quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

EXPLICAÇÃO DA MÁXIMA: "FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO"

   Primeiramente: Quais são os que se acham fora da Igreja?
   1º - Os infiéis: assim são chamados os que não foram batizados e não têm a fé em Jesus Cristo.
   2º - Os hereges: isto é, os que, pertinazmente, não querem acreditar uma verdade revelada por Deus e ensinada pela Igreja como artigo de fé.
   3º - Os cismáticos: este nome se dá aos que se separam da Igreja, recusando aceitar os pastores legítimos e obedecer-lhes, conservando, no entanto, a fé nas verdades reveladas.
   4º - Os apóstatas: assim são designados os que foram batizados e renunciam à fé em Jesus Cristo que tinham professado.
   5º- Os excomungados, isto é, os que a Igreja expele do seu grêmio por causa de crimes; desde logo, perdem toda a participação dos sacramentos e bens espirituais da Igreja.
   Quanto aos pecadores, permanecem ainda membros da Igreja, porém, membros mortos; todavia, podem recuperar a vida, recebendo de novo a graça santificante.

   EXPLICAÇÃO DA MÁXIMA: Esta máxima é verdadeira na sua significação geral. Jesus Cristo, com efeito,  disse no Evangelho: "Se alguém não renascer na água e no Espírito Santo, - não for batizado- não entrará no reino de Deus". E em outra passagem: "Quem não crer será condenado". É a exclusão do céu sentenciada contra os infiéis, hereges e apóstatas.
   Disse mais: "Se alguém não atender à Igreja, seja ele tratado como pagão e publicano". Nestas palavras temos a exclusão dos cismáticos e excomungados.
  
