domingo, 24 de dezembro de 2017

VIGÍLIA DO NATAL


NOTA: Quando o 4º Domingo do Advento coincide (como neste ano) com a Vigília do Santo Natal, celebra-se a Missa da Vigília  sem comemoração do Domingo.

Caríssimos, com a graça de Deus, vamos meditar sobre a VIAGEM A BELÉM. Vemos a sabedoria e bondade de Deus em ordenar esta viagem. O imperador César Augusto ordena o recenseamento de todos os seus súditos. Julga não trabalhar senão pela própria glória, e trabalha pela de Jesus Cristo, preparando provas da Sua divina missão. Para se realizarem as profecias, é necessário que o Messias nasça em Belém, que seja autenticamente reconhecido por filho de Davi. É necessário que Jesus entre neste mundo no estado mais humilde possível, pois vem fundar um reino espiritual que terá por alicerces a humildade, a paciência, a pobreza. Tudo está na mão de Deus. Ele faz concorrer tudo para o cumprimento de seus desígnios. A vaidade de Augusto contribuirá para isso, como a humildade de Maria Santíssima.

Que tesouros de merecimentos, que consolações vão achar Maria e José neste viagem tão penosa aos olhos dos homens!

Caríssimos, contemplemos a obediência e confiança de Maria Santíssima e S. José nesta viagem de Nazaré a Belém. Na verdade, os santos esposos tinham sólidas razões para se eximirem desta viagem ; mas seu amor à obediência não lhes permite ver senão a autoridade de Deus na do imperador. Partem. Preveem os trabalhos; mas a sua confiança é inalterável. Que tinham eles a temer? Maria levava em seu seio virginal o Senhor do universo. Nada é difícil quando Jesus está presente, tudo é bom!!!


Caríssimos, em breve Maria Santíssima vai dar-nos Jesus. Já se ouve um canto jubiloso. Só algumas horas nos separam de tão feliz vinda. Oh!  que grata não é para todos os cristãos a noite de Natal!

O AMOR DO CORAÇÃO DO MENINO DEUS NO PRESÉPIO

O Coração de Jesus se mostra amável em toda sua vida: em Belém, em Nazaré, na sua vida pública, na sua Paixão, na sua Ressurreição e Ascensão, na Santíssima Eucaristia e na glória do Céu! Em todos os mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo vemos brilhar de modo todo particular o AMOR. E tomamos o seu Coração como órgão símbolo deste amor. Na verdade foi o amor que fez Jesus nascer numa carne passível,  inspirou a obscuridade da Sua vida oculta, alimentou o zelo da Sua vida pública. No Calvário é por excesso dum amor sem medida que se entrega à morte por nós; se ressuscita é pelo amor afim de nos justificar: "Para nossa justificação" (Rom. IV, 25). Se sobe aos céus é o seu amor que O leva a preparar para nós um lugar, naquele Pátria de felicidade perfeita e eterna. É o Seu amor que nos envia o Divino Espírito Santo. E a Santíssima Eucaristia? São João diz tudo: "Tendo amado os seus que estavam neste mundo, amo-os até o fim". Caríssimos, todos estes mistérios têm a sua origem no amor; e o órgão e símbolo deste amor é o Seu Coração amabilíssimo.

Hoje vamos contemplá-Lo em Belém. Primeiramente, nos braços de Sua Mãe Santíssima, com o seu coraçãozinho já palpitando de amor por nós! Reclinado numa manjedoura sobre palha tiritando de frio por nosso amor. O Divino Infante olha para nós com doçura, estende para nós os seus bracinhos. Caríssimos, na verdade, como diz São Paulo: "Quando se manifestou a bondade de Deus nosso Salvador e o seu amor pelos homens, não pelas obras de justiça que tivéssemos feito, mas por sua misericórdia" (Tito, III, 4). O Deus Onipotente faz-se Menino para a nossa salvação!!!... A simplicidade, a inocência, a candura, a pureza, a formosura, a bondade, a ternura, enfim o AMOR... tudo se encontra aqui no presépio de Belém, nesta criança que não fala mas com o coraçãozinho palpitante de infinito amor.
São Francisco de Sales contemplando o mistério do Divino Menino recém nascido na gruta de Belém, escrevia inflamado de amor: "O grande recém nascido de Belém seja para sempre a delícia e o amor do nosso coração. Ah, como é lindo! Quero cem vezes mais ver este pequeno Menino no seu presépio que a todos os reis da terra no seu trono".

