quarta-feira, 30 de março de 2016

JESUS NOS LAVOU DOS NOSSOS PECADOS NO SEU SANGUE




   "... Jesus Cristo, que é testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos, o príncipe dos reis da terra, que nos amou e nos lavou dos nossos pecados no seu sangue..." (Apocalipse, I, 5). 

   "... Fostes resgatados... pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e sem contaminação..." (1 Pedro, I, 18 e 19).

   "... não com sangue dos bodes ou dos bezerros, mas com o seu próprio sangue, entrou (Jesus Cristo) uma só vez no Santo dos Santos, depois de ter adquirido uma redenção eterna." (Hebreus, IX, 12). 

   Este é o amor de Deus por nós: O Pai nos amou de tal modo que nos deu o seu Filho Unigênito e o Filho nos amou a tal ponto que chegou até ao último limite: entregou-se livremente a morte, derramando todo seu sangue para nossa redenção. 

   Jesus Cristo disse: "Como meu Pai me amou assim vos tenho Eu amado. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meu mandamentos permanecereis no meu amor, assim como Eu também permaneço no amor do Pai guardando-Lhe os mandamentos" (S. João, XV, 9-10). 

   Diz São Pedro Julião Eymard: "Deus nos ama verdadeiramente! E nos ama com um amor eterno que não teve princípio nem terá fim, nem sucessão, e não é sujeito a vicissitude; somos eternos em seu amor! 

   Séculos e séculos antes de existirmos, Deus nos concebera em seu pensamento, nos idealizara em seus desígnios, pensamento e desígnios de amor!

   Ah! jamais O haveremos de amar como Ele nos amou. Ainda mesmo que nos esforcemos por dilatar o nosso amor, estendê-lo, fazê-lo ultrapassar os limites, estaremos sempre aquém do devido reconhecimento, sempre devedores de amor!

   E a realidade é que não O amamos sequer nos poucos instantes desta vida que Ele nos concede para Lhe testemunharmos livremente a nossa gratidão, ao passo que Ele nos amo desde toda a eternidade!

   Sim, Deus nos ama e não se contenta em nos amar genericamente, como parte de um todo, o que seria muito, aliás, e mais que suficiente para a nossa salvação. Mas Ele quer atingir o extremo do amor infinito e, por isto, nos ama individualmente, particularmente, com se cada um de nós fosse o único a existir neste mundo. 

quinta-feira, 17 de março de 2016

O PAI-NOSSO - "DÍVIDAS" - EXPLICAÇÃO DO CATECISMO DE TRENTO.

   CATECISMO ROMANO OU DE SÃO PIO V OU TAMBÉM CHAMADO "CATECISMO DO CONCÍLIO DE TRENTO. Parte IV, capítulo XIV, § III.
   Nº [12] - Explicação verbal e real: Qual o sentido de "DÍVIDAS". Pode ter três sentidos: a) como obrigação; b) como transgressão; c) como objeto de perdão divino. (O catecismo Romano explica os três sentidos).
   (Os párocos) ... façam os fiéis compreenderem o que neste lugar se entende por "dívidas", para que se não enganem com a ambiguidade do termo, e peçam coisa diferente do que devem pedir.
   a) "dívida" entendida como obrigação: Antes de tudo, importa saber que, de nenhum modo, pedimos dispensa da absoluta obrigação de amar a Deus, de todo coração, de toda nossa alma, de todos os nossos sentimentos.A solvência  (o pagamento) desta dívida é indispensável para a salvação.
   Por dívida se entende também obediência, culto, adoração a Deus, e outras obrigações da mesma natureza. Delas tão pouco, não pedimos livramento.

   b) "dívida entendida como transgressão: Na verdade, o que pedimos é que nos livre de nossos pecados. Assim o entendia São Lucas, quando em lugar de "dívidas" escreveu "pecados"; certamente, porque nos tornamos culpados diante de Deus, quando os cometemos, e nos expomos às penas devidas, que temos de resgatar, quer pela satisfação, quer pelo sofrimento.
   Desta natureza era a dívida, a que Cristo Nosso Senhor se referia pela boca do Profeta (Davi, Salmo LXVIII, 5 - Nota do Cat. R. : Cristo sofreu inocente pelos pecados dos homens). "Tive de pagar o que não roubei". Esta palavra de Deus nos faz compreender que somos, não só devedores, mas até devedores insolventes, porque o pecador não pode, de modo algum, satisfazer por si mesmo.

