quinta-feira, 31 de julho de 2014

SANTO INÁCIO DE LOYOLA

   No século em que o protestantismo arrebatou à verdadeira Religião um terço da Europa, Santo Inácio foi sem dúvida o lutador suscitado pela Providência para atender de modo pleno às necessidades da Igreja.

   Filho de uma família ilustre da Espanha, tendo passado a mocidade na corte e no exército, onde vivera com honra, mas esquecido da sua salvação, causou-lhe tal impressão a leitura de um Livro da Vida dos Santos que lhe caíra nas mãos, à falta de um livro de romances que tinha pedido, que se converteu e entregou generosamente a Deus, e em pouco tempo se elevou a uma eminente perfeição. Desde a sua conversão até à sua morte, se lhe perguntassem o motivo das suas penitências, das suas lágrimas, e das suas empresas..., poderia responder com o profeta Elias: Zelo zelatus sum pro Domino Deo exercituum.

   Para a verdadeira Reforma, Santo Inácio instituiu duas grandes obras: O Livro dos Exercícios Espirituais e a Companhia de Jesus. Foram os Exercícios, praticados fielmente, que deram à Igreja São Carlos Borromeu, São Francisco Xavier, São Francisco de Borja e muitos outros santos. São Francisco de Sales dizia que esta obra tinha salvado tantas almas quantas letras encerra. Quanto à Companhia de Jesus, podemos afirmar que, de todas as ordens religiosas que apareceram no século XVI, nenhuma prestou tantos serviços e foi mais célebre que a COMPANHIA DE JESUS. O Papa Paulo III aprovou-a em 1540, por uma bula solene. Inácio, conservando na religião alguma coisa do tom militar, deu ao seu instituto o nome de Companhia de Jesus, como uma companhia de soldados toma o nome do seu capitão. O inferno lhe jurou um ódio particular, e perseguiu e continua a persegui-la com furor.

   Um antigo autor dividia os homens em quatro classes: homens do Céu, homens da terra, homens dos homens e homens de Deus. Os primeiros procuram os bens eternos; os segundos apaixonam-se pelos falsos bens terrestres; os homens dos homens são escravos do respeito humano; os homens de Deus unem-se a Deus, só aspiram à felicidade de Lhe agradar. Santo Inácio distinguiu-se entre os primeiros e os últimos.

   Tinha sempre o coração, e com frequência os olhos voltados para o Céu, e costumava dizer suspirando: Quão desprezível é a terra, quando olho para o Céu! Pelo que respeita ao amor para com Deus, lemos nas atas da sua canonização, que a Deus referia, como a seu fim, todos os pensamentos, todas as palavras e ações, dirigindo tudo à sua honra e glória . Seu primeiro cuidado foi glorificar a Deus com a sua própria santificação. Percorreu todos os graus, pelos quais uma alma se eleva à mais eminente santidade, e começou por ser penitente. Trocando as vestes de fidalgo pelos de um pobre vestido de saco e cingido com uma corda, o coração dilacerado de dor é já abrasado no amor de Deus. Logo após sua conversão passou uma noite em oração e, desde aquele momento já não se considerou senão como um homem crucificado para o mundo e para quem o mundo estava crucificado. Tinha então trinta anos de idade. A gruta de Manresa, os hospitais, as praças públicas foram testemunhas das suas penitências e humilhações. Que abnegação, que humildade, que paciência, que amor para com Deus e para com os seus irmãos! Que ardente desejo de concorrer para a salvação das almas! Que coragem, que magnanimidade nos seus primeiros ensaios da vida apostólica!

   Quis ir à Palestina para ali defender os interesses de Jesus Cristo no meio dos cismáticos e dos infiéis. - Os santos eram apostólicos e não ecumênicos! -  Inácio, depois de voltar à Europa, pensa que é necessário aprender as letras humanas para ser mais útil à glória do Senhor. E não titubeou malgrado a idade. A distância dos lugares, os obstáculos que parecem insuperáveis, a vergonha de parecer criança aos trinta anos, nada detém nem resfria o seu zelo: zelo zelatus sum, eu me consumo de zelo. Assim glorificou a Deus da maneira mais excelente, pois o glorificou por seu próximo e por si mesmo. E estendeu o seu zelo a todas as idades, a todas as condições, a todos os povos, a todos os tempos..., porque este é o largo campo que abriu à Companhia de Jesus, de que é o fundador.  