Compreendemos perfeitamente como os santos faziam as suas delícias em contemplar o Menino Jesus na manjedoura de Belém. O coração cheio de amor do Menino-Deus fazia o encanto de São Francisco de Assis, de São Bernardo, de Santa Tereza d'Ávila. de Santa Teresinha do Menino Jesus e bem podemos dizer de todos os Santos.


"Sic nos amantem, quis non redamaret", "como não amar em troca Aquele que tanto nos ama? Caríssimos, procuremos, então, ao contemplarmos a amabilidade inefável do Divino Menino Jesus, despertar nas nossas almas aqueles mesmos sentimentos de amor que tiveram e têm os santos. Amém!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O "SENSUS FIDEI"

Extraído da "INSTRUÇÃO PASTORAL SOBRE A IGREJA", escrita por D. Antônio de Castro Mayer em 2 de março de 1965. 

   
   Declara São Pedro que o novo povo de Deus deve publicar as perfeições de Quem o chamou das trevas para sua luz admirável. É a missão que tem a Igreja de, pela fé nas verdades reveladas, pela esperança dos bens futuros e pela caridade para com Deus e os homens, dar ao mundo testemunho vivo de Jesus Cristo. No desempenho de tal missão, goza o povo de Deus da prerrogativa da infalibilidade, quando, sob orientação dos legítimos Pastores, bem que espalhado pelo mundo todo, professa ele unanimemente como reveladas verdades de fé e costumes. Em semelhante caso não pode errar. Age nele o "sensus fidei", suscitado e mantido pelo Espírito Santo. Testifica ele então uma palavra não humana mas de Deus (cf. 1 Tes. 2, 13). 


NOTA: Até aqui a exposição de D. Antônio de Castro Mayer.
Gostaria de fazer uma observação que, no meu fraco entendimento, acho oportuna para os nossos dias. 

   Em todos os casos em que a Santa Igreja é infalível, ensina ao povo a Doutrina revelada por Deus. Os fiéis guardando-a com toda pureza e fidelidade estão sempre na verdade: são, portanto, infalíveis. 

   Ora, pode acontecer, sobretudo em tempo de crise na Igreja, que até Papas fora do campo da infalibilidade (por exemplo, quando o Papa dá uma entrevista, faz um sermão, escreve uma carta, telefona etc.) não ensinem com clareza a verdade; mas, neste caso, os fiéis bem instruídos em 2 mil anos pelo Magistério infalível da Igreja, permaneçam firmes na fé. 

   Assim aconteceu na época em que o Papa Honório I favoreceu a heresia do Monotelismo. 
   Na época do Arianismo, Santo Hilário dizia, que a maioria dos bispos empregava uma linguagem ambígua para enganar os fiéis, mas estes tinham os ouvidos mais santos do que os bispos, os seus corações. Os verdadeiros FIÉIS entendiam sempre no sentido ortodoxo.

  Para terminar, confiramos o Apóstolo, como aconselha D. Antônio de Castro Mayer no fim do seu artigo transcrito acima: 

   "Por isso, também nós damos sem cessar graças a Deus, porque, tendo vós recebido a palavra de Deus, que ouvistes de nós, a abraçastes não como palavra dos homens, mas (segundo é verdade) como palavra de Deus, a qual opera em vós" (1 Tess. II, 13). 

sábado, 9 de dezembro de 2017

A INFALIBILIDADE - OS FATOS DOGMÁTICOS ( X )