 c) como objeto de perdão divino [13] Por isso, devemos recorrer à misericórdia de Deus. Ora, esta se põe em igualdade com Sua justiça, da qual Deus é guarda zelosíssimo. Devemos, portanto, valer-nos da oração, e patrocinar-nos com a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, sem a qual ninguém jamais conseguiu o perdão de seus pecados; dela promana, como de uma fonte, toda a eficiência de qualquer satisfação.
   Na verdade, o preço que Cristo Nosso Senhor pagou na Cruz, e nos comunica pelos sacramentos, quando realmente os recebemos, ou desejamos recebê-los, é tão grande, que nos alcança e nos outorga o objeto desta petição: o perdão de nossos pecados.
   [14] Aqui não pedimos apenas a remissão de pecados leves, muito fáceis de perdoar, nas também dos graves e mortais. Naturalmente, quanto aos pecados graves, a oração não terá este efeito, como já dissemos, se não for acompanhada pela recepção real do Sacramento da Penitência, ou pelo vivo desejo de recebê-lo.

 EXEMPLO
A MULHER DE TÉCUA
   Por causa de uma culpa grave caíra Absalão, filho de Davi, no desagrado do pai, que o condenara a ser exilado para uma terra estranha. Joab, general de Davi, e a quem Absalão era muito querido, aplacou a ira do rei por este modo. Mandou ao rei uma mulher de Técua, para lhe pedir graça a favor de Absalão, e ensinou à mesma as precisas palavras que havia de dizer. Logo que a mulher concluiu, Davi fez-lhe esta pergunta:"Não é verdade que a mão de Joab anda contigo em tudo isto?" Respondeu a mulher: "Teu servo Joab é quem deu esta ordem, e quem pôs todas as palavras na boca da tua serva". E o rei acrescentou logo: "Eis aí eu aplacado te concedo o que pedes". (2 Reis, XIV).
   Ora, quanto mais facilmente não atenderá o Senhor as nossas súplicas, quando oramos não com palavras nossas ou dum servo fiel, mas com as de Seu próprio Filho!

domingo, 13 de março de 2016

A INTRANSIGÊNCIA DA VERDADE

Extraído da "CARTA PASTORAL SOBRE PROBLEMAS DO APOSTOLADO MODERNO", escrita por D. Antônio de Castro Mayer em 06 / 01 / 1953.

  -  Afirmação errônea dos modernistas: Cumpre empregar a maior energia para reduzir os que se manifestam intransigentes na defesa da doutrina católica. Não há erro mais pernicioso do que a intransigência da verdade.

   * Afirmação certa: A intransigência é para a virtude o que o instinto de conservação é para a vida. Uma virtude sem intransigência, ou que odeia a intransigência, não existe ou só conserva a exterioridade. Uma fé sem intransigência, ou já morreu, ou só vive na parte externa, pois perdeu o espírito. Sendo a fé o fundamento da vida sobrenatural, a tolerância em matéria de fé é o ponto de partida para todos os males, especialmente para as heresias. 


Explanação

   São Pio X apontava como uma das características dos modernistas uma tolerância extrema para com os inimigos da Igreja, e uma intolerância acerba contra os que defendiam energicamente a ortodoxia. Há, de fato, nesta atitude uma incoerência flagrante, pois os que fazem praça de tolerar todas as opiniões deveriam tolerar os que sustentam os direitos da intransigência. Aliás, esta contradição é comum a todos os heresiarcas. As várias seitas se unem com grande cordialidade, fechando os olhos aos seus pontos divergentes, sempre que se trate de impugnar a intransigência da Igreja em matéria de Fé. Temos nessa atitude um critério para estimar a importância singular que tem para a vida da Igreja a intolerância em questões doutrinais. 

