tivéssemos feito, mas por sua misericórdia" (Tito, III, 4). O Deus Onipotente faz-se Menino para a nossa salvação!!!... A simplicidade, a inocência, a candura, a pureza, a formosura, a bondade, a ternura, enfim o AMOR... tudo se encontra aqui no presépio de Belém, nesta criança que não fala mas com o coraçãozinho palpitante de infinito amor.
São Francisco de Sales contemplando o mistério do Divino Menino recém nascido na gruta de Belém, escrevia inflamado de amor: "O grande recém nascido de Belém seja para sempre a delícia e o amor do nosso coração. Ah, como é lindo! Quero cem vezes mais ver este pequeno Menino no seu presépio que a todos os reis da terra no seu trono".

Compreendemos perfeitamente como os santos faziam as suas delícias em contemplar o Menino Jesus na manjedoura de Belém. O coração cheio de amor do Menino-Deus fazia o encanto de São Francisco de Assis, de São Bernardo, de Santa Tereza d'Ávila. de Santa Teresinha do Menino Jesus e bem podemos dizer de todos os Santos.


"Sic nos amantem, quis non redamaret", "como não amar em troca Aquele que tanto nos ama? Caríssimos, procuremos, então, ao contemplarmos a amabilidade inefável do Divino Menino Jesus, despertar nas nossas almas aqueles mesmos sentimentos de amor que tiveram e têm os santos. Amém!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O "SENSUS FIDEI"

Extraído da "INSTRUÇÃO PASTORAL SOBRE A IGREJA", escrita por D. Antônio de Castro Mayer em 2 de março de 1965. 

   
   Declara São Pedro que o novo povo de Deus deve publicar as perfeições de Quem o chamou das trevas para sua luz admirável. É a missão que tem a Igreja de, pela fé nas verdades reveladas, pela esperança dos bens futuros e pela caridade para com Deus e os homens, dar ao mundo testemunho vivo de Jesus Cristo. No desempenho de tal missão, goza o povo de Deus da prerrogativa da infalibilidade, quando, sob orientação dos legítimos Pastores, bem que espalhado pelo mundo todo, professa ele unanimemente como reveladas verdades de fé e costumes. Em semelhante caso não pode errar. Age nele o "sensus fidei", suscitado e mantido pelo Espírito Santo. Testifica ele então uma palavra não humana mas de Deus (cf. 1 Tes. 2, 13). 


NOTA: Até aqui a exposição de D. Antônio de Castro Mayer.
Gostaria de fazer uma observação que, no meu fraco entendimento, acho oportuna para os nossos dias. 

   Em todos os casos em que a Santa Igreja é infalível, ensina ao povo a Doutrina revelada por Deus. Os fiéis guardando-a com toda pureza e fidelidade estão sempre na verdade: são, portanto, infalíveis. 

   Ora, pode acontecer, sobretudo em tempo de crise na Igreja, que até Papas fora do campo da infalibilidade (por exemplo, quando o Papa dá uma entrevista, faz um sermão, escreve uma carta, telefona etc.) não ensinem com clareza a verdade; mas, neste caso, os fiéis bem instruídos em 2 mil anos pelo Magistério infalível da Igreja, permaneçam firmes na fé. 

   Assim aconteceu na época em que o Papa Honório I favoreceu a heresia do Monotelismo. 
   Na época do Arianismo, Santo Hilário dizia, que a maioria dos bispos empregava uma linguagem ambígua para enganar os fiéis, mas estes tinham os ouvidos mais santos do que os bispos, os seus corações. Os verdadeiros FIÉIS entendiam sempre no sentido ortodoxo.

  Para terminar, confiramos o Apóstolo, como aconselha D. Antônio de Castro Mayer no fim do seu artigo transcrito acima: 

   "Por isso, também nós damos sem cessar graças a Deus, porque, tendo vós recebido a palavra de Deus, que ouvistes de nós, a abraçastes não como palavra dos homens, mas (segundo é verdade) como palavra de Deus, a qual opera em vós" (1 Tess. II, 13). 

sábado, 9 de dezembro de 2017

A INFALIBILIDADE - OS FATOS DOGMÁTICOS ( X )

   Que são fatos dogmáticos? É qualquer fato, não revelado, unido porém tão estreitamente com o dogma revelado, que negar este fato era o mesmo que abalar os fundamentos do próprio dogma.
   Exemplos: Dizer que o Concílio Vaticano I é um concílio legítimo e dogmático. Pois bem! Negar este fato dogmático seria abalar os fundamentos do dogma da Infalibilidade definido neste Concílio.
   Outro fato dogmático: A tradução da Bíblia chamada Vulgata feita por São Jerônimo, é conforme substancialmente ao texto original.
   Observação: Digamos de passagem que este fato dogmático é de grandíssima importância porque vários papas elogiaram e aprovaram a Vulgata de São Jerônimo. Entre eles o Papa Bento XV, que na Encíclica "Spiritus Paraclitus" diz: "É por consenso unânime que se coloca na primeira linha desse escol (de numerosos exegetas tão notáveis pela santidade como pela ciência) São Jerônimo, em quem a Igreja Católica reconhece e venera o maior Doutor que o céu lhe deu para a interpretação das Santas Escrituras". São Pio X, condenou no seu Sílabo "Lamentabilis" a proposição modernista: "Os exegetas heterodoxos interpretam o verdadeiro sentido das Escrituras com mais fidelidade do que os exegetas católicos".
   O Papa Pio XII na Encíclica "Divino Afflante Spiritu" declara que a autoridade preeminente ou autenticidade da Vulgata vem da tradição; ou seja pelo uso legítimo que dela se fez na Igreja durante tantos séculos; "uso, diz Pio XII, que prova estar ela no sentido em que a entendeu e entende a Igreja, completamente isenta de erros no que toca à fé e aos costumes; de modo que, como a mesma Igreja atesta e confirma, se pode nas disputas, preleções e pregação alegar seguramente e sem perigo de errar".
   Pio XII é mal interpretado pelos modernistas quando diz: "Nem a autoridade da Vulgata em matéria de doutrina impede - antes nos nossos dias exige - que a mesma doutrina se prove e confirme, também com os textos originais, e que se recorra aos mesmos textos para encontrar e explicar cada vez melhor o verdadeiro sentido das Sagradas Escrituras".
   Nós sabemos que os modernistas e neomodernistas no Concílio Vaticano II e após ele, a exemplo do que fizeram com o "aggiornamento" querido por João XXIII, assim também fizeram com esta encíclica de Pio XII, ou seja, não procuraram guardar a doutrina no mesmo sentido, mas mudar a tradução e a exegese. Assim como há um verdadeiro progresso nos dogmas, há também um verdadeiro progresso na exegese. Mas o modernistas, olham o progresso das ciências e pregam a evolução dos dogmas. Pela constante evolução em nome da ciência, prejudicaram a Tradição da Igreja e as Sagradas Escrituras, que são justamente as fontes da Revelação, dos dogmas. Por isso, dizia São Pio X que os modernistas destruiriam a Igreja pelos fundamentos, se isso fosse possível. Já antes de São Pio X, o Concílio Vaticano I condenara todos aqueles que pregam a evolução dos dogmas em nome da ciência. Na Constituição Dogmática que trata da Fé e da Igreja, no capítulo IV que fala sobre a fé e a razão, cânon 2 diz: "Se alguém disser que as ciências humanas devem ser tratadas com tal liberdade que as suas conclusões, embora contrárias à doutrina revelada, possam se retidas como verdadeiras e não possam ser condenadas pela Igreja - seja excomungado". E no cânon 3 diz: "Se alguém disser que às vezes, conforme o progresso das ciências, se pode atribuir aos dogmas propostos pela Igreja um sentido diverso daquele que ensinou e ensina a Igreja - seja excomungado".
   No entanto, o Código de Direito Canônico (promulgado em 1983) assim reza no § 2º do cânon 825: "Com licença da Conferência Episcopal, os fiéis católicos podem preparar e editar em colaboração dos irmãos separados (= os protestantes) versões das Sagradas Escrituras, anotadas com as explicações convenientes".
   Logo após a criação da Administração Apostólica, passei a receber frequentemente coisas dos progressistas e entre elas "Campanhas para o dízimo". E, um dia mandaram-me de presente um Novo Testamento. Fui logo examinar o presente: "Timeo Danaos et dona ferentes". Abri o "Cavalo de Tróia, e lá estavam os inimigos". Assustei-me já com a primeira página onde se lê: "NOVO TESTAMENTO - Tradução Ecumênica". Na segunda folha está a RECOMENDAÇÃO, e nesta, entre outras coisas, se lê: "A Bíblia - Tradução Ecumênica baseia-se nos textos originais e reproduz fielmente o modelo da mundialmente reconhecida "Traduction Oecuménique de la Bible". Contém o texto integral do Antigo Testamento, com os livros deuterocanônicos ou apócrifos, e o do Novo Testamento, traduzidos, introduzidos e anotados por ampla equipe de estudiosos de diversas confissões cristãs e do judaísmo, representando a harmonia da unidade e o respeito da diversidade na leitura fiel do livro acolhido como Palavra de Deus. Recomendamo-la, portanto, aos leitores desejosos de aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus, consignada na Bíblia, Escrituras Sagradas do Judaísmo e do Cristianismo, patrimônio da humanidade. A Edição da Bíblia - Tradução Ecumênica - mereceu o louvor das Instituições Ecumênicas de nosso País e a Aprovação da Presidência da CNBB, conforme o cânon 825 §§ 1 e 2."
               D. Luciano Mendes de Almeida
               Presidente da CNBB
               Arcebispo de Mariana

               Ylanco S. de Lima
               Bispo Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e Presidente do Conselho N. de I. Cristãs

Este Novo Testamento foi editado pelas Edições Paulinas e Edições Loyola em 1996.
D. Luciano Mendes de Almeida que o aprovou, era então o Presidente da CNBB.
Faleceu em 27 /  08 /  06.

