segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O SACERDOTE É O PORTEIRO DO PARAÍSO

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

É São Próspero quem chama o confessor de "Porteiro do Paraíso". Ele pode, pois, livrar os pecadores da prisão eterna do inferno, e abrir-lhes o palácio da Jerusalém Celeste. Que honra para o sacerdote! Qual seria vossa admiração por um homem que tivesse a faculdade de limpar leprosos com poucas palavras!? Pois bem! O sacerdote opera maravilha muito maior quando pronuncia sobre um pecador bem disposto estas palavras: Ego te absolvo a peccatis tuis; pois no mesmo instante, ele torna limpa e branca como neve aquela alma, que, por seus pecados, estava imunda e enegrecida pelo piche do pecado. "A justificação de um pecador, diz Santo Agostinho, é obra mais admirável do que a criação do céu e da terra". "O Senhor, diz o cardeal Hugo, parece dizer ao padre que absolve um pecador: Por mim, criei o céu e a terra; dou-vos porém o poder de efetuar uma criação muito mais excelente. Eis aqui uma alma em estado de pecado; criai nela um coração puro, e fazei que, de escrava do demônio, se torne minha filha. Por mim, fiz a terra produzir frutos, mas vos dou um poder muito mais nobre; fazei que o pecador produza frutos de boas obras. Privado da graça santificante não é ele outra coisa senão uma árvore seca; dai-lhe a seiva da vida divina pela absolvição, e ele produzirá frutos dignos da vida eterna".

O Senhor dizia a Jó: "Tens tu como Deus um braço todo poderoso e tua voz é trovejante como a sua?" (Jó 40, 4). Ora, quem é que possui um braço semelhante ao de Deus, e que como Deus, faz ressoar a sua voz semelhante ao trovão? É o padre. Quando ele dá a absolvição, serve-se do braço e da voz de Deus para quebrar as correntes daqueles que estão na escravidão de Lúcifer, para recalcar no fundo do abismo os poderes infernais e para impor silêncio aos demônios bramando de raiva porque tem de deixar ir em liberdade as almas reconciliadas com Deus, seu legítimo senhor.

O sacerdote opera o milagre da ressurreição não de corpos mas de almas. Na verdade o confessor ressuscita tantos mortos quantas absolvições dá aos pecadores suficientemente dispostos pela atrição, pecadores que pelo pecado grave haviam morrido espiritualmente. Quando, pois, a alma está privada da vida sobrenatural da graça, é escrava do demônio que não espera senão o julgamento de Deus para a encerrar no sepulcro eterno do inferno.

Suponhamos, caríssimos, que um pecador esteja próximo a morrer; de repente, tocado por uma luz do alto, reconhece o seu estado, concentra-se, e, deplorando o mal que cometeu, pede com grandes lamentos que o arranquem das garras do leão infernal. Quem livrará esta pobre alma obsequiada pela graça da atrição? Ainda que se reúnam todos os poderosos da terra com seus exércitos, e ordenem ao demônio que abandone essa alma, o demônio não fará senão escarnecer de uma tal ordem, pois, os poderosos, reis, presidentes e generais, não têm poder senão sobre as coisas temporais. Mas aparece um sacerdote, mesmo o mais pobre e o menos digno de todos do clero; este sacerdote, só por estas palavras: Ego te absolvo a peccatis tuis, forçará o demônio a abandonar sua presa; transformará esse pecador  em justo, fará dele um predestinado.


Em verdade, caríssimos, podemos dizer com S. Próspero, que os sacerdotes são as "Portas da Cidade Eterna", e com o escritor espiritual Salviano: "Toda a nossa esperança e nossa salvação se acham nas mãos dos sacerdotes!" Aí entendemos porque São Clemente chama o padre "Deus da terra"; querendo dizer com isto que ele ocupa neste mundo o lugar de Deus. Amém!

sábado, 28 de janeiro de 2017

O CONFESSOR OCUPA O LUGAR DE JESUS CRISTO

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

O poder de perdoar pecados é, na verdade, um poder divino, isto é, só Deus pode perdoar pecados. Jesus Cristo perdoava pecados justamente porque Ele era Deus. Mas quem tem o poder, pode delegá-lo a outrem. Foi o que Nosso Senhor Jesus Cristo fez. Assim como deu aos Apóstolos o poder de batizar, celebrar o Santo Sacrifício da Missa, o poder de pregar, deu-lhes também a eles e aos seus sucessores o poder de perdoar pecados. Por isso é que Jesus disse: "Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes -ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (S. João XX, 21-23).