   É evidente que os excessos da intransigência, por isso mesmo que excessos, devem ser reprimidos, pois todo excesso é um mal. Cumpre, porém, não esquecer as sábias normas ditadas pela Santa Sé, no pontificado de São Pio X, em relação ao modo por que se há de corrigir uma ou outra demasia de valorosos polemistas católicos, empenhados no combate ao erro. Escrevendo ao Emmo. Cardeal Ferrari, Arcebispo de Milão, a respeito do jornal "La Riscossa" que se alarmava com a infiltração modernista naquela Arquidiocese o Emmo. Cardeal de Lai, Secretário da Sagrada Congregação Consistorial dizia: "Todos estes fatos explicam que certos bons católicos sintam temor com relação à sua querida Diocese, e levantem a voz para conclamar às armas. Talvez se excedam na maneira. Mas, em plena batalha, quem com direito, poderia fazer uma grave censura aos defensores, se não medem com precisão matemática seus golpes? Era a resposta que dava também S. Jerônimo aos que lhe repreendiam o ardor, muitas vezes impetuoso e áspero, contra os hereges e os descrentes de seu tempo. A propósito, direi outro tanto, também eu, a Vossa Eminência, com relação ao ataque da "Riscossa". Que haja males por aí [em Milão] depois dos fatos referidos, ninguém poderá negá-lo. Não é, portanto, e não pode ser chamado inteiramente injusto o fato de alguns terem levantado sua voz. Foram além das medidas? Então convém lamentar, mas não é absolutamente mau que, clamando o alarme, tenham exagerado um pouco o perigo. É sempre preferível exceder-se um pouco no advertir contra o mal, do que calar-se e deixá-lo crescer" (Disquisitio, p. 156/7, apud "Pensée Catholique", nº 23, p. 84) E: "Em fim de contas, no seio de uma tão grande licença da imprensa má, entre os perigos que cercam a Igreja de tantos lados, não parece de bom aviso ligar excessivamente as mãos aos defensores, nem combatê-los e desencorajá-los por qualquer pequeno descuido" (idem, ibidem).

   E o próprio Santo Papa, escrevendo em 12 de agosto de 1909 a Mons. Mistrangelo, Arcebispo de Florença, sobre uma modificação ordenada na redação do jornal "L'Unitá Cattolica", declarou: "Tudo está bem quando se trata de respeitar as pessoas, mas eu não quereria que por amor da paz, se chegasse a compromissos, e que para evitar aborrecimentos se faltasse ainda que pouco à verdadeira missão da "Unitá Cattolica", que é velar pelos princípios e ser a sentinela avançada que dá alarme, ainda que fosse à maneira do ganso do capitólio, e que desperta os adormecidos. Neste caso, a "Unitá" não teria mais razão de existir" (Disquisitio, p. 107, apud "Pensée Catholique", nº 23, p. 84). 


Nota: 1-  Onde D. Antônio diz "Bem-aventurado Pio X", pus "São Pio X". Quando escreveu a Carta Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno, Pio X ainda não tinha sido canonizado. 

          2-  Só os modernistas não veem crise hoje na Igreja. Um verdadeiro católico, e que, portanto, ame de fato a Sagrada Tradição, sofre em ver a Santa Madre Igreja como Jesus na sua Paixão, ou seja, entregue, nas mãos dos inimigos. O Católico, em tamanha crise, não pode permanecer indiferente e ficar escrevendo de maneira bem "light", como se a Igreja estivesse bem como nunca. Temos que dar testemunho de Nosso Senhor Jesus Cristo!

            3- Felicito todos os blogs e sites católicos que defendem a Tradição. Mas não esqueçamos que, antes de tudo, devemos orar e fazer penitência. 
    

sábado, 12 de março de 2016

A CRÍTICA POSITIVA

   Na audiência pública de 12 de setembro de 1973 dizia o então Santo Padre, o Papa Paulo VI (hoje beato): "Há duas espécies de críticas: denominamos positiva a primeira, a que é formada por aqueles críticos que se orientam para a verdade e, no que se refere à Igreja, para a introspecção de sua verdadeira natureza... Trata-se de uma crítica que não esconde nada, mas que nos torna tanto mais apaixonados pela Igreja de Cristo quanto mais ela nos revela os defeitos, as incoerências, as quedas, os sofrimentos e as necessidades do seu vulto humano. Todos nós, que nos consideramos fiéis, filhos e membros solidários da Igreja, gostaríamos de pertencer aos críticos desta espécie... Por si, a contestação deveria tender a corrigir defeitos que merecem repreensão e, por isso, a promover uma conversão, uma reforma. De nossa parte, não queremos exorcizar a contestação positiva". 