   O grande lema de Santo Inácio de Loyola foi: TUDO PARA A MAIOR GLÓRIA DE DEUS!  Ele pôde dizer com o seu adorável Mestre: Eu não busco a minha glória. Como ele mesmo o declara, a tentação que menos temia, era a do amor próprio. Não amava senão a Deus. - E eu, Senhor, ousarei dizer que Vós me bastais, que não busco senão a Vós?! 

   Este ideal de buscar em tudo a maior glória de Deus trazia para a alma de Santo Inácio uma paz, aquela encantadora tranquilidade, tranquilidade esta que ele conservava no meio dos acontecimentos mais inesperados. 

   Fazei que Vos conheça, ó Jesus, e eu buscarei sempre a vossa glória, a vossa maior glória, e não buscarei outra coisa, e, assim como Santo Inácio, saborearei como é um doce paraíso o estar Convosco, ó meu  Jesus! Amém! 

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A CONSPIRAÇÃO DA ALTA VENDA DOS CARBONÁRIOS

   Do Livro "DO LIBERALISMO À APOSTASIA, A Tragédia Conciliar, cap. XXI, autor: Mons. Marcel Lefebvre.


   Em nosso breve estudo histórico do liberalismo católico, eis-nos chegados às vésperas do Concílio Vaticano II. Mas antes de analisar a vitória obtida pelo liberalismo no Concílio, gostaria de retroceder para lhes mostrar a penetração do liberalismo em toda a hierarquia e até mesmo no papado, o que seria impensável há dois séculos; entretanto foi pensada, predita e organizada pela maçonaria, desde o princípio do século passado. Bastará reproduzir os documentos que provam a existência desta intriga contra a Igreja, deste "último assalto" contra o papado.

   Os papeis secretos da Alta Venda dos Carbonários que caíram nas mãos do Papa Gregório XVI, cobrem o período de 1820 a 1846. Foram publicados a pedido do Papa Pio IX, por Crétineau-Joly em sua obra "L'Eglise Romaine et la Révolution" (1). Pelo Breve de aprovação dirigido ao autor em 25 de Fevereiro de 1861, Pio IX confirma a autenticidade dos documentos, mas não permitiu que fossem divulgados os verdeiros nomes dos membros da Alta Venda implicados com esta correspondência. Estas cartas são pavorosas, e se os Papas pediram sua publicação foi para que os fiéis saibam da conspiração contra a Igreja tramada pelas sociedades secretas, conheçam seus planos e estejam preparados para o caso de uma eventual realização. Nada acrescento por ora, apenas que é com temor que se leem estas linhas. Não invento nada, só faço ler, mas não é nenhum mistério que hoje em dia elas se realizam. Não deixo de chamar a atenção para o fato de que mesmo seus projetos mais audazes estejam ultrapassados pela realidade atual! Passemos à leitura, somente sublinhando o que mais nos deve impressionar.

