terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ SEM AS OBRAS DA LEI - ( 6 )

   116.  SÃO TIAGO E SÃO PAULO.

   Somente à luz da distinção entre estas duas noções, é que se podem conciliar o ensino de São Tiago e o de São Paulo, CONCILIAÇÃO esta IMPRESCINDÍVEL, pois não pode haver contradição nas Escrituras. Um fala em OBRAS; o outro, em OBRAS DA LEI, o que já vem a ser duas coisas diferentes.

   Dizendo: Não vedes como pelas OBRAS é justificado o homem, e não pela fé somente? (Tiago II-24). São Tiago nos mostra claramente que a fé não basta para a salvação, sendo necessárias também as BOAS OBRAS, em cumprimento da lei de Cristo.

   Dizendo: O homem é justificado pela fé,sem as OBRAS DA LEI (Romanos III-28; Gálatas II-16), São Paulo nos mostra que para o homem tornar-se justo diante de Deus, o caminho a seguir é a fé em Cristo, a fiel submissão a seus divinos ensinamentos, não sendo mais obrigatórios aqueles ritos, purificações e observâncias da lei mosaica, porque esta não está mais em vigor.

   Desprezando completamente o ensino de São Tiago, que é tão infalível como o de São Paulo, porque também faz parte da Bíblia, Lutero e Calvino se aproveitaram desses textos em que o Apóstolo das Gentes nos diz que o homem é justificado pela fé em Cristo, sem as obras da lei, para afirmar que São Paulo nos ensina que estamos completamente livres da obrigação de obedecer aos mandamentos, à lei de Deus, estamos livres de todas as leis, pois Cristo não é legislador, não nos impôs nenhum preceito, veio apenas oferecer-nos a salvação pela fé (!!).

   Pelo que foi exposto até aqui, o leitor já percebe claramente a adulteração que se faz assim das palavras de São Paulo. Mais ainda o perceberá, estudando ambas as frases no seu respectivo contexto. Vale a pena o trabalho, porque conseguiremos mais uma vez desfazer as confusões que fazem os nossos queridos irmãos separados, completamente perdidos naquele intrincado estilo do Apóstolo São Paulo. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ SEM AS OBRAS DA LEI - ( 5 )

   115.. OBRAS DA LEI; DE QUAL LEI?

   Durante muitos e muitos séculos, quando na linguagem bíblica se falava na LEI, não se podia entender senão a lei de Moisés.

   Na lei de Cristo ninguém pensava, por uma razão muito simples: Jesus Cristo não havia aparecido ainda e não havia, portanto, ensinado a sua lei.

   Na lei natural, também não: porque tendo uma lei escrita, expressa com as próprias palavras de Deus, dada com tanta pompa e solenidade no monte Sinai, incluindo, além dos preceitos da lei natural, muitíssimos outros preceitos, não era certamente na lei natural que os judeus pensavam, quando se falava na LEI.

   Os Apóstolos e Evangelistas conservam este modo de falar, que era o usual naquele tempo, pois vinha sendo usado desde muitos séculos. Sabem muito bem que existe uma lei de Cristo. Assim diz São Paulo: Levai as cargas uns dos outros, e desta maneira cumprireis a LEI DE CRISTO (Gálatas VI-2). Mas, quando dizem simplesmente - a lei - entendem a lei de Moisés: A LEI foi dada por Moisés; a graça e a verdade foi trazida por Jesus Cristo (João I-17). A palavra  - lei - continua a designar também no Novo Testamento os 5 primeiros livros da Bíblia, em contraposição com outros livros sagrados, precisamente porque é naqueles que vêm circunstanciadamente descritas as prescrições da lei mosaica: Não Tendes lido na LEI que os sacerdotes nos sábados, no templo quebrantam o sábado e ficam sem pecados? (Mateus XII-5). Depois da lição da LEI e dos profetas, mandaram-lhes dizer os chefes da sinagoga (Atos XIII-15). Sirvo eu a meu Pai e Deus, crendo todas as coisas que estão escritas na LEI e nos profetas (Atos XXIV-14).

   Quando o Evangelho fala em - doutor da lei (Mateus XXII-35); Lucas V-17) - isto não significa um homem entendido na lei civil, na lei natural ou na lei de Cristo, mas um homem que é bom conhecedor da lei de Moisés.

   Assim sendo, chamamos a atenção do leitor para o seguinte trecho de São Paulo na sua 1ª Epístola aos Coríntios: E me fiz para os judeus como judeu, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se eu estivera debaixo da lei (NÃO ACHANDO EU DEBAIXO DA LEI), por ganhar aqueles que estavam debaixo da lei; para os que estavam sem lei, como se eu estivera sem lei (ainda que não estava sem a lei de Deus, mas ESTANDO NA LEI DE CRISTO), por ganhar os que estavam sem lei (1ª Coríntios IX-20 e 21).

   Ora, aí diz o Apóstolo que não está debaixo da lei; porque, quando ele diz simplesmente - a lei - entende a lei de Moisés. Do fato de não estar debaixo da lei, não se segue que não esteja sujeito a lei nenhuma, pois ele diz abertamente estar sujeito à lei de Cristo, portanto, à lei de Deus.

   Do mesmo modo, quando o Apóstolo diz que o homem não é justificado pelas obras da lei, entende-se que as obras da lei de Moisés não servem mais para tornar o homem um justo diante de Deus. A lei de Moisés foi abolida. Mas daí não se segue que o homem não se torne justo pelas obras de outra lei: da lei cristã, por exemplo. Muito ao contrário, se São Paulo diz que a fé em Cristo é que justifica o homem, a fé em Cristo, como provamos no capítulo quarto, nos obriga a obedecer à sua lei, pois Cristo também foi um Legislador e nos impôs mandamentos, cuja observância é indispensável para se conquistar a vida eterna.. E a estas obras que nascem da obediência à lei de Cristo, São Paulo não chama - obras da lei - chama BOAS OBRAS: Esta é uma verdade infalível e quero que isto afirmes, para que procurem avantajar-se em BOAS OBRAS os que creem em Deus (Tito III-8). E aprendam também os nossos a serem os primeiros em BOAS OBRAS para as coisas que são necessárias, para que não sejam infrutuosos (Tito III-14). Somos feitura d'Ele mesmo, criados em Jesus Cristo para BOAS OBRAS, que Deus preparou, para caminharmos nelas (Efésios II-10). 

sábado, 14 de dezembro de 2013

JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ SEM AS OBRAS DA LEI - ( 4 )

   113. LEI DE CRISTO.

   Vindo Cristo ao mundo, promulgou a sua lei, que veio substituir e aperfeiçoar a lei mosaica. Ele exige igualmente a observância dos 10 mandamentos: Se tu queres entrar na vida, GUARDA OS MANDAMENTOS (Mateus XIX-17), os quais, portanto, estão de pé na Nova Lei, embora não estejam mais em vigor aquelas penas que existiam na Lei Antiga, segundo a qual devim ser apedrejados o filho contumaz e rebelde (Deuteronômio XXI-18 a 21), a esposa que não foi encontrada virgem (Deuteronômio XXII-20 e 21), aqueles que cometiam adultério (Deuteronômio XXII-22. O que não exclui naturalmente as penas impostas pela justiça de Deus na outra vida.

   A respeito do matrimônio, Cristo se mostra mais rigoroso do que a Lei Antiga, ensinando a unidade e indissolubilidade do casamento (Marcos X-11 e 12), quando na Lei Antiga havia o direito de repudiar o homem à mulher que não for agradável a seus olhos pro causa dalguma fealdade (Deuteronômio XXIV-1) e casar com outra.

   Prescrevendo a prática dos mandamentos, o Divino Mestre insiste na sua parte mais importante: o amor de Deus e o amor do próximo, sem deixar de tornar mais rigorosa a obrigação da castidade (Mateus V-27 e 28).

   Além dos mandamentos, Cristo impõe outros preceitos: há os sacramentos da Nova Lei e assim em vez da circuncisão é obrigatório o Batismo: Quem não renascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus (João III-5). Outra lei nos impõe Jesus Cristo nestas palavras: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós (João VI-54).

  Em suma Cristo é não só o Salvador, o Mestre da verdade, mas também um Legislador que nos veio apontar, pela sua lei santa e sublime, o caminho da salvação. 

   SEMPRE O DECÁLOGO.

   Já demos uma ideia da distinção entre a lei natural, a lei mosaica e a lei cristã. Mas o que não pode passar despercebido nesta exposição é que de uma forma ou de outra, ou seja na lei natural, ou no judaísmo  ou na lei de Cristo, ou mais ou menos rigorosos, ou mais ou menos explícitos, os 10 mandamentos sempre estão de pé. É a lei de Deus eterna que impera no coração do homem, seja qual for a época, religião ou raça a que pertença, seja maior ou menor o seu conhecimento da vontade divina. 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ SEM AS OBRAS DA LEI - ( 3 )

112.  LEI MOSAICA.

   Aos judeus, antes da vinda de Cristo, Deus impôs pela revelação a sua lei. Aquelas obrigações da lei natural (não matarás, não furtarás, honrarás pai e mãe, não levantarás falso testemunho, não adulterarás, etc.) Deus as impõe claramente nos 10 mandamentos.

   Mas, além disto, há muitas outras determinações que os judeus tinham que observar, porque lhes foram impostas por Deus. Não vamos aqui citar todas estas prescrições, porque seria muito longo, mas daremos alguns exemplos.

   A lei foi dada por intermédio de Moisés. Mas já antes de Moisés, desde o tempo de Abraão, Deus havia preceituado a circuncisão ao seu povo: Disse mais Deus a Abraão: ... Eis aqui o meu pacto que haveis de guardar entre mim e vós, e a tua posteridade depois de ti: todos os machos dentre vós serão circuncidados, e vós circuncidareis a carne do vosso prepúcio, para que seja o sinal do concerto que há entre mim e vós (Gêneses XVII-9 a 11). O macho que não tiver sido circuncidado na carne do seu prepúcio, será aquela alma apagada do seu povo, porque tornou írrito o meu pacto (Gêneses XVII-114).

   Havia, na lei mosaica, a proibição de comer certos animais considerados imundos: Não comais  o que é impuro. Estes são os animais que deveis comer: O boi, a ovelha, a cabra, o veado, a corça, o búfalo, a cabra montês, o unicórnio, o orige, o camelo pardal. Comereis de todo o animal que tenha a unha fendida em duas partes, e que rumina. Não deveis, porém, comer dos que ruminam, mas não têm a unha fendida como são o camelo, a lebre, o querogrilo; estes porque ruminam, e não têm a unha fendida; serão impuros para vós. O porco também será para vós impuro, porque embora tenha a unha fendida, não rumina; não comereis das suas carnes, nem tocareis nos seus cadáveres. De todos os animais que vivem na águas, comereis estes: comei os que têm barbatanas, e escamas; mas não comais daqueles que não têm barbatanas nem escamas, porque são impuros. Comei de todas as aves que são puras. Não comais das impuras, como são a águia, o grifo, o esmerilhão, o ixião, o abutre, o milhano, segundo a sua espécie; todo o gênero de corvos, o avestruz, a coruja, a gaivota, o açor segundo a sua espécie; a cegonha, o cisne, o íbis, o mérgulo, o porfirião, o bufo, o onocrótalo, o carádrio, cada um na sua espécie; a poupa também e o morcego. E tudo o que anda de rastos e tem asas será imundo e não se comerá (Deuteronômio XIV-3 a 19).

