sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 19 )

   97. OUTRA ILUSÃO PROTESTANTE (b).

      O matuto, movido por aquela fé viva e inabalável que caracteriza o camponês, se arrepende profundamente de seus pecados; faz o firme propósito de jamais cometê-los, ajudado pela graça divina e com aquela força de vontade com que tantas vezes os homens do campo superam os da cidade. Confessa humildemente os seus pecados ao sacerdote no Sacramento da Penitência, e quantas vezes não andou a pé léguas e léguas para fazer esta confissão! Depois recebe a sua comunhão com viva fé e santo recolhimento. Mas se lhe perguntarmos: Sua confissão foi bem feita?, ele responderá: Para mim, foi; para Deus, eu não sei. Na sua simplicidade, inspirado por Deus que revela aos pequeninos o que oculta aos sábios e prudentes, demonstra, sem saber disto, um mesmo sentimento de humildade, de desconfiança de si próprio, que demonstrou o Apóstolo São Paulo. Se todo cristão para se salvar, para estar bem com Deus, deve ter forçosamente a certeza de que está em graça, ninguém deveria tê-la melhor do que São Paulo. Entretanto São Paulo fala assim: Nem ainda eu me julgo a mim mesmo; porque DE NADA ME ARGUI A CONSCIÊNCIA; mas NEM POR ISSO ME DOU POR JUSTIFICADO; pois o Senhor é quem me julga. Pelo que, não julgueis antes de tempo, até que venha o Senhor, o qual não só porá às claras o que se acha escondido nas mais profundas trevas, mas descobrirá ainda o que há de mais secreto nos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor (1ª Coríntios IV-3 a 5).

   Pelas palavras do Apóstolo se vê que o importante é servir a Deus, fazer o bem, conservar a fé e a boa consciência. Quanto ao julgamento, pertence a Deus. E enquanto nós estamos sujeitos a enganos ao julgarmos a nós mesmos (pois ninguém é juiz em causa própria) Deus é quem conhece, como diz o Apóstolo: o que há de mais secreto nos corações. Ele penetra as mais íntimas profundezas das nossas almas, infinitamente melhor do que nós mesmos. E os seus julgamentos são diversos dos nossos: Senhor... os teus juízos são um abismo profundo (Salmos XXXV-6 e 7). ´O profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus! Quão incompreensíveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! (Romanos XI-33).

   Não devemos, portanto, inverter a ordem das coisas, nem querer precipitar os acontecimentos. Tenhamos a preocupação de servir a Deus, com a maior perfeição que for possível; o testemunho da boa consciência virá naturalmente depois. Não é o fato de nos julgarmos bem com Deus que fará com que realmente o estejamos; ao contrário, é do fato de estarmos realmente bem com Deus, que nascerá a doce tranquilidade da consciência, a suave sensação de que Deus habita em nós. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 18 )

   96. OUTRA ILUSÃO PROTESTANTE (a).

   Outra ilusão protestante é julgar que, para estarmos na graça de Deus, é preciso primeiro que disto estejamos convencidos. Já o próprio Leibnitz, filósofo protestante, chamava a atenção para o contra-senso em que os reformados caem neste ponto: "Se crer-se justificado se requer para a justificação e consequentemente precede a justificação, neste caso deve crer-se justificado quem não está justificado ainda; deve, portanto, crer uma coisa falsa" (Sistema Teológico, Mogúncia; 2ª edição, Pág.. 62). 

   Nós valemos diante de Deus o que valemos realmente; não o que pensamos que valemos. Não é o fato de me julgar justo que me torna justo, nem o fato de me ter na conta de um pecador que me faz mais pecador do que sou realmente. 

   Não foi enchendo-se da convicção de que estava salvo, que o publicano da parábola (Lucas XVIII-10 a 14) conseguiu a purificação de sua alma. mas apenas humilhando-se e tendo-se na conta de um desprezível pecador; e não consta do Evangelho que ele tivesse a certeza, nem ao menos a mínima ideia, de que estava em graça de Deus naquela hora. Se havia certeza, era no outro, no fariseu que voltou para casa ainda mais pecador do que dantes. 