   "O Papa, qualquer que ele seja, jamais virá às sociedades secretas: a elas cabe dar o primeiro passo em direção à Igreja, para vencer ambos.
O trabalho que vamos empreender não é obra de um dia, nem de um mês, nem de um ano; pode durar vários anos, talvez um século; mas em nossas fileiras o soldado morre, mas a luta continua. 
Não queremos conquistar os Papas para nossa causa, faze-los neófitos de nossos princípios, propagadores de nossas ideias. Seria um sonho ridículo, e qualquer que seja o desenrolar dos acontecimentos, o fato de cardeais e prelados, por exemplo, terem entrado com satisfação ou com surpresa, em uma parte de nossos segredos, em absoluto não é motivo para desejar sua eleição para a cátedra de Pedro, pois esta eleição seria nossa perda. Somente a ambição os haveria conduzido à apostasia, mas a necessidade do poder os forçaria a nos imolar. O que devemos pedir, e o que devemos procurar e esperar, como os judeus esperam o Messias, é um papa de acordo com nossas necessidades (...)
Assim podemos marchar com mais segurança ao assalto da Igreja do que com as liberalidades de nossos irmãos da França e mesmo da Inglaterra. Quereis saber a razão? Com ele já não precisaremos, para destruir a rocha sobre a qual Deus edificou sua Igreja, do vinagre mistificador nem da pólvora do canhão; já não precisaremos nem de nossos braços. Teremos o dedo do sucessor de Pedro comprometido com a conspiração, e nesta cruzada este dedo vale mais do que todos os Urbano II e todos os São Bernardos da Cristandade. 
Não temos dúvida que chegaremos a este resultado de nossos esforços, mas quando e como? A incógnita continua sem solução. Entretanto como nada nos deve separar do plano traçado, ao contrário, tudo deve tender para ele, como se desde amanhã o êxito viesse coroar a obra apenas esboçada, queremos com esta instrução, que para os simples iniciados permanecerá secreta, dar aos encarregados da Suprema Venda conselhos que deverão inculcar a todos os irmãos, sob a forma de ensinamento ou de memorandos (...).
Para assegurarmos um Papa nas devidas proporções, devemos inicialmente preparar para este Papa uma geração digna do reino que sonhamos. Deixai de lado a velhice e a idade madura, procurai a juventude e se possível até as crianças (...) lhes conquistareis sem grande esforços uma dupla reputação de bom católico e patriota.
Esta reputação fará chegar nossas doutrinas tanto ao meio do clero jovem, como no interior dos conventos. Dentro de alguns anos este clero jovem terá forçosamente ocupado todas as funções; será quem governa, administra, julga, forma o conselho soberano e será chamado para eleger o Pontífice que terá que reinar, e este pontífice como a maioria de seus contemporâneos, estará necessariamente mais ou menos imbuído dos princípios italianos e humanitários que começaremos a pôr em circulação. É um pequeno grão de mostarda que confiamos à terra; mas o sol da justiça o fará crescer até o mais alto poder, e um dia vereis a abundância de grãos que produzirá este grãozinho.
Na rota que indicamos a nossos irmãos, há grandes obstáculos que teremos de vencer, e muitas dificuldades a superar. Triunfaremos graças à experiência e perspicácia; mas a meta é tão brilhante que devemos içar todas as velas para alcançá-la. Quereis revolucionar a Itália? Procurai o Papa de que acabamos de pintar o retrato. Se quereis estabelecer o reino dos eleitos sobre o trono da prostituta Babilônia, que o clero marche sob vosso estandarte, acreditando ir sempre atrás das bandeiras das Chaves apostólicas. Se quereis fazer desaparecer o último vestígio dos tiranos e opressores, lançai vossas redes como Simão Bar-Jona; lançai-as não no fundo do mar, mas no fundo das sacristias, dos seminários, e dos conventos; e se não demorais, vos prometemos uma pesca mais milagrosa que a deles. O pescador de peixes se converteu em pescador de homens, vós os rodeareis de amigos junto à Cátedra Apostólica. Vós havereis pregado uma revolução em tiara e pluvial, marchando com a cruz e o estandarte, uma revolução que não precisará mais do que uma fagulha para incendiar os quatro cantos do mundo".

Vejamos ainda um extrato da carta de "Núbius" a "Volpe" de 3 de Abril de 1824: 

   "Foi posto sobre nossos ombros uma pesada carga, querido Volpe. Devemos tornar imoral a educação da Igreja, devemos chegar por pequenos meios mal definidos porém bem graduados, ao triunfo da ideia revolucionária graças a um papa. Marchamos ainda tateando neste projeto que sempre me pareceu sobre-humano (...).

Nota (1) - Vol. 2, Ed.orig., 1859; reimpr. "Cercle de la Renaissance Française", Paris 1976. Mons. Delassus reproduziu em "La Conjuration Antichetienne" DDB. 1910, III, pg. 1035-92. 
 Mons. Delassus é um grande autor. Vale a pena adquirir e ler suas obras. 

    No próximo post, se Deus quiser, mostrarei qual o autor sobre-humano deste plano maçônico. 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A alma em colóquio com Jesus na Eucaristia ( VI )

  A alma: Meu dulcíssimo Jesus Sacramentado! Ainda tenho uma dúvida com relação à Comunhão: Os deveres de meu estado são muitas vezes um impedimento à Comunhão. São deveres que eu de boa vontade dispensaria para poder viver mais unida a Vós, e mais recolhida, mas não posso deixar de os cumprir; vossos ministros falam muito sobre isto. Entretanto, tenho a mente distraída e perturbada, o coração como que atrofiado; sinto demais o peso das minhas misérias, como demasiado conheço não ser um puro espírito à semelhança dos anjos. Ó meu Jesus, não ouso aproximar-me de Vós; é grande a distância entre os deveres do meu estado e a santa Comunhão!