   Havia a proibição de comer o sangue dos animais: Qualquer homem da casa de Israel e dos estrangeiros que peregrinam entre eles, se comer sangue, obstinarei eu o meu rosto contra a sua alma e exterminá-la-ei do seu povo, porque a vida do animal está no sangue (Levítico XVII-10). Qualquer homem dos filhos de Israel e dos estrangeiros que moram entre vós que tomar, em caça ou laço, fera ou ave daquelas que é lícito comer, derrame o seu sangue e cubra-o com terra (Levítico XVII-13).

   Eram proibidas as vestes com certas misturas de tecidos: Não te vestirás de coisa que seja tecida de lã e de linho (Deuteronômio XXII-11). 
             
   Havia determinações especiais sobre a purificação da mulher que dá à luz (Levítico capítulo XII).

   Havia obrigação de celebrar com ritos especiais as solenidades dos Pães Ázimos, das Semanas e dos Tabernáculos (Deuteronômio XVI-1 a 17).

   São exemplos de prescrições, dentre muitas, que havia para os judeus, as quais não vigoram mais, agora que estamos sob a lei de Cristo. 

No próximo post veremos justamente a LEI DE CRISTO. 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Capítulo Sexto: A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ SEM AS OBRAS DA LEI - ( 1 )

   110. DOIS TEXTOS DE SÃO PAULO.

   Dizem os protestantes que São Paulo nos ensina a salvação pela fé sem as obras, nos dois textos seguintes:
    Sabemos que o homem não se justifica pela OBRAS DA LEI, senão pela fé de Jesus Cristo (Gálatas II-16).
   Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé SEM AS OBRAS DA LEI (Romanos III-28).

  Toda a confusão dos protestantes reside precisamente nisto: se São Paulo aí fala em OBRAS DA LEI, não se refere à lei de Deus, expressa nos 10 mandamentos, os quais fazem parte integrante da lei de Cristo, e seria na realidade um escândalo e uma aberração Paulo mostrar a inutilidade da lei de Cristo para a justificação do homem, dizer que a observância da lei de Cristo não torna ninguém justo diante de Deus. São Paulo se refere à LEI MOSAICA,  a qual foi abolida depois da morte do Redentor, logo que começou a ser pregado o Evangelho. Fala das OBRAS DA LEI MOSAICA,  as quais, como observa Cornely, nenhum católico jamais incluiu entre as disposições necessárias para a justificação. 

   Lei é um termo usado tanto para significar lei civil, como lei divina. Trata-se aqui, é claro, da lei divina.

   Neste sentido de lei divina, isto é, lei emanada de Deus, lei que é preciso observar para ganhar a salvação  pode-se tomar esta palavra em 3 sentidos: lei natural, lei mosaica, lei de Cristo. 

Se Deus quiser, vamos explicar estas três espécies de lei, em três posts seguintes.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 40 )

   109.  DIANTE DA REALIDADE. 

   Não se trata aqui de saber se a certeza absoluta de salvação adquirida já nesta vida seria ou não mais agradável para nós; o que interessa à Sabedoria e à Providência de Deus é o que vem a ser para nós mais útil e proveitoso. Se não temos segurança absoluta neste sentido, isto nos conserva mais humildes, mais desconfiados de nossas próprias forças, mais necessitados de implorar o socorro divino, mais ativos e vigilantes no serviço de Deus, porque o soldado, tendo certeza absoluta da vitória, perderia muito de seu estímulo para a luta contra o inimigo.

   Nem se trata de uma religião procurar atrair adeptos prometendo uma segurança absoluta, porém imaginária e sem fundamento, assim como os candidatos caçam votos, fazendo promessas ilusórias, às vésperas das eleições.

   Trata-se de encarar a realidade, tal qual nos é apresentada pelos textos da Escritura, os quais não nos mostram os que creem em Cristo como imutáveis, mas ao contrário como sujeitos a perder a fé ou a recair na escravidão do pecado, o que é confirmado pela experiência pessoal da nossa própria fraqueza: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca (Mateus XXVI-41).

   E se São Paulo nos ensina que não há condenação para os que estão em Jesus Cristo, os quais não andam segundo a carne (Romanos VIII-1), em vez de querermos antecipar em nosso favor a sentença definitiva que só pode ser dada depois da nossa morte pelo Supremo Juiz, todo o nosso empenho deve ser viver EM CRISTO, não só pela verdadeira fé (e verdadeira fé consiste em sujeitarmos o nosso modo de ver aos ensinos de Cristo e não em torcê-los com a torquês do livre exame, para que se acomodem ao nosso modo de ver e ao nosso pensamento), não só pela verdadeira fé, como dizíamos, mas também pela prática da caridade, da castidade e das demais virtudes, evitando as obras da carne. Deus não nos faltará jamais com ajuda de sua graça para nos conservar no bom caminho; cooperemos com a sua graça até o fim, porque só no fim é que nos poderemos julgar definitivamente possuidores do prêmio eterno da glória celeste: Sê fiel até a morte, e eu te darei a coroa da vida (Apocalipse II-10). 

  Término do CAPÍTULO QUINTO. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 39 )

   108.  TRANQUILIDADE DA FIRME ESPERANÇA.

   Se a Igreja Católica não acena aos seus adeptos com uma CERTEZA ABSOLUTA da salvação, é por uma razão muito simples: porque se trata de um assunto que, segundo os desígnios de Deus, não depende somente de Cristo, depende também de cada um de nós: Se tu queres entrar na vida, GUARDA OS MANDAMENTOS (Mateus XIX-17). Se vós viverdes segundo a carne morrereis; mas se vós pelo espírito  fizerdes morrer as obras da carne, vivereis (Romanos VIII-13). Nem todo o que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos Céus; mas sim o que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse entrará no reino dos Céus (Mateus VII-21). Temos CERTEZA DA SALVAÇÃO, sim, mas uma CERTEZA CONDICIONADA: se cooperarmos com a graça, nos salvaremos COM TODA CERTEZA. Porque, como disse o Grande Doutor Santo Agostinho: Deus nos criou sem nós, mas sem nós não nos pode salvar".

   Isto, porém, não impede absolutamente a paz  a tranquilidade das nossas almas; porque, se nas várias vicissitudes da nossa vida, só pudéssemos ter paz quando soubéssemos com plena certeza qual o RESULTADO FINAL das nossas empresas, das nossas aspirações, então esta paz seria sempre impossível ou seria preciso que Deus nos desse primeiro o dom da profecia. Para tudo isto há um remédio: a doce e humilde confiança em Deus que é o Pai das Misericórdias. Se para tantos e tantos empreendimentos, cujo resultado de nós não depende, havemos de ter plena confiança na Divina Providência, quanto mais no que diz respeito ao negócio de nossa salvação; porque isto é um assunto cujo resultado depende de nós: somos nós que com a graça de Deus construiremos a nossa sorte na eternidade. Deus é infinitamente bom, é Pai, nada quer mais do que a nossa salvação, deseja-a mais do que nós mesmos; se por nosso turno nos queremos salvar, e trabalhamos para isto com a ajuda divina que nunca nos falta quando a pedimos, se detestamos de todo o coração o pecado, fiquemos tranquilos e peçamos a Deus que nos conserve nestas santas disposições; porque neste caso nos salvaremos com toda certeza. Esta é a nossa FIRME ESPERANÇA. 

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 38 )

   107. HÁ CERTEZA DO ARREPENDIMENTO.

   Alguém poderá dizer: Concordo com o sr. em dizer que ninguém pode ter a certeza de que nunca pecará na sua vida. Mas há uma coisa: o homem que peca, ainda pode salvar-se pelo arrependimento. Assim posso ter a certeza absoluta da salvação, porque tenho a certeza de que, se pecar, hei de arrepender-me e conseguir o perdão de Deus e, por conseguinte a vida eterna.

   - E quem lhe dá esta CERTEZA ABSOLUTA do arrependimento? 

   Primeiro que tudo: como disse São Paulo, não somos capazes nem de um pensamento bom, sem a graça de Deus (2ª Coríntios III-5). O arrependimento é, portanto, uma graça divina. 

   Esta graça, Deus não a nega ao coração bem disposto. Aquele que procura seguir sempre o bom caminho, aperfeiçoar-se em pensamentos, palavras e obras, portar-se santamente na Igreja de Deus, a qualquer falta, embora mínima que cometa, vê surgir espontaneamente, inquietadoramente, o arrependimento no seu coração. Arrependimento, porque caiu numa falta, a que o seu bom espírito não estava habituado; arrependimento mandado misericordiosamente por Deus, que quer logo acompanhar com a sua graça, fazer soerguer-se o seu servo fiel que teve a infelicidade de cair na tentação. 

   Mas o indivíduo que começa a recair muito frequentemente no pecado grave, sem fazer o esforço necessário para dele se emendar, vai pouco a pouco se tornando menos apto a receber a graça do arrependimento. À proporção que ele vai abusando das graças de Deus, o arrependimento vai escasseando e, depois de um certo tempo, pode desaparecer por completo. É o endurecimento do pecador, cuja consciência já emudeceu ou só faz ouvir mui fracamente a sua voz.

   Além disto, para ser verdadeiro, o arrependimento tem que incluir um propósito firme de deixar o pecado, custe o que custar, e não por um dia ou dois, mas por todo o resto da vida. Ora, há certos pecados que não podem ser deixados sem uma renúncia heroica. É o caso, por exemplo, das amizades pecaminosas, que prendem o coração; do vício da impureza, que tão frequentemente envolve as criaturas, do vício do roubo ou da embriagues. Às vezes é também o ódio que se enraizou no coração e ao qual o cristão nem sempre renuncia facilmente. Há casos, portanto, em que Deus exige do cristão, um sacrifício doloroso: Se o teu olho te escandaliza, lança-o fora: melhor te é entrar no reino de Deus sem um olho do que, tendo dois, ser lançado no fogo do inferno (Marcos IX-46). 

   Garantir que sempre se terá o arrependimento, seria garantir que nunca se abusará da graça de Deus e que também sempre se tomará a resolução heroica, por mais que ela nos custe, sejam quais forem as tentações que se nos depararem no futuro; e seria sempre uma certeza baseada na presunção, no desconhecimento da nossa inata fragilidade humana.

   E é o caso ainda de perguntar: há sempre a certeza de que é sincera a contrição?