É um prodígio de misericórdia em nosso favor!

Todos reconhecem que os reis da terra têm o poder de mandar administrar a justiça em seu nome, quer dizer, de confiar a magistrados o direito de absolver e de condenar os culpados. Por que recusam a Deus o mesmo direito? O Rei do Céu terá menos poderes do que suas criaturas?
Evidentemente Deus pode confiar a homens o poder de perdoar os pecados em seu nome. Ora, é um artigo de fé que Jesus Cristo comunicou este poder aos padres quando lhes disse: os pecados serão perdoados a quem vós os perdoardes. O Salvador não disse: os pecados serão perdoados a quem anunciardes que lhes são perdoados; não; pois, absolvendo, o padre perdoa verdadeiramente os pecados na qualidade de substituto de Jesus Cristo, em virtude do poder que lhe foi dado por Nosso Senhor, que é o principal ministro do Sacramento.

Vamos ouvir agora a Santo Afonso (do seu livro SELVA): "Perdoar pecados só a onipotência de Deus o pode, como a Santa Igreja dá a entender em sua orações do 10º domingo depois de Pentecostes: 'Ó Deus que manifestais, principalmente, vosso poder perdoando'... etc. Ouvindo o Salvador conceder ao paralitico o perdão de seus pecados, os judeus tinham, pois, razão de exclamar: Quem pode perdoar os pecados, senão Deus só? (S. Lucas, V, 21). Pois bem! a graça do perdão, que só Deus pode conceder por seu poder divino, um homem pode também concedê-la por estas palavras: Eu vos absolvo dos vossos pecados; este homem é o sacerdote. Notemos que ele não diz: "Deus vos absolve"; mas diz: "Eu vos absolvo". Dando a absolvição, ele fala como Deus, porque Deus lhe comunicou seu poder imenso e infinito para perdoar.

Se Jesus Cristo descesse a uma igreja e se assentasse em um confessionário para administrar o sacramento da penitência, enquanto um sacerdote estivesse assentado em um outro confessionário, é de fé que, quando o divino Redentor e o padre dissessem: Ego te absolvo a peccatis tuis, os penitentes ficariam absolvidos igualmente, tão bem por um, como pelo outro. Prova evidente de que o confessor ocupa o lugar de Jesus Cristo. Na verdade o sacerdote tem o poder das chaves; isto significa que ele pode livrar do inferno o pecador bem disposto, torná-lo digno do céu, e de escravo do demônio fazê-lo filho de Deus; e Deus mesmo é obrigado a concordar com a sentença do padre, recusando ou concedendo o perdão, conforme o sacerdote recuse ou conceda a absolvição, suposto que o penitente seja digno dela. De modo que "o juízo de Deus está entre as mãos do padre," diz S. Máximo de Turim. A sentença do padre precede, acrescenta S. Pedro Damião, e Deus a subscreve".


Vamos ouvir S. João Crisóstomo: "Criaturas que vivem sobre a terra são chamadas ao exercício de um poder que Deus não deu nem aos anjos, nem aos arcanjos. Não foi a estes que Ele disse: O que vós ligardes sobre a terra será ligado no céu, e o que vós desligardes sobre a terra será desligado no céu. Os príncipes da terra têm o poder de ligar, mas somente os corpos, ao passo que os laços de que dispõem os sacerdotes atingem à alma e vão até os céus; o que os padres fazem aqui na terra, Deus o confirma no céu, e o mesmo Senhor confirma a sentença de seus servos. Ele lhes deu por assim dizer a onipotência no céu. Ele disse: Os pecado serão perdoados àqueles a quem os perdoardes e serão retidos àqueles a quem os retiverdes. Haverá um poder superior a este? O Pai deu a seu Filho o poder de tudo julgar (S. João V, 22). E vejo o Filho confiar este mesmo poder aos seus sacerdotes". Vamos ver no próximo post que isto é uma grande honra. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A CONFISSÃO BEM FEITA PROVOCA TRANSPORTES DE ALEGRIA