   Que são fatos dogmáticos? É qualquer fato, não revelado, unido porém tão estreitamente com o dogma revelado, que negar este fato era o mesmo que abalar os fundamentos do próprio dogma.
   Exemplos: Dizer que o Concílio Vaticano I é um concílio legítimo e dogmático. Pois bem! Negar este fato dogmático seria abalar os fundamentos do dogma da Infalibilidade definido neste Concílio.
   Outro fato dogmático: A tradução da Bíblia chamada Vulgata feita por São Jerônimo, é conforme substancialmente ao texto original.
   Observação: Digamos de passagem que este fato dogmático é de grandíssima importância porque vários papas elogiaram e aprovaram a Vulgata de São Jerônimo. Entre eles o Papa Bento XV, que na Encíclica "Spiritus Paraclitus" diz: "É por consenso unânime que se coloca na primeira linha desse escol (de numerosos exegetas tão notáveis pela santidade como pela ciência) São Jerônimo, em quem a Igreja Católica reconhece e venera o maior Doutor que o céu lhe deu para a interpretação das Santas Escrituras". São Pio X, condenou no seu Sílabo "Lamentabilis" a proposição modernista: "Os exegetas heterodoxos interpretam o verdadeiro sentido das Escrituras com mais fidelidade do que os exegetas católicos".
   O Papa Pio XII na Encíclica "Divino Afflante Spiritu" declara que a autoridade preeminente ou autenticidade da Vulgata vem da tradição; ou seja pelo uso legítimo que dela se fez na Igreja durante tantos séculos; "uso, diz Pio XII, que prova estar ela no sentido em que a entendeu e entende a Igreja, completamente isenta de erros no que toca à fé e aos costumes; de modo que, como a mesma Igreja atesta e confirma, se pode nas disputas, preleções e pregação alegar seguramente e sem perigo de errar".
   Pio XII é mal interpretado pelos modernistas quando diz: "Nem a autoridade da Vulgata em matéria de doutrina impede - antes nos nossos dias exige - que a mesma doutrina se prove e confirme, também com os textos originais, e que se recorra aos mesmos textos para encontrar e explicar cada vez melhor o verdadeiro sentido das Sagradas Escrituras".
   Nós sabemos que os modernistas e neomodernistas no Concílio Vaticano II e após ele, a exemplo do que fizeram com o "aggiornamento" querido por João XXIII, assim também fizeram com esta encíclica de Pio XII, ou seja, não procuraram guardar a doutrina no mesmo sentido, mas mudar a tradução e a exegese. Assim como há um verdadeiro progresso nos dogmas, há também um verdadeiro progresso na exegese. Mas o modernistas, olham o progresso das ciências e pregam a evolução dos dogmas. Pela constante evolução em nome da ciência, prejudicaram a Tradição da Igreja e as Sagradas Escrituras, que são justamente as fontes da Revelação, dos dogmas. Por isso, dizia São Pio X que os modernistas destruiriam a Igreja pelos fundamentos, se isso fosse possível. Já antes de São Pio X, o Concílio Vaticano I condenara todos aqueles que pregam a evolução dos dogmas em nome da ciência. Na Constituição Dogmática que trata da Fé e da Igreja, no capítulo IV que fala sobre a fé e a razão, cânon 2 diz: "Se alguém disser que as ciências humanas devem ser tratadas com tal liberdade que as suas conclusões, embora contrárias à doutrina revelada, possam se retidas como verdadeiras e não possam ser condenadas pela Igreja - seja excomungado". E no cânon 3 diz: "Se alguém disser que às vezes, conforme o progresso das ciências, se pode atribuir aos dogmas propostos pela Igreja um sentido diverso daquele que ensinou e ensina a Igreja - seja excomungado".
   No entanto, o Código de Direito Canônico (promulgado em 1983) assim reza no § 2º do cânon 825: "Com licença da Conferência Episcopal, os fiéis católicos podem preparar e editar em colaboração dos irmãos separados (= os protestantes) versões das Sagradas Escrituras, anotadas com as explicações convenientes".
   Logo após a criação da Administração Apostólica, passei a receber frequentemente coisas dos progressistas e entre elas "Campanhas para o dízimo". E, um dia mandaram-me de presente um Novo Testamento. Fui logo examinar o presente: "Timeo Danaos et dona ferentes". Abri o "Cavalo de Tróia, e lá estavam os inimigos". Assustei-me já com a primeira página onde se lê: "NOVO TESTAMENTO - Tradução Ecumênica". Na segunda folha está a RECOMENDAÇÃO, e nesta, entre outras coisas, se lê: "A Bíblia - Tradução Ecumênica baseia-se nos textos originais e reproduz fielmente o modelo da mundialmente reconhecida "Traduction Oecuménique de la Bible". Contém o texto integral do Antigo Testamento, com os livros deuterocanônicos ou apócrifos, e o do Novo Testamento, traduzidos, introduzidos e anotados por ampla equipe de estudiosos de diversas confissões cristãs e do judaísmo, representando a harmonia da unidade e o respeito da diversidade na leitura fiel do livro acolhido como Palavra de Deus. Recomendamo-la, portanto, aos leitores desejosos de aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus, consignada na Bíblia, Escrituras Sagradas do Judaísmo e do Cristianismo, patrimônio da humanidade. A Edição da Bíblia - Tradução Ecumênica - mereceu o louvor das Instituições Ecumênicas de nosso País e a Aprovação da Presidência da CNBB, conforme o cânon 825 §§ 1 e 2."
               D. Luciano Mendes de Almeida
               Presidente da CNBB
               Arcebispo de Mariana

               Ylanco S. de Lima
               Bispo Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e Presidente do Conselho N. de I. Cristãs

Este Novo Testamento foi editado pelas Edições Paulinas e Edições Loyola em 1996.
D. Luciano Mendes de Almeida que o aprovou, era então o Presidente da CNBB.
Faleceu em 27 /  08 /  06.

