quarta-feira, 18 de abril de 2018

COMO JUNTAR UM TESOURO NO CÉU



Como é necessário e ao mesmo tempo tão consolador meditar no que disse o Apóstolo S. Pedro em sua 2ª Epístola! Ele mesmo assegura: Não cessarei de vos admoestar sempre sobre estas coisas... porque considero meu dever durante minha vida despertar-vos com admoestações... e terei cuidado de que, mesmo depois da minha morte, tenhais com que recordar muitas vezes estas coisas.

No capítulo I, S. Pedro fala da necessidade de crescer na prática da virtude: "Assim como o seu divino poder (de Jesus Cristo)nos deu todas as coisas que dizem respeito à vida e à piedade, por meio do conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude, (assim também) por Ele mesmo nos deu as maiores e mais preciosas promessas, a fim de que por elas VOS TORNEIS PARTICIPANTES DA NATUREZA DIVINA, fugindo da corrupção da concupiscência que há no mundo. Ora, vós aplicando todo o cuidado, juntai à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor fraterno, ao amor fraterno a caridade. Com efeito, se estas coisas se encontrarem e abundarem em vós, elas não vos deixarão vazios nem infrutuosos no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quem não tem essas coisas é cego e anda às apalpadelas, e esquece-se de que foi purificado dos seus pecados antigos. Portanto, irmãos, ponde cada vez maior cuidado em tornardes certa a vossa vocação e eleição por meio das boas obras, porque, fazendo isto, não pecareis jamais. Desde modo vos será dada largamente a entrada no reino eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". 

Caríssimos, destaquei estas palavras: "VOS TORNEIS PARTICIPANTES DA NATUREZA DIVINA",  porque elas constituirão a ideia central das nossas considerações.

Na parte superior: figura simbolizando a alma
no estado de graça. Na parte inferior: símbolo
da alma no estado de pecado mortal.
Ser participante da natureza divina. Que isto significa? Ah! não pode haver maior dignidade concedida ao homem por Deus!!! Sendo a própria Bondade, nos criou semelhantes a Ele. Nos deu uma participação, limitada, é verdade, porque somos criaturas finitas, mas uma participação REAL. É a graça habitual santificante que nos torna participantes da natureza de Deus, e faz-nos entrar, como diz S. Paulo, em comunhão com o Espírito Santo (2 Cor. XIII, 13); e S. João acrescenta que "entramos em sociedade com o Pai e o Filho (1 João, I, 3). Assim S. Paulo afirma que, pela graça santificante, ficamos a pertencer à família de Deus: "Já não sois estrangeiros, nem hóspedes de passagem, mas sois cidadãos dos santos e membros da família de Deus" (Efésios II, 19). Em outras palavras: pela graça tornamo-nos FILHOS ADOTIVOS DE DEUS. O Verbo, ou seja, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade recebe do Pai toda a natureza divina. Evidentemente que não somos filhos de Deus neste sentido, porque somos criaturas limitadas. Mas, também devemos observar que somos filhos adotivos de Deus de uma maneira muito superior à adoção aqui na terra. Aqui alguém é adotado como filho, mas é questão puramente burocrática, é por efeito de documento passado no cartório. Na verdade, porém, este filho adotivo, não tem nada haver com o DNA de seus pais adotivos. Pela graça santificante, no entanto, o batizado recebeu uma participação real da natureza divina, embora, é claro, (é bom sempre repetir), em medida limitada. Tendo o cuidado de evitar o perigo do panteísmo, devemos sempre explicar que esta participação da natureza divina pela graça, não nos torna IGUAIS mas SEMELHANTES A DEUS, ou DEIFORMES.  Quão grande é a dignidade do cristão no estado de graça: É SEMELHANTE A DEUS!!! Os eleitos no Paraíso vêem a Deus face à face, sem nenhum intermediário, vêem-No como Ele é. Que felicidade sobretudo amar a Deus como Ele se ama, sem reserva!!!

