quinta-feira, 19 de novembro de 2020

NÃO AO RACISMO

RACISMO, NÃO!

 

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*

 

O famoso ator Morgan Freeman, negro, entrevistado pelo âncora da CNN sobre o racismo, disse: “Se você fala sobre isso, isso existe. Não é que isto exista e nós nos recusamos a falar sobre isso. O problema aqui é fazer disso um problema maior do que ele precisa ser”. Há, de fato, exageros. Mas o problema do racismo, infelizmente, ainda persiste e o dia nacional da consciência negra, comemorado no próximo dia 20, é ocasião para falarmos do preconceito racial. É um erro antropológico, anticristão e anti-humanitário, fruto do orgulho e da injustiça.

Talvez o racismo procure se justificar com as ideologias dos séculos XVIII e XIX (Nietzsche), nas quais também se baseou o partido totalitário nacional-socialista (Nazi), com a doutrina da superioridade da raça ariana sobre as demais. Por isso, o Papa Pio XI escreveu a encíclica Mit Brennender Sorge (1937), condenando o nacional-socialismo e sua ideologia racista e racialista.

A Igreja já se pronunciara diversas vezes contra o preconceito baseado na cor da pele ou na etnia, proclamando, firmada na divina Revelação, a dignidade de toda a pessoa criada à imagem de Deus, a unidade do gênero humano no plano do Criador e a reconciliação com Deus de toda a humanidade pela Redenção de Cristo, que destruiu o muro de ódio que separava os mundos contrapostos. A Igreja prega o respeito recíproco dos grupos étnicos e das chamadas “raças” e a sua convivência fraterna. A mensagem de Cristo foi para todos os povos e nações, sem distinção nem preferências. “Não há distinção entre judeu e grego, porque todos têm um mesmo Senhor...” (Rm 10,12); “já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre..., pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28).

Infelizmente, com a descoberta e colonização do Novo Mundo, no século XVI, começaram a surgir abusos e ideologias racistas. Os Papas não tardaram a reagir. Assim, em 1537, na Bula Sublimis Deus, o Papa Paulo II denunciava os que consideravam os indígenas como seres inferiores e solenemente afirmava: “No desejo de remediar o mal que foi causado, nós decidimos e declaramos que os chamados Indígenas, bem como todas as populações com que no futuro a cristandade entrará em relação, não deverão ser privados da sua liberdade e dos seus bens – não obstante as alegações contrárias – ainda que eles não sejam cristãos, e que, ao contrário, deverão ser deixados em pleno gozo da sua liberdade e dos seus bens”. Infelizmente, nem sempre essas normas da Igreja foram obedecidas, mesmo pelos cristãos.

Quando começou o tráfico de negros, vendidos também pelos africanos como escravos e trazidos para as novas terras, os Papas e os teólogos pronunciaram-se contra essa prática abominável. O Papa Leão XIII condenou-a com vigor na sua encíclica In Plurimis, de maio de 1888, ao felicitar o Brasil por ter abolido a escravidão. E o Papa São João Paulo II não hesitou, no seu discurso aos intelectuais africanos, em Yaoundé, em 13 de agosto de 1985, em deplorar que pessoas pertencentes a nações cristãs tenham contribuído para esse tráfico de negros.

 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

 

CARACTERES DA REDENÇÃO


TEXTOS BÍBLICOS: 1 -(Jesus Cristo)"nos amou e nos lavou dos nossos pecados no seu sangue" (Ap I, 5).

                                    2 - "Salvador nosso, Jesus Cristo, que se deu a si mesmo por nós, a fim de nos resgatar de toda a iniquidade" (Tt II, 14).

                                    3 -  "Cristo se ofereceu uma só vez para apagar os pecados de muitos (de uma multidão inumerável)" (Hb IX, 28).

 

REFLEXÕES:  1º - A Redenção é UNIVERSAL: Jesus Cristo entregou-se para resgate de todos os homens e de todos os pecados: "Cristo Jesus, que se entregou Ele próprio como resgate por todos (I Tm II, 5 e 6). Cf. Tt II, 14..

2º - A Redenção foi LIVRE: Jesus sofreu e morreu por nós voluntariamente, porque quis. "Foi oferecido em sacrifício porque ele mesmo quis" (Is LIII, 7). O próprio Jesus dissera: "Por isso meu Pai me ama,porque dou minha vida para outra vez a assumir. Ninguém ma tira, mas eu por mim mesmo a dou" (Jo X, 17 e 18).