   Santo Tomás de Aquino, comentando o episódio em que São Paulo resistiu a São Pedro, primeiro Papa, repreendendo-o publicamente, assim escreve: "Havendo perigo próximo para a fé, os prelados devem ser arguidos até mesmo publicamente, pelos súditos. Assim, São Paulo, que era súdito de São Pedro, arguiu-o publicamente, em razão e um perigo iminente de escândalo em matéria de Fé. E, como diz a glosa de Santo Agostinho, o próprio São Pedro deu o exemplo aos que governam, a fim de que estes, afastando-se alguma vez do bom caminho, não recusassem com indigna uma correção ainda mesmo de seus súditos" 

   "A repreensão foi justa e útil, e o seu motivo não foi leve: tratava-se de um perigo para a preservação da verdade evangélica. O modo como se deu a repreensão foi conveniente, pois foi público e manifesto. Por isso, São Paulo escreve: 'Falei a Cefas (isto é, a Pedro) diante de todos', pois a simulação praticada por São Pedro acarretava perigo para todos"

   "Aos prelados foi dado o exemplo de humildade, para que não recusem a aceitar repreensões da parte de seus súditos e inferiores; e aos súditos foi dado exemplo de zelo e liberdade para que não receiem corrigir seus prelados, sobretudo quando o crime for público e redundar em perigo para muitos" (Suma Theol. II-II, 33, 4,2 e ad Gal. 2, 11-14, lect. III). 

   Caríssimos, sobre este fato, é mister observar o seguinte: Não se trata de algo meramente disciplinar (a circuncisão, que, em si mesma é algo indiferente) passou-se a ser algo que atingia a Fé porque Nosso Senhor Jesus havia dado a São Pedro e aos demais Apóstolos, o poder de ligar e desligar. E tinha havido o Primeiro Concílio da Igreja, o de Jerusalém, e ali, iluminados pelo Espírito Santo, decidiram que a circuncisão não seria mais obrigatória. Ora, a dissimulação de Pedro dava a entender que o que tinha sido determinado no Concílio de Jerusalém não tinha valor, ou seja que  a circuncisão era obrigatória, quando, de fato, quem quisesse fazer, tudo bem, era livre (como fez o próprio São Paulo com relação a Timóteo). Uma coisa em si mesma indiferente, pode ser feita ou não sem que haja pecado, a não ser se for preceituada sob pena de pecado. O Concílio de Jerusalém ab-rogou o preceito, e a dissimulação de Pedro, dava a entender que o preceito ainda estava em vigor.  

segunda-feira, 7 de março de 2016

DA JUSTIÇA E DA MISERICÓRDIA DE DEUS

DA JUSTIÇA E DA MISERICÓRDIA DE DEUS

"O Senhor é justo e ele ama a justiça" (Salmo X, 8)
"A misericórdia e a verdade (=justiça) se encontraram; a justiça e paz (=misericórdia) se oscularam" (Salmo LXXXIV, 11).
"O Senhor é misericordioso e compassivo" (Salmo CX, 4) e "O Senhor é compassivo e misericordioso, paciente e de muita misericórdia" (Salmo CII, 8).
"Todos os caminhos do Senhor são misericórdia e verdade (=justiça)"  (Salmo XXIV, 10).


Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica, 1ª Parte, q. XXI fala sobre a Justiça e a Misericórdia de Deus em quatro artigos e prova:  1º   Que em Deus há justiça; 2º - Que a sua justiça pode se chamar verdade; 3º - Que em Deus há misericórdia; 4º - Que em todas as obras de Deus há justiça e misericórdia.