   Muitas vezes o cristão se julga arrependido e de fato não está. Há no fundo do seu coração ainda uns restos de apego ao pecado e só Deus, que conhece perfeitamente a alma nas suas mais íntimas profundezas, é que bem pode saber se o arrependimento é deveras sincero. Porque a sinceridade do arrependimento não está propriamente na comoção que se sente em determinado momento; pode haver até lágrimas e soluços sem haver o arrependimento sincero, o qual consiste na firmeza da vontade em detestar o pecado de tal modo que não se queira, por hipótese alguma, cometê-lo jamais. É por isto que podemos ter dúvida sobre se estamos ou não na graça de Deus, sem que isto envolva absolutamente dúvida sobre o poder reparador da morte de Cristo, o qual bem sabemos ser infinito, mas dúvida, sim, sobre as disposições da nossa própria alma, as quais também são necessárias para a justificação. Bem-aventurado o homem que sempre está com temor (Provérbios XXVIII-14). Às vezes a falta de arrependimento é tão evidente que não é somente Deus que a percebe, qualquer observador imparcial pode percebê-la também; só a alma se ilude a si própria, tendo-se na conta de contrita, sem o estar de fato. Quantas vezes no confessionário acontece que o penitente vem confessar-se na suposição de que está contrito; e o confessor percebe claramente, pelas próprias declarações do penitente, que ele não possui a contrição verdadeira! Diz-se arrependido, mas não quer tomar as providências necessárias para fugir às ocasiões do pecado; adquiriu bens ilicitamente, mas sente repugnância em fazer a restituição; está empolgado pela paixão, mas não quer afastar-se de vez da criatura que desta paixão é causadora; diz perdoar, mas não quer nem ver a pessoa que o ofendeu etc. etc. 

   Se uma criatura nestas condições estiver no Protestantismo, está completamente atolada. Em vez de encontrar alguém que a advirta do perigo de condenação em que se encontra, vai deparar-se com um pastor a sugestioná-la de que já está salva, uma vez que tem a fé em Cristo e o arrependimento; a ensiná-la a sentir a "experiência da salvação", ou seja, a doce sensação de que Cristo já a salvou; a decantar as belezas de uma religião tão agradável, tão consoladora que já nos faz gozar neste mundo a certeza absoluta da recompensa celeste...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 37 )

   106. A NOVA CRIATURA.

   Quando São Paulo nos diz que aquele que está em Cristo é uma nova criatura, não é no sentido de que este homem deixou de ser livre para fazer o mal; nem que ficou nele extinto o fogo das paixões e das más inclinações da nossa natureza. Quer dizer que este homem se tornou outro diante de Deus pela graça santificante, que o torna agradável aos olhos do seu Criador; e se tornou outro aos olhos dos homens, pelo seu modo de proceder que todos veem ser proceder de um verdadeiro cristão, muito diferente do modo de agir dos pagãos que viviam mergulhados na corrupção, ou dos judeus que eram cheios de maldade e de hipocrisia. Mas São Paulo não diz com esta frase que esta situação é inamissível.

   Se está em Cristo, é uma nova criatura; mas, homem como é, fraco, sujeito a tentações, se não coopera com a graça e cai no pecado mortal, enquanto permanecer neste triste estado, já não está mais em Cristo, porque d'Ele se afastou pelo pecado; e já não é mais a nova criatura, porque está privado da graça santificante e está agindo à maneira do velho homem.

   O mesmo São Paulo, na sua Epístola aos Efésios, exorta os cristãos a se despojarem do homem velho (Efésios IV-22) e a se revestirem do novo: VESTI-VOS DO HOMEM NOVO, que foi criado segundo Deus em justiça e em santidade de verdade (Efésios IV-24). Como poderão revestir-se deste homem novo? O Apóstolo o mostra em seguida com uma série de exortações: PELO QUE renunciando a mentira, fale cada um a seu próximo a verdade... Se vos irardes, seja sem pecar... Não deis lugar ao diabo. Aquele que furtava não furte mais... Nenhuma palavra má saia da vossa boca... Não entristeçais ao Espírito Santo... toda a amargura e ira e indignação e gritaria e blasfêmia, com toda a malícia, seja desterrada dentre vós outros... Sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros (Efésios IV-25 a 32) E nos dois capítulos seguintes continuam as exortações. É, portanto, PELAS SUAS OBRAS, PELO SEU MODO DE PROCEDER que o cristão se vai tornar um homem novo. Se fosse por uma operação miraculosa em que o homem automaticamente fica transformado em impecável, entrando crisálida e saindo borboleta, não eram necessárias tantas recomendações: bastava mandar CRER em Cristo. 

   Aquelas exortações mostram muito bem que quem não proceder segundo a norma traçada pelo Apóstolo, jã não estará agindo como o NOVO,  mas sim como O VELHO HOMEM.

   Não admitindo nenhuma distinção entre pecado mortal e pecado venial, reconhecendo também que com o pecado na alma ninguém pode entrar no Céu, o protestante tem que admitir que a NOVA CRIATURA se tem a certeza absoluta da salvação, é porque não comete nenhum pecado nem grave, nem leve.

   Entretanto, a Bíblia nos diz que todo homem cai em pecados (o que se há de entender: pelo menos em pecados leves); vejamos esta palavra de São Tiago: TODOS NÓS tropeçamos em muitas coisas (Tiago III- 2). Tropeçar aí quer dizer pecar, pois logo em seguida o Apóstolo mostra que uma destas coisas em que tropeçamos facilmente é no que diz respeito à língua: Se algum não tropeça em qualquer palavra, este é varão perfeito (Tiago III-2).

   E Nosso Senhor ensinou-nos a orar dizendo sempre: Perdoai-nos as nossas dívidas (Mateus VI-12), o que mostra que todos os cristãos, ainda mesmo os mais justos e santos, têm sempre alguma coisa de que se penitenciar perante Deus. 

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 36 )

   104. DEUS É IMUTÁVEL; MAS NÓS?!

   O homem é fraco e o seu coração está sujeito a mudanças. Pode ter hoje as melhores disposições e amanhã começar a nutrir sentimentos bem diversos. 

   Entre os próprios que CREEM, isto pode verificar-se. Há uns que CREEM E NO TEMPO DA TENTAÇÃO VOLTAM ATRÁS, como disse Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho. E a experiência de cada dia nos mostra que aquele que é hoje filho dócil, obediente e amoroso pode amanhã, atraído pelo vício ou pelos maus companheiros, tornar-se um filho rebelde; aquele que foi durante muitos anos um esposo inteiramente dedicado à sua esposa e que jamais pensou em infidelidade pode, de uma hora para outra, ceder à tentação de adultério. A moça que sempre resistiu bravamente às insinuações do sedutor, pode algum dia fraquejar. O empregado que foi correto e fidelíssimo durante longo tempo, pode afinal cair em falta. E assim por diante, para só falarmos em pecados graves. Isto se pode dar com qualquer pessoa, seja qual for a sua religião. Nisto não há fatalidade, nem influência do destino, como querem alguns; mas apenas a liberdade humana, que pode a cada momento ceder à tentação do mal, a inconstância do coração humano, a fragilidade da nossa pobre natureza, fragilidade esta que trouxemos do berço e levamos ao túmulo.

   105. A TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM.

   A transformação no coração humano, o Evangelho a realiza por si só ou somente pode realizá-la mediante o esforço e a cooperação do homem? Se a realizasse por si só, nenhum de nós poderia ser melhor transformado do que Judas Iscariotes: ele tinha conhecimento da doutrina e dos prodígios do Divino Mestre, não pelos livros como nós o temos, mas ouvindo as palavras da própria boca do Salvador e presenciando pessoalmente os milagres evangélicos. E no entanto, em vez de santificar-se, mergulhou no endurecimento.

   O mesmo Deus que diz ao seu povo, por intermédio do profeta Ezequiel: Dar-vos-ei UM CORAÇÃO NOVO e porei UM NOVO ESPÍRITO no meio de vós, e tirarei da vossa carne o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne (Ezequiel XXXVI-26) é também Aquele que igualmente pelo profeta Ezequiel manda a este mesmo povo que CRIE EM SI UM CORAÇÃO NOVO E UM ESPÍRITO NOVO: Convertei-vos e fazei penitência de todas as vossas iniquidades, e a iniquidade vos não trará ruína. Lançai para muito longe de vós todas as vossas prevaricações, de que vos fizestes culpáveis E FAZEI-VOS UM CORAÇÃO E UM ESPÍRITO NOVO (Ezequiel XVIII-30 e 31). Não é possível a santificação, se não se realizam conjuntamente A AÇÃO DE DEUS E A NOSSA; ambas são indispensáveis. Faça o homem o que está ao seu alcance e Deus não lhe negará a sua graça; a graça, pode, então, realizar maravilhas.

   Imaginar que vamos para o Céu carregados docemente por Jesus, sem nenhum esforço de nossa parte, não passa de um sonho ditado pelo nosso velho comodismo; o cristão tem que lutar como um bom SOLDADO DE JESUS CRISTO (2ª Timóteo II-3) e se dá no Reino de Deus o mesmo que acontece nos jogos públicos: o homem não é coroado senão depois que COMBATEU segundo a lei (2ª Timóteo II-55). 

   

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 35 )

   103. A DESIGUALDADE DAS GRAÇAS (d). 

   Entre os católicos as coisas se passam de maneira bem diferente.
   Suponhamos que um católico se achava em estado de graça, que passou mesmo muitos anos levando uma vida santa e agora caiu num pecado grave. Ele não se sente privado da fé, como se fora um incrédulo, porque a fé consiste em aceitar toda a doutrina de Cristo, a qual nos é proposta pela sua Igreja Infalível. Ele continua a ver em Jesus o seu Salvador: sabe que Deus quer salvá-lo e não lhe negará a graça do arrependimento, nem o seu perdão, a ser adquirido pelos meios competentes, porque Deus não quer a morte do pecador, mas sim, que ele se converta e viva (Ezequiel XXXIII-11). Não se trata aqui absolutamente de pecar alguém com a esperança de alcançar o perdão. Porque, para haver perdão, é preciso haver um PROPÓSITO EFICAZ (isto é, pronto a empregar todos os meios), FIRME E SINCERO de não mais afastar-se de Jesus por todo o resto da vida. [Nota: Uma coisa, porém, é o homem aos pés de Deus fazendo o seu firme propósito, e outra já bocado diversa é o mesmo homem às voltas com as seduções da tentação. E aí muitas vezes fraqueja. A mentalidade excessivamente rígida de certos protestantes não pode compreender isto: acham que, desde que o propósito foi alguma vez quebrado, isto é sinal de que nunca houve o arrependimento. Doutrina muito boa...  para levar a pobre Humanidade ao desespero. Mas é o caso de perguntar: será que esses protestantes se sentem NA SUA VIDA assim tão inflexíveis, tão angelicais que não experimentem o contraste entre os nossos melhores propósitos e a realidade das nossas imperfeições?] Mesmo quem quisesse abusar da misericórdia divina, pecando com a esperança deste perdão, se arriscaria a cair no endurecimento e a não receber A GRAÇA da contrição, que Deus pode por justiça negar àqueles que querem ludibriar de sua benevolência. É por isto que diz São Paulo: Obrai a vossa salvação com receio e com tremor... PORQUE DEUS É O QUE OBRA EM VÓS O QUERER E O PERFAZER, SEGUNDO O SEU BENEPLÁCITO (Filipenses II-12). 