Verdade importantíssima: o grau de graça que houvermos alcançado aqui na terra, determinará o grau de glória no Céu. Que fazer para garantir este TESOURO no Céu? É o que veremos a seguir.

As faculdades de nossa alma, a inteligência e a vontade, abandonadas às suas próprias forças, nunca poderiam praticar atos sobrenaturais e meritórios de vida eterna. Pois bem, a liberalidade de Nosso Pai do Céu nos outorga generosamente, já no Batismo, um conjunto de virtudes e dons sobrenaturais no próprio momento em que recebemos a graça santificante. O Sacrossanto Concílio de Trento fala sobre esse cortejo glorioso de virtudes infusas que acompanha a graça. Dizem os autores espirituais que o início da vida espiritual é mais difícil e exige mais esforço para praticar as virtudes, mas, feito isto, o Espírito Santo nos conduz com seus dons. Comparando: praticar as virtudes seria como navegar a remo; pelos dons é como navegar à vela. Assim, as virtudes são, fundamentalmente energias ativas; os dons são docilidades e receptividades que, tornando a alma mais passiva sob a mão de Deus, a tornam ao mesmo tempo mais apta a seguir as suas moções e a produzir atos mais perfeitos e até heroicos.

Mas além da graça santificante, que é habitual na alma, Deus nos dá graças atuais, que são transitórias. São iluminações interiores na nossa inteligência; e são também inspirações e moções na vontade. O divino Espírito Santo está na alma no estado de graça sempre agindo, no intuito de a santificar sempre mais. Mas é evidente que devemos corresponder à esta tão grande generosidade de Deus; devemos acolher com reconhecimento esta vida e aperfeiçoá-la com cuidado, sob a ação das graças atuais. Eis o conselho de S. Paulo: "Exortamos-vos a não receberdes em vão a graça de Deus" (2 Cor. VI, 1).  Como Deus é Misericórdia e Justiça, se o homem não corresponder virá o castigo: "A terra, que absorve a chuva que cai muitas vezes sobre ela e produz erva proveitosa a quem a cultiva, recebe a bênção de Deus; mas, se ela produz espinhos e abrolhos, é reprovada e está perto da maldição, o seu fim é a queima" (Hebr. VI, 7 e 8). Donde caríssimos, devemos receber e guardar a graça com todo respeito e reconhecimento e logo fazê-la frutificar, aumentando diariamente a graça santificante produzindo atos sobrenaturais e meritórios. Em outras palavras: devemos estimar a graça mais do que todos os tesouros da terra e todas as dignidades terrenas. S. Paulo diz que a graça vale mais que o dom preternatural de fazer milagres.

É evidente que devemos evitar todo pecado mortal e continuar lutando para evitar também os pecados veniais deliberados. Devemos lutar até para evitarmos as imperfeições voluntárias, isto é, as resistências deliberadas às inspirações da graça. Assim, dia a dia, devemos desenvolver a vida da graça. Sozinhos, sem o divino Espírito Santo, não podemos nada. Mas a verdade é que o Espírito Santo opera em nós e conosco, e a sua ação dá às nossas ações um valor proporcional à grandeza do fim a atingir. Divinizados na nossa própria substância pela graça habitual, divinizados nas nossas faculdades pelas virtudes sobrenaturais, podemos produzir, sob a influência da graça atual, atos sobrenaturais e meritórios da vida eterna.

Caríssimos, três fatores aumentam os méritos de uma alma que já se encontra em estado de graça: A UNIÃO COM DEUS; A PUREZA DE INTENÇÕES E O FERVOR.