   Jesus: Minha filha, antes de mais nada, e como regra geral, quero dizer-te uma coisa clara como o sol; e é que, o cumprimento dos deveres do próprio estado não pode ser pecado; e se não é pecado, não pode de modo algum, impedir-te a Comunhão ou torná-la menos frutuosa. Além disto, persuade-te de que sou eu com a minha providência que te coloquei no estado e condição em que te encontras; e por isso sou eu que quero tu me sirvas nestas mesmas condições e determinadas circunstâncias; fui eu que te impus aqueles deveres para tu cumprires; e por consequência, tu fazendo o teu dever, não fazes mais que cumprir a minha vontade. Temes, então, fazer mal a Comunhão, ou fazê-la somente menos frutuosa, porque a fazes preceder do cumprimento da minha vontade? Pelo contrário, exatamente porque o teu dever te coloca numa condição um pouco difícil, delicada e aparentemente até escabrosa, tens necessidade de auxílios especiais e extraordinários; e estes auxílios você recebe com abundância justamente na Sagrada Comunhão; por consequência, se não a fazes não terás um valiosíssimo auxílio nas dificuldades do teu estado, e mais dificilmente poderás cumprir bem os teus deveres. Donde, tu mesma podes concluir, que aquele mesmo motivo aduzido para não fazer a Comunhão é exatamente o que deve impelir-te a fazê-la. Recorda, finalmente, que muitas e muitas almas se encontraram  nas tuas mesmas dificuldades; e, contudo, umas chegaram a um altíssimo grau de santidade e conseguiram até as honras dos altares, e outras dão no meio da sociedade cristã e no ambiente em que vivem exemplos admiráveis de virtude e perfeição, e seguramente alcançarão o Paraíso. Portanto, coragem! Purifica sempre mais as tuas intenções, recorda que no cumprimento do teu dever não fazes senão servir o teu Deus; vem receber-me, e a Comunhão te fará santa.

   A alma: Meu Jesus! Como tenho que agradecer-Vos! Fiquei livre de um grande peso! Estou tranquila!Antes de despedir-me, ó Jesus, quero fazer mais um pedido: Fazei-me atenta na oração, sóbria  no alimento, diligente no dever e firme nas resoluções. Amém! 

domingo, 20 de julho de 2014

A alma em colóquio com Jesus na Eucaristia ( V )

   A alma: Meu dulcíssimo Jesus! Creio, mas dai-me a graça de crer mais firmemente. Espero, mas ajudai-me com a vossa graça para que a minha esperança seja sempre mais confiante em Vós. Amo-Vos, mas concedei-me a grande graça de amar-Vos com maior ardor. Arrependo-me, mas fazei que o arrependimento dos meus pecados seja com mais veemência. 
   Confiante em Vossa bondade infinita, eis-me aqui novamente na Vossa presença para expor-Vos mais uma dúvida a respeito da Comunhão. 
    Meu Jesus, não posso confessar-me todas as semanas, nem às vezes, passados quinze dias, e quando já tem passado muito tempo sem me confessar, não ouso fazer tranquilamente a Comunhão; parece-me que faria um sacrilégio. Então, ó meu Jesus, não é melhor ir primeiro confessar-me e depois comungar?

   Jesus: Escuta bem, minha filha: A Confissão foi instituída não como preparação necessária à Comunhão, mas para perdoar os pecados; portanto, se a consciência te não acusa de pecados graves, a Confissão não é necessária para comungares bem. É bom confessar-se todas as semanas, ou de quinze em quinze dias, porque assim se recebe a graça de um sacramento que avigora a alma; mas se esta frequência não é possível, não se conclui que se deva deixar a comunhão quando se não tenha pecados graves. Demais, tratando-se só de pecados veniais, antes de comungar pede-me perdão de todo o coração e fica tranquila, porque um dos efeitos da Comunhão é precisamente o de apagar os pecados veniais de que se tem sincero arrependimento. Compreendeste? Não cometas portanto mais o erro de deixares a Comunhão só porque não pudeste confessar-te de pecados veniais; porque então, além de ficares privada da graça da Penitência, sê-lo-ias também da graça da Eucaristia, e assim multiplicarias a tua espiritual pobreza. 