   Trata-se, sim, de soerguer-se, pela misericórdia divina, aquele que ia seguindo o bom caminho, mas pagou o seu tributo à fragilidade humana. E o mesmo Deus que obrigava São Pedro a perdoar 70 vezes 7 vezes (Mateus XVIII-21 e 22) saberá ser rico em misericórdia para com a alma que quer seguir a Cristo de todo o coração, mas se encontra muitas vezes a braços com a sua própria fraqueza. Assim faz o Bom Pastor que corre, pressuroso, em busca da ovelha perdida.

   E agora chamamos a atenção do leitor para uma circunstância que não pode ser esquecida: O católico que se achava em estado de graça e caiu num pecado mortal UNICAMENTE A SI PRÓPRIO vai atribuir a causa de sua desgraça. Uma vez que não tem esta ideia de que a salvação é dada por Deus INTEIRAMENTE DE GRAÇA e de uma vez para sempre, mas sim a de que a salvação deve ser conseguida palmo a palmo por ele, ajudado com a indispensável graça de Deus, uma vez que está convencido, de acordo com a doutrina católica, de que "aquele que faz o que está ao seu alcance, Deus não nega a sua graça, e mesmo para ele fazer o que está ao seu alcance, Deus ainda o ajuda com a sua graça", a sua conclusão é esta: Existem, na salvação, a parte de Deus e a minha. Deus sempre faz maravilhosamente a sua parte, o seu desejo de salvar-me é muito maior do que o meu próprio desejo. Mas fracassei, não soube perseverar na minha cooperação com a graça. De agora  por diante hei de esforçar-me por cooperar melhor, ajudado com a graça de Deus, pois SEM ELA NADA POSSO FAZER  e pedirei ao próprio Deus que me ajude a me tornar melhor daqui por diante.

   Não é difícil verificar, destas duas concepções a respeito da nossa salvação, qual a que se mostra mais adequada à nossa natureza humana, que nada tem de imutável. trata-se aí de um assunto que a TODOS  se refere, pois todos precisam ser salvos, todos têm obrigação de TER FÉ na mensagem do Evangelho. 

   Segundo a teoria protestante, TODOS AQUELES que sinceramente creem no Evangelho, são por uma operação do Espírito Santo transformados AUTOMATICAMENTE em regenerados, que não pecam mais e assim recebem a salvação dada toda de presente. 

   Segundo a teoria católica, o homem precisa CONQUISTAR a salvação, cooperando livremente com a graça, dia a dia; e se fraqueja, se cai no meio do caminho, se perde esta salvação em cuja posse se encontrava, ainda pode recuperá-la com o arrependimento e com o perdão divino. Deus amorosamente o ajudará a levantar-se da queda, a não ser que o pecador prefira continuar no deplorável estado em que caiu. Não se negam as transformações maravilhosas que o Divino Espírito Santo tem realizado em certas almas que se guindaram bem depressa às mais belas culminâncias da santidade. Mas também estas almas só chegaram a tal ponto, só conquistaram o grau mais elevado de glória celeste porque por sua vez souberam dia a dia ir cooperando heroicamente com a graça.

   Medite bem o leitor, olhe para si e para os outros, e para toda a história do homem, inclusive nesses 2.000 anos de Cristianismo e veja qual destas duas concepções reflete com exatidão o que é a marcha da Humanidade sobre a face da terra. E observe também qual delas está mais conforme com a palavra da Bíblia: Aquele, pois, que crê estar em pé veja não caia (1ª Coríntios X-12).

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 34 )

   103.  A DESIGUALDADE DAS GRAÇAS (c).

   O protestante que peca está numa situação lamentabilíssima. Caiu fragorosamente das grandes alturas, a que se julgava elevado, na sua presunção.

   Embalado, como esteve até agora, com a pretensão de que JÁ ESTÁ SALVO, JÁ ESTÁ REGENERADO, ou por cegueira não leva em consideração os pecados que vai cometendo e deles, portanto, não se arrepende, e neste caso é o maior dos infelizes, julgando-se salvo quando está fora do caminho da salvação: vai morrer sorrindo, pensando que o Céu se lhe vai abrir de par em par, mas não sabe a surpresa que o espera no outro mundo, porque LHE FALTA O ARREPENDIMENTO  e porque Deus o julga SEGUNDO AS SUAS OBRAS (Mateus XVI-27; Romanos II-6) e não de acordo com as suas ilusões;
    Ou então sente o remorso do pecado cometido, e uma decepção tremenda se abate sobre o seu espírito: Passei tanto tempo, tendo-me na conta de salvo, de regenerado, pensando que possuía a verdadeira fé; agora cheguei à conclusão de que eu NUNCA TIVE nem fé, nem salvação, nem regeneração, nem coisa alguma. Uma verdadeira lástima!

   E como está convencido de que a salvação não a alcança por seu próprio esforço, ajudado embora com a graça de Deus, como ensinam os católicos; mas é apenas um dom de Deus, dado INTEIRAMENTE DE GRAÇA, em vez de acusar a si próprio de ter perdido a salvação, a que até agora teria o direito, ele se volta para o Divino Espírito Santo, afim de perguntar-Lhe por que motivo ainda não lhe concedeu ESTE DOM DA SALVAÇÃO, DA REGENERAÇÃO COMPLETA.

   - Não culpes assim o Divino Espírito Santo, lhe dirá o "irmão na fé", o outro nova-seita. Se não estás salvo ainda, é porque não tinhas a verdadeira fé, isto é, a confiança absoluta de que Jesus é que te salva. 

   - Mas esta fé, esta confiança de que Jesus me salva, vem só do meu esforço ou é, por sua vez, também um dom de Deus? Se vem só do meu esforço, não sei mais o que possa fazer, porque confiança de que Jesus é que me salva, acho que a tenho e muita, pois passei todo este tempo absolutamente convencido disto e cada vez me convencendo mais. Se é, por sua vez, um dom de Deus, por que é que Deus não me dá este dom?

   E assim vai o homem fazer força novamente para ver se tem fé, até que um novo pecado o faz cair outra vez na mesma situação de desespero. Deste modo, ele está a poucos passos da terrível teoria calvinista de que Deus é quem predestina uns para o Céu, e outros para a perdição. 

   Como é, então, que esta doutrina de que a salvação é dada por Deus, como um presente inteiramente gratuito e só é possuída por aqueles que se acham confirmados em graça, isto é, de pé para nunca mais cair, como é que esta doutrina pode ser consoladora para nós, que somos todos, mais ou menos pecadores? 

(No próximo post veremos como a coisa se passa entre os católicos). 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 33 )

   103. A DESIGUALDADE DAS GRAÇAS (b).

   Ora, acontece que estas seitas, apegadas à ideia de CERTEZA ABSOLUTA DA SALVAÇÃO dada já neste mundo, e não sabendo explicar exatamente em que sentido a salvação é um DOM GRATUITO DE DEUS, imaginam o seguinte sistema: A salvação é dada DE GRAÇA pelo Divino Espírito Santo a todo aquele que tem FÉ, e é dada quando o Espírito Santo regenera o indivíduo. Regenerar o indivíduo é libertá-lo completamente do pecado, ele já não peca, não porque se tornou impecável, mas porque VOLUNTARIAMENTE se mostra em tudo obediente a Cristo. É um operação misteriosa e inefável do Divino Espírito Santo.

   Aquele que peca, é porque ainda não foi SALVO, não foi REGENERADO, o que é sinal de que ainda não tem a verdadeira fé.

   A assim julgam conciliar a realidade da liberdade humana com o sonho da CERTEZA ABSOLUTA DA SALVAÇÃO PARA TODOS OS CRENTES. 

   E ficam a zombar dos católicos que se põem a rezar, a fazer penitência, a ouvir missas, a receber sacramentos etc. para obter maiores graças de Deus e assim garantir ainda melhor a sua própria salvação, quando a salvação eles a julgam ter recebido INTEIRAMENTE DE GRAÇA, já estão salvos definitivamente desde este mundo; foi o Espírito Santo que num momento transformou a sua alma e eles se tornaram regenerados e purificados para sempre... E isto é um dom concedido a todo verdadeiro crente, a todo aquele que tem a verdadeira fé...

   O protestante, portanto, considera a FÉ, a SALVAÇÃO e a REGENERAÇÃO, como sendo uma peça inteiriça que não se quebra nunca e que nunca se perde, como um presente que, ou se dá para sempre, ou então não se deu ainda de forma alguma.

   Tudo isto vai muito bem, ENQUANTO O PROTESTANTE NÃO PECA.

   E é tão fácil o homem pecar! Mais fácil ainda, quando se julga superior a outra pessoa, seja ela qual for, porque isto é o mesmo que privar-se da graça: Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes (1ª Pedro V-5).

   Os próprios Batistas reconhecem que, mesmo depois de ter levado ANOS de vida santa e frutuosa, o homem ainda pode pecar.

   E o protestante que peca está numa situação lamentabilíssima. Caiu fragorosamente das grandes alturas, a que se julgava elevado, na sua presunção.

   (Veremos no próximo post, esta situação lamentável do protestante que peca. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 32 )

   103. A DESIGUALDADE DAS GRAÇAS (a).

   Todo o mal dos Batistas neste ponto (e é também o mal de muitas outras seitas protestantes) é embalar-se com um SONHO e não encarar a REALIDADE: imaginar que a todos são concedidos os FENÔMENOS EXTRAORDINÁRIOS que são limitados a algumas pessoas. Fazem como a criança que, vendo a firmeza com que os equilibristas fazem em cima do arame as mais incríveis acrobacias, ficasse pensando que isto era um sinal de que ela mesma podia fazê-las também, esquecida de que para aquilo se faz mister um dom especial.

   Não há dúvida que nós vemos os PRODÍGIOS operados pela graça nos grandes santos: uns desde a mais tenra infância, outros desde o momento de sua conversão, entraram de cheio no serviço de Deus com uma firmeza inquebrantável, agigantaram-se cada vez mais na vida sobrenatural, e seguiram para o Céu num caminho direto, sem cometerem nenhuma falta, nem mesmo venial, ao menos deliberada. Aos olhos dos homens poderiam parecer impecáveis, mas era uma ação tão abundante do Espírito Santo que lhes infundia, além das virtudes, um horror muito grande ao pecado, que este, fosse qual fosse, se lhes afigurava o que havia de mais inconcebível, e assim era livremente que eles realizavam em si o ideal da perfeição. E o realizavam, apesar das tentações, por vezes bem acerbas, que tiveram de suportar. 