Pois bem! Em seguida fui examinar a tradução e, como sempre faço, fui direito ao capítulo I, v. 28 do Evangelho de São Lucas. É a saudação do Arcanjo São Gabriel a Nossa Senhora. E neste Novo Testamento Ecumênico assim está traduzido: "Alegra-te, ó tu que tens o favor de Deus. O Senhor está contigo".
   Eu tinha dez bíblias protestantes. Foram protestantes que se converteram e entregaram-me suas bíblias e dei-lhes a Bíblia Católica - a Vulgata de São Jerônimo. Fui lá conferir como era a tradução protestante; e verifiquei que, com pequenas variantes, a tradução é substancialmente igual a tradução ecumênica.
  Conferi na Vulgata do Padre Mato Soares, que recebeu o imprimatur em 1933 e a aprovação e elogios da Secretaria de Estado de Sua Santidade o Papa Pio XI. Documento este assinado pelo então Presidente da Secretaria de Estado, o cardeal Pacelli que foi o sucessor de Pio XI, o grande Pio XII. E lá está a tradução bem fiel a Vulgata Latina de São Jerônimo: "E, entrando onde ela estava, disse-lhe: Deus te salve, cheia de graça; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres". (S. Luc. I, 28).
   Vejam, caríssimos leitores, como são terríveis as conseqüências deste ecumenismo conciliar! Por exemplo: o Papa Pio IX na Encíclica "Ineffabilis Deus", baseado na Tradução da Vulgata de São Jerônimo,faz a  seguinte argumentação a favor da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria (nº 26): "Depois, quando os mesmos Padres e escritores eclesiásticos consideravam que, ao dar à beatíssima Virgem o anúncio da altíssima dignidade de Mãe de Deus, por ordem do próprio Deus, o anjo Gabriel lhe chamara - cheia de graça - ensinaram que com esta singular e solene saudação, até então nunca ouvida, se demonstrava que a Mãe de Deus era a sede de todas as graças de Deus, era exornada de todos os carismas do Espírito Divino; antes, era um tesouro quase infinito e um abismo inexaurível dos mesmos carismas; de modo que, ela não somente nunca esteve sujeita à maldição, mas foi também, juntamente com seu Filho, participante de perpétua bênção: digna de, por Isabel, movida pelo Espírito de Deus, ser dita: "Bendita és entre as mulheres e bendito o fruto de teu ventre". No nº 27 continua: "Destas interpretações se infere, clara e concorde, a opinião dos Padres da Igreja. A gloriosíssima Virgem, pela qual "grandes coisas fez Aquele que é poderoso", resplendeu de tal abundância de dons celestes, de tal plenitude de graça e de tal inocência que se tornou como que o milagre de Deus por excelência, ante a culminância de todos os seus milagres, e digna Mãe de Deus; de modo que, colocada, tanto quanto é possível a uma criatura, como a mais próxima de Deus, ela se tornou superior a todos os louvores dos homens e dos Anjos."
   Pio IX com a tradução ecumêncica, não teria como extrair tão belos argumentos a favor da Imaculada Conceição. O mais grave na tradução ecumêncica é que os protestantes fazem esta tradução justamente para deturpar o sentido original da palavra empregada por São Lucas, que escreveu inspirado pelo Espírito Santo. Escreveu em grego. E a palavra em grego é kecaritoméne. A tradução de São Jerônimo não podia ser mais exata: "gratia plena". Em português: "cheia de graça". A palavra original grega - kecaritoméne - significa PLENITUDE de alguma coisa. É realmente uma saudação, como diz o papa Pio IX, nunca ouvida. Só Nossa Senhora, foi a simples criatura humana que teve a plenitude da graça, ou seja, nunca lhe faltou a graça, e teve-a num grau máximo como nenhuma criatura humana por mais santa que fosse  poderia ter. Isto porque foi  predestinada pelo próprio Deus para ser a Sua Mãe. Sua digna Mãe. Deus empregou todo seu amor e todo seu poder para preparar a Sua Mãe.
   Agora podemos compreender mais facilmente como os "fatos dogmáticos" fazem parte o objeto da Infalibilidade. Mas alguém poderia perguntar: Mas também a Igreja não é infalível nas leis universais, como é o caso do Código de Direito Canônico? Respondo que sim, mas, nem sempre, como veremos, se Deus quiser, em algum post em breve.
   Num sermão que tive oportunidade de fazer numa paróquia vizinha, discordei desta tradução ecumênica da Bíblia. E, depois eu soube que um padre, meu colega não gostou. Aconteceu, porém, que poucos dias após, o Santo Padre, o Papa, Sua Santidade Bento XVI, na sua Encíclica "SPE SALVI", ele discorda da Tradução Ecumênica Alemã, e, como Sua Santidade fez questão de frisar, tradução esta ecumênica feita com a aprovação dos Bispos. A verdade é que nunca mais em lugar nenhum do mundo fui convidado para pregar. Mas tenho o meu querido Blog! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

 IMACULADA DESDE A CONCEPÇÃO
                                                                                                             Dom Fernando Arêas Rifan*
No próximo dia 8, celebraremos a Imaculada Conceição de Nossa Senhora, ou seja, honraremos o privilégio singular concedido por Deus à Virgem Maria, escolhida para a Mãe do Filho de Deus encarnado, preservando-a, desde a sua concepção, da herança do pecado original.
            Está aí uma luz dada pela Igreja sobre a vida intrauterina. Vida humana, respeitável, com direitos, querida por Deus, objeto do seu amor, desde o primeiro momento da concepção.
            “Vossos olhos contemplaram-me ainda em embrião” (Sl 139,16): essa é a citação bíblica escolhida por São João Paulo II para falar sobre o crime abominável do aborto: “o aborto provocado é a morte deliberada e direta... de um ser humano na fase inicial da sua existência, que vai da concepção ao nascimento... Trata-se de um homicídio... A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil, inerme, e numa medida tal que o deixa privado inclusive daquela forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e do choro do recém-nascido. Está totalmente entregue à proteção e aos cuidados daquela que o traz no seio...” (Evangelium Vitae, 58).
        “Alguns tentam justificar o aborto, defendendo que o fruto da concepção, pelo menos até certo número de dias, não pode ainda ser considerado uma vida humana pessoal. Na realidade, porém, a partir do momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida que não é a do pai nem a da mãe, mas sim a de um novo ser humano que se desenvolve por conta própria. Nunca mais se tornaria humana, se não o fosse já desde então. A essa evidência de sempre a ciência genética moderna fornece preciosas confirmações. Demonstrou que desde o primeiro instante, se encontra fixado o programa daquilo que será este ser vivo: uma pessoa, esta pessoa individual, com as suas notas características já bem determinadas. Desde a fecundação, tem início a aventura de uma vida humana, cujas grandes capacidades, já presentes cada uma delas, apenas exigem tempo para se organizar e se encontrar prontas para agir... O ser humano deve ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde esse mesmo momento, lhe devem ser reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais e primeiro de todos, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida”  (Evang. Vitae, 60).

        E a ciência moderna confirma essa posição da Igreja.  Dr. Jerôme Lejeune, cientista, professor da Universidade René Descartes, de Paris, e especialista em Genética Fundamental, descobridor da causa da síndrome de Down, em entrevista à VEJA, que lhe perguntou se, para ele, a vida começa a existir no momento da concepção, respondeu: “Não quero repetir o óbvio. Mas, na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos transportados pelo espermatozoide se encontram com os 23 cromossomos da mulher, todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é a marco do início da vida. Daí para frente, qualquer método artificial para destruí-la é um assassinato”.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianneyhttp://domfernandorifan.blogspot.com.br/

A INFALIBILIDADE - O OBJETO DA INFALIBILIDADE ( IX )

   O objeto da infalibilidade é a matéria em torno da qual a Igreja é infalível. O objeto da infalibilidade pode ser direto ou indireto.
   Objeto direto ou primário: é aquele que contém verdades formalmente reveladas, isto é, verdades que Deus manifestou com palavras da linguagem humana, pelas quais é manifestada com suficiente clareza a intenção divina.
   Objeto indireto ou secundário: é aquele que contém verdades intimamente conexas às verdades reveladas. Estas verdades embora não sejam reveladas em si mesmas, são necessárias, no entanto, para que o depósito da fé seja integralmente guardado, corretamente explicado e eficazmente definido.
   As principais verdades conexas à verdades reveladas são:
   1º - Os preâmbulos da fé.
   2º - As conclusões teológicas.
   3º - Os fatos dogmáticos.
   4º - Os decretos disciplinares quando obrigatórios para toda a Igreja.
   5º - A canonização dos santos quando feita com exame rigoroso.
   6º - A aprovação das Ordens Religiosas.

   O objeto da infalibilidade se deduz do fim que a Igreja procura por seu ensino. O fim da Igreja, é distribuir as verdades que interessam a salvação. Logo, tudo quanto se refere a este ponto, quer direta quer indiretamente, vem a ser objeto da infalibilidade.
   O objeto direto da infalibilidade se encontra nas duas fontes da Revelação: A Sagrada Escritura e a Tradição.
   O objeto indireto da infalibilidade, são todas as verdades não reveladas, mas em conexão tão  íntima com as verdades reveladas, que se tornam indispensáveis para a conservação integral do depósito da fé. São aquelas seis que acabamos de enumerar e que agora, vamos considerar cada uma em particular.

1º - OS PREÂMBULOS DA FÉ
   Muitas verdades de ordem filosófica, ou seja, natural, são pressupostas pelas verdades reveladas. Estas verdades são chamados: "preâmbulos da fé".
   Por exemplo, se você pudesse negar impunemente ao homem a capacidade de conhecer, só pela luz natural da razão (o que faz a filosofia) a existência de Deus, você poderia também negar o dogma católico definido pelo Concílio Vaticano I, segundo o qual devemos crer que é possível tal conhecimento da existência de Deus só pela luz natural da razão. Em outras palavras, se a Igreja não pudesse definir verdades naturalmente conhecidas, de modo algum poderia também guardar o depósito da fé que lhe foi confiado, justamente por causa da relação necessária existente entre as verdades de ordem natural e as verdades reveladas. Esta doutrina está sustentada pelo Concílio Vaticano I contra os Racionalistas.
   Portanto, os preâmbulos da fé não são definíveis porque revelados, mas antes por causa da ligação necessária com as verdades reveladas. 