NB.: Como já me estendi muito, deixarei para falar sobre estes três pontos em outra postagem, se Deus quiser. Amém!

sábado, 14 de abril de 2018

APREÇO À LITURGIA


De 1958 a 1962 ajudei meu pároco em todos as cerimônias da Igreja: Santa Missa, Adoração e Bênção do Santíssimo, Via-Sacra e Semana Santa. Era minha maior alegria já que tinha vocação ao sacerdócio.  E pude acompanhar a derrocada da bela e piedosa Liturgia da Igreja, desde os preparativos do Concílio Vaticano II até chegarmos a este descalabro fatídico da Liturgia com os Progressistas. Quando entrei no Seminário já percebia que lá fora com o caminhar do Concílio toda a beleza e elevação da Liturgia Tradicional estavam sendo destruídas. Pela graça de Deus, em 08/12/1974 fui ordenado sacerdote. Pela formação recebida de D. Antônio de Castro Mayer, de santa memória, conservo e, com a graça de Deus, conservarei a Liturgia Tradicional.  Venho acompanhando com muita tristeza, que depois do Concílio até hoje, os progressistas vêm cada vez mais desmoralizando a Liturgia da Igreja no Rito Latino.

Jesus Cristo nunca falou contra a suntuosidade e riqueza
do Templo, pois fora tudo ordenado pelo próprio Deus.
Quis, porém, que seus discípulos fossem pobres.
Infelizmente, muitos eclesiásticos estão invertendo o
exemplo e o ensinamento do Divino Mestre!
Liturgia é o conjunto das regras estabelecidas pela Igreja, em todas as coisas que dizem respeito ao culto público: os lugares (edifícios do culto), os objetos, os atos e os tempos do culto. Não entra no domínio da liturgia nenhum ato de culto externo particular. A Santa Igreja, Corpo místico de Cristo e cuja cabeça é o próprio Jesus Cristo e cuja alma é o Espírito Santo, e do qual somos os membros, eleva a sua voz ao Pai, ou seja, tem a sua oração organizada pela Liturgia. Liturgia não é, pois, satisfação estética com a qual, infelizmente, muitos penetram num templo com muita erudição artística, com o mais refinado gosto pelo simbolismo, com a alma fascinada pela arte ou pelo perfume do incenso, mas não penetram na fonte da vida litúrgica. Caríssimos, nunca alguém poderá obter o sobrenatural com a superficialidade. Não é também Liturgia só as cerimônias externas. Comparando, seria como alguém que lesse os sermões de grandes oradores sacros só apreciando a aplicação da gramática, da sintaxe e da eloquência.

Caríssimos, a Liturgia tem por fim promover a dignidade do culto e alimentar a piedade. A Liturgia nos ritos do Antigo Testamento era apenas figura do que seria no Novo Testamento, e, no entanto o próprio Deus a estabelecia em todos seus detalhes. Na verdade, o homem deve ao Criador a vassalagem do seu ser inteiro, tanto do corpo como da alma. Portanto, as atitudes do corpo, os gestos das mãos, as palavras dos lábios, os monumentos que se erguem majestosos para o alto, os paramentos ricos são outros tantos meios de que podemos lançar mão para adorarmos a Deus. A Igreja, antes do Concílio Vaticano II, nunca deixou nada à fantasia individual. Ela sempre intervinha e formulava leis garantidoras da dignidade do culto. Basta lembrarmos o que fez o Papa São Pio V em relação ao Santo Sacrifício da Missa. É evidente que a piedade verdadeira nasce da alma, ou, como se costuma dizer, do coração. E realmente, o culto externo não passaria de hipocrisia, se não fosse baseado no culto que vem da alma, isto é, do culto interior. Mas, como somos alma e corpo, é óbvio também que o culto externo facilita o culto interior, e a imponência, a pompa das cerimônias públicas, afervoram a devoção da alma e elevam-na para Deus.  Por isso que a bagunça da liturgia nova banaliza até os mistérios da Santa Religião.  Na verdade, até o Concílio Vaticano II e ainda hoje na verdadeira Tradição, a Igreja com toda a sua vida íntima, o seu pensamento, sua aspirações, tradições e toda a sua alma, se transfundiram em sua linguagem que é a oração e justamente a oração litúrgica.