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Caríssimos, peço que não julguem ser fruto de puro sentimentalismo o que agora vou escrever. A alegria que vem de uma santa confissão, máxime de uma confissão geral bem feita, é algo que sobrepuja todo entendimento humano, é divino, é sobrenatural. Quantos e quantas que antes da confissão choravam de tristeza, após a confissão, choravam de alegria! E digo mais: esta alegria inefável, enche também o coração do confessor. Basta pensarmos no seguinte: uma alma sair das garras do demônio e ser colocada nas mãos de Deus, Nosso Pai e Senhor! Deixar o caminho que conduzia ao inferno e passar a trilhar o que conduz ao céu. Vale a pena estendermos as nossas reflexões sobre tema tão agradável ao coração humano!

Caríssimos, como exprimir os transportes de alegria que experimenta uma alma pecadora, no momento em que o padre, em nome do Rei dos céus, lhe diz:  Eu vos absolvo, que Deus a abençoe, vai em paz! Ela experimenta uma felicidade que as delícias da terra nunca lhe puderam dar. A alma pensa: não estou mais nas cadeias do demônio; sou filha de Deus, o céu tornou-se minha herança!

Demos aqui a palavra a Mons. Giraud: "Admirai, a transformação deste homem, outrora pecador e hoje penitente; era triste e pensativo, e, se algumas vezes parecia sorrir, esse sorriso era forçado e traduzia lágrimas; os mais suaves sentimentos da vida, os prazeres da amizade, os amores da família, estavam corrompidos por uma dor secreta; uma palavra de religião, uma lembrança da morte, da eternidade, o lançava numa profunda melancolia. Vede-o agora ao sair do tribunal da penitência. Que encanto! Que alegria! Chora, e acha suavidade em chorar; seu coração se desfaz em delícias, seu bom gênio voltou-lhe com a graça. Desde que ama seu Deus tornou-se mais amável para com o próximo! Parece ter tornado a uma nova existência e renascer para uma vida mais suave. Sua fronte carregada de desgosto se esclarece e brilha, seu sono agitado torna-se tranquilo, seu coração oprimido abre-se e derrama, como um vaso cheio, a alegria que não pode conter. Ainda há pouco duvidava das verdades da fé, agora crê em tudo, descansa com amor na religião que perdoa. Temia a confissão como um suplício, agora ele a aprecia, a abençoa, a pratica sem esforço. Vinde, pois, ó pecadores, experimentai esse remédio salutar. Provai e vede; que a primeira amargura não vos afaste; a amargura está na superfície, mas a doçura reside no fundo do cálice. "Provai e vede, o quanto é suave!" (Salmo XXX, 8)."

Vou contar-vos um fato: Um protestante entrou um dia em uma igreja católica, na ocasião em que os fiéis se apressavam em volta do confessionário. Ficou tão maravilhado da felicidade que ao sair do tribunal sagrado lhes resplandecia no rosto, que exclamou: é esta a verdadeira Igreja, é aqui que se realiza a palavra do Evangelho: "os pecados serão perdoados aos que vós os perdoardes". Já havia lido João XX, 22-24. Só a Igreja romana, exclamou ele, perdoa os pecados, como está claro na Bíblia; ela é, pois, a única Igreja de Jesus Cristo". Apressou-se a abjurar a heresia afim de poder gozar também as santas alegrias da confissão.