2º - AS CONCLUSÕES TEOLÓGICAS
   Conclusão teológica é uma proposição que se deduz de duas outras, sendo, a primeira destas, verdade revelada; e a segunda, verdade conhecida pela razão. Por exemplo se eu disser: "Jesus Cristo é verdadeiro homem". (verdade revelada), e se por outra parte eu acrescentar: "Todo homem pode adquirir a ciência pela experiência e pela observação"; e então fazendo um verdadeiro raciocínio através da razão (isto na filosofia se chama "silogismo") eu concluo igual e verdadeiramente das duas afirmações anteriores uma nova verdade. Eis então como se faz o silogismo:
   1ª - "Jesus Cristo é verdadeiro homem" (= verdade revelada).
  2ª - "Ora, todo homem pode adquirir a ciência (= conhecimento de uma coisa), pela experiência e pela observação" (= verdade de razão).
   3ª -  Logo, Jesus Cristo teve a ciência adquirida. Esta conclusão é uma nova verdade que se chama conclusão teológica.

Observação: É teologicamente certo ( não é de fé ) que a Igreja é infalível com relação as conclusões teológicas, mas não é dogma, a não ser que a Igreja termine definindo uma conclusão teológica como dogma. Portanto, quem negasse uma conclusão teológica definida como dogma seria herético. Uma opinião, porém, contrária a uma conclusão teológica ainda não definida pela Igreja, seria classificada como opinião "errônea".

domingo, 3 de dezembro de 2017

A INFALIBILIDADE - TIPOS DE MAGISTÉRIO ( VIII )

   Vamos explicar os dois tipos de Magistério da Igreja, expondo, de maneira bem clara e detalhada, quando é infalível e quando não é infalível, segundo a Tradição viva da Santa Madre Igreja.
   1º - MAGISTÉRIO ORDINÁRIO DOS BISPOS: é quando uma verdade é ensinada em toda Igreja como doutrina revelada. Quando que isto acontece? Um bispo isoladamente não é infalível. (Aliás, a História da Igreja mostra que muitas heresias foram inventadas por bispos). Mas, quando todos os bispos espalhados pelo mundo católico ensinam tal doutrina relativa à Fé e à Moral como contida na Revelação, aí eles são infalíveis. Vamos explicar melhor com as palavras de D. Antônio de Castro Mayer: "De si, o magistério dos bispos não é infalível. Quando, no entanto, ensinam como autênticos mestres, matéria relativa à fé e aos costumes, de maneira que, ao ensinar, concordam moralmente todos no mesmo ensinamento, de fato enunciam infalivelmente uma doutrina revelada" (Cf. "POR UM CRISTIANISMO AUTÊNTICO" p.  ). Diz-se moralmente todos porque não é necessário que sejam todos matematicamente.
   Tanto no Concílio Vaticano I (1870) como já antes em 1863, Pio IX na Encíclica "Ineffabilis Deus" sobre a Imaculada Conceição de Nossa Senhora diz o seguinte: "...Querendo proceder com toda prudência constituímos uma Comissão especial de Veneráveis Irmãos Nossos, Cardeais da Santa Igreja Romana, ilustres por piedade, por ponderação de juízo e por ciência das coisas divinas, e escolhemos entre o clero secular e o regular homens particularmente  versados nas disciplinas teológicas, com o encargo de examinarem com a maior diligência tudo o que diz repeito à Imaculada Conceição da Virgem e nos darem depois o seu parecer.
   "... Enviamos uma Encíclica a todos os Veneráveis Irmãos bispos do mundo inteiro, a fim de que, depois de orarem a Deus, nos fizessem saber, mesmo por escrito, qual era a piedade e a devoção dos seus fiéis para com a Imaculada Conceição da Mãe de Deus; O QUE ERA QUE PENSAVAM ESPECIALMENTE ELES - OS BISPOS - DA DEFINIÇÃO EM PROJETO." (aqui temos a consulta do Papa sobre o Magistério ordinário dos Bispos). E diz Pio IX que os consultados (da Comissão e os Bispos do mundo inteiro) "com voto que se pode dizer unânime, pediram-nos que, com nosso supremo juízo e autoridade, definamos a Imaculada Conceição da mesma Virgem".
   Então, acabamos de ver o que significa ou quando se realiza o Magistério Ordinário dos Bispos e quando ele é infalível. Agora vamos ver quando se dá o Magistério Ordinário dos Papas.

   2º - MAGISTÉRIO ORDINÁRIO DOS PAPAS: são todos os documentos da Santa Sé; Decretos, Encíclicas que não vêm marcados  pela nota da infalibilidade.
   Quando o Magistério Ordinário dos  Papas é infalível?
   Resposta: O Magistério dos Papas é infalível quando Papas sucessivos, por um espaço suficientemente longo, repetem nos seus Documentos do Magistério Ordinário, os mesmos ensinamentos em questão de fé e moral, ou os que estejam intimamente conexos com estas questões de fé e moral. Em outras palavras: "As Encíclicas e outros Documentos do Magistério Ordinário do Sumo Pontífice só são infalíveis nos ensinamentos corroborados pela Tradição ou seja, por uma doutrinação contínua, através de vários Papas e por longo espaço de tempo" (Cf. "POR UM CRISTIANISNO AUTÊNTICO" pp. 323 e 367). Como exemplo de Magistério Ordinário infalível, D. Antônio de Castro Mayer cita a Encíclica "Humanae Vitae" em que o Papa Paulo VI, declarando ilícito o uso dos anticoncepcionais; insere-se numa Tradição ininterrupta do Magistério Eclesiástico.
   Eu me lembro que, na época, os progressistas murmuraram contra a Encíclica, e infelizmente muitos bispos e padres não obedeceram e até hoje muitos não obedecem. O Papa Paulo VI sofreu muito com esta desobediência e foi justamente por isso que, na época, o Padre Pio, hoje São Pio, escreveu uma carta a Paulo VI, agradecendo, elogiando e procurando consolar o Santo Padre o Papa Paulo VI.

MAGISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO
   O Magistério Extraordinário se dá em dois casos:
   1º - O Papa sozinho.
   2º - Os Bispos em união com o Papa.
   A - O Magistério Extraordinário do Papa sozinho.
   1º - Quando que é infalível: Isto acontece quando o Papa define "ex cathedra". Já vimos a definição do dogma da Infalibilidade do Papa pelo Concílio Vaticano I. Mas vamos apenas resumir. São 4 as condições:
   1ª) O objeto da Infalibilidade é bem delimitado, isto é, só questões de fé (dogma) e costumes (moral), e tudo aquilo que esteja estreitamente ligado a fé e/ou a moral.
   2ª) Quando o Papa fala "ex cathedra", isto é, no desempenho do seu cargo de Pastor e Doutor de todos os cristãos (=Doutor Universal, ou seja, como Chefe Supremo da Igreja aqui na Terra. Portanto, quando fala como pessoa particular não é infalível).
   3ª) Ele tem que definir, quer dizer, tem que resolver de modo terminante uma questão, seja ela uma questão que tenha sido discutida antes ou não.
   4ª) Não só definir, mas definir com o propósito de obrigar a Igreja inteira. O Papa indica geralmente este propósito pela sentença de anátema, que ele pronuncia contra quem negar adesão à verdade definida.

   2º - Quando o Magistério Extraordinário do Papa não é infalível?
   Resposta: quando faltar alguma  destas quatro condições acima descritas. Como dizia D. Antônio de Castro Mayer, o Concílio Vaticano I não definiu que faltando alguma destas condições o Papa continua sendo infalível. Portanto, o Concílio Vaticano I não definiu que o Papa é sempre infalível. Mas também não podemos, por isso, concluir que não entrando a infalibilidade o papa erre sempre; até devemos dizer que normalmente também não erra. Mas pode errar, sobretudo em tempo de crise na Igreja. E contra fatos não há argumentos. Já mostramos e explicamos o caso do Papa Honório I.

   B - O Magistério Extraordinário dos Bispos: Quando é infalível e quando não é infalível.
   1º) O Magistério Extraordinário Infalível dos Bispos:
   Quando todos os bispos são convocados, o Concílio Geral ou Ecumênico representa o corpo docente da Igreja: logo é infalível. Mas, é claro, o Concílio tem que ser legítimo, ou seja, deve ser convocado pelo Papa e seus   decretos têm de vir sancionados por ele pessoalmente ou por seus delegados quando estes tiverem procuração para isso.
   Com estas condições, normalmente todo Concílio Ecumênico é dogmático, e portanto infalível, a menos que o Papa que convoca (e o que o reconvoca) declarem expressamente que o Concílio Ecumênico será pastoral. Foi o caso do Concílio Vaticano II. Foi legítimo, porque convocado pelos papas, foi Ecumênico, porque todos os bispos foram convocados; mas foi um concílio fora do normal, ou atípico, porque até então os Concílios Ecumênicos foram dogmáticos.
   Houve na Igreja muitos Concílios Particulares, ou seja, dos bispos de uma Província, ou dos bispos de um país, justamente para se tratarem mais de questões pastorais. Isto é mais prático e até mais prudente, já que as necessidades pastorais não são sempre as mesmas em toda Igreja; quer dizer, cada região, cada país, e até cada diocese tem   suas questões pastorais próprias. Por exemplo, no Brasil em 1939 houve, na então Capital, a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, um Concílio Plenário dos Bispos. E  o então Sumo Pontífice o Santo Padre o Papa Pio XII o aprovou e enviou um Legado para convocar e presidir. E entre outras questões práticas, este Concílio Plenário Brasileiro procurou examinar os meios para afastar os males e danos causados pelos erros do Protestantismo e do Espiritismo. Antes do Concílio Vaticano II, em cada 20 anos, pelo menos, deveria haver um Concílio Plenário em cada país. Hoje há os "Sínodos dos Bispos" e as geralmente desastrosas "CN dos B".
   Para terminar, vamos fazer algumas observações: Voltemos aos Concílios Ecumênicos.
   A quem  fazia a objeção de que a infalibilidade dos papas  torna inúteis os Concílios Ecumênicos, Santo Afonso Maria de Ligório respondia: "Eles são úteis porque os povos aceitam mais facilmente seus decretos e porque os bispos conhecem melhor as razões destes decretos e expõem-nos mais claramente aos fiéis. Eles são úteis também para fechar a boca daqueles hereges que fazem pouco caso das definições do Papa". (Oeuvres Dogmatiques de Saint Ligori T. II, pág. 324).
   Diz ainda Santo Afonso que o Concílio sem o Papa, não pode definir nada relativo à fé. (Idem, p. 220).
   O Papa é que tem o direito de convocar um Concílio Ecumênico. Mas Santo Afonso é de opinião que em dois casos os cardeais e os bispos podem convocar um Concílio. O 1º é quando o papa é dúbio, isto é, quando há dúvida se um papa é legítimo ou é um anti-papa, como aconteceu na época do cisma do Ocidente.
   O 2º caso é quando um papa (como pessoa particular) tivesse caído de uma maneira perseverante e notória em heresia.
   No caso de papa dúbio, diz Santo Afonso, é preciso obedecer aos decretos do Concílio, porque a Santa Sé é considerada vacante. (Idem, p. 165).
   No segundo caso (de heresia) o papa seria destituìdo "ipso facto" do Pontificado, porque estaria fora da Igreja e por conseguinte não poderia ser seu chefe. Seria papa aquele que o Concílio declarasse. (Idem, p. 232).
   É preciso notar, entretanto, que são simples opiniões de Santo Afonso. E sobre esta hipótese de um papa cair em heresia como pessoa particular, há discussões intermináveis entre os teólogos. O Relator da Fé no Concílio Vaticano I, o Bispo D. Zinelli diz o seguinte: "Confiados na Providência sobrenatural, julgamos bastante provável que nunca um papa, como pessoa particular caia em heresia. Mas Deus não falta nas coisas necessárias; portanto, se Ele permitir tão grande mal, não faltarão meios para remediar tal situação". Vê-se que D. Zinelli apresenta simplesmente uma opinião piedosa. Mas como era Relator da Fé no Concílio Vaticano I, podemos supor com muita probabilidade, que o Papa Pio IX tenha aprovado esta opinião. Mas também, na verdade, não encontramos nada escrito a respeito. Pelo menos eu não consegui encontrar.