   A alma: Meu Jesus, compreendi a Vossa instrução e, com a Vossa graça, vou segui-la. Antes de me despedir, ó dulcíssimo Jesus, quero fazer-Vos mais um pedido: Fazei-me chorar os pecados passados, vencer as tentações futuras, reprimir as más tendências e praticar as virtudes de meu estado. Amém!

sexta-feira, 18 de julho de 2014

A alma em colóquio com Jesus na Eucaristia - ( III )

   A alma: Ó Jesus, meu perpétuo Benfeitor, eu Vos amo e dou-Vos graças. Vim hoje à Vossa presença para expor-Vos mais um temor que me aflige. Estou achando que é inútil, pois, por mais que eu faça, não consigo preparar-me como desejo. Tenho o espírito entorpecido, e o coração é como uma pedra de granito, duro e frio. Não sinto nada, meu Jesus Sacramentado; nem um pouco de ternura, nem a mínima consolação... Vejo realmente, ó meu Jesus, que hoje não quereis que eu comungue; porque compreendo também eu, que coisa podereis fazer dum coração apático, insensível e frio? Não procurais Vós porventura corações inflamados de amor? 

   Jesus: Também tu, minha filha, és do número daquelas almas iludidas que fazem consistir a virtude no sentimento, e que se julgam quase santas porque estão cheias de ternura sensível? Mas, dize-me, quando foi que a fé, a esperança e a caridade, a humildade, a contrição e semelhantes virtudes, para existirem houveram, necessidade de ser sentidas com ternura, ou deveram quase fazer chorar de emoção? Tu não sentes nada? Pouco importa. Crês em mim? Esperas em mim? Amas-me? Estás arrependida de me teres ofendido? Estás disposta a fazer sacrifícios por meu amor? Se assim é, não te importe mais nada, e vem à Comunhão. Quanto menos de satisfação sensível tiver o teu coração, tanto mais terá o meu; e na Comunhão o primeiro, entre nós ambos, que deve ser contentado sou eu... não acha? Não sentes nada? Tanto melhor! Assim comungarás com o coração mortificado, e com maior retidão de intenção. O que eu de preferência desejo encontrar em ti não é a sensibilidade, mas a disposição a renunciar a tudo., mesmo a ti própria, para me dares mais satisfação. Quando tu podes dizer-me que depois da última Comunhão tens feito alguns atos de humildade, de paciência, de caridade; que tens feito o possível por cumprir bem os teus deveres, e que tens sofrido alguma coisa por mim, então podes vir sem temor algum, porque me serás mais cara, e eu te concederei maiores graças do que se te visse desfeita em um mar de lágrimas da mais terna doçura. 

   A alma: Meu doce Jesus, com a vossa graça quero fazer todo possível para nunca me procurar a mim mesma nos exercícios de piedade e nas práticas de virtudes,  mas somente a Vós. Não quero, e reconheço que não mereço consolações. Peço a Vós esta graça: amar-Vos de verdade, com doçura, ou sem ela. O que importa é dar-Vos gosto. Amém!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

A alma em colóquio com Jesus na Eucaristia ( I )

   A alma: Meu doce Jesus! hoje estou aqui diante de Vós, trazendo no coração um grande desejo: o de ouvir alguma palavra Vossa. Como a ouviria de boa vontade! É, porém, um desejo que nasce no meu coração  e logo desaparece, porque não sendo eu santa, uma palavra sensível dos vossos lábios, ó Jesus, não sou digna de ouvi-la. Mas Vós falais no íntimo do meu coração. E isto já é uma grande graça e, da qual tanto necessito. 
   Ó Jesus, a primeira coisa que quero expor-Vos é o sofrimento que sinto por causa das tentações. Inclusive, por esta vez, ó meu Jesus, tende paciência, mas a Santa Comunhão é que eu não faço. Se se tratasse de ter somente distrações, iria; mas sou tão combatida das tentações que tudo aquilo que ouço, que leio, que vejo se transforma para mim em outras tantas imagens horríveis. Tenho a mente confusa e o coração em tumulto. Não me sinto com coragem de receber-Vos para Vos obrigar a habitar numa alma toda cheia de coisas diabólicas. Hoje, farei a costumada visita a Vós aqui na Eucaristia, ouvirei a Santa Missa; mas a Comunhão vou deixá-la; estou muito perturbada. Mas, quem melhor do que Vós para me instruir e aconselhar! Falai, Senhor, que a vossa serva está escutando.