Pela ORAÇÃO LITÚRGICA o homem já não é uma gota d'água tomada isoladamente mas se acha unido a Jesus Cristo e a toda Igreja e participa da força da imensidade do oceano, e por isto, - como diz D. Chautard - sua oração se diviniza e atinge todos os séculos desde a criação dos anjos e sua primeiro adoração até nossos dias. A oração litúrgica abrange todas as gerações de almas santas que a Igreja criou desde o dia de Pentecostes.

Os primeiros cristãos, quando ao cair da noite se reunião para assistirem o Sacrifício e receberem a comunhão, sentiam-se verdadeiros irmãos em Cristo, isto é, unidos a Ele no organismo da Igreja. Ao falar da santa Liturgia, S. Pio X esperava dela o reflorescimento do verdadeiro espírito cristão. Os modernistas estão destruindo este verdadeiro espírito cristão exatamente pela ruína e desmoralização da Liturgia.

Caríssimos, lutemos pela conservação da Liturgia Tradicional, a começar pela Santa Missa. Em toda santa Liturgia Tradicional façamos soar uma nota: a nossa divinização. Amém!

terça-feira, 10 de abril de 2018

CREIO NA IGREJA CATÓLICA

CREIO NA IGREJA CATÓLICA
                                                                                                                       Dom Fernando Arêas Rifan*           