   É fácil notar pelas Escrituras a transformação extraordinária que, a partir do dia de Pentecostes, se verificou no espírito dos Apóstolos, os quais de ignorantes passaram a mostrar-se altamente iluminados, de cobardes se fizeram intrépidos, de mesquinhos em certas atitudes logo se tornaram generosos e santos. Então antes de Pentecostes não tinham a fé verdadeira? Tinham, sim. Mas era tão importante a missão que eles haviam de exercer, lançando, depois de Cristo, as bases da verdadeira Igreja, que era preciso se realizasse na sua inteligência, no seu coração, em toda sua alma, uma ação superabundante e eficacíssima do Divino Espírito Santo, em grau muito mais elevado do que no comum dos fiéis. E esta operação maravilhosa se verificou precisamente no dia em que lhes chegou a vez de saírem pelo mundo, substituindo a Cristo na obra evangelizadora. 

   Mas agora perguntamos: estas transformações extraordinárias se têm que operar necessariamente em todos?

   Não, porque Deus não quer levar todas as almas pelo mesmo caminho.

   Não, porque as graças do Espírito Santo não são distribuídas a todos da mesma maneira, nem na mesma proporção: A cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo (Efésios IV-7). 

   Não, porque além de não serem iguais as graças concedidas, também é certo que nem todos cooperam com a graça da mesma forma. 

   Haverá injustiça nesta distribuição desigual das graças? Nenhuma: porque, se Deus dá a todos uma GRAÇA SUFICIENTE para a salvação, cada um trate de salvar-se com esta graça que recebeu, nada tem que ver com a maior liberalidade que Deus usa para com outros, pois Deus dá os seus dons a cada um da maneira que bem Lhe apraz. 

(Este assunto será exposto em mais três posts). 

  

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 31 )

   102. OS BATISTAS E A CERTEZA DA SALVAÇÃO (e).

   [Para o Batista] a condição única da salvação, a seu ver, é a verdadeira fé, mas passa a vida inteira sem saber se possui esta verdadeira fé, porque ela se manifesta pelas OBRAS, obras estas que ele pratica livremente e nelas pode falhar.

   A assim estamos diante de um fato bastante estranho.

   Esses Batistas que nós vemos tão frequentemente acusarem os católicos de serem heréticos e antibíblicos pelo fato de não ensinarem a certeza absoluta, individual, da salvação, são eles próprios que mostram claramente que, na prática, esta certeza absoluta não pode existir.

   É o caso de perguntar: encontra o leitor nesta estranha atitude algum vestígio daquela SINCERIDADE  com que se há de aceitar e transmitir a verdadeira doutrina do Evangelho?

   Amigos Batistas: depois que apareceu o Protestantismo, várias seitas têm pregado no mundo esta CERTEZA ABSOLUTA DA SALVAÇÃO, mas para chegar até aí sempre seguiram um caminho errado e escabroso. Se Vocês querem também chegar a esta conclusão, enveredem por algum desses maus cominhos. 

   Querem pregar a certeza absoluta da salvação, não é assim?
   Então preguem como Lutero e os primeiros luteranos que o homem não é livre, Deus é quem faz em cada um o bem e o mal, que para alcançar o Céu não se precisa de arrependimento, que lá se entra com pecados e tudo, porque Cristo cobre estes pecados debaixo do seu manto. - Mas isto é a destruição de toda a moral. 

   Ou então preguem, como Calvino, que Deus por um decreto firme e irrevogável já predestinou desde toda a eternidade alguns homens e anjos para o Céu e outros para o inferno, isto independentemente de qualquer consideração das obras ou do procedimento de cada um. - Mas, isto é uma doutrina HORROROSA, que se choca evidentemente com a nossa RAZÃO  e que destrói qualquer ideia da JUSTIÇA e da BONDADE de DEUS.

   Ou então preguem, como os Universalistas, que não existe inferno, que todos nós, sem distinção alguma, justos e pecadores, chegaremos ao Céu. - Mas isto vai de encontro abertamente ao ensino das Escrituras. 

   Bem, se não querem seguir nenhum desses caminhos, se querem pregar o LIVRE ARBÍTRIO, a doutrina de que o pecado que não foi retratado pelo arrependimento impede de entrar no Céu, se querem exaltar, como deve ser, a bondade e a justiça divinas, se querem admitir, com a Bíblia, além de um Céu eterno para os bons, um inferno também eterno para os maus, neste caso não há outro jeito senão desistirem desta ideia de andar pregando aos crentes a promessa de uma segurança absoluta no que diz respeito à salvação. Sim, porque há um fenômeno que ninguém jamais poderá negar, pois está à vista de todos: a fragilidade da nossa natureza, a inconstância do coração humano. 
   

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 30 )

   102. OS BATISTAS E A CERTEZA DA SALVAÇÃO (d).

   Mas vejamos o livro [O Que Creem os Batistas]: "Como posso saber se sou um dos eleitos? é em geral a inquirição de uma alma mórbida. Todas as vezes que surgir a dúvida, volte-se a alma para Jesus. Em vez de alimentar dúvidas, esta grande doutrina da Palavra de Deus dá maior certeza" (O Que Creem os Batistas, O.C.S. Wallace, 1945 pág. 71).

   De modo que o crente batista, assaltado pela dúvida se já está salvo ou não, abre a sua Bíblia e nela vai encontrar o remédio para suas inquietações, vai buscar o conforto naqueles grandes ensinamentos: Quem crê no Filho, tem a vida eterna; Crê em Jesus, e serás salvo; Quem crer, não será confundido etc, etc. E aquieta-se completamente sob o efeito destas sublimes palavras.

   Sim, aquieta-se completamente... se quiser realmente iludir-se a si mesmo. Porque, se quiser REFLETIR um pouquinho que seja, logo perguntará: Quando a Bíblia diz: O que crê no Filho tem a vida eterna; Crê em Jesus, e serás salvo; Quem crer, não será confundido etc, ela se refere ao crente verdadeiro ou ao crente só de nome?

   - Refere-se só ao CRENTE VERDADEIRO.
   - E eu? Sou crente verdadeiro ou só de nome?
   - Isto não sabes agora. Porque crente verdadeiro é aquele que se conserva regenerado, que se mantém liberto do pecado até o fim da sua vida. 

   E assim fica o homem exatamente na mesma dúvida.
   Nesta matéria de certeza da salvação, a situação do batismo é, de acordo com a sua própria doutrina, a mesma situação em que se encontra o católico. 

   O católico, ainda que se encontre em estado de graça, mesmo que sinta que Deus está habitando no seu coração, porque a sua consciência não o acusa de falta grave, e de todos os pecados passados está arrependido e perdoado, ainda assim NÃO PODE GARANTIR COM CERTEZA QUE IRÁ PARA O CÉU; seria uma presunção da sua parte, porque seria o mesmo que garantir que na hora da morte estará conservando esta mesma graça santificante; garantir pela própria fidelidade é confiar demais em si mesmo. Pode, sim, ter uma FIRME ESPERANÇA, porque a graça de Deus jamais lhe faltará; se tiver sempre boa vontade em cooperar com ela, se salvará com toda a certeza.

   O batista, ainda mesmo que esteja de boa fé, que esteja procedendo bem, que sinta o bom testemunho de sua consciência, porque, na hipótese, sua conduta é em todos os pontos irrepreensível e ainda mesmo que esta boa situação, já a tenha conservado durante anos seguidos, mesmo assim NÃO PODE GARANTIR COM CERTEZA QUE IRÁ PARA O CÉU, porque no Céu só poderão entrar aqueles que são crentes verdadeiros, e ele não sabe ainda se é crente verdadeiro, pois "A DEMONSTRAÇÃO DE SER ALGUÉM UM CRENTE VERDADEIRO SÓ É COMPLETA NO FIM DA VIDA". (O Que Creem os Batistas, O.C.S. Wallace, 1945 pág. 84). 
                                                      (Continua no próximo post= 102, (e). 

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 29 )

   102. OS BATISTAS E A CERTEZA DA SALVAÇÃO (c).

   Mas direi eu: Passei muitos anos, santificando-me, sem cometer nenhum pecado, será que eu ainda não sou crente verdadeiro, será que não tenho a verdadeira fé?

   Vejamos o que diz o mesmo citado livro [O Que Creem os Batistas]: 

   "Uma experiência passada, EMBORA EXTRAORDINÁRIA, não é motivo que justifique a esperança do céu. Anos gastos na fiel observância das obrigações religiosas NÃO PODEM GARANTIR A SEGURANÇA ETERNA do homem que já deixou de andar em conformidade com a vontade de Deus. Se o presente é caracterizado pela impiedade, mundanismo e indiferença, falta a prova da fé e A EVIDÊNCIA DA REGENERAÇÃO DESAPARECEU; em tal caso SERÁ TOLICE da parte do homem esperar um lugar entre os santos". (Livro: "O Que Creem os Batistas, O.C.S. Wallace, 1945 pág. 87). [Eu pensava que os protestantes só tinham a Bíblia e o Espírito Santo inspirando a cada um!!!]. 

   Como se vê pelas palavras acima citadas, esta EXPERIÊNCIA DA SALVAÇÃO, em que tanto falam os Batistas, ou seja - a convicção no homem de que está agindo bem, só faz o que é reto e por isto já está sentindo que Deus está satisfeito com ele, que o Espírito Santo lhe está dando o testemunho de que já fez dele um filho de Deus, co-herdeiro de Cristo e herdeiro do Céu - esta experiência, ainda que se prolongue DURANTE ANOS SEGUIDOS, mesmo assim não pode dar ao homem A SEGURANÇA ETERNA. Ele pode, ainda depois disto, cair na IMPIEDADE, MUNDANISMO E INDIFERENÇA. 

   Não se alegue que isto é apenas uma opinião do comentarista O.C.S. Wallace. É a própria Confissão de Fé de New Hampshire que diz no Artigo 11º: "Cremos que só SÃO CRENTES VERDADEIROS AQUELES QUE PERSEVERAM ATÉ O FIM". 

   Depois de ler tudo isto, lembre-se agora o leitor do seguinte: quantas pessoas, por não terem sólida instrução religiosa, foram atraídas a ingressar na seita dos Batistas e nela ingressaram, porque ficaram encantadas com esta seita que dizia GARANTIR AOS CRENTES a salvação COM TODA A CERTEZA e pretendia provar isto COM PALAVRAS DA BÍBLIA! Uma verdadeira maravilha! Quem é que não quer ter a certeza de que, morrendo, irá direitinho para o Céu?

   E assim se foram engrossando as fileiras dos Batistas!
   