   Jesus: Então, porque és tentada, minha filha, não queres fazer a Comunhão? Não vês que raciocinas às avessas? Quem é que pode melhor ajudar-te, e realmente mais te ajuda a vencer as tentações? Não sou eu porventura? Tu, portanto, abandonas o auxílio quando ele mais te é necessário; e assim ficas mais enfraquecida, e tornas-te uma presa mais fácil ao demônio. Não creias que eu esteja disposto a aumentar a graça do meu auxílio só porque tu me fazes a afronta de não querer receber-me; sucederá tudo ao contrário, porque se hoje a tentação te investe, amanhã começará a vencer-te, e se hoje, porque és tentada não queres vir, ousarás vir amanhã, que estarás já um pouco ferida? Tu não conheces a astúcia do demônio, como não conheces a tua debilidade; o inimigo demonstra hoje muita audácia para desanimar-te e afastar-te para longe de mim, mas se tu desprezas a sua audácia e não te deixas vencer do medo, ele então terá medo de ti porque não estarás sozinha, e as suas tentações já não terão poder sobre ti. De resto, sabe que sou eu mesmo que muitas vezes te permito as tentações, e faço isto para que tu sintas sempre mais a necessidade que tens da Comunhão e para te fazer ver claramente que sem mim tu ficas sendo um joguete do demônio; e é para constranger-te a refugiar-te no meu Coração que eu te deixo assaltar de tantos pensamentos maus e de tantas imaginações malignas. Recorda bem que se presumes poder estar sozinha a combater as tentações, ainda que seja por um pretenso respeito para comigo, mais tarde ou mais cedo cairás no pecado. Tu és já tão débil quando fazes a Comunhão! que será quando a tiveres deixado? Vem, portanto, e sê tranquila, que o demônio saberei Eu bem contê-lo. Minha filha, você não ouve os meus representantes sempre pregarem que sentir tentação não é pecado? Pecado é consentir na tentação. Eu não mandei rezar pedindo para não ter tentação; pedi que rezassem para não cair na tentação. E Eu atendo sempre esta oração, sobretudo quando a alma me recebe na Comunhão. 

   A alma: Obrigada mil vezes, meu doce Jesus! Amém!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O EQUILÍBRIO DA DOUTRINA SANTIFICADORA - ( 10 )

   145. O SALVO PRATICA A VIRTUDE PARA SER SALVO.


   Finalmente aparecem os protestantes com esta sutil distinção: o homem não pratica a virtude, não pratica as boas obras PARA SER SALVO. Mas sim, PORQUE JÁ ESTÁ SALVO, pratica a virtude e as boas obras. As boas obras são uma consequência da salvação.

   - Não vemos oposição entre uma coisa e outra: O homem pratica a virtude e as boas obras PORQUE ESTÁ SALVO;  e também pratica a virtude e as boas obras PARA SER SALVO.

   -  Não estou entendendo nada, dirá o leitor. Não parece haver aí uma contradição?

   - Contradição nenhuma.

   Como já tivemos ocasião de explicar (nº 88), a Bíblia toma a palavra SALVO em dois sentidos. Às vezes se chama SALVO aquele que ESTÁ NO CAMINHO DA SALVAÇÃO,  porque está com a graça santificante. A criatura que tem a felicidade de se encontrar em estado de graça, a qualquer instante em que falecer permanecendo nesta situação, está com a salvação garantida.

   Enquanto estamos aqui na terra, esta situação do homem SALVO, ou seja, HERDEIRO DO CÉU, ainda pode perder-se pelo pecado mortal, por uma razão muito simples: a alma é livre e sendo tentada, ainda pode pecar gravemente. E o pecado, quando tiver sido consumado, gera A MORTE (Tiago I-15).

   Mas aquele que morreu em estado de graça, este está SALVO definitivamente, não pode mais perder este estado de salvação. E é neste sentido que diz a Escritura: Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse é que SERÁ SALVO (Mateus X-22).

   Assim ambas as proposições são verdadeiras. O homem pratica a virtude e as boas obras, porque ESTÁ SALVO, isto é, porque está na graça santificante, está na amizade de Deus e por isto tem a caridade, o amor de Deus e do próximo em seu coração, e eis a fonte para todas as boas obras. Além disto, já tivemos ocasião de explicar (nº 25 e 33) que as nossas obras só TÊM VALOR para o Céu, só são merecedoras da recompensa, na visão beatífica, se forem feitas em estado de graça, ou em outras palavras, se forem feitas quando estamos SALVOS.