Pois bem! Em seguida fui examinar a tradução e, como sempre faço, fui direito ao capítulo I, v. 28 do Evangelho de São Lucas. É a saudação do Arcanjo São Gabriel a Nossa Senhora. E neste Novo Testamento Ecumênico assim está traduzido: "Alegra-te, ó tu que tens o favor de Deus. O Senhor está contigo".
   Eu tinha dez bíblias protestantes. Foram protestantes que se converteram e entregaram-me suas bíblias e dei-lhes a Bíblia Católica - a Vulgata de São Jerônimo. Fui lá conferir como era a tradução protestante; e verifiquei que, com pequenas variantes, a tradução é substancialmente igual a tradução ecumênica.
  Conferi na Vulgata do Padre Mato Soares, que recebeu o imprimatur em 1933 e a aprovação e elogios da Secretaria de Estado de Sua Santidade o Papa Pio XI. Documento este assinado pelo então Presidente da Secretaria de Estado, o cardeal Pacelli que foi o sucessor de Pio XI, o grande Pio XII. E lá está a tradução bem fiel a Vulgata Latina de São Jerônimo: "E, entrando onde ela estava, disse-lhe: Deus te salve, cheia de graça; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres". (S. Luc. I, 28).
   Vejam, caríssimos leitores, como são terríveis as conseqüências deste ecumenismo conciliar! Por exemplo: o Papa Pio IX na Encíclica "Ineffabilis Deus", baseado na Tradução da Vulgata de São Jerônimo,faz a  seguinte argumentação a favor da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria (nº 26): "Depois, quando os mesmos Padres e escritores eclesiásticos consideravam que, ao dar à beatíssima Virgem o anúncio da altíssima dignidade de Mãe de Deus, por ordem do próprio Deus, o anjo Gabriel lhe chamara - cheia de graça - ensinaram que com esta singular e solene saudação, até então nunca ouvida, se demonstrava que a Mãe de Deus era a sede de todas as graças de Deus, era exornada de todos os carismas do Espírito Divino; antes, era um tesouro quase infinito e um abismo inexaurível dos mesmos carismas; de modo que, ela não somente nunca esteve sujeita à maldição, mas foi também, juntamente com seu Filho, participante de perpétua bênção: digna de, por Isabel, movida pelo Espírito de Deus, ser dita: "Bendita és entre as mulheres e bendito o fruto de teu ventre". No nº 27 continua: "Destas interpretações se infere, clara e concorde, a opinião dos Padres da Igreja. A gloriosíssima Virgem, pela qual "grandes coisas fez Aquele que é poderoso", resplendeu de tal abundância de dons celestes, de tal plenitude de graça e de tal inocência que se tornou como que o milagre de Deus por excelência, ante a culminância de todos os seus milagres, e digna Mãe de Deus; de modo que, colocada, tanto quanto é possível a uma criatura, como a mais próxima de Deus, ela se tornou superior a todos os louvores dos homens e dos Anjos."
   Pio IX com a tradução ecumêncica, não teria como extrair tão belos argumentos a favor da Imaculada Conceição. O mais grave na tradução ecumêncica é que os protestantes fazem esta tradução justamente para deturpar o sentido original da palavra empregada por São Lucas, que escreveu inspirado pelo Espírito Santo. Escreveu em grego. E a palavra em grego é kecaritoméne. A tradução de São Jerônimo não podia ser mais exata: "gratia plena". Em português: "cheia de graça". A palavra original grega - kecaritoméne - significa PLENITUDE de alguma coisa. É realmente uma saudação, como diz o papa Pio IX, nunca ouvida. Só Nossa Senhora, foi a simples criatura humana que teve a plenitude da graça, ou seja, nunca lhe faltou a graça, e teve-a num grau máximo como nenhuma criatura humana por mais santa que fosse  poderia ter. Isto porque foi  predestinada pelo próprio Deus para ser a Sua Mãe. Sua digna Mãe. Deus empregou todo seu amor e todo seu poder para preparar a Sua Mãe.
   Agora podemos compreender mais facilmente como os "fatos dogmáticos" fazem parte o objeto da Infalibilidade. Mas alguém poderia perguntar: Mas também a Igreja não é infalível nas leis universais, como é o caso do Código de Direito Canônico? Respondo que sim, mas, nem sempre, como veremos, se Deus quiser, em algum post em breve.
   Num sermão que tive oportunidade de fazer numa paróquia vizinha, discordei desta tradução ecumênica da Bíblia. E, depois eu soube que um padre, meu colega não gostou. Aconteceu, porém, que poucos dias após, o Santo Padre, o Papa, Sua Santidade Bento XVI, na sua Encíclica "SPE SALVI", ele discorda da Tradução Ecumênica Alemã, e, como Sua Santidade fez questão de frisar, tradução esta ecumênica feita com a aprovação dos Bispos. A verdade é que nunca mais em lugar nenhum do mundo fui convidado para pregar. Mas tenho o meu querido Blog! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