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A INFALIBILIDADE ; MAGISTÉRIO VIVO ( VI )

   "É certo, escreveu D. Antônio de Castro Mayer, que o Concílio Vaticano I definiu que o Magistério do Romano Pontífice é infalível em determinadas condições. Não definiu que, faltando tais condições, seja  o Soberano Pontífice igualmente infalível. (sublinhado meu). Seria absurdo, no entanto, daí concluir que o Papa erra sempre que não faz uso de sua prerrogativa de infalibilidade. Pelo contrário, ainda quando não se reveste desta prerrogativa, devemos supor que ele acerte, porquanto, normalmente age com prudência e não emite sua opinião antes de muito ponderar. Para não falar nas graças especiais com que o assiste o Espírito Santo.
   "Por isso é de todo inaceitável a atitude leviana daqueles que não fazem caso dos Documentos da Santa Sé, que não vêm sigilados com a nota de infalibilidade. Pois estes documentos obrigam a uma aceitação interna que só poderia ser recusada na hipótese de haver engano patente no que eles trazem ou porque abertamente contrário a toda a tradição da Igreja, ou porque evidentemente falso. O que absolutamente inadmissível é considerar, sem mais, peremptos Documentos solenes do Magistério Ordinário como as enciclicas doutrinárias, especialmente as escritas para dirimir quesões ou apontar erros relativos a Fé, como por exemplo a "Pascendi Dominici Gregis" de São Pio X, contra o Modernismo, ou a "Humani Generis"de Pio XII contra o Neomodernismo. Especial atenção merecem também os Documentos do Magistério Ordinário quando Papas sucessivos, por um espaço suficientemente longo, repetem neles os mesmos ensinamentos. Temos neste fato um sinal de que tal doutrina faz parte do depósito da Fé confiado a Santa Igreja. Não compreendemos, portanto, como se possa formar católicos, ignorando totalmente a fonte mais próxima da verdade revelada que é o Magistério vivo. Só por semelhante atitude se tornam suspeitos os fautores de um novo cristianismo; certamente não é desta maneira que se realizará o "aggionarmento" de que tanto falava João XXIII" (Cf. "Por Um Cristianismo Autêntico" pp. 322 e 323. Caríssimos leitores, lendo assim todo o texto,(sem fazer subtrações: o que seria mentira criminosa) podemos ver claramente que D. Antônio de Castro Mayer falava contra os modernistas e neomodernistas.
   Para terminar, vamos considerar a frase que sublinhei nesta longa citação: "O Romano Pontífice no Concílio Vaticano I, não definiu que faltando tais condições seja o Soberano Pontífice igualmente infalível".
    Como vimos, D. Antônio de Castro Mayer declara que a um documento não infalível , só se pode recusar a aceitação interna na hipótese de haver engano patente no que ele traz, ou porque abertamente contrário a toda tradição de Igreja, ou porque evidentemente falso. (Cf. P.C.A. p.367 d; 368 e) "... Tal é o valor da Tradição, que mesmo as Encíclicas e outros Documentos do Magistério Ordinário do Sumo Pontífice, só são infalíveis nos ensinamentos corroborados pela Tradição, ou seja, por uma doutrinação contínua, através de vários Papas e por longo espaço de tempo. De maneira que, o ato do Magistério Ordinário de um Papa que colida com o ensinamento caucionado pela Tradição magisterial de vários Papas e por espaço notável de tempo, não deveria ser aceito.(sublinhado meu). Entre os exemplos que a História aponta de fatos semelhantes, avulta o de Honório I. Viveu este papa, no tempo em que a heresia monotelita fazia estragos na Igreja do Oriente. Negando a existência de duas vontades em Jesus Cristo renovam os monotelitas o absurdo que Éutiques introduziu no dogma, quando pretendeu que em Jesus Cristo havia uma só natureza, composta da natureza divina e da natureza humana. Habilmente o Patriarca Sérgio de Constantinopla insinuou no espirito de Honório I que a pregação das duas vontades no Salvador só causava divisões no povo fiel. Acedendo aos desejos do Patriarca Sérgio, que eram também os do Imperador, o Papa Honório I proibiu que se falasse nas duas vontades do Filho de Deus feito homem. Não advertiu o Pontífice que seu ato deixava o campo aberto à difusão da heresia. Por isso mesmo não se lhe devia dar atenção. Entre os que lamentaram o ato de Honório I, estão o VI Concílio Ecumênico que foi o terceiro reunido em Constantinopla, e São Leão II, papa ao confirmar aquele Concilio. Entre os que continuaram a ensinar as duas vontades em Jesus Cristo está o grande São Máximo, chamado, O Confessor porque selou com o martírio sua fidelidade à doutrina católica tradicional".
   "Guardemos, pois, com o máximo respeito e atenção, o critério de aferimento para as novidades que surgem na Igreja:
- Ajustam-se as novidades à Tradição?
- Então são de boa lei.
- Não se ajustam, mas se opõem à Tradição; ou diluem a Tradição?
- Então não devem ser aceitas.
   "Tradição, é certo, não é imobilismo. É acréscimo, porém, na mesma linha, na mesma direção, no mesmo sentido, crescimento de seres vivos que se conservam sempre os mesmos. Por isso mesmo, não podem considerar tradicionais, formas e costumes que a Igreja não incorporou na exposição de sua doutrina, ou na sua disciplina. A tendência neste sentido, foi chamada por Pio XII "reprovável arquiologismo"(=apego ao que é antigo só porque antigo) na Encíclica "Mediator Dei". Isto posto, tomemos como norma o seguinte princípio: quando é visível que a novidade se afasta da doutrina tradicional, é certo que não deve ser admitida".
   Depois, D. Antônio de Castro Mayer mostra os vários modos de corromper a Tradição: uma escala que vai da oposição aberta a Tradição, ao desvio quase imperceptível. E ele alerta para o perigo maior nesta última maneira. Gota a gota, sem se perceber. Dois passos à frente, um para traz; vai se fazendo aos poucos e um pouco sempre fica; vai-se aos poucos tirando a substância, deixando finalmente só a casca. Isto chama-se: lavagem cerebral, ou seja, mudança das idéias sem a pessoa perceber. É uma baldeação ideológica inadvertida. Nas aulas D. Antônio dizia a mim e ao Fernando, (hoje S. Exa. Revma. D. Fernando Arêas Rifan) que uma cadeira de três pés, faltando um, é mais perigosa que uma de um pé só, faltando três. Uma moeda falsa é tanto mais perigosa quanto mais parecida com a verdadeira.
  "Nas circunstâncias atuais, continua D. Mayer, todas as maneiras de corromper a Tradição oferecem perigo para a Fé, mas talvez as mais perigosas são aquelas maneiras mais disfarçadas e que portanto menos aparecem como opostas a Igreja Tradicional. Segue-se que de nós se pede cuidadosa vigilância, não venhamos a assimilar o veneno meio inconscientemente. Se há gente de boa fé, que, por ignorância ou ingenuidade, nas novidades que vai aceitando, tenciona apenas obter nova expressão da verdadeira Igreja; há também e sobretudo, a astúcia do demônio que se serve destas mesmas intenções para desgarrar os fiéis da ortodoxia católica".
   Caríssimos e amados leitores, nunca poderemos esquecer que a tática dos modernistas e de todos os hereges, para difundir seus erros e procurar destruir a Igreja, é a ambigüidade. "Ambiguus" em latim, quer dizer: "que tem dois sentidos" (como empregou Virgílio, célebre escritor latino); quer dizer também "enganador" (como empregou Cícero, outro célebre escritor latino). Em latim "verbum bilingue" quer dizer: "palavra de língua dupla"; e no sentido figurado, quer dizer: "palavra falsa". Na Bíblia Sagrada, no Livro da Sabedoria VIII, 13 Deus diz: "Eu detesto a arrogância e a soberba; o mau proceder e a língua dupla". Por isso Jesus Cristo disse: "Seja o vosso falar sim, sim; não, não".
   Imaginem como é necessário que a nossa linguagem com Deus deve ser sincera através da Liturgia!
   Não podemos julgar ninguém. A gente só fica sabendo da intenção de alguém se a própria pessoa revelar. Pois bem, aconteceu que um progressista dos quatro costados, chamado Dom Duschak, no dia 05 de novembro de 1962, revelou o seguinte: "Minha idéia será introduzir uma Missa ecumênica". Aí, perguntaram a ele se esta idéia foi sugerida por seus diocesanos. D. Duschak respondeu: "Não, eu penso mesmo que eles seriam contra, assim como se opõem muitos bispos. Mas se se pudesse colocá-la em prática, eu creio que eles terminariam por aceitá-la. No Concílio, continua D. Duschak, nós o exprimimos de uma maneira diplomática, mas depois do Concílio, nós tiraremos as conclusões implícitas..." (Confira Revista "De Bazuin", nº 48, ano 1965, página 04).
   Com os Modernistas e Neomodernistas toda vigilância é pouca!!!