3º - A redenção foi a SATISFAÇÃO pelo pecado: Esta satisfação foi substitutiva, isto é, efetuada por um MEDIANEIRO, que pagou o débito que a humanidade culpada devia pagar. Foi também UNIVERSAL e PLENA, ou seja, abrangeu toda a humanidade, e foi adequada à ofensa. E não só foi plena, mas, outrossim, SUPERABUNDANTE, pois, sendo Jesus Cristo uma Pessoa divina, seus atos, mesmo os praticados só pela natureza humana, tinham valor infinito. E se as ações mais ínfimas (como alimentar-se, dormir, chorar etc.) já tiveram valor infinito, o sacrifício da cruz atinge alturas incomensuráveis: "Onde abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm V, 20). Ó feliz culpa que nos mereceu um tal Redentor!!!

4º - A redenção foi a RECONCILIAÇÃO do homem pecador com Deus: Diz S. Pedro: "Levou nossos pecados no próprio corpo, sobre o madeiro, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça" (I Pe II, 24). Reconciliando o homem com Deus, a redenção foi assim a libertação da escravidão do demônio: "A fim de destruir pela morte (sofrendo na sua carne e derramando Seu Sangue) aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio, e para livrar aqueles que, pelo temor da morte, estavam em escravidão toda a vida" (Hb II, 15). 

5º -  A redenção foi RESTAURAÇÃO: Pelo pecado original o homem perdeu a graça santificante e a glória do Céu. A redenção restitui ao homem estes dons sobrenaturais: "A todos os que O receberam, deu poder de se tornarem filhos de Deus, aos que crêem em seu nome" (Jo I, 12).

"E, se somos filhos, também somos herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; mas isto, se sofremos com Ele, para ser com Ele glorificados" (Rm VIII, 17). Estas palavras de S. Paulo mostram que Deus quer a nossa cooperação. Em outras palavras: Para lucrarem os benefícios da Redenção, os homens têm que expiar seus pecados, em união com Jesus Cristo e segui-Lo levando a cruz de cada dia. Diz S. Agostinho: "Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti".

 

PARÁBOLA: Um rei muito bondoso adotara como filho um rapaz mendigo. Também o rei deu-lhe como esposa uma linda moça e, após o casamento, colocou-os numa quinta muito rica e bonita. Como filhos adotivos, eles e seus descendentes seriam, um dia, herdeiros, mas com a condição de se lhe conservarem fiéis. Mas o jovem casal não manteve o pacto. O rei, então, mandou-os para o exílio. Ali aquele casal teve muitos filhos que nasceram naquela extrema miséria. Não puderam herdar nem o título de filhos do rei nem suas riquezas, porque seus pais tinham perdido tudo isto. Exilados que estavam, não podiam também entrar no palácio do rei.

O rei era tão bom que mandou o seu único filho  por natureza ir até aquele exílio. O príncipe  cumpre exatamente a vontade de seu pai e, à custa de fadigas, de suores, de feridas, adquire grandes benemerências junto do pai, e lhe diz: Por estes merecimentos te peço que os filhos adotivos desterrados e tornados pobres por culpa própria, possam todos regressar à vida feliz na corte real. O rei consente; mas estabelece um tempo de prova, para que cada um, com a fidelidade ao Soberano e com a observância das leis do Estado, se tornem dignos do favor.

Esta é uma imagem do que Jesus Cristo fez para nos salvar, e da condição que nos estabeleceu nesta terra, antes de nos admitir à glória do Céu.

É sumamente urgente fazermos o que o primeiro chefe visível da Igreja, Simão Pedro, indicou: "Portanto, irmãos, ponde cada vez maior cuidado em tornardes certa a vossa vocação e eleição por meio das boas obras, porque, fazendo isto, não pecareis jamais. Desde modo vos será dada largamente a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (II Pe I, 10 e 11). Amém!

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

JESUS CRISTO É O ÚNICO SALVADOR


TEXTOS BÍBLICOS: 1 -"Não há salvação em nenhum outro; porque, sob o céu, nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos" (S. Pedro em At IV, 12).

                                    2 - "Todos pecaram e estão privados da glória de Deus e são justificados gratuitamente pela sua graça, por meio da redenção, que está em Jesus Cristo".