 IMACULADA DESDE A CONCEPÇÃO
                                                                                                             Dom Fernando Arêas Rifan*
No próximo dia 8, celebraremos a Imaculada Conceição de Nossa Senhora, ou seja, honraremos o privilégio singular concedido por Deus à Virgem Maria, escolhida para a Mãe do Filho de Deus encarnado, preservando-a, desde a sua concepção, da herança do pecado original.
            Está aí uma luz dada pela Igreja sobre a vida intrauterina. Vida humana, respeitável, com direitos, querida por Deus, objeto do seu amor, desde o primeiro momento da concepção.
            “Vossos olhos contemplaram-me ainda em embrião” (Sl 139,16): essa é a citação bíblica escolhida por São João Paulo II para falar sobre o crime abominável do aborto: “o aborto provocado é a morte deliberada e direta... de um ser humano na fase inicial da sua existência, que vai da concepção ao nascimento... Trata-se de um homicídio... A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil, inerme, e numa medida tal que o deixa privado inclusive daquela forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e do choro do recém-nascido. Está totalmente entregue à proteção e aos cuidados daquela que o traz no seio...” (Evangelium Vitae, 58).
        “Alguns tentam justificar o aborto, defendendo que o fruto da concepção, pelo menos até certo número de dias, não pode ainda ser considerado uma vida humana pessoal. Na realidade, porém, a partir do momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida que não é a do pai nem a da mãe, mas sim a de um novo ser humano que se desenvolve por conta própria. Nunca mais se tornaria humana, se não o fosse já desde então. A essa evidência de sempre a ciência genética moderna fornece preciosas confirmações. Demonstrou que desde o primeiro instante, se encontra fixado o programa daquilo que será este ser vivo: uma pessoa, esta pessoa individual, com as suas notas características já bem determinadas. Desde a fecundação, tem início a aventura de uma vida humana, cujas grandes capacidades, já presentes cada uma delas, apenas exigem tempo para se organizar e se encontrar prontas para agir... O ser humano deve ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde esse mesmo momento, lhe devem ser reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais e primeiro de todos, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida”  (Evang. Vitae, 60).

        E a ciência moderna confirma essa posição da Igreja.  Dr. Jerôme Lejeune, cientista, professor da Universidade René Descartes, de Paris, e especialista em Genética Fundamental, descobridor da causa da síndrome de Down, em entrevista à VEJA, que lhe perguntou se, para ele, a vida começa a existir no momento da concepção, respondeu: “Não quero repetir o óbvio. Mas, na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos transportados pelo espermatozoide se encontram com os 23 cromossomos da mulher, todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é a marco do início da vida. Daí para frente, qualquer método artificial para destruí-la é um assassinato”.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianneyhttp://domfernandorifan.blogspot.com.br/

A INFALIBILIDADE - O OBJETO DA INFALIBILIDADE ( IX )

   O objeto da infalibilidade é a matéria em torno da qual a Igreja é infalível. O objeto da infalibilidade pode ser direto ou indireto.
   Objeto direto ou primário: é aquele que contém verdades formalmente reveladas, isto é, verdades que Deus manifestou com palavras da linguagem humana, pelas quais é manifestada com suficiente clareza a intenção divina.
   Objeto indireto ou secundário: é aquele que contém verdades intimamente conexas às verdades reveladas. Estas verdades embora não sejam reveladas em si mesmas, são necessárias, no entanto, para que o depósito da fé seja integralmente guardado, corretamente explicado e eficazmente definido.
   As principais verdades conexas à verdades reveladas são:
   1º - Os preâmbulos da fé.
   2º - As conclusões teológicas.
   3º - Os fatos dogmáticos.
   4º - Os decretos disciplinares quando obrigatórios para toda a Igreja.
   5º - A canonização dos santos quando feita com exame rigoroso.
   6º - A aprovação das Ordens Religiosas.

   O objeto da infalibilidade se deduz do fim que a Igreja procura por seu ensino. O fim da Igreja, é distribuir as verdades que interessam a salvação. Logo, tudo quanto se refere a este ponto, quer direta quer indiretamente, vem a ser objeto da infalibilidade.
   O objeto direto da infalibilidade se encontra nas duas fontes da Revelação: A Sagrada Escritura e a Tradição.
   O objeto indireto da infalibilidade, são todas as verdades não reveladas, mas em conexão tão  íntima com as verdades reveladas, que se tornam indispensáveis para a conservação integral do depósito da fé. São aquelas seis que acabamos de enumerar e que agora, vamos considerar cada uma em particular.

