quarta-feira, 31 de agosto de 2016

AS PALAVRAS DA CONSAGRAÇÃO NA MISSA

 Tenho recebido por e-emails algumas perguntas sobre as palavras da Consagração na Missa, ou seja qual seria a forma? Quais as palavras essenciais? E questões sobre o "pro multis", traduzido na Missa Nova "por todos". 
 Neste post trataremos das palavras que constituem a "Forma". 

 Primeira Consagração, isto é, a do pão:
 As palavras da Consagração do pão são transcritas literalmente dos Evangelhos sinópticos (São Mateus, São Marcos e São Lucas).São somente as palavras essenciais. São João não fala da instituição da Eucaristia; fala, porém, da promessa da Eucaristia no capítulo VI.
Cotejemos os textos bíblicos:
São Mateus, XXVI, 26: "Accipite et comedite: Hoc est corpus meum". "Tomai e comei: Isto é o meu corpo".
São Marcos, XIV, 22: "Sumite, hoc est corpus meum", "Tomai, isto é o meu corpo".
São Lucas, XXII, 19: "Hoc est corpus meum, quod pro vobis datur", "Isto é o meu corpo, que é dado por vós". 
São Paulo, 1ª Coríntios, XI, 24: "Accipite et manducate: hoc est corpus meum, quod pro vobis tradetur", "Tomai e comei: isto é o meu corpo, que será entregue por vós".

  Vemos que a Santa Igreja tomou destes autores sagrados para a forma da consagração do pão apenas as palavras essenciais: "Hoc est (enim) corpus meum". Só acrescentou a partícula "enim". As palavra de São Paulo: "Accipite et manducate" vêm antes das palavras propriamente da Consagração do pão. As palavras de São Lucas: "quod pro vobis datur"; e as de São Paulo: "quod pro vobis tradetur" simplesmente são omitidas.
Apenas devemos observar que foi acrescentada a conjunção "enim" (=pois) que serve para situar a fórmula consecratória dentro do relato da Ceia. Na verdade, como vimos, tal conjunção não se encontra no Evangelho. Mas São Mateus a emprega na consagração do vinho. Foi, certamente, por analogia que ela passou também para a consagração do pão. Mas, desde já, fique claro que esta conjunção não faz parte das palavras essenciais da Consagração. Isto significa que, se não for pronunciada, isto não invalida a Consagração. 

Segunda Consagração, isto é, a do vinho:
A fórmula da consagração do vinho é uma combinação dos textos bíblicos relativos à Última Ceia e não corresponde literalmente a nenhum deles tomado separadamente. Cotejemos os três Evangelhos: 
   
São Mateus, XXVI, 28: "Hic est enim sanguis meus novi testamenti, qui  pro multis effundetur in remissionem peccatorum". "Isto é, pois, o meu sangue da nova aliança, que será derramado por muitos, para remissão dos pecados".

São Marcos, XIV, 24: "Hic est sanguis meus novi testamenti, qui pro multis effundetur". "Isto é o meu sangue da nova aliança, que será derramado por muitos". 

São Lucas, XXII, 20: "Hic est calix novum testamentum in sanguine meo, qui pro vobis fundetur". "Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que será derramado por vós".

Observação: "Pro multis" é traduzido - "por muitos", "em prol de muitos", "em benefício de muitos". "Testamentum" pode ser traduzido por Testamento ou por Aliança, pois, são sinônimos
   

São Paulo na sua 1ª Epístola aos Coríntios XI, 23-25 diz: "Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei a vós, que o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão e, dando graças, o partiu e disse: Tomai e comei; isto é o meu corpo, que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Igualmente também, depois de ter ceado, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto em memória de mim todas as vezes que o beberdes". 
   Vemos que, no que se refere às palavras essenciais da consagração do vinho, São Paulo coincide com o texto de São Lucas quase que literalmente: "Hic calix novum testamentum est in meo sanguine" "Este cálice é a nova aliança em meu sangue". São Paulo, como podemos notar, não traz as palavras referidas por São Lucas: "qui pro vobis fundetur", "que será derramado por vós". 

Isto posto, comparemos agora a fórmula litúrgica (é claro, da Santa Missa de Sempre):

     "Hic est enim calix sanguinis mei novi et aeterni testamenti: mysterium fidei: qui pro vobis et pro multis effundetur in remissionem peccatorum".
       
       Em Português: "Este é, pois, o cálice do meu sangue, da nova e eterna aliança: mistério de fé: que será derramado em prol de vós e em prol de muitos em remissão dos pecados". 

Vê-se claramente que a Santa Madre Igreja preferiu o texto de São Lucas e São Paulo, combinando-o com o de São Mateus e São Marcos. Além disso, fez dois acréscimos:
         a) O adjetivo eterno: "cálice do meu sangue, do novo e eterno Testamento";
         b) A expressão mistério da fé
 Agora limito-me a observar que estes dois acréscimos não alteram a forma do sacramento. 
Foi intencionalmente que a Igreja preferiu o texto de São Lucas e São Paulo. De fato, é só nestes dois autores sagrados que aparece a palavra cálice, e ela tem uma significação técnica, pois Nosso Senhor Jesus Cristo, duas vezes pelo menos, a empregou para indicar o Sacrifício da Cruz:
     "Podeis beber o cálice que eu hei de beber?" (São Marcos, X, 38).
     "Pai, se for possível, passe de mim este cálice" (São Mateus, XXVI, 39). 
  O Catecismo Romano também assim explica: "Quando, pois, se diz: 'Este é o Cálice do Meu Sangue' - cumpre entender: 'Este é o Meu Sangue, que se contém neste cálice'. Como aqui se consagra sangue, para ser bebida, é oportuno e acertado fazer-se menção do cálice. Sangue como tal não lembraria bastante a ideia de bebida, se não estivesse colocado num recipiente". 

  Por último, observemos que a Igreja ainda acrescentou ao "em benefício de vós", de São Lucas, o "Em benefício de muitos" de São Mateus e São Marcos.

  CONCLUINDO, podemos agora reproduzir a fórmula da Consagração do vinho, destacando o que pertence a cada autor sagrado. Vou dar em latim, visto como a tradução de todas as partes já está acima:

  "Hic est enim (São Mateus) calix (São Lucas e São Paulo) sanguinis mei (São Mateus e São Marcos)novi (São Mateus e São Marcos) et aeterni (a Igreja) testamenti (São Mateus e São Marcos): mysterium fidei (a Igreja): qui pro vobis ( São Lucas ) et pro multis (São Mateus e São Marcos) effundetur (São Mateus e São Marcos) in remissionem peccatorum" (São Mateus).


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