Não sei se é impressão minha, mas os protestantes em geral (É claro que ha exceções) não aparentam aquela alegria franca que brota do íntimo da alma. É talvez, a falta da confissão. Eles dizem que pedem perdão diretamente a Jesus. Aliás, dizem que basta confiar que Jesus é o Salvador! Mas ouviram alguma voz vinda do céu que lhes garantia o perdão? No fundo devem reconhecer que só a Religião católica segue integralmente o que Jesus deixou e disse: "Recebei o Espírito Santo, a quem perdoardes o pecados serão perdoados"... "Quem vos ouve a mim ouve".

Caríssimos, há sempre o receio de se dizer aos doentes que se devem confessar; na confissão não se lhes fala senão o mais tarde possível. quase sempre quando já é tarde. Ah! a confissão não faz morrer; ela é mais salutar do que se pensa. A paz da alma influi muito sobre a saúde. A confissão acalma as agitações tão penosas da consciência, dissipa o temor tão horrível do futuro, suaviza os sofrimentos pela resignação, transforma os pensamentos tristes e acabrunhadores em pensamentos cheios de esperança e de consolação. Já fui Capelão em hospitais, já atendi milhares de doentes, e posso afirmar que, pela graça de Deus, muitos se recuperaram logo após receber os sacramentos. Daí, eu, que no começo encontrava tanta dificuldade em poder atender os doentes que estavam em quartos particulares, depois de alguém tempo, os parentes e até os médicos católicos iam me procurar para eu dar os sacramentos.


Tissot, não o célebre escritor espiritual católico, mas o célebre médico protestante, tratava de uma senhora estrangeira, cuja doença chegou a um ponto assustador. Conhecendo a gravidade de seu estado e atormentada pelo pesar de deixar tão cedo a vida, entregou-se a violentas agitações e aos transportes do desespero. O médico Tissot julgou que este novo abalo lhe abreviasse o termo da vida e, embora protestante, segundo seu costume, preveniu que não tardassem a administrar à doente todos os socorros da religião que só a Católica possui. Então é chamado um padre. A doente o escuta, e recebe como o único bem que lhe resta, as palavras de consolação que saem da sua boca. Ela se acalma, se ocupa de Deus e de seus interesses espirituais, e recebe os sacramentos com grande edificação. No dia seguinte o médico a encontra calma, e admira-se que já não tenha febre e que os sintomas mudassem para melhor; breve a doente ficou curada. O médico Tissot costumava repetir este fato e exclamava com admiração: "Tal é o poder da confissão entre os católicos!" Amém!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A CONFISSÃO BEM FEITA DÁ A PAZ E A FELICIDADE VERDADEIRAS

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

 Nosso Senhor Jesus Cristo disse: "Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo" (S. João XIV, 27). O demônio faz o pecador crer que só será feliz se seguir o mundo com suas concupiscências, fazendo o pecado. Mas o diabo é o pai da mentira. Nosso Senhor Jesus Cristo é a verdade, Ele é alegria infinita. Estar com Jesus, diz o Livro da Imitação de Cristo, é um doce Paraíso; e estar sem Jesus é um terrível inferno. Pois bem! Se a alma perdeu esta alegria infinita que é Jesus, é a confissão bem feita que lhe restituirá a paz de Jesus, que é um dom tão importante que, como diz São Paulo, "sobrepuja todo entendimento humano". Porque Jesus Cristo é Deus e, portanto, infinito, e nós somos criaturas, e, portanto, limitados.

Toda felicidade vem de Deus, que é fonte de todo o bem. Unido a Deus pela graça, o homem é feliz; mas, separado de Deus pelo pecado, é soberanamente infeliz. Assim dizia o profeta Jeremias II, 19: "Sabei e vede, como é amargo ter abandonado o Senhor". Com o pecado nasce na alma um verme roedor que se chama remorso de consciência. O rei Davi explica a vida infeliz que levou enquanto se achava em estado de pecado: "Minhas lágrimas serviram-me de alimento, porque, dia e noite, eu ouvia uma voz interior que me fazia esta censura: onde está o teu Deus?" (Salmo 41, 4). Mas parece, dizem muitos, que as pessoas do mundo são felizes...! Mas é a paz do mundo; e esta é enganadora. O fato de os mundanos procurarem sem cessar divertimentos e prazeres, é justamente porque nunca estão satisfeitos. Pelo contrário, basta um momento de sossego, logo sentem o espinho do remorso. Santo Agostinho dizia: "O pecador é infeliz porque sente o remorso; e os que já não o sentem mais, são mais infelizes ainda, porque certamente senti-lo-ão eternamente". Realmente, o remorso é um meio da misericórdia divina levar o pecador ao arrependimento e daí à confissão. Mas com tanto pecar, a consciência pode se tornar cauterizada, é aí já não sente mais o remorso, e tanto pior.