1º - OS PREÂMBULOS DA FÉ
   Muitas verdades de ordem filosófica, ou seja, natural, são pressupostas pelas verdades reveladas. Estas verdades são chamados: "preâmbulos da fé".
   Por exemplo, se você pudesse negar impunemente ao homem a capacidade de conhecer, só pela luz natural da razão (o que faz a filosofia) a existência de Deus, você poderia também negar o dogma católico definido pelo Concílio Vaticano I, segundo o qual devemos crer que é possível tal conhecimento da existência de Deus só pela luz natural da razão. Em outras palavras, se a Igreja não pudesse definir verdades naturalmente conhecidas, de modo algum poderia também guardar o depósito da fé que lhe foi confiado, justamente por causa da relação necessária existente entre as verdades de ordem natural e as verdades reveladas. Esta doutrina está sustentada pelo Concílio Vaticano I contra os Racionalistas.
   Portanto, os preâmbulos da fé não são definíveis porque revelados, mas antes por causa da ligação necessária com as verdades reveladas. 

2º - AS CONCLUSÕES TEOLÓGICAS
   Conclusão teológica é uma proposição que se deduz de duas outras, sendo, a primeira destas, verdade revelada; e a segunda, verdade conhecida pela razão. Por exemplo se eu disser: "Jesus Cristo é verdadeiro homem". (verdade revelada), e se por outra parte eu acrescentar: "Todo homem pode adquirir a ciência pela experiência e pela observação"; e então fazendo um verdadeiro raciocínio através da razão (isto na filosofia se chama "silogismo") eu concluo igual e verdadeiramente das duas afirmações anteriores uma nova verdade. Eis então como se faz o silogismo:
   1ª - "Jesus Cristo é verdadeiro homem" (= verdade revelada).
  2ª - "Ora, todo homem pode adquirir a ciência (= conhecimento de uma coisa), pela experiência e pela observação" (= verdade de razão).
   3ª -  Logo, Jesus Cristo teve a ciência adquirida. Esta conclusão é uma nova verdade que se chama conclusão teológica.

Observação: É teologicamente certo ( não é de fé ) que a Igreja é infalível com relação as conclusões teológicas, mas não é dogma, a não ser que a Igreja termine definindo uma conclusão teológica como dogma. Portanto, quem negasse uma conclusão teológica definida como dogma seria herético. Uma opinião, porém, contrária a uma conclusão teológica ainda não definida pela Igreja, seria classificada como opinião "errônea".

domingo, 3 de dezembro de 2017

A INFALIBILIDADE - TIPOS DE MAGISTÉRIO ( VIII )

   Vamos explicar os dois tipos de Magistério da Igreja, expondo, de maneira bem clara e detalhada, quando é infalível e quando não é infalível, segundo a Tradição viva da Santa Madre Igreja.
   1º - MAGISTÉRIO ORDINÁRIO DOS BISPOS: é quando uma verdade é ensinada em toda Igreja como doutrina revelada. Quando que isto acontece? Um bispo isoladamente não é infalível. (Aliás, a História da Igreja mostra que muitas heresias foram inventadas por bispos). Mas, quando todos os bispos espalhados pelo mundo católico ensinam tal doutrina relativa à Fé e à Moral como contida na Revelação, aí eles são infalíveis. Vamos explicar melhor com as palavras de D. Antônio de Castro Mayer: "De si, o magistério dos bispos não é infalível. Quando, no entanto, ensinam como autênticos mestres, matéria relativa à fé e aos costumes, de maneira que, ao ensinar, concordam moralmente todos no mesmo ensinamento, de fato enunciam infalivelmente uma doutrina revelada" (Cf. "POR UM CRISTIANISMO AUTÊNTICO" p.  ). Diz-se moralmente todos porque não é necessário que sejam todos matematicamente.
   Tanto no Concílio Vaticano I (1870) como já antes em 1863, Pio IX na Encíclica "Ineffabilis Deus" sobre a Imaculada Conceição de Nossa Senhora diz o seguinte: "...Querendo proceder com toda prudência constituímos uma Comissão especial de Veneráveis Irmãos Nossos, Cardeais da Santa Igreja Romana, ilustres por piedade, por ponderação de juízo e por ciência das coisas divinas, e escolhemos entre o clero secular e o regular homens particularmente  versados nas disciplinas teológicas, com o encargo de examinarem com a maior diligência tudo o que diz repeito à Imaculada Conceição da Virgem e nos darem depois o seu parecer.
   "... Enviamos uma Encíclica a todos os Veneráveis Irmãos bispos do mundo inteiro, a fim de que, depois de orarem a Deus, nos fizessem saber, mesmo por escrito, qual era a piedade e a devoção dos seus fiéis para com a Imaculada Conceição da Mãe de Deus; O QUE ERA QUE PENSAVAM ESPECIALMENTE ELES - OS BISPOS - DA DEFINIÇÃO EM PROJETO." (aqui temos a consulta do Papa sobre o Magistério ordinário dos Bispos). E diz Pio IX que os consultados (da Comissão e os Bispos do mundo inteiro) "com voto que se pode dizer unânime, pediram-nos que, com nosso supremo juízo e autoridade, definamos a Imaculada Conceição da mesma Virgem".
   Então, acabamos de ver o que significa ou quando se realiza o Magistério Ordinário dos Bispos e quando ele é infalível. Agora vamos ver quando se dá o Magistério Ordinário dos Papas.