   Mas baste que um batista estude realmente qual é a doutrina de sua seita, para ver como está sendo vítima de um deplorabilíssimo engano e ENGANO REDOBRADO: 1º porque, se estudar CONSCIENCIOSAMENTE a Bíblia, comparando uns versículos com os outros, pois tudo ali é palavra de Deus, verá que ela não promete a ninguém esta regalia de ficar descansado, absolutamente certo de que irá para o Céu, mas a entrada no Céu é sempre apresentada sob certas condições: se o homem crer (João III-18), se observar os mandamentos (Mateus XIX-17), se amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo (Lucas X-25 a 27), se cumprir a vontade do Pai Celeste (Mateus VII-21), se souber evitar a impureza, a idolatria, as invejas, os homicídios, e embriaguez e outras coisa semelhantes (Gálatas V-19 a 21) etc. etc; 2º porque NEM A PRÓPRIA DOUTRINA BATISTA, pelo menos, a seguida pela grande maioria da seita, a qual rejeita o Calvinismo com as suas ideias sobre a predestinação, NEM A PRÓPRIA DOUTRINA BATISTA autoriza ninguém a se julgar salvo assim com ESTA CERTEZA ABSOLUTA. 

   - Sim, meu amigo, deverá dizer o outro batista. Os crentes vão para o Céu com toda certeza. São palavras da Bíblia. Mas há uma coisa: quando se diz que os crentes são salvos definitivamente já neste mundo, aí se entende dos CRENTES VERDADEIROS. Você, DURANTE TODA SUA VIDA, não saberá nunca se é crente verdadeiro ou não, porque só se sabe com certeza se alguém é crente verdadeiro, quando praticou a virtude até o fim da vida. Pois se deixou de praticar a virtude em algum tempo, mesmo que por longos anos a tenha praticado, isto é sinal de que o indivíduo nunca teve nem fé, nem salvação, nem regeneração, nem coisa alguma. 

   É o caso de dizer: Que adianta a mim, desejoso, como estou, de ter certeza absoluta de MINHA salvação, o saber que os crentes verdadeiros vão para o Céu, porque se salvam já neste mundo, se eu não sei nunca se sou crente verdadeiro ou não, se isto é um segredo de Deus, só Ele conhece os verdadeiros crentes? 

   E é interessante observar qual o remédio que usam os Batistas para acalmar esta dúvida, quando assalta o espírito de seus adeptos. 

   Diz o mesmo livro: "Como posso saber se sou um dos eleitos? é em geral a inquirição de uma alma mórbida" (O Que Creem os Batistas, O.C. S. Wallace, 1945, pág. 71). Aqui paramos para apreciar este verdadeiro contraste: uma seita cujos pastores e fiéis tanto falam na certeza absoluta da salvação, é ela mesma a nos dizer que esta indagação sobre se iremos para o Céu ou não é a preocupação de uma alma doentia. Outra observação que vem bem a propósito é esta: donde é, que nasceu o Protestantismo, senão da ideia fixa que se meteu na cabeça de Frei Martinho Lutero sobre a certeza ou não de sua salvação? É o mesmo que confessar que as seitas evangélicas tiveram origem de uma preocupação mórbida... Se a pergunta: Como posso saber se sou um dos eleitos? dominando insistentemente o espírito de uma pessoa, é sinal de uma doença mental, neste caso aqueles médicos, psicólogos e historiadores que, estudando a fundo a vida de Lutero, viram nela um indivíduo anormal, se nos apresentam cobertos de toda razão. 

   No próximo post, se Deus quiser, continuaremos vendo o que diz o mesmo livro: "O Que Creem os Batistas". 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 28 )

    102. OS BATISTAS E A CERTEZA DA SALVAÇÃO (b).

   Vejamos, portanto, a doutrina dos Batistas.

   O homem é salvo pela fé, não pelas obras. A salvação é dada gratuitamente àquele que tem a verdadeira fé e o verdadeiro arrependimento. 

   Mas a fé verdadeira é aquela que SE MANIFESTA PELAS OBRAS, pelo reto procedimento do homem, que assim DÁ TESTEMUNHO DE SUA FÉ, quando age em tudo como uma criatura regenerada e liberta do pecado. Se o homem procede mal, é sinal de que não tem a verdeira fé.

   O homem que peca mostra que não alcançou a salvação, que, portanto, não é um verdadeiro crente, pois "se é um crente verdadeiro, os frutos de sua fé manifestar-se-ão NA SUA VIDA, pois que tal homem não deixará de agir como um herdeiro da salvação. Pretender ser um dos eleitos e agir como um incrédulo, seria fazer o papel de hipócrita ou de néscio" (( Que Creem os Batistas, O. C. S. Wallace, 1945, pág. 71). 

   Há, por conseguinte, duas espécies de crentes: uns que são crentes verdadeiros e outros que são crentes nominais, ou seja, são crentes SOMENTE DE NOME. SÓ SE SALVAM AQUELES QUE SÃO CRENTES VERDADEIROS.

   Daí se conclui, é claro, que para eu ter a certeza de que já estou salvo, não basta que eu seja membro da Igreja Batista. É preciso, além disto, que seja UM CRENTE VERDADEIRO.

   Desejoso, com me acho, de saber realmente se já estou salvo ou não, é natural que eu pergunte: Quando é que posso saber se sou ou não um verdadeiro crente?

   Vamos reproduzir a resposta que dão os Batistas a esta pergunta. Mas repare bem o leitor. Não vamos citar este ou aquele pastor, porque assim os Batistas se descartarão, dizendo que se trata aí apenas de uma opinião pessoal. Vamos citar um livro que expõe OFICIALMENTE o pensamento dos Batistas em geral. É o livro "O Que Creem os Batistas", editado pela Casa Publicadora Batista e vendido em todas as livrarias desta denominação. Está já na 4ª edição brasileira (ndr: naquela época), porque se trata de tradução de uma obra norte-americana do Sr. O.C.S. Wallace, muito conhecida dos Batistas em várias partes do mundo. É, além disto, como diz o Prefácio "um comentário aos 18 artigos de fé que constituem a Confissão da Fé de New Hampshire. Foi formulada e adotada pelos Batistas do Estado de New Hampshire em 1833 e é atualmente aceita pelos batistas em geral. Não se trata de um credo, porque os batistas não o possuem. É apenas uma síntese daquilo que cremos". 

   Pois bem, se eu pergunto QUANDO É QUE SEI QUE SOU UM CRENTE VERDADEIRO, que é o mesmo que dizer, quando é que sei que já estou salvo, eis aí a resposta deste livro, que é destinado a "prestar seus bons serviços na orientação doutrinária do povo batista": 
   "A DEMONSTRAÇÃO DE SER ALGUÉM UM CRENTE VERDADEIRO SÓ É COMPLETA NO FIM DA VIDA. A corrente da âncora não terá sido provada satisfatoriamente, enquanto cada elo não tiver sido provado. Assim também o crente não terá dado prova suficiente da REALIDADE DA SUA FÉ, até que essa fé tenha sido provada, quer na mocidade, quer na velhice, desde o princípio ATÉ O FIM DA JORNADA. Um homem pode enganar os outros durante muitos anos, até que uma circunstância inesperada venha pôr a descoberto seu verdadeiro caráter. ELE MESMO PODE ESTAR ILUDIDO e recusar-se a uma submissão completa a Cristo, como o Evangelho exige, crendo ser possível obter a vida eterna PELO MENOR PREÇO. Neste caso fica convencido de que realmente alcançou a vida e animado por essa esperança passa a executar os deveres cristãos sem, por muito tempo, ter de enfrentar uma provação a que não possa resistir. Como consequência de sua própria ILUSÃO, o homem deixa-se descansar numa SEGURANÇA FALSA, e será despertado só quando sobrevier alguma prova imprevista ou tentação para a qual não esteja preparado. Então se revela o fato de que sua vida anterior apresentava apenas UMA TRANSFORMAÇÃO EXTERNA E NÃO ERA O RESULTADO DE UMA MUDANÇA INTERIOR" (O Que Creem os Batistas, O.C.S. Wallace, 4ª edição, 1945 pág. 84). 

   Mas direi eu: Passei muitos anos, santificando-me, sem cometer nenhum pecado, será que eu ainda não sou crente verdadeiro, será que não tenho a verdadeira fé?

   Vejamos no próximo post o que diz o mesmo citado livro

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 26 )

   101. DA TEORIA PARA OS FATOS. 

   Primeiro que tudo, ainda não é o fato de um indivíduo não fumar, não beber, não dançar, nem jogar, que prova que ele está completamente liberto do pecado. Ser irrepreensível aos olhos dos homens, é uma coisa; estar inteiramente isento de culpa aos olhos de Deus, é outra bem diferente. Um mau pensamento, um desejo impuro, um movimento interior de orgulho, de presunção, de ódio ou de juízo temerário podem passar com rapidez na alma do cristão e deixá-lo manchado e culpável aos olhos divinos, sem que isto transpareça diante das criaturas. São pecados que não se podem averiguar. Mas há outros ainda que podem chegar ao nosso conhecimento: não repugna que um indivíduo que não fuma, não bebe, não dança e não joga seja capaz de caluniar, de cometer adultério, de enlear-se em amizades perigosas, de pregar uma mentira, de agir com falsidade, de se mostrar grosseiro e intratável com a família, de detratar da vida alheia, de passar um calote etc. etc. E aí se vê a responsabilidade tremenda da cada um destes crentes que se apresentam como perfeitíssimos e de cujo procedimento fica a depender a verdade de sua própria religião: a cada falta que cometem, surge uma pessoa para observar: Então a sua doutrina está errada! Você não diz que aquele que aceitou a Cristo como Salvador está salvo, porque está completamente liberto do pecado? Isto é falso, porque Você agora mesmo foi pilhado numa transgressão. 

   E quando se mostram a um protestante os casos de pecado cometidos por crentes e "regenerados", a saída é esta:

   - É porque eles não tinham a fé verdadeira ou não tinham o verdadeiro arrependimento.

   - Quer dizer então que aquilo que a princípio se apresentava como o que havia de mais simples neste mundo, agora de um momento para outro, se transformou no que há de mais difícil e complicado.

    Porque, antes de se converter o pecador, o infiel ou o descrente, como Vocês queiram chamar, o que Vocês diziam a ele era que a salvação é coisa muito fácil. Arrependeu-se o homem, aceitou a Cristo como seu Único e Suficiente Salvador, como seu Salvador Pessoa, já está salvo, completamente regenerado, não peca, não pode perder-se jamais.

   Agora que o homem pecou, vem a ter notícia do seguinte: Seu arrependimento, que o seu coração lhe dizia ser sincero, sua aceitação de Cristo que ele fez de tão boa vontade, não valiam, não eram verdadeiros, porque para isto era preciso que SE PUDESSE GARANTIR QUE ELE JAMAIS VOLTARIA A COMETER NENHUM PECADO, NEM GRAVE NEM LEVE, EM TODA A SUA VIDA.

   Ora, isto não se pode garantir de pessoa alguma!

domingo, 3 de novembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 25 )

NOTA: Por estarmos no Ano da Fé, venho transcrevendo a Primeira Parte do Livro "LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA", (Autor: Lúcio Navarro) justamente porque aí fala sobre a SALVAÇÃO PELA FÉ. Esta parte do livro contém 149 números; estamos no nº 100. 