Resumirei num só artigo estas teses que o Doutor Angélico prova respectivamente com os textos das Sagradas Escrituras acima enunciados.

!º - DEUS É JUSTO: "O Senhor é justo e Ele ama a justiça". Há dupla espécie de justiça. Uma que consiste no mútuo dar e receber; p. ex. a que existe na compra e venda e em tratos e trocas semelhantes. É a justiça chamada comutativa. Esta não existe em Deus segundo aquilo que diz São Paulo: "Quem lhe deu alguma coisa primeiro, para que tenha de receber em troca" (Romanos XI, 35). A outra justiça é chamada distributiva. É aquela pela qual um governante ou administrador dá segundo à dignidade de cada um. Ora, assim como a ordem devida, na família ou em qualquer multidão governada, demonstra a justiça do governador, assim também a ordem do universo manifesta, tanto nos seres naturais, como nos dotados de vontade, a justiça de Deus. Assim diz São Dionísio: "Devemos ver a verdadeira justiça de Deus no distribuir ele a todos os seres segundo o que convém à dignidade da cada um, e no conservar cada natureza na sua ordem própria e virtude". Deus só pode querer aquilo que está na razão da sua sabedoria; e esta é como a lei da justiça, pela qual a sua vontade é reta e justa. Por onde, o que faz por sua vontade, justamente o faz; assim como nós fazemos justamente o que fazemos de acordo com a lei; nós, porém, pela lei de um superior, ao passo que Deus, pela sua própria lei. Diz Santo Anselmo: "Deus é justo punindo os maus, por isso lhes convir ao que eles merecem; mas também Deus é justo perdoando-lhes, por convir isso a sua bondade.  A justiça é da essência de Deus. E o que é da essência de Deus também pode ser princípio de ação.

2º - A JUSTIÇA DE DEUS É VERDADE: "A misericórdia e a verdade se encontraram". Explica Santo Tomás que aqui VERDADE é tomada na acepção de JUSTIÇA. Verdade é a adequação da inteligência com o objeto. Ora, o intelecto que é causa do objeto é dele a regra e a medida; dá-se, porém, o inverso com o intelecto, que tira das coisas a sua ciência. Portanto quando as coisas são a medida e a regra do intelecto, a verdade consiste na adequação deste com aquelas, e tal é o nosso caso. Assim, a nossa opinião e o nosso conhecimento são verdadeiros ou falsos conforme exprimem o que a coisa é ou que não é. Mas, quando o intelecto é a regra ou a medida das coisas(como em Deus), a verdade consiste na adequação delas com o intelecto. Deus é a própria verdade; daí dá a cada um o que realmente lhe é adequado, isto é, o que corresponde à verdade.  Por onde a justiça de Deus, que constitui a ordem das coisas, conforme à ideia da sua sabedoria, que lhes serve de lei, chama-se convenientemente VERDADE. Resumo ainda mais com uma palavra da Bíblia: "Todas as obras de Deus são perfeitas e cheios de equidade os seus caminhos. Deus é fiel, e sem nenhuma iniquidade; Ele é justo e reto" (Deut. XXXII, 4). Deus é a própria Bondade e, por outro lado, é onisciente, perscruta os corações e os rins: donde premia ou castiga segundo a verdade, a equidade. Em Deus, pois, justiça é verdade. Nos homens, nem sempre e muitas das vezes a justiça humana é injusta (se assim me permitam a contradição nos termos). É como teia de aranha: pega os pequenos insetos e deixa passar os besouros. (Vê-se com facilidade que estas últimas palavras são minhas e não do Doutor Angélico).