   2º - MAGISTÉRIO ORDINÁRIO DOS PAPAS: são todos os documentos da Santa Sé; Decretos, Encíclicas que não vêm marcados  pela nota da infalibilidade.
   Quando o Magistério Ordinário dos  Papas é infalível?
   Resposta: O Magistério dos Papas é infalível quando Papas sucessivos, por um espaço suficientemente longo, repetem nos seus Documentos do Magistério Ordinário, os mesmos ensinamentos em questão de fé e moral, ou os que estejam intimamente conexos com estas questões de fé e moral. Em outras palavras: "As Encíclicas e outros Documentos do Magistério Ordinário do Sumo Pontífice só são infalíveis nos ensinamentos corroborados pela Tradição ou seja, por uma doutrinação contínua, através de vários Papas e por longo espaço de tempo" (Cf. "POR UM CRISTIANISNO AUTÊNTICO" pp. 323 e 367). Como exemplo de Magistério Ordinário infalível, D. Antônio de Castro Mayer cita a Encíclica "Humanae Vitae" em que o Papa Paulo VI, declarando ilícito o uso dos anticoncepcionais; insere-se numa Tradição ininterrupta do Magistério Eclesiástico.
   Eu me lembro que, na época, os progressistas murmuraram contra a Encíclica, e infelizmente muitos bispos e padres não obedeceram e até hoje muitos não obedecem. O Papa Paulo VI sofreu muito com esta desobediência e foi justamente por isso que, na época, o Padre Pio, hoje São Pio, escreveu uma carta a Paulo VI, agradecendo, elogiando e procurando consolar o Santo Padre o Papa Paulo VI.

MAGISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO
   O Magistério Extraordinário se dá em dois casos:
   1º - O Papa sozinho.
   2º - Os Bispos em união com o Papa.
   A - O Magistério Extraordinário do Papa sozinho.
   1º - Quando que é infalível: Isto acontece quando o Papa define "ex cathedra". Já vimos a definição do dogma da Infalibilidade do Papa pelo Concílio Vaticano I. Mas vamos apenas resumir. São 4 as condições:
   1ª) O objeto da Infalibilidade é bem delimitado, isto é, só questões de fé (dogma) e costumes (moral), e tudo aquilo que esteja estreitamente ligado a fé e/ou a moral.
   2ª) Quando o Papa fala "ex cathedra", isto é, no desempenho do seu cargo de Pastor e Doutor de todos os cristãos (=Doutor Universal, ou seja, como Chefe Supremo da Igreja aqui na Terra. Portanto, quando fala como pessoa particular não é infalível).
   3ª) Ele tem que definir, quer dizer, tem que resolver de modo terminante uma questão, seja ela uma questão que tenha sido discutida antes ou não.
   4ª) Não só definir, mas definir com o propósito de obrigar a Igreja inteira. O Papa indica geralmente este propósito pela sentença de anátema, que ele pronuncia contra quem negar adesão à verdade definida.

   2º - Quando o Magistério Extraordinário do Papa não é infalível?
   Resposta: quando faltar alguma  destas quatro condições acima descritas. Como dizia D. Antônio de Castro Mayer, o Concílio Vaticano I não definiu que faltando alguma destas condições o Papa continua sendo infalível. Portanto, o Concílio Vaticano I não definiu que o Papa é sempre infalível. Mas também não podemos, por isso, concluir que não entrando a infalibilidade o papa erre sempre; até devemos dizer que normalmente também não erra. Mas pode errar, sobretudo em tempo de crise na Igreja. E contra fatos não há argumentos. Já mostramos e explicamos o caso do Papa Honório I.