   O homem pratica a virtude e as boas obras para SER SALVO, porque ele sabe muito bem que só conquistará o Céu, se morrer neste estado de graça. Por isto continua sempre a praticar a virtude, a fazer as boas obras para se manter neste feliz estado. Sabe que pode morrer a qualquer momento e quer comparecer diante do Juiz Supremo, no dia de sua morte, com a veste nupcial da graça, para que possa ter o direito de ser admitido no banquete celeste.

   O protestante toma a palavra SALVO somente no sentido de SALVO DEFINITIVAMENTE, de herdeiro do Céu que não pode mais por consideração alguma perder o direito à divina herança. Apresenta também o cristão felicíssimo, convencidíssimo já nesta vida de que TERÁ O CÉU COM TODA CERTEZA. E nos vem dizer que só porque o homem já está salvo, já está com a herança no bolso é que pratica a virtude e as boas obras.

   Mas isto não convence a ninguém: a ideia de que já está salva com toda certeza, sem perigo nenhum de perder-se, não seria para pessoa alguma um incentivo às renúncias e aos sacrifícios exigidos pela virtude e pelas boas obras. Muito pelo contrário... porque nós conhecemos muito bem como é a nossa pobre natureza humana. 

   

terça-feira, 15 de julho de 2014

2 - A alma falando a Jesus na Eucaristia

   Primeiramente, ó meu amantíssimo Jesus Sacramentado, quero dizer que, pela vossa graça,  creio firmemente na vossa presença real aí na Hóstia Consagrada. Mas aumentai a minha fé. Ó meu doce Jesus, Vós dissestes que, quem estivesse acabrunhado, aflito, cheio de problemas, viesse a Vós para ser aliviado e consolado por Vós. Aqui estou novamente com as minhas lamúrias e misérias. 
   Ó meu doce Jesus! Um outro mal que muito me faz sofrer é o ver-me sempre cheia de misérias espirituais. Desejaria fazer-me santa, desejaria sê-lo desde já, mas cometo todos os dias tantas faltas... As minhas paixões, longe de estarem mortas, mostram-se de vez em quando muito vivas; e eu recaio muitas vezes nas impaciências, na vaidade de pensamento e de coração, na tibieza e em muitas outras misérias. É então que me passa pela mente a ideia de que para mim não há perfeição possível, que Deus já não sabe que fazer comigo, que talvez já me tenha abandonado, e que à hora da morte me encontrarei em condições bem pavorosas, se um golpe da graça divina me não vier salvar.
   É com todos estes desalentos, ó meu Jesus, que estou aqui na vossa presença. Quero agora meditar no vosso amor, porque sei que estas minhas tristezas vão se dissipar e a serenidade voltará a esta pobre alma, que, apesar de tudo, Vos ama, e deseja ardentemente amar-Vos cada vez mais. 
   Pela Vossa misericórdia infinita vejo, ó doce Jesus, que Vós vos compadeceis de mim mais do que todos os outros, mais do que eu mesma posso de mim compadecer-me; pois, que se assim não fosse, não me daria certamente o desejo de O procurar quando me sinto culpada, e muito menos me suportaria na Vossa presença. E depois, estando convosco, começo a recordar que a Comunhão me purifica de todas as venialidades, e me ajuda a não cometer já tantas; sinto-me consolada e desejosa de ver chegar a hora e o momento de receber-Vos e me preparo com uma grande contrição e com o propósito firme de viver melhor para o futuro. Oh! se Vós, Jesus Eucarístico, não fôsseis um remédio, que seria desta pobre alma quando ela se vê combatida por alguma doença espiritual?
   Para eu viver contente devo, portanto, persuadir-me de duas coisas: a primeira é que, enquanto eu viver, hei de sentir sempre o coração amargurado por causa das minhas más inclinações; segunda é que Vós, ó Jesus na Eucaristia, sois o remédio perene para todas estas penas, e que sem Vós só me restaria sofrer por toda a minha vida, e sofrer sem merecimento algum. A conclusão que Vós me levais a tirar de tudo isto, é de recorrer a Vós em todas as minhas tribulações, confiar-Vos todas as minhas coisas, esperar de Vós, ó meu doce Jesus, todo auxílio. 
   Oh! se eu tivesse pensado sempre assim! quantos sofrimentos e quantas culpas a menos! Não teria caído na ingenuidade de confiar nas criaturas quando estava aflita, e de deixar-me abater pelo desalento quando caía na culpa.
   Mas, para o futuro, ó Jesus, Vós sereis sempre o médico piedoso de todos os meus males. Eu viverei convosco, de Vós e para Vó em todos os dias que me restam de vida. Se as criaturas me repelirem de si, eu contarei convosco, virei aqui dizer tudo para Vós. Se me negarem o necessário, eu viverei de Vós; se não souberem que fazer de mim, eu viverei para Vós; deste modo se acabarão para mim tantas dores. E quando por infelicidade eu cometer uma culpa, não me perderei em melancolias inúteis, mas refugiar-me-ei no Sacrário convosco, ó doce Jesus. Humilhar-me-ei diante de Vós, pedir-Vos-ei sinceramente perdão, e depois deixarei que o Vosso Sangue, ali no confessionário,  desça como um lavacro celeste a purificar-me e fazer-me santa. Amém!
   