3º - EM DEUS HÁ MISERICÓRDIA: "O Senhor é misericordioso e compassivo". A misericórdia máxima devemos atribuí-la a Deus; mas, quanto ao efeito e não, quanto ao afeto da paixão, porque em Deus não há paixão. Para entender isso melhor é mister considerar que misericordioso é quem possui coração cheio de comiseração, por assim  dizer, por contristar-se com a miséria de outrem, como se fora própria e esforçar-se por afastá-la como se esforçaria por afastar a sua própria. Tal é o efeito da misericórdia. Ora, Deus não pode ficar triste. Mas, sendo a própria bondade e onipotente, pode afastar a miséria, entendendo por miséria qualquer defeito. Pois, defeitos não se eliminam senão pela perfeição de alguma bondade. Ora, Deus é a origem primeira da bondade. Devemos porém ponderar que comunicar perfeições à coisas pertence tanto à bondade divina, como à justiça, à liberalidade e à misericórdia, mas segundo razões diversas. Assim, a comunicação das perfeições, considerada absolutamente, pertence à bondade, Pela justiça, Deus comunica perfeições proporcionadas à coisas. Pela liberalidade Deus dá perfeições, não visando a sua utilidade, mas só por mera bondade. Finalmente, pela misericórdia, as perfeições dadas à coisas por Deus eliminam-lhes todos os defeitos.

Deus age misericordiosamente, quando faz alguma coisa, não em contradição com a justiça, mas, além dela. Assim quem desse duzentos reais ao credor, ao qual só deve cem, não pecaria contra a justiça, mas agiria misericordiosamente. O mesmo se daria com quem perdoasse a injúria, que lhe foi feita. Devemos concluir que, longe de suprimir a justiça, a misericórdia é a plenitude dela. Donde dizer a Sagrada Escritura: "A misericórdia triunfa sobre o juízo" (S Tiago II, 13).

4º - HÁ JUSTIÇA E MISERICÓRDIA EM TODAS AS OBRAS DE DEUS:  "Todos os caminhos do Senhor são misericórdia e verdade (=justiça). Necessariamente descobrimos, em qualquer obra de Deus, a misericórdia e a verdade(=justiça); se tomarmos misericórdia no sentido de remoção de qualquer defeito. embora nem todo defeito possa chamar-se miséria, propriamente dita, mas somente o defeito da natureza racional, que é capaz de felicidade; pois a esta se opõe a miséria.

E a razão dessa necessidade é a seguinte. Sendo o débito pago pela divina justiça um débito para com Deus ou para com alguma criatura, nem um nem outro podem faltar em qualquer obra divina. Pois, Deus nada pode fazer que não convenha à sua Sabedoria e à sua Bondade; e, nesse sentido, dizemos que algo lhe é devido. Semelhantemente, tudo quanto faz nas criaturas, o faz em ordem e proporção convenientes, e nisso consiste a essência da justiça. E, portanto, é necessário haja justiça em todas as obras divinas.


Mas a obra da divina justiça sempre pressupõe a da misericórdia e nesta se funda. Pois, nada é devido a uma criatura, senão em virtude dum fundamento preexistente ou previsto; o que, por sua vez pressupõe um fundamento anterior. Ora, não sendo possível ir até o infinito, é necessário chegar a algum que só dependa da bondade da divina vontade, que é o fim último. Assim, se dissermos, que ter mãos é devido ao homem, em virtude da alma racional, por seu lado, ter alma racional, é necessário para que exista o homem e este existe pela bondade divina. E assim a misericórdia se manifesta radicalmente em todas as obras de Deus. E a sua virtude se conserva em tudo o que lhe é posterior, e mesmo aí obra mais veementemente, pois a causa primária mais veementemente influi, que a segunda. Por isso, Deus, pela abundância da sua bondade, dispensa o devido a uma criatura mais largamente do que o exigiriam as proporções dela. Porque, para conservar a ordem da justiça, bastaria menos do que o conferido pela divina bondade, excedente a toda a proporção da criatura. 

domingo, 6 de março de 2016

O ESPÍRITO DO MUNDO

 
   A razão humana e o bem-estar material são os dois ídolos na nossa época. Se não cuidarmos de fugir a cada instante das máximas do mundo para as de Jesus Cristo, adotaremos os pensamentos, até a linguagem do mundo. No mínimo, nossas palavras misturar-se-ão em dois contextos - um cristão e outro mundano; causando assim escândalo para os fracos e ensejo de os ímpios tirarem suas conclusões contrárias aos mandamentos de Deus. Devemos ter todo cuidado para que as nossas palavras e ações só possam ser interpretadas segundo os ensinamentos do Divino Mestre. 