   B - O Magistério Extraordinário dos Bispos: Quando é infalível e quando não é infalível.
   1º) O Magistério Extraordinário Infalível dos Bispos:
   Quando todos os bispos são convocados, o Concílio Geral ou Ecumênico representa o corpo docente da Igreja: logo é infalível. Mas, é claro, o Concílio tem que ser legítimo, ou seja, deve ser convocado pelo Papa e seus   decretos têm de vir sancionados por ele pessoalmente ou por seus delegados quando estes tiverem procuração para isso.
   Com estas condições, normalmente todo Concílio Ecumênico é dogmático, e portanto infalível, a menos que o Papa que convoca (e o que o reconvoca) declarem expressamente que o Concílio Ecumênico será pastoral. Foi o caso do Concílio Vaticano II. Foi legítimo, porque convocado pelos papas, foi Ecumênico, porque todos os bispos foram convocados; mas foi um concílio fora do normal, ou atípico, porque até então os Concílios Ecumênicos foram dogmáticos.
   Houve na Igreja muitos Concílios Particulares, ou seja, dos bispos de uma Província, ou dos bispos de um país, justamente para se tratarem mais de questões pastorais. Isto é mais prático e até mais prudente, já que as necessidades pastorais não são sempre as mesmas em toda Igreja; quer dizer, cada região, cada país, e até cada diocese tem   suas questões pastorais próprias. Por exemplo, no Brasil em 1939 houve, na então Capital, a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, um Concílio Plenário dos Bispos. E  o então Sumo Pontífice o Santo Padre o Papa Pio XII o aprovou e enviou um Legado para convocar e presidir. E entre outras questões práticas, este Concílio Plenário Brasileiro procurou examinar os meios para afastar os males e danos causados pelos erros do Protestantismo e do Espiritismo. Antes do Concílio Vaticano II, em cada 20 anos, pelo menos, deveria haver um Concílio Plenário em cada país. Hoje há os "Sínodos dos Bispos" e as geralmente desastrosas "CN dos B".
   Para terminar, vamos fazer algumas observações: Voltemos aos Concílios Ecumênicos.
   A quem  fazia a objeção de que a infalibilidade dos papas  torna inúteis os Concílios Ecumênicos, Santo Afonso Maria de Ligório respondia: "Eles são úteis porque os povos aceitam mais facilmente seus decretos e porque os bispos conhecem melhor as razões destes decretos e expõem-nos mais claramente aos fiéis. Eles são úteis também para fechar a boca daqueles hereges que fazem pouco caso das definições do Papa". (Oeuvres Dogmatiques de Saint Ligori T. II, pág. 324).
   Diz ainda Santo Afonso que o Concílio sem o Papa, não pode definir nada relativo à fé. (Idem, p. 220).
   O Papa é que tem o direito de convocar um Concílio Ecumênico. Mas Santo Afonso é de opinião que em dois casos os cardeais e os bispos podem convocar um Concílio. O 1º é quando o papa é dúbio, isto é, quando há dúvida se um papa é legítimo ou é um anti-papa, como aconteceu na época do cisma do Ocidente.
   O 2º caso é quando um papa (como pessoa particular) tivesse caído de uma maneira perseverante e notória em heresia.
   No caso de papa dúbio, diz Santo Afonso, é preciso obedecer aos decretos do Concílio, porque a Santa Sé é considerada vacante. (Idem, p. 165).
   No segundo caso (de heresia) o papa seria destituìdo "ipso facto" do Pontificado, porque estaria fora da Igreja e por conseguinte não poderia ser seu chefe. Seria papa aquele que o Concílio declarasse. (Idem, p. 232).
   É preciso notar, entretanto, que são simples opiniões de Santo Afonso. E sobre esta hipótese de um papa cair em heresia como pessoa particular, há discussões intermináveis entre os teólogos. O Relator da Fé no Concílio Vaticano I, o Bispo D. Zinelli diz o seguinte: "Confiados na Providência sobrenatural, julgamos bastante provável que nunca um papa, como pessoa particular caia em heresia. Mas Deus não falta nas coisas necessárias; portanto, se Ele permitir tão grande mal, não faltarão meios para remediar tal situação". Vê-se que D. Zinelli apresenta simplesmente uma opinião piedosa. Mas como era Relator da Fé no Concílio Vaticano I, podemos supor com muita probabilidade, que o Papa Pio IX tenha aprovado esta opinião. Mas também, na verdade, não encontramos nada escrito a respeito. Pelo menos eu não consegui encontrar.