O único remédio contra os remorsos é a confissão bem feita; somente ela, instituída por Deus para perdoar os pecados, pode dar ao homem a certeza divina de seu perdão, estando ele bem disposto. Ouvi a este respeito o protestante Naville: "Parece-me, diz ele, que é bastante entrar em si mesmo para compreender como a Igreja romana, com as graças de que ela dispõe e a sua divina autoridade, se vê apoiada pelas necessidades mais íntimas da nossa alma. Quem não voltou um olhar de inveja para o tribunal da penitência! Quem não desejou na amargura do remorso, na incerteza do perdão divino, ouvir de uma boca que o pode dizer com o poder de Jesus Cristo: 'Vai em paz, teus pecados de são perdoados'."

Acrescentaremos, caríssimos, com o conde de Maistre: "Que há de mais natural do que o movimento de um coração que se chega a outro coração para nele derramar um segredo? O infeliz, despedaçado pelo remorso ou pela dor, tem necessidade de um amigo, de um confidente que o escute, o console e algumas vezes o dirija. O estômago no qual está depositado um veneno e que entra em convulsões para o vomitar, é a imagem perfeita de um coração onde o inimigo infiltrou a sua peçonha: sofre, debate-se, contrai-se até que ache um coração amigo, ou ao menos assaz benévolo, para ser o confidente de sua desgraça".


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A CONFISSÃO É SALVAGUARDA DOS BENS E DA REPUTAÇÃO DO PRÓXIMO

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

A confissão impede o roubo, a maledicência, a calúnia; ela exige a reparação de toda a injustiça cometida contra o próximo. O próprio Rousseau, ímpio como foi, exclamava: "Quantas reparações, quantas restituições a confissão obriga a fazer!" Também a escritora Mme. de Genlis  relatava em uma de suas obras: "Há seis meses que me roubaram o valor de dez mil francos em objetos de prata. Foi-me impossível descobrir o autor deste roubo. Ontem o Sr. Cura de Santo Eustáquio pediu-me para falar em particular. Era para me anunciar que trazia consigo a restituição do roubo. Estamos no fim da quaresma e o ladrão quis fazer sua páscoa. Se, em vez de ter sido educado no religião católica, não conhecesse senão a filosofia da escola moderna, ele pensaria que o que é bom para roubar é bom para guardar".

Voltaire, o patriarca da impiedade, chamava a confissão "uma coisa excelente, uma instituição salutar, o maior freio que se pode pôr aos crimes, e sobretudo o único freio para os crimes ocultos".

Leibnitz, embora protestante, dizia: "a necessidade de confessar-se afasta muitos homens do mal, principalmente os que não estão ainda endurecidos, e oferece grandes consolações aos desalentados. Também considero o confessor como o principal órgão da divindade para a salvação das almas; seus conselhos servem para regar nossas afeições, evitar as ocasiões de pecado, restituir o roubado, reparar os escândalos, levantar os espíritos abatidos, enfim para curar e suavizar todos os males das almas doentes".

Dizia também o célebre Mons. Gaume: "Descobri um só interesse público ou privado, moral ou material que a confissão não proteja, e que não proteja mil vezes mais eficazmente do que os magistrados armados de toda a autoridade das leis humanas. A confissão protege a santa autoridade dos pais e dos reis, contra a insubordinação dos filhos e dos povos; protege a vida moral e mesmo física dos filhos contra a negligência e a má vontade dos pais; protege a inocência, a reputação, a propriedade, a vida e a tranquilidade de todos, contra as paixões culpáveis que a todos ameaçam, paixões cujos germes existem no coração de todos os filhos de Adão. Homens cegos, que tendes a desgraça de não vos confessardes, pais, mães, negociantes, ricos e pobres, não sabeis o que deveis ao tribunal da penitência. Sem a confissão, desde muito, talvez, a desonra pesasse sobre o que tendes de mais caro, a calúnia tivesse enxovalhado vosso nome, a injustiça abalado vossa fortuna, uma taça de amargura abreviado vossa vida".  