   Devia, diz o Padre Judde, comover-nos mais, esta palavra, "disse-o Jesus Cristo, fê-lo Jesus Cristo", do que quaisquer outras razões, todas de ponderação. Nem se pré-desculpando, devemos empregar palavras de sabor mundano. A palavra dos Pitagóricos, disse-o o mestre, não era entre eles senão a expressão de uma idolatria insensata, pois não há homem que não se engane; mas aplicada a Jesus Cristo, deve ser um primeiro princípio, um axioma sagrado para todo cristão. Pois, passará o céu e a terra, mas a verdade do Senhor permanecerá eternamente. 

 Ele o disse: O que é grande, honesto diante dos homens, é muitas vezes pequeno, abominável diante de Deus. Ele o disse: Ai de vós, os que tendes todas as comodidades da vida presente! bem-aventurados os que choram! Ele o disse: Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça; o resto vos será dado por acréscimo; o que não nega a si mesmo, não pode ser meu discípulo; quem perder a sua vida neste mundo, vai ganhar a vida eterna no outro, etc.


 Caríssimos, estejamos portanto atentos à palavra do Mestre, e regulemo-nos pelas suas lições.

   Assim, o verdadeiro discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo fecha os olhos para as máximas do mundo e renuncia à prudência da carne para seguir a do espírito; torna-se insensato para ser sábio, porque a sabedoria deste mundo, é loucura diante de Deus. 

   Caríssimos, vigiemos porque a tentação de buscar uma concordância entre a doutrina da salvação e o espírito do mundo é aliciante. Para ela nos impele, além do pendor próprio de nossa natureza pecadora, uma falsa caridade, fruto de uma consideração naturalista da existência. Por isso mesmo o Divino Mestre não se cansa de alertar seus discípulos contra uma vida segundo os preceitos do mundo. Na grande oração sacerdotal, após a última Ceia, pede Jesus ao Pai Eterno especialmente que preserve os seus do contágio do século: "É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo mas por aqueles que me deste, porque são teus... Dei-lhes a tua palavra, o mundo os odiou, porque não são do mundo, como também eu não sou do mundo. Não peço que os tire do mundo, mas que os guarde do mal... Santifica-os na verdade. A tua palavra é a verdade" (Jo. 17, 9 e 14, 15 e 17). E a razão deste pedido é porque o mundo está todo ele sob o influxo do maligno: "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo está sob o maligno" ( 1 Jo. 5, 19 ), constituído que é de atrativos da sensualidade, da vaidade e do orgulho (1 Jo. 2, 16). Do mesmo modo fala São Paulo: "E não vos conformeis com este século, mas reformai-vos com o renovação do vosso espírito, para que reconheçais qual é a vontade de Deus, boa, agradável e perfeita" (Rom. 12, 2). 

   Evitemos, pois, caríssimos e amados irmãos, que nossa caridade degenere em apoio ao erro ou ao vício, porque já nem seria caridade. Evitemos, outrossim, que a nossa paciência  jamais seja um incentivo à perseverança no mal. Cuidemos máxime em não permitir que uma falsa obediência venha lançar areia em nossos olhos e assim tentar desculpar o que, na verdade, diante de Deus, é condenável. Façamos uma séria meditação sobre esta advertência do Divino Mestre: "Diante desta geração adúltera e pecadora, quem se envergonhar de mim e de minhas palavras, também me envergonharei dele no dia do Juízo". 

sexta-feira, 4 de março de 2016

A RELIGIÃO CATÓLICA: em progresso ou em crise?

   Só porque está mais popular, dizem que a Igreja Católica está em progresso. Na verdade a tendência que atualmente se nota para identificar o Cristianismo com o mundo, com as aspirações materiais e as preocupações ecológicas, (estas últimas legítimas, mas puramente materiais) representa como que uma ablação do espírito que deve animar e constituir a essência íntima da religião de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça..." Tal confusão pode, na verdade, popularizar uma religião a que se dê o nome de Cristianismo, mas que o verdadeiro Cristianismo possa ser popular isso é coisa mais que duvidosa, já que o próprio Divino Mestre disse: "Separei-vos de mundo e por isso o mundo vos odiará". 