A fé é a convicção das realidades que não se veem (Hb 11, 1), baseada na Palavra de Deus, que nos revela a sua verdade.  Um dia, no Céu, a fé será substituída pela visão. Se vejo, não é preciso mais fé. Quando digo no Credo, nossa profissão de Fé, “Creio na Santa Igreja Católica”, não quero dizer “creio na existência do Papa, dos Bispos, da estrutura da Igreja etc”, porque essas coisas são visíveis, portanto não são objeto da fé. “Creio na Santa Igreja Católica” significa que eu creio na sua origem divina, na sua santidade, na presença contínua do Divino Espírito Santo nela, na garantia que lhe deu o seu Divino Fundador de que as portas do inferno jamais prevaleceriam sobre ela etc. São coisas que não se veem, por isso são objeto da nossa fé.
Depois que Jesus anunciou aos Apóstolos que iria sofrer a sua Paixão e Morte, ele, na Transfiguração, mostrou-se a eles como Deus, para que, na hora da tragédia da cruz, se recordassem da sua divindade, que eles contemplaram no monte Tabor, e não perdessem a fé na hora da tribulação. Assim também agora, quando vemos a Santa Igreja desfigurada na sua paixão, vilipendiada por seus inimigos externos e, pior ainda, internos, desfigurada por eles na sua doutrina, chicoteada na sua liturgia, conspurcada pelo mal comportamento dos seus membros, sentimos também uma grande tentação em nossa fé na divindade da Igreja. Mas não nos deixemos vencer por essas tentações! Essa é a hora de dizermos com mais força ainda: eu creio na Santa Igreja Católica!
Não é porque tal ou tal membro da Igreja, seja ele quem for, ou tal comissão ou grupo, em nome deles próprios e não da Igreja, tomou atitudes ou defendeu posições não condizentes com a sua doutrina, já claramente exposta no seu Magistério, no seu Catecismo, nas suas leis litúrgicas e disciplinares, que devemos ficar escandalizados a ponto de perdermos a nossa fé na Igreja. Não! Pelo contrário, é hora de reagirmos com coragem contra todos esses erros e defendermos a Igreja, distinguindo entre os erros pessoais e a Igreja com suas instituições. Tais pessoas, com suas atitudes equivocadas e erros adotados, não nos representam como católicos.
Oportunamente, vale sempre lembrar o que ensinou o Papa São João Paulo II aos Bispos do Brasil, do Regional Sul l da CNBB, na visita “ad limina” em 21 de Março de 1995: “Os ministros sagrados, bem como os religiosos e religiosas consagrados, devem evitar cuidadosamente qualquer envolvimento pessoal no campo da política ou do poder temporal, como ainda recentemente recordava o “Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros”: “O sacerdote, servidor da Igreja que em virtude da sua universalidade e catolicidade não pode ligar-se a nenhuma contingência histórica, estará acima de qualquer fação política. Ele não pode tomar parte ativa em partidos políticos ou na condução de associações sindicais, e isso para poder “permanecer o homem de todos num plano de fraternidade espiritual” (n. 33).
  Dom Prosper Guérranger (L’Année Liturgique), sobre o episódio em que um leigo, Eusébio, se levantou contra a impiedade de Nestório, salvando assim a fé de Bizâncio, comenta: “Há no tesouro da Revelação pontos essenciais, cujo conhecimento necessário e guarda vigilante todo cristão deve possuir, em virtude de seu título de cristão. O princípio não muda, quer se trate de crença ou procedimento, de moral ou de dogma... Os verdadeiros fiéis são homens que extraem de seu Batismo, em tais circunstâncias, a inspiração de uma linha de conduta; não os pusilânimes que, sob pretexto especioso de submissão aos poderes estabelecidos, esperam, para afugentar o inimigo ou para se opor a suas empresas, um programa que não é necessário, que não lhes deve ser dado”.
Estamos no ano do laicato. É hora, portanto, principalmente de os leigos agirem. “Vocês também são a Igreja!” Como diz o Papa Francisco, a Igreja é mãe, mas não é babá. As ovelhas têm o direito de se defenderem dos lobos que as atacam, mas sempre dentro dos limites do respeito e da caridade, especialmente para com os membros da hierarquia.
O bom e verdadeiro católico sabe distinguir entre erros pessoais e a Igreja, a Santa Madre Igreja, nossa mãe. Quando se trata de membros da hierarquia eclesiástica, o nosso dever de resistência e até de crítica não pode suplantar o nosso respeito e consideração pelo cargo que ocupa. Se não, destruímos mais do que construímos. Não se deve atribuir à Igreja e às suas instituições os erros pessoais de seus membros. Jesus escolheu seus Apóstolos. Nem todos eram perfeitos. Só ficaram santos depois da vinda do Espírito Santo. E, mesmo assim, ainda conservaram sua natureza humana frágil. Quem ousaria atacar Jesus por ter escolhido Pedro e, mesmo Judas Iscariotes, ladrão e futuro traidor, e, ainda por cima, lhe confiar a bolsa do colégio apostólico? Seria também insensato atribuir os erros de Judas a todo o colégio apostólico!
Eu creio na Santa Igreja Católica, que vai continuar sendo santa, apesar de nós, pecadores!

                                                      * Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
                                                                           http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

segunda-feira, 9 de abril de 2018

A INFALIBILIDADE - CÂNON 212 §§ 1º,2º, 3º. ( VII )

   Nosso Senhor Jesus Cristo fez a Sua Igreja hierárquica, isto é,seus membros não são todos iguais. Há dois grupos distintos: Igreja docente e Igreja discente. Docente: é a parte da Igreja que ensina. Em latim: "docere", quer dizer ensinar. Discente: é a parte da Igreja que é ensinada. Em latim "discere", que quer dizer: receber o ensino, aprender.
   1º - Igreja DOCENTE: A) Tem na frente o Papa. É o chefe supremo. Possui a plenitude dos poderes concedidos por Jesus Cristo à Igreja.
                                            B) Abaixo do Papa e submetidos à jurisdição dele, estão os Bispos, gozando como ele da plenitude do sacerdócio, mas com poderes de ensino e governo limitados na respectivas dioceses.
   No último degrau da hierarquia, temos os padres, cujo poder de ensinar não lhes pertence por direito, mas em virtude da delegação do bispo.