 

REFLEXÕES: Deus criara o homem seu filho e herdeiro do Céu. Criou-o em estado de graça e santidade. Mas, Adão, Cabeça do gênero humano, prevaricou e assim perdeu tudo para si e para seus descendentes. Se não houvesse um Salvador, os homens não poderiam entrar no Céu. Deus, Pai de sabedoria e bondade infinitas, vendo a fraqueza do homem, quis usar de misericórdia e dar-lhe um Salvador.

Deus quis exigir uma reparação perfeita, isto é, equivalente à injúria. Neste plano, só o próprio Deus poderia ser o Salvador, reparando a honra divina ultrajada pelo pecado, dando novamente ao homem a graça santificante para assim poder merecer para o Céu. Na verdade, a gravidade de uma ofensa se mede pela dignidade da pessoa ofendida. Ora, o pecado ofendeu a Deus que é infinito, perfeitíssimo, a própria Santidade. Logo o pecado, sob este aspecto, é de uma gravidade infinita. E só Deus é infinito e, portanto, só Ele é que poderia dar uma reparação plena.

Por outro lado, sendo o homem que pecou, o salvador da humanidade teria que ser UM REPRESENTANTE dos homens, isto é, um homem. Concluindo, devemos dizer que o Salvador deveria ser um DEUS-HOMEM.

Deus, conciliando a Bondade com a Justiça, decretou a ENCARNAÇÃO: "O Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo I, 14). "Assim como pelo pecado de um só [Adão], incorreram todos os homens na condenação, assim, pela justiça de um só[Cristo],recebem todos os homens a justificação que dá a vida" (Rm V, 18).

Como veremos no capítulo seguinte, Jesus Cristo é uma Pessoa divina, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo, o Filho. E, como ensina a Filosofia, "as ações pertencem à pessoa". Assim, mesmo as ações  operadas só pela natureza humana de Jesus (e até as menores e mais simples) têm um valor infinito. Donde, mesmo dentro do plano divino duma redenção proporcionada à falta, uma prece, uma lágrima de Jesus seria suficiente. Jesus Cristo não tinha absolutamente nenhuma obrigação de sujeitar-se aos extremos de suplício infame, vergonhoso e sangrento.

A Encarnação e a Redenção são mistérios e mistérios de amor. É um amor infinito, e assim não temos condição de avaliá-lo devidamente. Deus, após o pecado de Adão e Eva, não quis reluzi-los ao nada do qual os tirou. Nem quis reduzir Adão e Eva ao estado simplesmente natural e assim toda a subseqüente humanidade. E amou-nos de tal modo que nos deu o seu Filho Unigênito: "O Verbo se fez carne e habitou entre nós". S. Paulo diz: "Aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e sendo reconhecido por condição como homem. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte, e morte de cruz! (Ef II, 7 e 8).   

São sete abismos de humilhação por nosso amor: Fazer-se homem; tomar a forma de servo; assumir as fraquezas da carne (exceto o pecado); tomar a semelhança da carne do pecado (como se Ele fosse o próprio pecado); esvaziar-se de Si mesmo (aniquilar-se); fazer-se obediente até à morte; derramar o seu Sangue até a última gota numa cruz. Razão tinha S. Paulo em dizer: "Quem não amar a Jesus Cristo, seja anátema" (I Cr XVI, 22).

EXEMPLO:  À entrada do Templo  o Apóstolo Pedro disse a um homem paralítico de nascimento: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: Em nome de Jesus Cristo de Nazaré, levanta-te e anda. E tomando-o pela mão direita o levantou, e imediatamente, se lhe consolidaram os pés e os tornozelos. E, andando, soltando e louvando a Deus, entrou no Templo juntamente com os apóstolos Pedro e João.

Jesus deu-nos a vida e, em abundância: onde abundou o pecado do homem, superabundou a graça de Jesus Cristo. Amém!

 

 

                          

terça-feira, 10 de novembro de 2020

A VIDA CRISTÃ

 

TEXTO BÍBLICO: "Eu sou a verdadeira videira... Permanecei em mim e Eu em vós. Como a vara não pode de si mesma dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. O que permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, porque, sem mim, nada podeis fazer" (Jo XV, 1-5).