segunda-feira, 14 de julho de 2014

1- A alma falando a Jesus na Eucaristia

   Temos o Emanuel, ou seja, Deus está conosco. Oh! que felicidade! Temos Jesus vivo na Eucaristia. Mais feliz porque não o vejo, mas Lhe falo como se O visse. Vós, ó Jesus dissestes: "Felizes os que não viram e creram". Pela vossa graça, não vejo, mas creio firmemente e, por isso, quero dirigir-me a Vós do mesmo modo como se o estivesse vendo. Primeiro quero dizer-Vos que Vos amo; mas aumentai o meu amor! 

  Ó Jesus, sinto às vezes certos pesares que me perturbam o coração, e me fazem perder o recolhimento e a doçura em todas as minhas devoções. Parece-me estar sob o peso da maior desventura que me tenha ferido ou esteja para ferir-me. Se, porém, resistindo por um momento ao sentimento penoso que provo, eu estudo com calma a causa do meu sofrer, não tardo a ver que tudo se reduz ao amor próprio ofendido ou a um apego desordenado às criaturas, e que o remédio para o meu mal está sempre ao meu alcance: basta que eu queira dele utilizar. O meu grande remédio é sempre Vós, ó meu doce Jesus!
   Acontece-me por vezes ser esquecida de todos, ou pelo menos parece-me sê-lo; e por causa do meu amor próprio sinto-me ferida no mais íntimo do coração, deixando-me dominar por um profundo sentimento de melancolia. Trabalho, mas não há ninguém que me diga se eu executo bem ou mal o meu serviço, não há ninguém que me diga um palavra de louvor; todos me deixam andar indiferentemente pelo meu caminho. Ninguém procura saber do meu estado, ninguém se compadece de mim. Faço uma boa obra; não há um louvor, um incitamento, uma só palavra que me faça crer que a minha obra seja apreciada.
   Mas, ó meu doce Jesus, eu não sofreria, deste modo se pensasse em Vós, se deveras O amasse. Não é melhor para mim ser esquecida de todos? Não é então exatamente que se me torna mais vizinha e preciosa a Vossa presença? Ninguém olha para mim? Todos de mim se esquecem? Seja muito embora: há porém, UM que nunca me abandona, que sempre me procura e que quisera ter-me sempre aos seus pés. E este UM vale mais sozinho que todas as criaturas juntas: sois Vós, ó doce Jesus!!!
   Como sois bom, ó meu Jesus! Vós avaliais todas as minhas fadigas, todos os meus sofrimentos e aquele pouco de bem que faço, Vós que sabeis quanto me custa o viver cristãmente, quando me vedes toda só abandonada a seus pés, como uma pobre náufraga arremessada sobre uma praia deserta, então me chamais para mais perto de Vós, e me segredais ao coração certas palavras misteriosas que me dão a vida. Ó doce Jesus, então desabafo convosco com a maior confiança, sem reticências, exatamente como uma filha com o seu bondoso pai, como uma esposa com o seu esposo; e acabo por ficar contente com o abandono a que me votaram, porque os confortos que me recusaram as criaturas recebo-os todos de Vós. E, se antes me senti ferida, depois dum quarto de hora passado aqui junto de Vós sinto-me curada, ó doce Jesus; porque, na verdade, para as enfermidades da alma o melhor remédio é sempre a Divina Eucaristia, que sois Vós, ó doce Jesus! Amém!