   2º - Igreja DISCENTE: São os fiéis. Não têm autoridade eclesiástica. São instruídos, governados e santificados por seus pastores. Têm na Igreja direito aos bens espirituais: recepção dos sacramentos e audição da Palavra divina. Ainda com relação aos fiéis, diz o Código de Direito Canônico: cânon 211 - "Todos os fiéis têm o dever e o direito de trabalhar para que a mensagem divina da Salvação chegue cada vez mais a todos os homens de todos os tempos e do mundo inteiro". E o cânon 212 diz: § 1º -"Os fiéis, conscientes da sua responsabilidade, têm obrigação de prestar obediência cristã àquilo que os sagrados Pastores, como representantes de Cristo, declaram na sua qualidade de mestres da fé, ou estabelecem como governantes da Igreja".
   Explicação deste parágrafo: Ser consciente da própria responsabilidade significa que não se deve obedecer simplesmente porque está mandado, mas porque o mandado é legítimo, e que se deve obedecer com iniciativas, quando o mandamento deixe margem para elas. É preciso ter espírito de colaboração. Contudo, juridicamente não se pode exigir outra obediência que a determinada pela justiça legal.
   Cânon 212, § 2º "Os fiéis têm a faculdade de expor aos Pastores da Igreja as suas necessidades, sobretudo espirituais e os seus anseios".
   Explicação deste parágrafo: Trata-se do direito de petição, individual e coletiva. A petição pode fazer-se por via oral ou escrita. Este direito exige ser ouvido, mas não traz consigo a obrigação de outorgar o pedido, a não ser que o pedido constitua um verdadeiro direito. Exemplo: O Padre José Maria Scrivá (hoje canonizado), se esforçando por obedecer a Santa Sé, começou a celebrar a "Missa Nova". Seus padres e fiéis perceberam a angústia de seu diretor ao deixar de celebrar a Missa de São Pio V, ou seja, a Santa Missa de Sempre, e passar a celebrar a Missa Nova, então expuseram a Santa Sé os seus anseios. Não sei dizer como o fizeram, se diretamente, por escrito ou oralmente, mas afinal isto não importa, nem vem ao caso. O fato é que o Papa permitiu que o Padre José Maria Scrivá, continuasse a celebrar a Missa de Sempre. Só celebrou duas vezes a Missa Nova. A razão de sua angústia facilmente se advinha. Nem precisaria ser santo, basta ser verdadeiro devoto da Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, para se sentir angustiado ao ter que celebrar uma missa que agrada aos Protestantes.
   Cânon 212 § 3º: "Os fiéis, segundo a ciência, a competência e a proeminência de que desfrutam têm o direito e mesmo, por vezes, o dever de manifestar aos sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja, e de a exporem aos restantes fiéis, salva a integridade da fé e dos costumes, a reverência devida aos Pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas."
   Explicação deste parágrafo: Este parágrafo reconhece o direito que os fiéis têm à liberdade de expressão e de opinião pública dentro da Igreja. A ciência, a perícia e o prestígio são requisitos do reto exercício do direito ou para que o dever - moral - tenha maior ou menor força: o fundamento, porém, não são os requisitos, mas a condição de fiel. Quando se trata de dogmas da Santa Igreja (= integridade da fé e dos costumes, em que a Igreja é infalível) é claro que não existe o direito a livre opinião à liberdade de expressão. Fora destes casos, existe o direito e até o dever de manifestar à hierarquia da Igreja sua opinião, mas  é sempre necessário fazê-lo com todo repeito e reverência devidos às autoridades hierárquicas da Santa Igreja. E também só se pode expor sua opinião quando há real utilidade comum para as almas. É interessante notarmos que o fiel, dentro das condições acima expostas, tem o direito e às vezes, o dever de manifestar não só às autoridades da Igreja, sua opinião, mas também de expô-la aos restantes fiéis, isto é, o fiel tem o direito e às vezes, até o dever não só de manifestar sua opinião privadamente mas até mesmo publicamente, ou seja, ele pode, e às vezes, deve falar também para os demais fiéis.