   - Mas a certeza que ele tinha era diferente da nossa, porque era baseada nas obras, dirão os protestantes. 

   - Perfeitamente de acordo. A dele era certeza baseada nas obras que praticava sem ter a virtude interior, mas sim com verdadeiro espírito de ostentação. Mas ou certeza por causa das obras feitas com orgulho e presunção, ou certeza porque alguém não se julga obrigado às obras para salvar-se, o que é fato é que a parábola mostra que a gente pode facilmente enganar-se nesta matéria.

   E o que lemos no Evangelho é que muitos que creem firmemente em Jesus Cristo, que chegam mesmo a profetizar e a fazer prodígios em seu nome e que por isto estão certos, certíssimos da salvação, sofrerão uma decepção tremenda no dia das contas, serão rejeitados por causa de suas OBRAS que não agradaram a Deus: Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não é assim que profetizamos em teu nome, e em teu nome expelimos os demônios, em teu nome obramos muitos prodígios? E eu então lhes direi em voz bem inteligível: Pois eu não vos conheci; apartai-vos de mim, os que obrais a iniquidade (Mateus VII-22 e 23). 

   Suponhamos que um homem tem dois criados: ambos o servem com boa vontade; mas um está sempre cheio de si, convencido de que o patrão está bem satisfeito com ele e de que receberá com toda a certeza a recompensa prometida pelo amo aos servos que façam bem o seu trabalho; o outro está sempre desconfiado, sempre temeroso de que o patrão tenha alguma coisa a reclamar sobre o seu serviço. ou de que talvez não mereça a recompensa almejada. Isto faz com que este último valha menos perante o patrão ou perca o seu direito à recompensa? Ao contrário, com este receio sobre o valor do seu trabalho, está mais apto a caprichar, a fazer tudo com perfeição do que o outro que está convencido de que tudo quanto faz é uma maravilha que agrada imensamente ao seu patrão. Isto se dá com maioria de razão na vida espiritual, onde a humildade é a virtude mais apta para conquistar as graças de Deus.

   Perguntaram um dia a uma santa se ela estava na graça de Deus. Ela respondeu o seguinte: "Se eu estou na graça de Deus, que Deus me conserve neste estado; se não estou, que Deus me ponha nele". Deixou, por acaso, de ser o que realmente era diante de Deus por ter falado desta maneira? 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 17 )

   95. OS QUE SE SALVAM, ISTO É, NÓS.

   Dirão os protestantes: Nós temos um texto mais claro. Paulo diz aos Coríntios: A palavra da cruz é na verdade uma estultícia para os que se perdem; mas para OS QUE SE SALVAM QUE SOMOS NÓS, é ela a virtude de Deus (1ª Coríntios I-18). Logo, os que se salvam somos nós, os que seguimos a Cristo. Não há perigo de nos perdermos.

   - Uma coisa é dizer: Os que se salvam SOMOS NÓS. E outra coisa é dizer: SALVAM-SE TODOS E CADA UM DE NÓS.

   É muito comum o sacerdote católico dizer, no fim de seus sermões, mais ou menos isto: "E nós, quando estivermos no reino da glória, meus caros irmãos, gozaremos eternamente de toda felicidade no seio de Deus etc, etc". Ninguém vai concluir que, faça o que fizer, estará neste caso; o padre está falando daquilo que acontece normalmente, se se cumpre aquilo que é necessário cumprir-se.

   Uma cidade é invadida pelos inimigos da pátria. Na sua resistência ao invasor, a maioria se porta bravamente, mas neste meio há também alguns cobardes que fogem ou alguns traidores que favorecem ao inimigo. Vencida a batalha, isto não impede que os habitantes desta cidade digam com toda segurança; Nós resistimos heroicamente e vencemos o adversário. Porque dizer NÓS é uma coisa; e dizer TODOS E CADA UM DE NÓS já é coisa bem diferente.