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

NEM PROGRESSISMO NEM SEDEVACANTISMO ( I )

                
    Hodiernamente temos que falar e escrever sobre doutrina cientes de estarmos numa crise dentro da Igreja. Olvidá-lo seria correr o risco de açoitar o ar. Nem muito menos podemos nos esquecer de que a Igreja é divina.
   Pois bem! Em época de crise há sempre muitos perigos e quase sempre o perigo "dos extremos". A História da Igreja no-lo ensina. Caminhamos como sobre uma ponte estreita sem corrimão, num real perigo de cairmos tanto para um lado como para o outro. A prudência manda que em tal conjuntura, caminhemos no meio e com pé firme. Não quero com isto, de modo algum, dizer que se deva ficar sobre o muro. Não, absolutamente não!
   Quais são estes dois extremos que devemos evitar a todo custo? O Progressismo e o Sedevacantismo. E por incrível que pareça, há um caminho comum que leva a ambos: uma idéia errônea da Infalibilidade Pontifícia. Uma infalibilidade que não é a que foi definida pelo Concílio Vaticano I e por Pio IX. E só esta é que vale. Excogitar outra ou outras no intuito de querer salvar opiniões próprias, não é válido e nem legítimo.
   Há aqueles teólogos que parecem pretender corrigir um Concílio Ecumênico Dogmático. Querem ampliar os contornos definidos pelo Concílio Vaticano I. Excogitam distinções que não encontramos nas Atas deste Concílio nem nos teólogos tradicionais que as comentam. Não confiando na minha memória, consultei os  cinco Manuais de Teologia Dogmática que possuo: além de  outros manuais menores em que estudei desde o Seminário Menor.
   Há um axioma que diz: "Contra fatos não há argumentos". Assim,  há  fatos inegáveis de leis eclesiásticas que deram azo, espaço e mesmo motivo para abusos prejudiciais à almas.  Por exemplo, a reforma litúrgica post-conciliar estabeleceu a Comunhão na mão (à escolha do comungante); a existência de ministros e ministras extraordinários da Eucaristia. Já mostramos em post anterior que a comunhão na mão favorece as profanações e consequentemente prejudica a fé dos fiéis. Os ministros e ministras da Eucaristia que dão comunhão aos doentes, e ás vezes, durante muito tempo, sem o padre atender as confissões. Já imaginaram quantos sacrilégios isto pode causar?!  Quanto a Missa quero citar o então cardeal Ratzinger, hoje Bispo Emérito de Roma: "Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre estes motivos é que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado". (sublinhados nossos). No meu bestunto entendo assim: Os fiéis tradicionalistas têm motivo para fugir da Liturgia nova porque esta não oferece segurança para se conservar a dignidade do sagrado, principalmente na Santa Missa, pois ela é o que a Igreja tem de mais sagrado. Ratzinger, quando ainda cardeal, disse que era necessário fazer uma "reforma da reforma". Para quem quer entender é bem claro. Mas ele renunciou, e creio que só no dia do Juízo Final saberemos o real "porque". 
   Diante de fatos inegáveis de leis eclesiásticas que dão azo, espaço e mesmo motivos para abusos prejudiciais às almas, alguns concluem que o Papa não é papa. Caem no Sedevacantismo. Isto porque não admitem, que fora do campo da Infalibilidade um papa  possa prejudicar as almas com leis ambíguas.
   Outros, pelo mesmo motivo, ou seja, o papa não pode errar nunca em se tratando de leis eclesiásticas porque, além da infalibilidade positiva, existe uma outra chamada "negativa", aliás mais abrangente do que a própria infalibilidade absoluta e positiva. Então, temos que aceitar tudo de olhos fechados. E muitos caem no Progressismo. Existe sim a infalibilidade "passiva", ou seja, os fiéis, devidamente instruídos pelo Magistério Vivo, Perene e Infalível, também não erram, seguindo fielmente estes ensinamentos. 
   Como eu disse no início, estamos em tempo de crise na Igreja. Em tempos normais não seriam necessárias estas advertências.
   Mas o próprio Código das leis eclesiásticas, isto é, o Código de Direito Canônico, cânon 212 § 3 assim reza: "Os fiéis, segundo a ciência , a competência e a proeminência de que desfrutam, têm o direito e mesmo por vezes o dever, de manifestar aos sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja, e de exporem aos restantes fiéis, salva a integridade da fé e dos costumes, a reverência devida aos Pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas."
  Aqui, reconhece-se o direito à liberdade de expressão e de opinião pública dentro da Igreja acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja. Não há esta liberdade quando se trata de dogmas. Fora do campo da Infalibilidade há este direito, mas deve ser exercido com toda reverência devida aos Pastores. Hoje, muitos, sob pretexto de reverência, não falam nada. Mas, na verdade, é porque não querem falar para conseguirem promoção junto à hierarquia, ou, então não querem perder o que já conseguiram. Mas há uma lei quase infalível: "Quem não age como pensa, termina pensando como age".
   Caríssimos e amados leitores, é obvio que não podemos aceitar aquela teoria dos Galicanos segundo a qual a Infalibilidade é dada à Sé Romana e não a pessoa do Papa, de tal modo que, se um papa errar em questão de fé e moral, a Providência Divina daria um dia a um outro papa a visão infalível para corrigir o que o antecessor houvesse ensinado de errado contra a fé e/ou a moral.
   Porém, nos casos em que não entra a Infalibilidade, podemos sim dizer que a Providência Divina não deixará de enviar um papa que corrija o que estiver de alguma maneira prejudicando as almas. Assim entendemos as crises que sofre a Igreja, como eclipses que passam.
   Caríssimos e amados fiéis, nos casos em que não entra a Infalibilidade, a Igreja pode, inclusive mudar de rumo. Eis um exemplo: O Papa Pio VI em 1794 condenou os jansenistas do Sínodo de Pistóia que negavam a existência do Limbo das crianças: "É falsa, temerária e injuriosa às escolas católicas a doutrina que rejeita, como se fosse fábula pelagiana, o lugar inferior (pelos fiéis geralmente chamado limbo das crianças), onde as almas dos que morrem apenas com o pecado original são punidas pela pena do detrimento sem algum tormento do fogo".
  A Santa Igreja nos seus catecismos ensinava sempre a existência do Limbo das crianças. Mas nunca definiu como dogma. Por isso Pio VI qualifica a opinião dos jansenistas como "falsa", "temerária" e "injuriosa". Se se tratasse de dogma o papa teria dito que a proposição que nega o Limbo seria "herética", e teria lançado o anátema contra seus defensores. Aqui se trata de uma conclusão teológica e que entra na alçada das leis eclesiásticas, por causa do batismo das crianças.
   Pois bem! Hoje a linguagem do Catecismo da Igreja Católica é bem diferente. Diz no nº 1261:"Quanto às crianças mortas sem o Batismo, a Igreja só pode confiá-las à misericórdia de Deus(...) A ternura de Jesus para as crianças, que o levou a dizer: Deixai as crianças virem  mim, não as impeçais" (Mc 10,14), nos permitem esperar que haja um caminho de salvação para as crianças mortas sem Batismo".
  Há pouco tempo alguns teólogos quiseram passar na frente do Papa e foram concluindo que agora a Igreja não aceitava mais a existência do Limbo das crianças. Logo o Santo Padre o Papa Bento XVI esclareceu que a Igreja ainda não definiu nada a respeito. Mister se faz ainda muito estudo, disse ele. E muita gente já ia concluindo que não mais era necessário se preocupar com o Batismo das crianças.
   O mesmo Papa Pio VI condenou os mesmos jansenistas de Pistóia mas agora sobre questão de leis disciplinares, (que diga-se de passagem, também ainda não foi definido como dogma) diz Pio VI: "Como se a Igreja que é governada pelo Espírito de Deus, pudesse estabelecer uma disciplina não somente inútil e mais onerosa do que a liberdade cristã pode tolerar, mas que seria ainda perigosa, nociva, própria a induzir à superstição ou ao materialismo: proposição que ele condenou como "falsa, temerária, escandalosa, perniciosa, ofensiva aos ouvidos pios, injuriosa, pelo menos errônea" (Conf. Denzinger 1578).
   D. Antônio de Castro Mayer quando estava à frente da Diocese de Campos, escreveu ao Santo Padre o Papa Paulo VI dando todos os argumentos e mostrando as falhas e ambigüidades da Missa Nova, falhas e ambigüidades estas que a tornavam prejudicial à almas. Pois bem! Se fosse algo dogmático, o Santo Padre Paulo VI teria que exigir uma retratação e caso não fosse feita, teria excomungado a D. Antônio de Castro Mayer. Mas a Santa Sé não o fez, não respondeu aos argumentos apresentados. D. Mayer continuou na Diocese de Campos.
   Pelo que eu sei, posso até estar enganado, a Santa Sé não censurou aqueles que criticam a lei eclesiástica da Comunhão na mão. Aliás o que sabemos é que o Santo Padre (então Bento XVI) com muita prudência vinha agindo no sentido de voltar ao costume tradicional que desperta a piedade e a fé e não dá espaço à profanações. Até hoje creio que Mons. Gherardini não tenha sido censurado pelas críticas feitas ao Concílio Vaticano II etc. etc.
    Um outro exemplo muito esclarecedor: Santo Tomás de Aquino disse na Suma Teológica que as palavras da Consagração, por sua própria natureza, devem ser ditas em voz baixa. O Concílio de Trento anatematizou os que condenam o rito que manda dizer em voz baixa as palavras da Consagração (Ses. 22,cânon 9; cf. Denzinger-Sch. 1759). Pois bem!  O Novo "Ordo" da Missa afirma justamente o contrário, ou seja, que as palavras da Consagração, por sua própria natureza (grifo nosso), devem ser ditas em voz clara e audível (Rubrica nº 91). Devemos observar em primeiro lugar que pela Filosofia aprende-se que, quando se diz "por sua própria natureza" a coisa vale para sempre e em toda parte. O que é exigido pela própria natureza de uma coisa, é independente de tempo e espaço. E não só isto. Logo perguntamos como pode a Igreja ser sempre infalível nas suas leis se hoje adota o que ontem anatematizou. E recebemos interiormente a resposta: está provado que aí não entrou infalibilidade, mas, sendo Divina, a Igreja um dia voltará inteiramente ao rito que nunca foi ab-rogado e nunca poderá sê-lo. Esta nova liturgia é apenas uma eclipse que passa. 
   Mas tudo que Nosso Senhor permite é para daí se tirar algum bem. Qual bem? Um amor sempre maior a Santa Missa de Sempre. A Igreja se empenhar mais em fazer o que mandou o Santo Concílio de Trento: "Conservando o rito aprovado em toda parte de cada uma das igrejas e da Santa Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas, e para que as ovelhas de Cristo não sintam fome e não suceda que os pequeninos peçam pão e não haja quem lho reparta (Lam. de Jeremias 4, 4), manda o santo Concílio aos pastores e a cada um dos que têm cura de almas, que durante a celebração da Missa expliquem freqüentes vezes por si ou por outros algo sobre o que se lê na Missa, e falem sobre algum mistério deste santíssimo sacrifício, principalmente nos domingos e festas". 