   Muito bem, perguntará alguém, e perder-se-ão então eternamente todos os que se acharem fora da Igreja de alguma das ditas maneiras? Respondemos que não, mas somente aqueles que estão separados ou são excluídos da Igreja por SUA PRÓPRIA MALÍCIA  E POR CULPA GRAVE  e que por isso não pertencem nem ao corpo ( = visivelmente ) nem à alma ( = invisivelmente ) da Igreja. Pois há aqui na teologia duas coisas igualmente certas: a primeira é que fora da Igreja não há salvação; a segunda é que nenhuma pessoa é condenada às penas eternas senão por sua própria culpa grave. Por conseguinte, o que sem culpa própria grave, como aquele que por nascimento ou educação pertence a uma seita ou a um cisma, e nela tem a persuasão firme de estar na religião verdadeira, ou que, duvidando, busca com sinceridade a verdade para abraçá-la logo que a encontre, e no entretanto, segundo o seu saber e entender, cumpre a vontade de Deus; este tal, dizemo-lo, pode alcançar a felicidade eterna mediante as graças do Senhor, que depositou na sua Igreja para salvação dos homens. Pois ainda que ele mesmo não esteja em união visível com a Igreja, nem seja membro do seu corpo visível, não obstante, segundo a boa vontade, está unido com ela de um modo invisível, pelo mesmo espírito de caridade, e pertence à alma da Igreja. E isto sucede efetivamente quando uma pessoa não perdeu por culpa grave a graça santificante, recebida no batismo, ou quando, tendo-a perdido, a recupera por algum ato de contrição perfeita. Neste caso também ele é um membro vivo de Jesus Cristo e vivificado pelo mesmo Espírito Santo, que vivifica a Igreja, e tem parte nas graças que a Igreja recebe de Sua divina Cabeça invisível, que é Jesus Cristo. Por isso a Igreja condenou a proposição 68 de Bayo, o qual dizia: "A infidelidade que procede da ignorância invencível naqueles a quem Cristo não tinha sido anunciado, era pecado". Também ensina expressamente esta doutrina da Santa Igreja, Santo Agostinho  ( carta 43 ): "Aqueles, diz o santo doutor, cuja opinião, ainda que falsa e perversa, não a defendem obstinadamente, e não lhes vem da sua própria temerária obcecação, mas de seus pais seduzidos  ou caídos em erro, uma vez que pela sua parte busquem sincera e retamente a verdade e estejam dispostos a renunciar ao erro logo que o encontrem, não devem ser contados entre os hereges".
   Devemos pedir a Deus com zelo e fervor, para que todos os que estão fora da Igreja venham a ser seus verdadeiros membros visíveis e possam ter parte em todos os meios de salvação e de graça, que nós católicos, pela misericórdia divina, desfrutamos com TANTA ABUNDÂNCIA. Amemos os nossos irmãos extraviados, e mostremos-lhes a nossa caridade, convidando-os pela nossa conduta e bons exemplos a unir-se a uma Mãe que tem filhos tão nobres e que com ânsia indizível estende os braços para todos afim de estreitá-los ao seu seio como filhos muito amados, para enriquecê-los de todos os bens que lhes comunicou e comunica o seu divino Esposo. Mais do que todos os discursos terão valor para com eles obras de benevolência e beneficência e exemplos de uma conduta virtuosa. Isto mais facilmente lhes persuadirá  que é realmente uma dita inestimável e digna de qualquer sacrifício o ter a Deus por Pai e a Igreja Católica por Mãe.
   Perguntamos ainda: QUEM ERRA PELA SUA PRÓPRIA CULPA?
   1º - O que conhece a Igreja Católica e está persuadido da sua verdade, e apesar disto, não entra nela. Tais pessoas assemelham-se àqueles hóspedes que, convidados para a mesa do Rei, não correspondem ao convite sob pretextos frívolos; assemelham-se a servos indóceis que, conhecendo a vontade do seu Senhor, não a cumprem, merecendo por esta conduta um grande castigo, pois que acharam a pérola preciosa do reino de Deus, e tendo-a encontrado, atiram com ela fora, têm diante de si o tesouro da verdade e da graça e não se dão ao trabalho de levantá-lo do chão. Tais pessoas resistem e resistem sempre a verdade conhecida, pecam contra o Espírito Santo e com tanta maior gravidade, quanto mais claro é o conhecimento que tem da verdade..
   2º - São também culpáveis os que poderiam reconhecer a Igreja Católica se quisessem examinar a coisa com sinceridade, mas que por sua indiferença ou por outro motivo culpável ( como p.e. respeito humano ) deixam de fazer o dito exame.
   Há hereges que duvidam se a sua igreja é a Igreja findada por Cristo ou não. Para estes tais é dever santo e iniludível um exame sério e sincero, pois Jesus Cristo disse: "Buscai primeiro   que tudo e acima de tudo o reino de Deus e  sua justiça" ( S. Mateus, VI, 33 ). Procurai ser membros dignos da minha Igreja, que é o reino de Deus cá na terra; buscai-a primeiro que tudo e acima de tudo o mais; procurai justificar-vos, purificar-vos e santificar-vos, segundo o que ensina esta minha Igreja; eis o caminho que conduz ao reino de Deus na outra vida, ao reino dos céus.
   Por conseguinte, aqueles que por indiferença ou por preguiça, por respeito ou temores mundanos, omitem um exame sério e não tratam de ir buscar a verdade, que se encontra na Igreja católica, não podem se escusados de culpa grave contra Deus.
   E os que se propõem buscar a verdade e entrar no seio da Igreja, mas que vão demorando de dia para dia, devem temer que não lhes suceda o que sucedeu às virgens imprudentes, as quais, surpreendidas pela chegada repentina do Esposo, foram excluídas das bodas celestiais.
   Depois disto não nos toca a nós mas somente a Deus, julgar se este ou  outro homem viveu e morreu em erro culpável ou não. Só Deus é que esquadrinha os corações ( Salmo VII, 10 ); a nós compete-nos somente as palavras do Apóstolo: "Não julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, que iluminará o escondido nas trevas e manifestará os desígnios dos corações" ( I Cor. IV, 5 ).
   Nem a própria Igreja se permite um tal juízo. E se ela não faz nem permite as orações públicas pelos que morrem visivelmente fora da Igreja, é porque ela como única e verdadeira Igreja de Cristo, não pode reconhecer como seus depois de sua morte os que em presença do mundo estavam em rebelião pública contra ela, pertencendo a uma seita separada, e por isso nem pode pedir por eles nem fazê-los participantes das suas honras e bênçãos. Mas a Igreja reza privadamente por eles e exorta os seus fiéis a fazê-lo. Isto é sinal de que a Igreja não os considera  já "a priori" condenados.
 