   Hoje, parte-se do princípio que a Religião serve para "empurrar para a frente" os movimentos de sabor do mundo ou, ao menos, da alçada do mundo. Ouço, no entanto, o Divino Mestre, exclamar: "Deixem que os mortos enterrem os mortos". Quiçá até os marxistas estão pensando que a Igreja Católica está prestando para alguma coisa! Mas o que é progresso para os inimigos da Igreja, é desabono para a mesma. 

   Nietzsche (1844-1900), filósofo,  por cujo orgulho monstruoso e insensato se colocou conscientemente no lugar de Deus, na sua loucura profética, previu séculos de guerras: "Anuncio o advento duma idade trágica... Temos que nos preparar para uma longa série de ruínas, devastações e revoltas... Haverá guerras como jamais o mundo viu... Não tardará que a Europa fique envolta em trevas, e assistiremos ao alastrar dessa escuridão... Vem aí uma catástrofe em que toda a Terra se contorcerá numa agonia atroz". Tudo indica que foi inspirado por Lúcifer. Ele mesmo disse a causa desta profecia: esta carnificina, cujo nome ele não quis dar, seria, segundo ele, o resultado do ateísmo que ele mesmo pregava. Um ateísmo militante, por cuja inspiração satânica, o homem quer a morte de Deus: "Devemos, disse este monstro, fazer da morte de Deus a vontade esplêndida e suprema". Nietzsche antevê que "a morte de Deus terá necessariamente repercussões terríveis, pois que a humanidade anti-Deus caminharia apressadamente para a sua própria destruição. Na verdade, a explicação católica é a seguinte: se o homem não for a imagem e semelhança de Deus, se for apenas o pseudo-deus, estará implicitamente desinteressado no seu íntimo, exatamente como se a sua alma tivesse sofrido uma desintegração atômica de ordem psíquica. O homem assim encontrar-se-á preparado para destruir o mundo; ou melhor, terá deixado de ser homem, porque nada lhe restará do que constitui a dignidade humana. Assim, um ateísmo que quer a morte de Deus, necessariamente quer também a morte do homem.  O homem que odeia a Deus, odiar-se-á a si próprio e o seu semelhante. O homem sem Deus quer a aniquilação do mundo. 

   Qual seria o remédio? Pregar ecologia? Também talvez. Mas cabe a Santa Madre Igreja procurar a santidade para que os homens se voltem para a Deus e vivam para Aquele que morreu por nós. 

    Mas hoje muitos se afastam do Catolicismo, não por achá-lo difícil e rígido, mas porque lhes parece demasiado condescendente e fácil; ou, em outras palavras, por vê-lo ecumênico e nada missionário. Conscientemente ou não (em se tratando de cada Padre conciliar em particular, só Deus o sabe) o famigerado "subsistit  in" deu lugar até à Nova Era.  No entanto, não falta quem considere imediatamente como manifestação de hostilidade as justas censuras que corretamente ainda fazem os que permanecem na sã doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo.  Na verdade, os liberais dentro da Igreja só conseguirão fazer os homens do século XXI, pessoas inertes e infelizes. Pois sem Deus não há verdadeira prosperidade e felicidade. Por isso também, a depressão será a doença deste século.  Em geral, o homem de hoje, em lugar de confiar no Sacratíssimo Coração de Jesus e no Imaculado Coração de Maria, prefere enquadrar-se na multidão que adora o ídolo do globalismo, do totalitarismo e do progressismo. Não querem gozar a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Surgem indivíduos que, segundo as palavras de São Paulo, transformam "a glória de Deus incorruptível numa imagem feita à semelhança do homem corruptível"

   Caríssimos, é necessário não esquecermos que no tempo de vida concedido a cada ser humano está implícita a eternidade que o aguarda após a morte. "Que adianta, disse Nosso Senhor Jesus Cristo, ganhar o mundo todo, se se vier a perder a alma". Por isso termino com Santo Agostinho: "Ó Senhor, os nossos corações foram feitos para Vós, e estarão inquietos enquanto não repousarem em Vós" Amém.