RESUMO
   Observações: 1ª -  Infalibilidade significa segurança de não haver erro nem imprudência. Isto dentro das condições definidas pela Igreja no Concílio Vaticano I.
                           2ª -  A Igreja nunca definiu que fora destas condições ela não possa errar. Normalmente não erra. Mas, sobretudo em tempo de crise, podem acontecer erros  e imprudências. E nestes casos a bússola é a Sagrada Tradição.
                            3ª - Nenhum teólogo tem direito de acrescentar, diminuir ou modificar o que foi definido pela Santa Madre Igreja.
                             4ª - Nas coisas que a Igreja ainda não definiu há lugar para os teólogos discutirem estas questões abertas, mas não podem impor sua opinião. A Igreja é a única que pode dar a palavra final. Fá-lo quando define, e aí toda língua se cale. "Roma locuta, causa finita".
                              5ª - Seguindo estas normas não há perigo de se cair nem para um lado nem para o outro: NEM PROGRESSISMO NEM SEDEVACANTISMO. Este será o título do próximo post, se Deus quiser.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

1º DIA DOS POBRES

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*
           
No próximo domingo, dia 19, por instituição do Papa Francisco, se celebrará o primeiro Dia Mundial dos Pobres, com o lema “Não amemos com palavras, mas com obras”, extraído, da frase da 1ª Carta de São João: “Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade” (1 Jo 3, 18). E o Papa Francisco explica: “Estas palavras do apóstolo João exprimem um imperativo de que nenhum cristão pode prescindir. A importância do mandamento de Jesus, transmitido pelo ‘discípulo amado’ até aos nossos dias, aparece ainda mais acentuada ao contrapor as palavras vazias, que frequentemente se encontram na nossa boca, às obras concretas, as únicas capazes de medir verdadeiramente o que valemos”.
 “Possuímos um grande testemunho já nas primeiras páginas dos Atos dos Apóstolos, quando Pedro pede para se escolher sete homens ‘cheios do Espírito e de sabedoria’ (6, 3), que assumam o serviço de assistência aos pobres. Este é, sem dúvida, um dos primeiros sinais com que a comunidade cristã se apresentou no palco do mundo: o serviço aos mais pobres. Tudo isto foi possível, por ela ter compreendido que a vida dos discípulos de Jesus se devia exprimir numa fraternidade e numa solidariedade tais, que correspondesse ao ensinamento principal do Mestre que tinha proclamado os pobres bem-aventurados herdeiros do Reino dos céus”.
“... ‘De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: ‘Ide em paz, tratai de vos aquecer e matar a fome’, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta’ (Tg 2,14-17)”.
“Nestes dois mil anos, quantas páginas de história foram escritas por cristãos que, com toda a simplicidade e humildade, serviram os seus irmãos mais pobres, animados por uma generosa fantasia da caridade!... Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à comunhão sacramental recebida na Eucaristia”.
“Não esqueçamos que, para os discípulos de Cristo, a pobreza é, antes de mais, uma vocação a seguir Jesus pobre. Pobreza significa um coração humilde, que sabe acolher a sua condição de criatura limitada e pecadora, vencendo a tentação de omnipotência que cria em nós a ilusão de ser imortal...”.
“Convido a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia, em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade. São nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo único Pai celeste. O convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade”.
“Senhor, dai pão a quem tem fome/ e fome de justiça a quem tem pão!

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

A INFALIBILIDADE - ( V )

O SUJEITO DA INFALIBILIDADE
   Sujeito da Infalibilidade significa aqueles a quem Nosso Senhor Jesus Cristo confiou o poder de ensinar, e prometeu a Infalibilidade. São dois: a) O Papa. b) Os bispos em comunhão com o Papa.
   Vamos explicar ambos; mas antes vamos falar sobre o Magistério Eclesiástico. Na verdade, Nosso Senhor Jesus Cristo deu a Sua Igreja três poderes: 1º - de governar; 2º - de ensinar; 3º - de santificar.
   Em primeiro lugar, vamos ver mais detalhadamente em que consiste o poder de ensinar. Em outras palavras, vamos tratar do Magistério da Igreja, isto é, MAGISTÉRIO ECLESIÁSTICO.

MAGISTÉRIO ECLESIÁSTICO

   A Teologia Tradicional formula a seguinte tese: "O Magistério autêntico e vivo, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, é infalível ao transmitir a doutrina revelada".

   Explicação das palavras: Magistério autêntico: isto é, aquele que é concedido e firmado por um poder legítimo. Portanto, para que alguém ensine autenticamente é preciso uma delegação legítima para ensinar.
   Devemos observar que o simples magistério autêntico eclesiástico não é necessariamente um magistério infalível. Por exemplo: cada bispo tomado isoladamente e mesmo os bispos reunidos num concílio e até mesmo o Romano Pontífice, podem ensinar autenticamente, sem que a doutrina seja proposta infalivelmente; porque para isso (isto é, propor de maneira infalivel) requer-se pelo menos a intenção de ensinar alguma doutrina como infalível. Além desta intenção são requeridas ainda outras condições, como veremos depois.
   Vamos aqui, mais uma vez, explicar melhor o que é infalibilidade.
   DEFINIÇÃO DE INFALIBILIDADE: Infalibilidade é uma prerrogativa sobrenatural, que a Igreja docente (isto é, que ensina) goza em virtude de uma assistência divina, pela qual ela não pode errar (nem de fato nem de direito) ao propor uma doutrina revelada. Em duas palavras: é imunidade de erro. Não pode errar.
   Por que dissemos que a infalibilidade é uma prerrogativa sobrenatural? Porque o homem por sua natureza é falível, portanto, precisa de uma graça especial para não errar quando ensina.
Por que dissemos na definição: da Igreja docente? Porque aqui se trata da infalibilidade ativa. Pois, existe a infalibilidade  passiva, isto é, a infalibilidade da Igreja discente, isto é, infalibilidade daqueles que aprendem. A infalibilidade da Igreja docente é chamada ativa porque deve influenciar nos fiéis.
   A infalibilidade da Igreja discente é chamada passiva porque recebe a doutrina infalível da Igreja docente. Em outras palavras: a adesão por parte dos fiéis à doutrina proposta pela Igreja docente de modo infalível, faz com que a Igreja discente que aceita, se torne infalível. Depois vamos, se Deus quiser, explicar isto melhor, ao falarmos do "Sensus Fidei". Pelo que acabamos de expor, observemos de passagem, que não é vício capital de orgulho, conservar com firmeza, as verdades que a Santa Madre Igreja sempre nos propôs como infalíveis; mas, pelo contrário, é a virtude da fé, pela graça de Deus.
   Por que dissemos na definição: em virtude de uma assistência divina? Porque a assistência divina é causa eficiente. Portanto, a infalibilidade não vem nem da ciência, nem da santidade do sujeito, nem do talento natural.
   Por que dissemos na definição: ao propor uma doutrina revelada? Porque o objetos em torno do qual o Magistério autêntico da Igreja se diz infalível, são a doutrina revelada e todas aquelas que são necessariamente conexas com as verdades reveladas. Por exemplo: A imortalidade da alma é uma verdade revelada, é um dogma, e portanto, objeto direto da infalibilidade. A espiritualidade da alma é uma verdade necessariamente conexa com a imortalidade da alma, e portanto, é indiretamente, objeto da infalibilidade.
   Para terminar a explicação dos termos da definição de infalibilidade, quero lembrar mais uma vez que infalibilidade não significa que o sujeito (o papa e/ou os bispos em comunhão como o papa) seja onisciente, isto é, saiba todas as coisas; ou seja impecável, isto é, que não peca nunca. Só Deus é onisciente e não comunicou a onisciência a ninguém; e entre as criaturas humanas, só Nossa Senhora foi impecável.
  Ainda falta explicar por que na Tese sobre o Magistério Eclesiástico se diz Magistério VIVO?
   Antes de responder, devemos saber que os modernistas atualmente dizem Magistério Vivo num sentido ambíguo. Isto aconteceu sobretudo depois do Concílio Vaticano II. Para os modernistas o dogma deve evoluir segundo os tempos e as circunstâncias; e a Igreja deve estar sempre procurando se adaptar as novidades que o Povo de Deus vivencia, criando-as pelo sentimento religioso que vem do coração. As palavras: evolução, novidades, progresso, vivência, são capitais para os modernistas. Em outras palavras: o Magistério da Igreja é vivo, segundo os modernistas, porque tem que acompanhar o progresso do mundo. Os modernistas dizem que a Igreja é infalível, enquanto aprova as opiniões comuns do Povo de Deus. Portanto, invertem os papéis.
   Observação: Depois, ao tratarmos do Concílio Vaticano II, vamos explicar que o "aggiornamento" desejado por João XXIII, naquele concílio, era no sentido tradicional. Inclusive o Papa João XXIII, hoje Santo, que convocou o Concílio Vaticano II, havia incumbido alguns cardeais de confiança como o Cardeal Ottaviani, de preparar os esquemas do Concílio. Por exemplo, foi feito um esquema sobre a Igreja e lá fala do Magistério da Igreja. É o capítulo VII, "De Ecclesiae Magisterio", da 2ª parte do esquema "De Ecclesia", proposto pela Comissão de Teologia preparatória para o Concílio.O Cardeal Ottaviani era o presidente desta Comissão Teológica. Na confecção deste esquema sobre a Igreja trabalharam 31 membros, mais 36 consultores pertencentes a 15 nações, a maioria professores de universidade ou que ensinavam em grandes instituições eclesiásticas do mundo inteiro. Cada um deles estava credenciado por várias publicações de grande valor, algumas das quais eram utilizadas como manuais nos seminários e universidades. E levaram em conta até o lado pastoral do Concílio. Acontece que os modernistas queriam outra coisa, como veremos mais tarde, se Deus quiser.
   Vê-se claramente que o Papa João XXIII pretendia fazer como fizera o beato Pio IX no Concílio Vaticano I. Só que no Concilio Vaticano I não foram mudados os esquemas preparatórios por outros; e no Vaticano II, infelizmente foram mudados. Neste ponto o Papa João XXIII não teve a mesma força que teve o Papa Pio IX.  Vejam o que fizeram no Vaticano II: Dos 11 capítulos do esquema "De Ecclesia", ficaram só 4 e mesmo assim inteiramente mudados. O Capítulo VII sobre o Magistério foi simplesmente morto antes de nascer. Neste Capítulo VII não há nada de ambíguo: está inteiramente correto à luz da Tradição. E são grandes teólogos tradicionais que o afirmam. Lá diz: "Magistério Perene e Vivo". D. Antônio de Castro Mayer nos dizia que o seu grande amigo, o cardeal Ottaviani ficou triste e revoltado com esta troca dos esquemas e isto feito na última hora). Costumo dizer que os Modernistas trabalham muito mas onde não se deve: são como as formigas. O Cardeal Ottaviani, que era o Presidente da Comissão Teológica Preparatória, alertou várias vezes que havia muitas ambiguidades naqueles novos esquemas. E uma delas é o "subsistit in". Hoje já foi dado o sentido correto (embora até grandes teólogos tenham dificuldade em entender o emprego desta expressão) mas não foi retirada a expressão que deu azo ou espaço a tantos erros. Na minha opinião foi uma ponte para o ecumenismo, a ideia central de todo o Concílio Vaticano II.
   No próximo post, veremos o que escreveu D. Antônio de Castro Mayer sobre o Magistério Perene e Vivo.
  