Perguntamos ainda:"PARA CONSEGUIR A FELICIDADE ETERNA BASTA SER MEMBRO DA IGREJA CATÓLICA? Não, pois há membros viciados e mortos, que pelo pecado atraem sobre si a condenação eterna.
   Das parábolas do campo, do bom grão e da cizânia, da rede que contém peixes bons e maus, das virgens prudentes e loucas, assim como também da doutrina unânime de todos os Santos Padres, claramente se deduz que a Igreja encerra no seu seio membros bons e maus.
   Bons são aqueles que, não só pela confissão da fé cristã e pelos mesmos sacramentos, mas também pela graça santificante e pelo vínculo da caridade, estão unidos entre si e com Jesus Cristo sua Cabeça. Por isso, costumam chamar-se membros vivos, porque estão animados pelo Espírito Santo e incorporados em Cristo, autor e fonte de toda a vida sobrenatural.
   Pelo contrário, membros maus são os que têm e confessam a mesma fé que os bons, aceitam os mesmos sacramentos, mas por causa dos seus pecados graves carecem da união com Jesus Cristo, da vida interior da graça, e por isso costumam chamar-se membros mortos. A estes tais dizem respeito as palavras que Nosso Senhor dirigiu ao Bispo de Sardes. "Eu conheço as tuas obras; tens o nome de vivo mas estás morto" ( Apc. III, 1 ).
   Os membros vivos têm direito à felicidade eterna, pois onde está a cabeça aí devem estar os membros unidos com ela.
   Os maus, porém, por estarem interiormente separados de Cristo, não terão a vida eterna, como demonstram as parábolas citadas do Senhor.
   Por conseguinte, não basta ser membro da Igreja só exteriormente; não basta que alguém seja católico para conseguir a vida eterna, mas é necessário ser bom católico, isto é, animado de fé viva e de caridade com boas obras.
   Pelo contrário. o mau católico, pelo abuso deplorável de tantas e tão assinaladas graças que pôs à sua disposição a sua união exterior com a Santa Igreja, "terá de dar mais estreita conta e sofrerá pena mais severa; pois muito será exigido a quem muito recebeu"  S. Luc. XII, 48 ).
   Do que fica dito se infere quanto é grande injúria que se faz à Igreja Católica acusando-a de intolerância. Seria fácil demonstrar que a tolerância civil, que consiste em os homens de diferentes religiões viverem pacifica e tranquilamente no mesmo estado e em gozarem todos igualmente das mesmas leis, direitos e liberdades, é muito bem observada pelos católicos.
   A IGREJA CATÓLICA, PORÉM, NÃO PODE ADMITIR NEM ADMITIRÁ JAMAIS A TOLERÂNCIA RELIGIOSA OU DOGMÁTICA, MEDIANTE A QUAL SE QUER FAZER PASSAR POR BOAS E SANTAS TODAS AS SEITAS, AINDA QUE ENTRE SI CONTRADITÓRIAS, E QUE NENHUMA DELAS SEJA FALSA, POIS ISTO NÃO SÓ SERIA PECADO CONTRA DEUS, VERDADE ETERNA, MAS OBRAR CONTRA A PRÓPRIA RAZÃO. ( Perrone ).