 100. UM QUADRO MARAVILHOSO...

   Os protestantes de hoje não concordam, nem podiam concordar com semelhante teoria. Foram obrigados a fazer uma notável alteração no sistema luterano: o homem é livre e para salvar-se precisa arrepender-se, emendar de vida, deixar o pecado, o que é o mesmo que reconhecer que o pecado que não foi convenientemente retratado impede de entrar no Céu. Mas onde se mostra toda a inexperiência dos protestantes é em querer reconciliar esta nova doutrina com a ideia de certeza absoluta da salvação.Dizer ao crente que ele tem certeza absolta de salvar-se é , no caso, garantir que ele não pecará jamais.

   - Exatamente, dizem os protestantes. O crente está completamente liberto do pecado: Se algum, pois, é de Cristo (ou mais de acordo com o texto grego: se algum está EM CRISTO) é uma NOVA CRIATURA ( 2ª Coríntios V- 17). Desde que o homem se arrepende sinceramente e faz profissão de fé em Cristo, Único e Suficiente Salvador, torna-se regenerado pelo Espírito Santo e assim não peca mais. É a maravilhosa transformação que o Evangelho realiza no coração do homem.

   E como os protestantes não admitem nenhuma distinção entre pecado mortal e pecado venial, porque estas expressões não se encontram na Bíblia, segue-se que o crente não comete pecado de espécie alguma, nem grave nem leve; se o cometesse e não se arrependesse, iria para o inferno. Mas não vai, porque não peca.

   E uma amostra, que pode estar à vista do público, de que estes crentes já estão completamente regenerados e santificados pelo Espírito Santo, pode-se ver em muitas seitas: o crente já não fuma, não toca absolutamente em bebidas alcoólicas, não dança e não joga.

   A Igreja dos crentes é constituída exclusivamente de puros e perfeitos... E enquanto os católicos apresentam o cristão subindo penosamente a montanha da perfeição, em peleja contra as intempéries, contra os animais ferozes, sujeito às vezes a cair ferido nesta luta, embora depois possa levantar-se, no Protestantismo é como se o cristão subisse de mão e carrinho fechado, coberto e... blindado, para não sofrer nada com os ataques adversos. 

   Daí se vê, portanto, a superioridade do Protestantismo sobre a Religião Católica: aquele promete aos seus adeptos a salvação com toda certeza, enquanto esta não dá a ninguém a certeza absoluta da salvação, por conseguinte não traz a paz e a tranquilidade às consciências...

   O quadro é assim traçado com uma ingenuidade espantosa. 

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 24 )

   99. VÍCIO DE ORIGEM.

   A mentalidade protestante tem sido diversa da mentalidade católica neste ponto, porque o Protestantismo nasceu precisamente disto: da pretensão de Lutero de querer ter, e sem grande trabalho, a certeza absoluta de que era um predestinado para o Céu. Para isto, alargou monstruosamente o caminho da salvação. Fez, pode-se dizer, desta certeza absoluta da salvação, o único requisito para alcançá-la. Segundo a doutrina de Lutero, para alguém se salvar certamente, não precisa observar os mandamentos (porque, segundo ele, o homem não pode observá-los, uma vez que não é livre), não precisa mais do que crer que já está salvo.

   O Evangelho, na doutrina de Lutero, se tornou uma boa nova, não no sentido que lhe deu Jesus Cristo, mas uma boa nova para todos os criminosos, todos os ímpios, todos os crápulas, todos os devassos, os quais, de queixos caídos, ouvem Lutero explicar-lhes, que também para eles é facílima a salvação, uma vez que não se exige o arrependimento, uma vez que os pecados que cometeram, ou cometerão ainda para o futuro, não os impedirão de entrar no Céu; Cristo cobrirá com o seu manto todos estes pecados; basta ficarem certos, certíssimos, convencidos inteiramente de que se salvarão pelo sangue redentor de Cristo, que fez tudo por nós, que já pagou, que já observou a lei de Deus por todos eles, para que eles ficassem dispensados de observá-la. 

   Assim a certeza absoluta da salvação era uma consequência da doutrina de Lutero, mas de uma doutrina ímpia, perversa e monstruosa. Realmente se para entrar no Céu o pecador não precisa emendar-se nem arrepender-se, entra com os pecados e tudo, porque Jesus acoberta estes pecados debaixo de seu manto, se só o pecado que condena o homem ao inferno é o pecado de não crer, isto é, de não confiar em Cristo, é fácil ao homem que confia em Cristo ficar com a convicção absoluta de que se salva. 

   Mas todo este sistema é, debaixo das aparências de piedade, de adesão a Cristo, um sistema diabólico. Nem Deus, nem o Evangelho, nem homem algum de bom senso pode estar de acordo com isto, porque é fazer do Evangelho a porta aberta pata todos os crimes, todas as misérias e degradações. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 23 )

   98. ENSINO DAS EPÍSTOLAS.

   Erram lamentavelmente os protestantes em muitas passagens das Epístolas por uma razão bem compreensível: muitas e muitas frases dos Apóstolos são escritas de acordo com as necessidades dos seus destinatários, de conformidade com a correção de que precisam no momento Mas os protestantes as querem aplicar indistintamente a todos os casos, a todas as pessoas. E como nem sempre é possível fazê-lo com todas as exortações, escolhem, para isto, as frases que mais lhes agradem, de acordo com a sua ideologia.

  São Paulo, por exemplo, diz aos Romanos: Vós não recebestes o espírito de escravidão para estardes outra vez COM TEMOR; mas recebestes o espírito de adoção de filhos, segundo o qual clamamos, dizendo: Pai, Pai (Romanos VIII-15). É precisamente o versículo que antecede àquele em que São Paulo se refere ao testemunho do Espírito e que já comentamos no número anterior.  

   Já São Pedro, na sua 1ª Epístola, diz o seguinte: E se invocais como Pai Aquele que sem acepção de pessoas julga segundo a obra de cada um, VIVEI EM TEMOR durante o tempo da vossa peregrinação (1ª Pedro I-17). 

   Eis aí São Paulo aconselhando que não se tenha temor, mas sim uma confiança filial; São Pedro, ao contrário, dizendo que se deve TEMER e durante toda a vida. Há alguma contradição nisto? Não há. Deus é Pai e é Juiz Justíssimo. Deve-se ter confiança na sua misericórdia, que é infinita e temer a sua justiça, que é inexorável. São Paulo fala aos Romanos que estão invadidos pelo temor, dominados pelo pessimismo e é preciso lembrar-lhes que Deus é Pai e havemos de estar tranquilos e ter confiança n'Ele. Os que vivem na graça de Deus, se sofrem, isto não é sinal de que estejam incorrendo no desagrado divino. Já aos Filipenses, a quem São Paulo é obrigado a advertir: Nada façais por porfia NEM POR VANGLÓRIA, mas com HUMILDADE (Filipenses II-3), o mesmo Apóstolo das Gentes exorta a trabalhar na obra da salvação COM RECEIO E COM TREMOR (Filipenses II-12). São Pedro, por sua vez, fala a cristãos que estão muito confiados em que Deus é Pai e estão se esquecendo de que este mesmo Pai é também Juiz Justíssimo que julga segundo as obras de cada um, sem fazer acepção de pessoas, e por isto estão arriscados a caírem no pecado e no relaxamento e, consequentemente, na condenação eterna. Todos indistintamente, cristãos e pagãos, católicos e protestantes, judeus e gentios, santos e pecadores têm que passar pelo seu tribunal de uma justiça perfeita e aí prestarão contas de tudo o que fizeram, ou de bom ou de mau (2ª Coríntios V-10). É certo que se levará em conta naturalmente o perdão que receberam aqueles que FIZERAM o que era necessário para obter este perdão.

   Por isso havemos de ter em toda a nossa vida A CONFIANÇA em Deus, que é nosso Pai, que nos quer salvar, que vela sobre todos os nossos passos, que está sempre pronto a nos ajudar com a sua graça. E havemos de ter em toda a nossa vida (ou, como diz São Pedro, durante o tempo da nossa peregrinação) O TEMOR por causa da nossa miséria, da nossa inconstância e fragilidade, uma vez que é necessário que correspondamos à graça e não podemos garantir que sempre seremos fiéis a ela. Ostentar certeza absoluta disto seria desconhecer a nós mesmos e nutrir uma presunção que nos privaria desta mesma graça. É por isto que São Filipe de Néri, um santo muito engraçado, apesar da sua resolução inabalável de servir a Deus e jamais ofendê-Lo, dizia sempre nas suas orações a Jesus Sacramentado: "Jesus, cuidado com Filipe! Ele pode atraiçoar-Vos". E no mesmo sentido dizia o virtuoso sacerdote cearense Mons. Antônio Tabosa: " Eu não tenho tanto medo do demônio, nem dos homens; eu tenho medo é do Tabosa".

   Confiar plenamente em Deus; desconfiar de nós mesmos, é o equilíbrio da ascese católica, que é a única ascese legítima, pois constrói o edifício da nossa esperança sobre os alicerces da virtude da humildade.  