REFLEXÕES: A SS. Trindade, fonte de todo bem, deu-nos  todo um organismo sobrenatural: a graça habitual (santificante), as virtudes infusas e os sete dons. Mas o homem, por si mesmo, não tem condição de fazer movimentar esta vida sobrenatural. Deus, então, nos dá as graças atuais. Tudo isto, porém, é operado pelos méritos e satisfações do nosso divino Salvador. Por esta razão, esta vida sobrenatural é chamada CRISTÃ. Podemos e devemos dizer mesmo que Cristo é toda a vida espiritual. Na verdade, tudo na vida cristã, converge para Cristo, fonte de toda santidade.

Jesus Cristo é a causa MERITÓRIA, a causa EXEMPLAR e a causa VITAL da nossa santificação. (Explanaremos tudo isto em artigos distintos). Cristo é a causa meritória, porque Ele reconquistou os nossos direitos à graça e à glória no Céu. É a causa exemplar porque mostra com seus exemplos como devemos viver para nos santificarmos.  É a causa vital da nossa santificação porque é a Cabeça deste Corpo Místico (Igreja) de que somos membros.

No Santo Sacrifício da Missa, pouco depois da Consagração, o celebrante, tendo na mão direita a Hóstia divina, traça com ela cinco cruzes, dizendo: "Por Ele, com Ele e n'Ele, a Vós Deus Pai Onipotente, na unidade do Espírito Santo, demos toda honra e glória". Sim, por Cristo, com Cristo e em Cristo, é que a SS. Trindade nos santifica. Como a Santíssima Eucaristia é o próprio Jesus, ela é a fonte e o ápice da vida cristã. Contém todo o bem espiritual da Igreja. A nossa santificação está na união íntima com Jesus Cristo. E justamente a Comunhão aumenta esta união com Ele: "Quem come a minha carne e bebe meu sangue, permanece em Mim e Eu nele" (Jo VI, 57).

Como todos os SACRAMENTOS foram instituídos por Jesus Cristo e d'Ele recebem toda eficácia, também dão a vida de fé do cristão: origem (Batismo) e o crescimento (Confirmação e Eucaristia), cura (Penitência e Unção dos Enfermos) e missão (Ordem e Matrimônio).

A ORAÇÃO  é, outrossim, elemento indispensável da vida cristã: é feita em NOME de Nosso Senhor Jesus Cristo. E Ele afirmou que o Pai nos concederá tudo o que pedirmos em seu nome (Cf. Jo XV, 16).

EXEMPLO:  Atalarico, rei dos Godos, sendo pagão, perseguiu a ferro e fogo os cristãos. Fazia passar pelas regiões um carro tendo em cima a estátua de um ídolo: todos aqueles que não saíssem para adorá-lo, eram mortos.

Na região onde morava S. Saba, havia pagãos tão afeiçoados a este servo de Deus por causa de sua caridade, que a todo transe queriam conservá-lo em vida. Mas, bem sabendo que de modo algum ele se deixaria persuadir a apostatar, pensaram em ir ter com os oficiais imperiais para atestarem que no seu distrito não havia sequer um só cristão e portanto não deviam perder o tempo em ir lá com o carro e com o ídolo. Mas S. Saba soube deste pensamento e começou a gritar: "Desventurados, que é que estais maquinando? Quereis dizer uma mentira para me salvar? Quereis ofender a Deus para me conservardes a vida? Que é a minha vida e o mundo todo para que se deva antepô-lo à glória de Jesus?

E quando chegou o carro do ídolo, logo ele saiu fora de sua tenda gritando: "Não adorarei o demônio! Pela graça de Deus, nunca renunciarei ao meu divino Redentor, Nosso Senhor Jesus Cristo! Sou cristão e podem matar-me. E assim o fizeram. (Vida dos Santos, por Vogel).

Ó Jesus, dai-me a vossa graça, o vosso amor e a perseverança neles até ao fim! Amém!

 

sábado, 7 de novembro de 2020

A GRAÇA ATUAL

GRAÇA ATUAL

TEXTOS BÍBLICOS:  1 -"É Deus que opera em nós o querer e o fazer" (Fl II, 13).

                                     2 - "Ora, sendo nós cooperadores (de Cristo) vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus" (II Cr VI, 1).