 

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A INFALIBILIDADE PONTIFÍCIA ( IV )

   EXPLICAÇÕES DA TEOLOGIA SOBRE INFALIBILIDADE
   Que vem a ser propriamente INFALIBILIDADE?
   Com relação à Igreja, infalibilidade é não poder a Igreja alterar a doutrina do Seu Divino Mestre, nem poder enganar-se sobre o verdadeiro sentido do que o mesmo Divino Mestre lhe ensinou, ordenou ou proibiu.
   É verdade que só Deus é infalível por natureza; mas pode Ele muito bem, por uma providência especial, conceder este privilégio a outro e proteger ou defender do erro aos que em Seu nome estão encarregados de ensinar, de tal forma que nunca neste ensino se apartem da verdade. E foi o que Deus realmente fez, dando ao seu magistério o dote da infalibilidade.
   A infalibilidade não provém de uma inspiração propriamente dita (como é o caso da Bíblia); nem vem de uma nova revelação, mas sim da uma ASSISTÊNCIA ESPECIAL concedida ou ao episcopado em união com o Papa, ou só ao Supremo Pastor para bem compreenderem e exporem a doutrina revelada por Jesus Cristo e os Apóstolos e que está contida nas Sagradas Escrituras e na Tradição. Infalibilidade não é uma moção interna miraculosa. É simplesmente uma garantia que Deus, cuja providência governa a Igreja, se digna conceder-lhes para impedir que ensinem autenticamente uma doutrina que esteja maculada de erro. E esta prerrogativa, não só não inutiliza as investigações, as controvérsias e as diligências humanas, senão também que as supõe e as exige. Vou explicar melhor. É como se o Divino Mestre dissesse aos seus representantes: "Eu estarei convosco nas vossas diligências e empenho em precisar bem a verdade, de modo que nunca proclamareis decisão alguma, que não esteja de acordo com a verdade". E assim é que somente depois de empregar todos os meios indispensáveis para não proceder com temeridade e imprudência, somente depois de ter cuidadosamente explorado as duas fontes da Revelação: a Sagrada Escritura e a Tradição, é que a Igreja (os bispos em união com o Papa) ou o Papa sozinho "ex cathedra" declara revelada uma verdade até então implicitamente encerrada no tesouro da Revelação.
   Também é preciso notar que infalibilidade é coisa inteiramente diversa da impecabilidade, que consiste em não poder alguém cometer pecado. Este privilégio foi concedido a Santíssima Virgem, mas não foi concedido aos papas. Houve papas, poucos aliás, que não foram lá modelos de virtude, infelizmente foram até viciosos. Mas devemos tomar muito cuidado neste ponto, porque há muita mentira histórica, ou seja, há muitas calúnias. O mais seguro é ler o que algum santo disse. Vamos dar apenas um exemplo. Ouçamos São João Bosco falando dos papas do século X: "O décimo século da Igreja foi assinalado por muitos deploráveis acontecimentos devidos à prepotência exercida em Roma pelo conde Adalberto e por suas filhas Marósia e Teodora. Estas duas ambiciosas mulheres introduziram no Pontificado, por meio da força, os de seu partido, sem consideração alguma a sua virtude e doutrina. Por isso, muitas vezes, fizeram-se eleições nas quais, homens de pouca ciência e de não muito bons costumes eram preferidos a outros que por doutrina e santidade eram os únicos que mereciam ser eleitos". E depois São João Bosco faz a seguinte observação: "Deve-se fazer sobressair a especial assistência que prestou Deus a Sua Igreja, posto que neste século, não houvesse heresia ou cisma, contra o qual fosse necessário convocar um Concílio Universal".
   Caríssimos e amados leitores, para que tenham uma ideia mais completa da situação, eis mais um exemplo (embora ainda no século IX). É o caso tristemente célebre do Papa Formoso que governou a Igreja de 891 a 896. O papa Estêvão VI (896-897) fez desenterrar o cadáver do papa Formoso, seu antecessor, julgou-o diante de um tribunal e depois mandou jogar o cadáver no rio Tibre. Pouco depois o próprio papa Estêvão VI foi preso e estrangulado no cárcere. É claro que em tudo isto não entra infalibilidade, mas pecados dos homens, dos quais nem os papas estão livres. Vocês já devem ter ouvido falar também do caso triste do papa Alexandre VI. Mas vamos antes meditar na palavras de São João Bosco citadas acima. Devemos só observar que em todo este século X não houve nenhum papa que até hoje fosse canonizado pela Igreja. Este triste século X foi chamado "o século de ferro".
   O Revmo. Pe. Álvaro Negromonte, célebre e erudito Diretor do Ensino Religioso na Arquidiocese do Rio de Janeiro anos antes do Concílio Vaticano II, dá a seguinte nota triste deste século X: "Morta Marósia (que, segundo São João Bosco, elegera à força papas indignos), seu filho Alberico elegeu sucessivamente, sob a influência de Santo Odon, monge de Cluny, quatro papas dignos; mas, por fim, fez eleger papa o seu próprio filho Otaviano que levou para o trono papal uma vida depravada. Mudou-se de nome, chamando-se João XII (955-964), mas não mudou de vida, sendo um dos mais indignos papas de toda a história. No entanto, continua o Padre Negromonte, nenhum papa indigno, procurou justificar seus pecados com erros doutrinários; todos guardaram intacta a pureza da Fé Católica; o que mostra como a Providência, que permite estas tormentas, vela pela Igreja. Isto deve ser frisado, porque constitui uma da mais extraordinárias vitórias da Igreja" (Cf. Hist. da Igreja, Pe. Álvaro Negromonte, p. 77 e 78, ed. de 1954. E confira também: "BREVE HISTÓRIA DOS PAPAS", livro vendido no Vaticano).

   NECESSIDADE DA INFALIBILIDADE: Um dogma fixo exige necessariamente uma infalibilidade para salvaguardá-lo. "Sem a promessa de uma assistência divina nenhum homem pode dizer a outro homem: tu hás de pensar e crer como eu. Onde não há um centro de unidade (como não há no Protestantismo) cada homem dá sua opinião, cada sábio levanta sua cátedra e funda a sua escola. E quando uma doutrina é prática (moral), quando os seus preceitos atingem a vida em todas as suas manifestações, refreiam a cobiça, mortificam a sensualidade, humilham o orgulho, é geral a oposição por causa dos interesses feridos.
   Nenhuma verdade se defende então por si só. É necessário montar-lhe ao lado uma sentinela vigilante e incorruptível que rechace assaltos, que lhe defenda a existência, a integridade, a eficácia iluminadora. Uma tocha exposta às rajadas dos ventos apaga-se; colocai-a no alto de uma torre, abrigai-a num invólucro de cristal; é farol... Divinamente assistida para repelir do tesouro da verdade qualquer mão sacrílega, ela mantém no seio da humanidade sempre aceso o farol da luz divina" (Padre Leonel Franca).
   Por isso, negar a infalibilidade, seria negar a própria Igreja. Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o Magistério da Igreja para continuar sua missão, para iniciar todos os homens de todos os tempos na doutrina revelada e conservar absolutamente íntegro e intacto, qual precioso tesouro, o "DEPÓSITO" da verdade revelada (Depositum Fidei). É evidente que esse Magistério seria ilusório se pudesse correr o risco de falhar e se os fiéis não tivessem a garantia de que é o próprio Jesus Cristo, o Mestre, quem, por este meio lhes propõe Sua doutrina. Em outras palavras: O Magistério da Igreja deve ser dotado das prerrogativas da Infalibilidade.
  Caríssimos e amados leitores, em alguns posts seguidos, falaremos, se Deus quiser, do MAGISTÉRIO DA IGREJA. Acompanhem! Obrigado!