Caríssimos, há uma tara terrível que é mais freqüente que muita gente pensa: é a cleptomania, isto é, a tendência patológica para furtar. Pois bem, além do tratamento de especialistas, psicólogos e psiquiatras, não resta dúvida que a confissão é o grande meio para ajudar as pessoas vítimas de tal mania, a se curarem inteiramente. 

sábado, 21 de janeiro de 2017

A CONFISSÃO SALVAGUARDA CONTRA A IMORALIDADE E UMA MULTIDÃO DE CRIMES

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Todos os pecados, todas as desordens que perturbam e desonram as famílias, todos os crimes enfim que tendem a subverter a sociedade vêm do coração. É mister, pois, purificar e curar o coração humano, se quisermos salvar a humanidade, isto é, as famílias e toda a sociedade. Mas como? Que poderá exercer esta obra maravilhosa? As leis humanas quando boas, podem, sem dúvida, opor algum obstáculo à torrente impetuosa das paixões, mas não são suficientes para estancar-lhes a fonte. Podem, por exemplo, agir sobre as ações públicas como, por exemplo a pedofilia e a pornografia. Infelizmente hoje as leis humanas mais favorecem crimes do que os condena. É o caso do aborto, das uniões adúlteras ou sodomitas. Mas mesmo as leis humanas boas não podem atingir as ações secretas e ocultas, e ainda menos sobre seus princípios, que são os pensamentos e os desejos. Só à Religião de Nosso Senhor Jesus Cristo é reservado este poder; e a Igreja fá-lo através da confissão.

No segredo do tribunal sagrado, no confessionário, o coração se desvenda completamente. Ali, o padre, confidente íntimo do penitente, examina as chagas desse coração doente, e tira dele tudo que está gangrenado. Substitui o mal pelo bem, o erro pela verdade, as afeições desregradas por inclinações santas. Enfim, com sábios conselhos, acautela esse coração tão fraco de novas recaídas.

Nada mais apto para impedir o mal em sua origem, do que a confissão! E na falta de confessores, ninguém tem o poder nem o meio de o fazer. É o que dizia Monsenhor Gaume: "Nem o pai, nem a mãe, nem o amigo conhecem a última palavra do coração de seus filhos ou de seus amigos; há segredos que o homem não pode e não quer revelar senão a Deus. Como são cegos, para não dizer mais, os pais que afastam seus filhos da confissão, e creem poder obter o monopólio de sua confiança! Ah! eles não sabem absolutamente como o coração do homem é formado". E ouçamos o filósofo Marmontel: "Que melhor preservativo para as más inclinações da adolescência, do  que o uso da confissão todos os meses!".

Só a vergonha que acompanha a humilde acusação de um falta, é capaz de reter o homem na borda da abismo: "Eu não farei isto, porque terei de confessá-lo". Quantas infidelidades, quantas desordens a confissão não tem impedido! Quantas almas estariam eternamente perdidas se não se confessassem ou passassem a não fazê-lo mais! Caríssimos, o demônio mudo perde muitas almas afastando-as da confissão.

Portanto, quem quer viver bem ou converter-se depois de uma vida má, que deve fazer? - Deve procurar a confissão. Por isso o demônio mudo, afim de conseguir que alguém se entregue às suas paixões, procura afastar esta pessoa da confissão.

Quem quiser convencer-se destas verdades, basta ver a época da sua vida em que abandonou a confissão. Foi, então, neste tempo que se tornou mais puro e mais virtuoso? Sem a mínima dúvida, não foi. Pelo contrário, foi quando quis entregar-se às suas más inclinações. Caríssimos, o mundo mesmo sabe proclamar em alta voz o que se deve pensar a respeito das pessoas de bem que se confessam todos os meses. O próprio mundo vê sem dificuldade, que estes são católicos exemplares.