   A Bíblia não nos diz tudo o que se passava entre os primeiros cristãos.  Mas pelo que ela nos diz, nós sabemos que os cristãos EM GERAL estavam no caminho da salvação; e que o mesmo já não se pode dizer de todos, sem exceção. Os Atos nos mostram São Paulo despedindo-se dos presbíteros, que são seguidores de Cristo de especial categoria, encarregados de apascentar  a Igreja de Deus; recomenda-lhes que vigiem sobre o rebanho cristão (Atendei por vós e por todo o rebanho - Atos XX-28), avisa que surgirão lobos arrebatadores que não hão de perdoar o rebanho (Atos XX-29) e faz então uma revelação surpreendente: do seio destes mesmos presbíteros, encarregados de vigiar sobre as ovelhas, hão de sair também lobos vorazes: DENTRE VÓS MESMOS hão de sair homens que hão de publicar DOUTRINAS PERVERSAS,  com o intento de levarem após si muitos discípulos (Atos XX-30). Será que os protestantes irão colocar no número daqueles que têm a salvação infalivelmente certa estes presbíteros que mais tarde haveriam de bromar, ensinando DOUTRINAS PERVERSAS?

   São Paulo fala aos Coríntios dizendo: Temo que talvez, quando eu vier, vos não ache quais eu vos quero e que vós me acheis qual não quereis; que por desgraça não haja entre vós contendas, invejas, rixas, dissensões, detrações, mexericos, altivezas, parcialidades; para que não suceda que, quando eu vier outra vez, me humilhe Deus entre vós e que chore a muitos daqueles que ANTES PECARAM E NÃO FIZERAM PENITÊNCIA DA IMUNDÍCIA E FORNICAÇÃO E DESONESTIDADES QUE COMETERAM (2ª Coríntios XII- 20 e 21). 

   Os protestantes de hoje afirmam que para a salvação é necessário o arrependimento. Estes cristãos que haviam caído na IMUNDÍCIA E FORNICAÇÃO E DESONESTIDADE (2ª Coríntios XII-21) e que, como diz São Paulo, não se arrependeram de tais pecados, morrendo nesse estado, podiam salvar-se? Se podiam, então esta salvação "definitiva" daqueles que aceitam a Cristo como Salvador, vem a ser uma licença para todas as desonestidades e imundícias. 

   Vejamos agora o que São Paulo diz aos cristãos na sua Epístola aos Hebreus: Vede, irmãos, que se não ache talvez nalgum de vós um CORAÇÃO CORROMPIDO DA INCREDULIDADE QUE SE APARTE do Deus vivo, mas admoestai-vos vós mesmos uns aos outros CADA DIA, durante o tempo que a Escritura chama Hoje, por não acontecer que ALGUM DE VÓS, SEDUZIDO PELO PECADO, SE ENDUREÇA; porque é verdade que nós somos incorporados com Cristo; mas ISTO É DEBAIXO DA CONDIÇÃO  que nós conservemos ATÉ AO FIM o novo ser que começamos a ter n'Ele (Hebreus III-12 a 14).

   Não podia haver condenação mais clara desta doutrina de que o cristão tem certeza infalível, absoluta de sua salvação; esta certeza é condicionada a sua união com Cristo, porque mesmo um seguidor do Divino Mestre pode por um coração corrompido apartar-se de Deus Vivo e cair no endurecimento, seduzido pelo pecado; e este estado é evidentemente incompatível com a salvação eterna. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 16 )

   93. O PODER SALVADOR DE CRISTO.

   Vejamos agora outro trecho de São Paulo, na sua Epístola aos Hebreus:

   Depois de dizer que Jesus porque permanece para sempre, possui um sacerdócio eterno (Hebreus VII-24), diz São Paulo que por isto pode SALVAR PERPETUAMENTE aos que por Ele mesmo se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por nós (Hebreus VII-25). Daí concluem muitos protestantes que já possuem uma SALVAÇÃO PERPÉTUA que é dada por Jesus. 