REFLEXÕES: Deve-se distinguir a graça habitual, que é uma disposição permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as GRAÇAS ATUAIS, que são as intervenções divinas, quer na ordem da conversão, quer no decorrer da obra de santificação. Na verdade, Deus acaba em nós aquilo que Ele mesmo começou: começa com sua intervenção, fazendo com que nós queiramos e acaba cooperando com as moções de nossa vontade já convertida. Como mostrou S. Agostinho, Deus termina premiando os seus próprios dons, porque todo bem vem d'Ele, o Sumo Bem. Daí a oração deste doutor da graça: "Dai-me o que ordenais, e ordenai-me o que quiserdes".

Se na ordem da natureza já temos necessidade do concurso de Deus para agir, com maior razão, na ordem sobrenatural. Para exercitar as nossas faculdades (inteligência e vontade) precisamos de moções divinas: são as graças atuais. São luzes para a inteligência e força para a vontade. Daí a definição dada pelos teólogos: Graça atual é um auxílio sobrenatural e transitório que Deus nos dá para nos iluminar a inteligência e fortalecer a vontade na produção dos atos sobrenaturais. A graça atual eleva e move nossas faculdades espirituais.

Exemplo de graça interior: antes da conversão (justificação) ela ilumina o pecador acerca da malícia e dos temerosos efeitos do pecado, para o levar a detestar tão grande mal. Depois da justificação (conversão), mostra-lhe, à luz da fé, a infinita beleza de Deus e a sua misericordiosa bondade, a fim de levar o convertido a amá-Lo de todo coração.

Exemplo de graças exteriores: Estas graças atingem INDIRETAMENTE  as nossas faculdades espirituais (e quase sempre são acompanhadas de graças interiores). São: leituras espirituais (máxime das Sagradas Escrituras), vida dos Santos, sermões, o bom exemplo de pessoas piedosas, boas conversas, músicas religiosas (como o Gregoriano e as parecidas a este) etc. São coisas que causam impressões favoráveis à conversão e/ou à santificação.

S. Paulo exorta-nos a não recebermos em vão as graças de Deus, porque, na verdade, Deus respeita a nossa liberdade: criou-nos sem nós, mas não nos santifica sem nós; Deus exige a nossa LIVRE COOPERAÇÃO. Cabe-nos acolher com alegria as primeiras iluminações da graça, seguir docilmente as suas inspirações, mau grado os obstáculos, e pô-las em prática, mesmo se exigir grandes sacrifícios. Mas Deus não se deixa vencer em generosidade: quando correspondemos com generosidade, Ele já tem novas graças para nos dar.

"Se aprouve à bondade divina, diz Tanquerey, derramar nas nossas almas uma vida nova, uma participação da sua vida divina, se nos deu virtudes e dons para praticarmos atos sobrenaturais e deiformes; se, pela graça atual, nos convida ao esforço, ao progresso espiritual, ficar-nos-ia mal rejeitar estas amabilidades divinas, levar uma vida medíocre e só produzir frutos imperfeitos".

PARÁBOLA: Uma princesa, órfã de pais, morava num dos castelos dos seus domínios recebidos em herança.. Um dia, a filha de um pobre pedreiro foi procurá-la apressadamente e disse-lhe: Alteza, meu pai está à morte; venha imediatamente vê-lo porque tem algo a dizer-lhe. A orgulhosa princesa não fez caso  do recado dizendo: "que pode ter um pedreiro a dizer-me na hora da morte?" Uma hora mais tarde, chegava de novo a filha do pedreiro ofegante de tanto correr: _ "Alteza _ disse _ venha depressa! Meu pai diz que a mãe da senhora, durante a última guerra mundial, mandara embutir numa parede de um dos castelos, uma grande quantidade de ouro, prata e diamantes. Meu pai tinha ordem de não lhe dizer nada antes que a senhora completasse vinte anos. Mas, como está certo de que vai morrer, quer antes revelar-lhe o secreto local do imenso tesouro".

No mesmo instante a jovem princesa saiu a correr para a casa do agonizante. Aconteceu, porém, que, ao entrar ela no quarto, o pedreiro acabava de expirar.

A princesa empregou grandes esforços para descobrir o tesouro escondido, mas tudo foi em vão. A herdeira do tesouro materno jamais o encontrou.

Lição: Muitos procedem a respeito da graça de Deus como aquela jovem princesa. Fazem deste tesouro divino muito pouco caso. Virá, porém, uma hora em que não mais o encontrarão.  Daí dizer S. Agostinho: "Temo a Jesus que passa em não volta mais".

Ó dulcíssimo Jesus, que a vossa graça nunca seja vã em mim! Amém!