É bom, no entanto, estar sempre lembrando, que a confissão produz seus salutares efeitos, quando bem feita. Fazer mal a confissão, é sim, transformar um remédio em veneno. Que Deus nos livre de tamanho mal e perigo para a salvação! Amém!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A ABSOLVIÇÃO RESTITUI AO QUE CAIU EM PECADO MORTAL OS MÉRITOS QUE ELE ADQUIRIRA ANTES DE CAIR


Já falamos algo sobre isto. Vamos, hoje, completar nossas reflexões.

Para melhor compreendê-lo é preciso observar que os teólogos distinguem, além das obras vivas, três outras espécies de obras: umas mortíferas,  outras nascidas mortas, e, enfim, as mortificadas. Em latim: opera mortifera, opera mortua, opera mortificata.

OBRAS MORTÍFERAS: São aquelas que matam a alma, como são os pecados mortais; pois," o pecado, consumado que é, produz a morte" (S. Tiago I, 15).

OBRAS MORTAS: São as obras boas por sua natureza, como as orações, os jejuns, as esmolas, etc. que se fazem em estado de pecado mortal. São chamadas mortas ao nascer. pois não podem ser vivas, tendo por autor um morto, nem ser agradáveis a Deus, tendo por autor um inimigo de Deus. É o que diz São Paulo: "Ainda que distribuísse todos os meus bens com os pobres, se não tivesse caridade (=a graça santificante) tudo isto de nada me serviria" (1 Cor. XIII, 3). E o próprio Jesus Cristo, Nosso Senhor, disse no mesmo sentido: "Assim como a vara não dará fruto de si mesma, sem estar unida à videira, do mesmo modo vós, se não estiverdes em mim" (S. João XV, 4). Mas vejam bem, caríssimos, não quer isto dizer que deva abster-se destas espécies de obras quem está em pecado, sob pretexto de que elas não são meritórias para o céu; pois, elas têm outras vantagens muito grandes; principalmente impedem o homem de desacostumar-se das boas obras e habituar-se ao mal, e ao mesmo tempo inclinam o Senhor a fazer-lhe misericórdia.

OBRAS FERIDAS DE MORTE (=MORTIFICADAS): São aquelas que foram feitas em estado de graça e que, neste caso vivas e agradáveis a Deus, perderam toda a vida e todo o valor posteriormente, porquanto o pecado mortal veio destruí-las. Pois, o pecado é como um fogo devastador e um veneno mortal: devasta e consome tudo que encontra no seu caminho. O Senhor diz pela boca de Ezequiel: "Se o justo se afastar da sua justiça, e cometer a iniquidade, de todas as justiças que tiver feito não se fará memória" (Ezequiel XVIII, 24). Estas obras não são nascidas mortas, são apenas feridas de morte, porquanto elas tiveram vida. Tais foram as boas obras de Davi e de São Pedro, na ocasião em que um e outro cometeram o pecado mortal. Pois bem, a absolvição não só chama o homem da morte do pecado à vida da graça, como também faz reviver este tesouro de boas obras, feridas de morte pelo pecado. Observai, caríssimos, a longa série de boas obras que a santa absolvição faz ressuscitar de um só golpe, em um só momento. Momento feliz que faz reviver os trabalhos e os méritos de longos anos! É então que o Senhor diz como Isaac, respirando o bom odor das vestes de Jacó: "O odor do meu filho é igual ao odor de um campo fecundo que o Senhor abençoou" (Gen. XXVII, 27). Pois, na expressão de São Paulo, o justo é o bom odor de Jesus Cristo (Cf. 2 Cor. II, 25).


O que acabamos de meditar, leva-nos a refletir nesta bela exclamação de São João Crisóstomo: "Ó, como a clemência do Redentor é grande! Como o bálsamo salutar da penitência misturado ao seu precioso sangue transforma em perfume o fétido dos nossos crimes!"