   Primeiro que tudo, o Autor da Epístola não diz que Jesus SALVA infalivelmente a todos os crentes, mas que PODE SALVAR os que por Ele mesmo se chegam a Deus. Quer ressaltar aí o poder salvador do Eterno Sacerdote Jesus Cristo que PERPETUAMENTE, isto é, até o fim do mundo, até a consumação dos séculos, através de todas as gerações, exerce a sua missão redentora. O fito de São Paulo é estabelecer o contraste entre os sacerdotes da Antiga Lei que morriam e depois de mortos, não podiam exercer a sua missão (a morte não permitia que durassem - Hebreus VII-23); e Jesus Cristo que não morre e por isto exerce eternamente a sua missão de Sacerdote e Mediador.

   Mas desta palavra de São Paulo não se segue que Cristo nos salve sem a cooperação da nossa parte, ao contrário supõe o Apóstolo esta cooperação, pois Cristo pode salvar perpetuamente AOS QUE POR ELE MESMO SE CHEGAM A DEUS (Hebreus VII-25). E esta cooperação, segundo o ensino desta mesma Epístola aos Hebreus, não consiste somente na fé, mas também na OBEDIÊNCIA a Cristo que é o AUTOR da salvação eterna para TODOS OS QUE LHE OBEDECEM (Hebreus V-9).

   Nem quer dizer absolutamente que Cristo dê a salvação àqueles que se chegaram a Deus, que se converteram e depois voluntariamente se afastaram d'Ele e voltaram aos pecados de outrora, àqueles que no começo obedeciam a Cristo e hoje já Lhe não obedecem mais.


   94. CRESCIA O NÚMERO DOS QUE SE SALVAM.

   Vêem ainda muitos protestantes uma certeza absoluta de sua salvação pessoal, nesta palavra dos Atos, em que se fala do crescimento da Igreja: E o Senhor aumentava cada dia mais o número dos QUE SE HAVIAM DE SALVAR, encaminhando-os à unidade da sua mesma corporação (Atos II-47).

   É claro que, estando o mundo todo mergulhado no pecado, como estava, quando veio Jesus, estando o próprio povo judeu tão corrompido, se aumentava o número daqueles que com tanta sinceridade e fervor abraçavam a religião de Cristo, aumentava também necessariamente o número dos eleitos, o número daqueles que iriam povoar o Céu. Ninguém podia afirmar isto com mais segurança do que o Divino Espírito Santo, inspirador e principal autor da Bíblia e que sonda os segredos de todos os corações.

   Mas segue-se daí que aqueles que entrassem na Religião Cristã e não perseverassem no bem ou se tornassem depois traidores da sua fé, se salvariam também?

sábado, 14 de setembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 15 )

   92. SEI EM QUEM TENHO CRIDO.

   É próprio da Humanidade interpretar as palavras que ouve sempre de acordo com os seus próprios sonhos ou com o seu particular interesse. Por isto, tendo-se encasquetado no cérebro de muitos protestantes a ideia de que não podem mais perder-se de maneira alguma, alimentando eles continuamente esta sonho de uma segurança absoluta aqui na terra, em matéria de salvação, vivem querendo firmar-se, para sustentar esta teoria tão estranha, em textos do Novo Testamento que nada têm que ver com o caso.

   Tomemos, por exemplo, esta palavra de São Paulo a Timóteo: Sei a quem tenho crido e estou certo de que Ele é poderoso para guardar o meu depósito para aquele dia (2ª Timóteo I-12).