  

terça-feira, 14 de novembro de 2017

A INFALIBILIDADE PONTIFÍCIA - ( III )

B - O DOGMA DA INFALIBILIDADE DO PAPA

   Nº 1836 - Antes da definição do dogma, o Concílio Vaticano I diz: "...Os Pontífices Romanos, conforme lhes aconselhavam a condição dos tempos e as circunstâncias, ora convocando Concílios Ecumênicos, ora sondando a opinião de toda a Igreja, dispersa pelo mundo inteiro, ora por Sínodos particulares ou empregando outros meios, que a Divina Providência lhes proporcionava, têm definido como verdade de Fé tudo aquilo que, com o auxílio de Deus, reconheceram ser conforme com a Sagrada Escritura e as Tradições Apostólicas. Pois o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de São Pedro para que estes sob a revelação do mesmo (=Espírito Santo), pregassem uma nova doutrina, mas para que, com sua assistência conservassem santamente e expusessem fielmente o depósito da fé, ou seja a Revelação herdada dos Apóstolos. E esta doutrina dos Apóstolos abraçaram-na todos os veneráveis Santos Padres, veneraram-na e seguiram-na todos os santos doutores ortodoxos, firmemente convencidos de que esta cátedra de São Pedro, sempre permaneceu imune de todo erro, segundo a promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo feita ao Príncipe dos Apóstolos: "Eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos" (São Lucas XXII, 32).

     1837-  "Foi, portanto, este dom da verdade e da fé, que nunca falece, concedido divinamente a Pedro e aos seus sucessores nesta cátedra, a fim de que cumprissem seu sublime encargo para a salvação de todos, para que assim todo o rebanho de Cristo, afastado por eles do venenoso engodo do erro, fosse nutrido com o pábulo da doutrina celeste, para que assim, removida toda ocasião de cisma, e apoiada no seu fundamento, se conservasse unida a Igreja Universal, firme e inexpugnável contra as portas do inferno.

   Nº  1838 -  "Mas, como nestes nossos tempos, em que mais do que nunca se precisa da salutífera eficácia do ministério apostólico, muitos há que combatem esta autoridade, julgamos absolutamente necessário afirmar solenemente esta prerrogativa que o Filho Unigênito de Deus dignou-se ajuntar ao supremo ofício pastoral.

  Nº  1839  - (Segue-se a definição dogmática da infalibilidade do papa):  "Por isso Nós, apegando-nos à Tradição recebida desde o início da fé cristã, para a glória de Deus, Nosso Salvador, para exaltação da Religião Católica, e para a salvação dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala "Ex Cathedra", isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral, para toda a Igreja, em virtude da assistência prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual o Divino Redentor quis munir a Sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que portanto, tais declarações do Romano Pontífice, são por si mesmas e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis".

   Nº 1840  - "Se, porém, alguém ousar contrariar esta nossa definição, o que Deus não permita, seja excomungado".

A INFALIBILIDADE PONTIFÍCIA ( II )

HISTÓRIA DO CONCÍLIO VATICANO I   (continuação)

     Já vimos que Pio IX começou a preparar o concílio há quatro anos antes, constituindo para isso uma comissão de cardeais de sua maior confiança. Por prudência foi tudo feito em segredo. Mas quando foi revelada a intenção do papa em convocar um Concílio Ecumênico e sobretudo quando ficou-se sabendo que neste concílio deveria ser definido solenemente o dogma da Infalibilidade do Sumo Pontífice, então começaram já as disputas. (Era a fase do demônio). Muita divisão! Mas Pio IX não desistiu e disse que confiava na proteção de Maria Santíssima. Apareceram três grupos: 1º - OS ANTI-INFALIBILISTAS, cujo chefe foi o padre Döllinger, sábio historiador da Igreja, teólogo e professor de História da Igreja. Infelizmente não se converteu, morreu herege e fundou a seita dos "Velhos Católicos".
   2º grupo: OS ANTI-OPORTUNISTAS: Admitiam a Infalibilidade do papa (a verdade) mas achavam que não era oportuno na época, defini-la como dogma. O chefe foi o bispo de Orléans Mons. Dupanloup e também Montalembert. Todos os anti-infalibilistas e os anti-oportunistas apresentavam como objeção os casos dos papas Libério e Honório I, sobretudo este último.
   3º grupo: OS INFALIBILISTAS: os que eram do lado do papa. Os chefes foram vários, mas vamos citar apenas alguns. Entre os bispos: D. Dechamps, bispo de Malinas; o cardeal Manning de Westminster. Entre os leigos sobressai o grande Louis Veuillot, que, como já dissemos, era um homem de fé viva e firme, de um amor ardente a Nosso Senhor Jesus Cristo e à Sua Santa Madre Igreja. Seu jornal chamava-se: "L'Universe", nele Veuillot combateu o célebre bispo de Orléans Mons. Dupanloup que era liberal e escrevia no jornal "Le Français". Louis Veuillot combateu também um dos chefes do "Catolicismo Liberal", o conde e Montalembert (+ 1870). Este escrevia no jornal "L'Avenir" juntamente com Lamennais (Este era padre, apostatou-se e morreu sem se retratar). Como defendia a "Liberdade Religiosa" e não se retratou, foi excomungado pelo Papa Gregório XVI. Um dos seus livros: "Ensaio sobre a indiferença em matéria de Religião". Vejam uma das suas frases: "Todos os amigos da Religião precisam compreender que ela necessita somente de uma coisa: da liberdade". 
   O bispo D. Dupanloup, uma vez definido o dogma da infalibilidade do papa, aceitou-o plenamente. Montalembert morreu antes da definição do dogma, mas deixou preparado um escrito em que declarava morrer como filho obediente de Igreja, admitindo desde já todas as suas definições. 

REALIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO I

   Deveriam os bispos reunirem-se na Basílica de São Pedro do Vaticano e por isso chamou-se Primeiro Concílio do Vaticano ou Concílio Vaticano I. Inaugurou-se no dia 08 de dezembro de 1869 - Festa da Imaculada Conceição - achando-se presentes cerca de 770 pessoas entre bispos (como Santo Antônio Maria Claret), cardeais, abades (como D. Guerénger), gerais de Ordens Religiosas e insignes teólogos. Mais de três quartos dos que tinham direito a votos na Igreja. Neste Concílio só houve quatro sessões. O Concílio tinha 52 assuntos para serem tratados, mas não foi possível porque o papa foi obrigado a suspendê-lo por causa da guerra chamada franco-prussiana. E Roma também foi invadida. Portanto, este Concílio ficou inacabado. 
   NOTA: Acho necessário explicar alguns termos técnicos: "PADRES" do Concilio: Este termo é colocado entre aspas para significar os bispos, cardeais e outros que têm voz deliberativa, isto é, aqueles que podem votar. "PERITOS" do Concílio: são os teólogos que dão assistência aos "Padres". "OBSERVADORES"do Concilio: são os que não têm direito a voto e nem o direito de dar assistência aos "Padres". São geralmente autoridades católicas ( ou não, isto é, podem ser hereges: protestantes e ortodoxos cismáticos). Mas o termo "Observadores" também é técnico, ou seja, podem também falar apresentando suas sugestões. No Concílio Vaticano I, como vimos, não compareceram. Já no Concílio Vaticano II, não só compareceram, mas fizeram suas sugestões, como a História o comprova. Aliás, foram convidados justamente para falarem, já que a meta primordial do Concílio Vaticano II foi o diálogo ecumênico. Os Encontros de Assis são um prolongamento. (Fim da NOTA).
   A história da definição do dogma da Infalibilidade Pontifícia.
   Um esquema já retocado, foi apresentado a reunião ferial dos "Padres" do Concílio no dia 13 de julho de 1870. Dos 601 "Padres" votaram "SIM" (em latim= PLACET) 451; votaram "NÃO" (em latim ="NON PLACET) 88; e votaram "SIM" mas com correções (em latim= "PLACET JUXTA MODUM") 62 "Padres".
   Assim ficou preparado o decreto para a sessão pública solene, que seria no domingo seguinte; mas estourou a guerra franco-prussiana e os "Padres" anteciparam a sessão solene para o dia 18 de julho. Dos que se opunham, chefiados pelo bispo D. Dupanloup, 55 preferiram se retirar, do que votar "não" diante do papa. Como havia permissão para sair do Concílio por causa da guerra, aproveitaram e saíram.
   Então no dia 18 de julho de 1870 à 9 horas começou a sessão. No momento em que os "Padres" estavam dando os votos, estalou uma terrível tempestade, com trovões e relâmpagos, que durou duas horas e meia. Assistiam a sessão 535 "Padres". Só dois votaram "não" ou "non placet". Mas depois estes dois aceitaram docilmente.
   Ao sancionar Pio IX com sua suprema autoridade a constituição apostólica, contam que, passada a tempestade, um raio de sol penetrou pelas janelas e iluminou o rosto de Pio IX. No dia seguinte, por causa da guerra, o papa suspendeu o Concílio. O raio de sol penetrando na Basílica de São Pedro foi simbólico. Depois de tantas tempestades, de discussões apaixonadas, brilhou o sol da verdade e todos foram se acalmando. A definição tal como foi proclamada, dissipou muitas trevas, deu a chave da explicação de muitos fatos históricos (como dos papas Libério e Honório I) e houve por todas as partes o aplauso dos bispos e dos fiéis. Os que achavam que não era oportuna a definição do dogma da Infalibilidade - como D. Dupanloup, mais 54 bispos que saíram antes - se apressaram a escrever ao papa dando total adesão ao dogma e reconheceram que sua definição foi mais que oportuna, porque definindo os limites da Infalibilidade, resolveram-se as objeções sobretudo no caso do papa Honório I.
   Como já dissemos, o único caso triste foi do do Padre Döllinger ( que nem quis participar do Concílio) que não aceitou o dogma da Infalibilidade e portanto caiu na heresia e terminou fundando uma seita que se chamou "Os Velhos Católicos". Infelizmente este padre apóstata, herege e cismático morreu excomungado.