domingo, 27 de outubro de 2013

O REINADO SOCIAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

   O Papa Leão XIII na Encíclica "Immortale Dei" condena o que ele chama de "direito novo" segundo o qual, em nome da igualdade e dignidade comuns a todos os homens, rejeita-se qualquer autoridade, cuja origem não seja a mesma vontade humana: "Segue-se que o Estado, não se julga vinculado a nenhuma obrigação para com Deus, não professa oficialmente nenhuma religião... deve apenas a todas atribuir igualdade de direito civil, com o único fim de impedi-las de perturbar a ordem pública". Desaparece assim a realeza social de Nosso Senhor Jesus Cristo e, consequentemente se dificulta enormemente a salvação das almas. Na outra Encíclica "Humanus Genus" Leão XIII denuncia o Estado leigo, rigorosamente neutro em matéria religiosa, como o meio considerado apto pelas forças secretas para aniquilar e "destruir toda disciplina religiosa e social" cristãs. As forças secretas inculcam deste modo, que "nas diversas formas religiosas, não há razão alguma de se preferir uma à outra, pois todas devem ser postas em pé de igualdade". E adverte o Papa: "semelhante princípio basta para arruinar todas as religiões, e particularmente a Religião católica, porquanto sendo a única verdadeira, não pode ela, sem sofrer a última das injúrias e das injustiças, tolerar lhe sejam igualadas as outras religiões". Daí o laicismo do Estado, "o grande erro do tempo presente". Para o Estado laico, o cuidado da Religião é algo inteiramente indiferente. Em um semelhante Estado, é impossível o Reino de Jesus Cristo. São Pio X na Carta Apóstolica "Notre Charge apostolique" diz: "Não há verdadeira civilização sem civilização moral, e não há verdadeira moral sem verdadeira religião". "A verdade, dizia ainda São Pio X, é "una e indivisível, eternamente a mesma, e não se submete aos caprichos dos tempos" ( Enc. "Iucunda Sane", 1904). A ordem moral das ações leva em conta as deficiências humanas, á imitação da paciência divina que dissimula os pecados dos homens em vista de sua penitência e conversão (Cf. Sab. XI, 23). Há uma prudência no agir que pede certa indulgência, mas nunca se pode fazer o mesmo com relação à verdade. Esta é intransigente: não admite divisões e amortecimentos. A verdade, pois, não está no campo do agir. Ele é da ordem do ser, do que é ou não é. Portanto, uma condescendência com a fragilidade humana que transponha o princípio prudencial do agir para a ordem do ser e da verdade, através de meios termos que não são certos, mas que não aparecem abertamente errados, uma espécie de meia verdade, isto, digo, mina e destrói a Fé na mente dos fiéis. Sabemos, no entanto, que há pessoas que, ao surgirem sistemas falsos, procuram uma acomodação, um compromisso com tais ideologias, através de movimentos apostólicos, mas suficientemente vagos e indecisos para não ferirem a susceptibilidade dos que estão de fora do grêmio da Igreja. São na verdade inimigos  infiltrados nas fileiras da Igreja para solapar-lhe o edifício da Fé. É o que se chama quinta coluna. Assim, por exemplo, o tristemente célebre Erasmo de Rotterdam, com o seu pérfido principio: "Todo homem possui a teologia verdadeira". Digo, pérfida, porque no bojo dessa sentença está a afirmação de que, em última análise, há uma concordância religiosa profunda entre todos os homens, apesar de suas divergências doutrinárias. Pois somente assim se compreenderia que "todo homem possui a teologia verdadeira". Como conseqüência, não haveria motivo para conflito entre religiões opostas. Não passariam de manifestações diversas da mesma teologia verdadeira que todo homem possui. Com o diálogo, acabaríamos encontrando em todos uma identidade única na base das diferenças. Seguir-se-ia que a melhor maneira de agir com novas teorias religiosas, com crenças não católicas, seria evitar colisões, polêmicas, acirramentos de posições, e manter-se, como se diz vulgarmente, em cima do muro não porque não tenha decidido, mas porque decidiu aceitar todos os credos. Dizem que há uma concordância, um fundo comum. Em outras palavras, estes liberais querem, na verdade, dizer que não há erros. Há só distorções. Caríssimos e amados leitores, quão distante, não só da razão natural mas também da Revelação cristã, está tal maneira de pensar! O Beato Pio IX escreveu a Encíclica "Quanta Cura" e compôs um elenco de todos os erros do indiferentismo religioso e da liberdade de todos os cultos. É o "Syllabus". Aí o grande Pontífice da Imaculada Conceição e do 1º Concílio Vaticano, condena categoricamente a tese do laicismo do Estado: "Estas perversas opiniões, escreve Pio IX, são especialmente para detestar, porque visam suprimir a virtude salutar que a Igreja Católica, por instituíção e mandato de Seu Divino Autor, deve livremente, até a consumação dos séculos, infundir não somente nos indivíduos, como também nas nações, nos povos e nos governantes. Como corolário, também colimam tais opiniões, afastar a harmonia e concórdia existente entre o Sacerdócio e o Império, que foi sempre fecunda em benefício tanto da vida espiritual, como da civil". Para terminar citarei apenas duas proposições que Pio IX condena na Encíclica "Quanta Crura": "a forma mais perfeita do Estado e o progresso civil exigem imperiosamente que a sociedade humana seja constituída e governada sem consideração alguma à Religião, e como se esta não existira, ou ao menos, sem fazer diferença alguma entre a verdadeira Religião e as religiôes falsas". "E, continua Pio IX, contradizendo a doutrina da Sagrada Escritura, da Igreja e dos Santos Padres, não temem afirmar que "o melhor governo é aquele no qual não se reconhece ao poder político a obrigação de reprimir com sanções penais os violadores da Religião católica, salvo quando a tranqüilidade pública assim o exija" (Enc. "Quanta Cura" de 8-12-1864).
   Depois, se Deus quiser, mostraremos que as Declarações "Dignitatis Humanae" e "Nostra Aetate" aprovam o que Pio IX condenou como contrário à Sagrada Escritura, à Tradição da Igreja, e aos Santos Padres. O Santo Padre Bento XVI, quando ainda cardeal declarou que a "Dignitatis Humanae" e a "Nostra Aetate" eram um "Anti-Syllabus".
   Nunca esqueçamos as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: "QUEM NÃO ESTÁ COMIGO, ESTÁ CONTRA MIM".
   Saibam os inimigos do Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo que Ele há de reinar sempre: ou pelos benefícios, graças e bênçãos que vêm da Sua presença; ou pelos males que advêm da Sua ausência.
VIVA CRISTO REI!!!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 21)

   97. O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO (b).

   Mais adiante, neste mesma Epístola aos Romanos, falando sobre os judeus que rejeitaram a Cristo, São Paulo os considera como ramos que foram quebrados da árvore do povo de Deus, sendo em seu lugar enxertados os cristãos. Mas vem sempre a advertência para que estes não se ensoberbeçam com isto, pois se Deus não perdoou aos ramos naturais, também os enxertados devem temer que Deus não lhes perdoe (Romanos XI- 18 a 21). Se o cristão não permanece na bondade, também será cortado (Romanos XI-22). E o próprio Deus tem poder para enxertar de novo os judeus na sua própria árvore (Romanos XI-23 e 24).

   Não há motivo, portanto, para que o cristão se ensoberbeça com a ideia de uma SEGURANÇA ABSOLUTA,  a qual de fato não existe, sendo a soberba, ao contrário, o caminho para cair na reprovação divina.

   E não precisamos mais repetir aqui aquelas advertências bem claras, que já expusemos há pouco, de que os que fazem tais e tais coisas NÃO POSSUIRÃO O REINO DE DEUS (1ª Corintios VI-9 e 10; Gálatas V-19 a 21).

   Diante disto, qual é o papel da Verdadeira Igreja que quer realmente ensinar o doutrina de São Paulo, que é exatamente a mesma doutrina de Jesus?

   É exortar aos seus fiéis para que SE LIBERTEM DO PECADO, de todo o pecado. Ouvindo a sua exortação, os fiéis, uma vez que gozam do livre arbítrio (e uns cooperam com a graça, e outros não) ou se libertarão do pecado, com o auxílio da graça de Deus ou continuarão a ele escravizados, por sua própria culpa.

   Os que se libertarem realmente do pecado serão filhos e herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo. E A ESTES naturalmente o Espírito Santo lhes infundirá paz e tranquilidade, juntamente com o testemunho da boa consciência. Não é necessária, para isto, nenhuma insinuação da nossa parte. Se, por acaso, alguém que procede irrepreensivelmente, que cumpre exatamente o seu dever, que segue sempre os ditames da própria consciência, que tem de seus pecados passados um arrependimento SINCERO, ainda se mostra receoso e cheio de temor, é o caso de lhe dizermos que expulse tais temores infundados, e que o próprio Espírito Santo se encarregará de lhe atestar que é realmente um filho de Deus.

   Mas os que continuarem presos aos seus vícios, aos seus pecados, sem a necessária emenda, sem o arrependimento, estes enquanto permanecerem assim, não são filhos de Deus neste sentido especial em que São Paulo toma aí esta expressão, no de herdeiros do Céu; e portanto o Espírito Santo não lhes poderá atestar isto, pois seria um mentira, e o Espírito Santo não mente. Realmente o mesmo Divino Mestre que nos diz: Todo o que comete pecado é escravo do pecado (João VIII-34) nos diz também: Ninguém pode servir a dois senhores (Mateus VI-24).

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 20 )

   97. O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO (a).  

  Um exemplo manifesto do perigo desta inversão, nós o temos no modo como encaram muitos protestantes uma frase de São Paulo na sua Epístola aos Romanos (VIII-16).

  Os Romanos, a quem escreve São Paulo, estão abatidos pelos sofrimentos com que se têm defrontado após a sua conversão. Na sua inexperiência, ficam desanimados com a ideia de que talvez Deus não esteja satisfeito com eles, uma vez que lhes aparecem estas tribulações e contratempos.

  São Paulo procura soerguer-lhes o ânimo, fazendo-lhes ver que, se sofremos com Cristo, é para sermos glorificados com Ele; o sofrer é antes um sinal de que somos filhos de Deus; e o próprio Espírito Santo se encarrega de nos atestar que somos filhos de Deus (QUANDO DE FATO O SOMOS, É CLARO); e estes sofrimentos daqui da terra não são nada em comparação com a glória que Deus reserva para nós: O mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, também herdeiros; herdeiros verdadeiramente de Deus e co-herdeiros de Cristo, SE É QUE TODAVIA NÓS PADECEMOS COM ELE, PARA QUE SEJAMOS TAMBÉM COM ELE GLORIFICADOS. Porque eu tenho para mim que as penalidades da presente vida não têm proporção alguma com a glória vindoura que se manifestará em nós (Romanos VIII-16 a 18). 

  O texto grego traz SYMMARTYRÉI = COATESTA. O Espírito Santo COATESTA, isto é, atesta juntamente com o nosso espírito, confirma o que o nosso próprio entendimento ou o testemunho da boa consciência já nos vem atestando. 

  Tudo isto, porém, todo este testemunho do Espírito Santo supõe que os destinatários da carta estejam LIBERTOS DO PECADO, o que não é o mesmo que dizer IMPECÁVEIS, mas sim regenerados depois de uma conversão sincera: Libertados do pecado, haveis sido feitos servos da justiça (Romanos VI-18). Estais livres do pecado e... haveis sido feitos servos de Deus (Romanos VI-22). 

  Dizendo LIBERTOS DO PECADO, o Apóstolo não os está considerando impecáveis. Isto se vê pela insistência do mesmo em aconselhá-los a que continuem livrando-se do pecado, pois do contrário estão perdidos: Se vós viverdes segundo a carne, MORREREIS, mas se vós pelo espírito fizerdes morrer as obras da carne, vivereis (Romanos VIII-13). Não há dúvida que se trata aí de morte eterna, pois morrer, todos morrem de qualquer maneira. Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? Deus nos livre; porque uma vez que ficamos mortos ao pecado, como viveremos ainda nele? (Romanos VI-1 e 2). Não reine, pois o pecado no vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais aos seus apetites. Nem tão pouco ofereçais os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade, mas oferecei-vos a Deus como ressuscitados dos mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça; porque o pecado vos não dominará, pois já não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Pois quê? pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? Deus tal não permita (Romanos VI_12 a 15). O pecado não vos dominará - é a confiança de São Paulo de que os fiéis saberão corresponder à graça abundante que lhes vem na Nova Lei. Mas Deus tal não permita - exprime sempre o receio de que os cristãos queiram entregar-se voluntariamente ao pecado.