   Consideram tais protestantes estas palavras como um hino em que São Paulo canta e em que todo cristão deve cantar também a sua CERTEZA ABSOLUTA DA SALVAÇÃO. Mas é preciso perguntar: É deste assunto que está falando São Paulo? Que quer dizer o Apóstolo, quando assevera a sua confiança de que Cristo conservará o seu depósito? Que significa neste caso a palavra DEPÓSITO (no grego PARATHÉKE)? Esta palavra aparece mais duas vezes no Novo Testamento, sempre empregada por São Paulo e sempre nas suas epístolas a Timóteo. Uma delas é logo dois versículos mais adiante. São Paulo diz ao seu discípulo: Guarda o bom DEPÓSITO pelo Espírito Santo que habita em nós outros (2ª Timóteo I-14). E a outra, ao terminar a 1ª Epístola ao mesmo discípulo: Ó Timóteo, guarda o DEPÓSITO, evitando as profanas novidades de palavras e as contradições duma ciência de falso nome, da qual fazendo alguns profissão, descaíram da fé (1ª Timóteo VI-20 e 21).

   Vê-se aí claramente nesta última citação que o que São Paulo chama DEPÓSITO  é a doutrina de Cristo, a doutrina do Evangelho que ele, Paulo, juntamente com os demais Apóstolos DEPOSITARAM no mundo, aos cuidados da Igreja docente que tem de conservá-la fielmente e, portanto, aos cuidados do próprio Timóteo, que é também um insigne pregador da Igreja e deste mesmo Evangelho.

   Este mesmo sentido, DEPÓSITO = DOUTRINA DO EVANGELHO cabe perfeitamente naquelas duas outras frases em que esta palavra se encontra, como se vê evidentemente pelo contexto. Paulo está preso (2ª Timóteo I-8) por causo do Evangelho, no qual, diz ele, eu fui constituído pregador e apóstolo e mestre das gentes (2ª Timóteo I-11). Sofrendo perseguições por causa do Evangelho, São Paulo não se envergonha por isto, nem se considera derrotado, porque sabe que Cristo é Todo-Poderoso e pode conservar no mundo perpetuamente o depósito dele, Paulo, isto é, a doutrina sublime do Evangelho que ele ensinou. Por cuja causa também padeço isto, mas não me envergonho; porque sei a quem tenho crido e que Ele é poderoso para guardar o meu DEPÓSITO  para aquele dia (2ª Timóteo I-12). É com este pensamento de que Cristo vela pela conservação da doutrina do Evangelho, que São Paulo exorta a Timóteo a continuar fiel em conservar esta doutrina, este bom DEPÓSITO, com o auxílio do Divino Espírito pois diz LOGO EM SEGUIDA: Guarda a forma das sãs palavras que me tens ouvido na fé e no amor em Jesus Cristo. Guarda o BOM DEPÓSITO pelo Espírito Santo que habita em nós outros (2ª Timóteo I-13 e 14).

   Como é que podem ver aí os protestantes um argumento de que hão de salvar-se, dê no que der, e com infalível certeza?

sábado, 7 de setembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 14 )

   91. QUALQUER PESSOA PODE PERDER-SE (c).

   É o que nos ensina também São Pedro: E se invocais como Pai Aquele que sem acepção de pessoas julga segundo a obra de cada um, vivei EM TEMOR durante o tempo da vossa peregrinação (1ª Pedro I-17). É um temor baseado na consideração do julgamento de Deus, que é Pai, mas é também Juiz Justíssimo, sem fazer acepção de pessoas. Porque, segundo a doutrina de São Pedro, é deplorável o estado daqueles que tendo seguido o bom caminho, dele se desviaram: Se depois de se terem retirado das corrupções do mundo pelo conhecimento de Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, se deixam delas vencer, enredando-se de novo, é o seu último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes era não ter conhecido o caminho da justiça do que, depois de o ter conhecido, tornar para trás, deixando aquele mandamento santo que lhes fora dado. Porque lhes sucedeu o que diz aquele verdadeiro provérbio: Voltou o cão ao que havia vomitado; e: A porca lavada tornou a revolver-se na lamaçal (2ª Pedro II-20 a 22). Por isso São Pedro aconselha a mortificação e a contínua vigilância: Sede sóbrios e vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda ao derredor de vós, como um leão que ruge, buscando a quem possa devorar (1ª Pedro V-8).

   Esta doutrina dos Apóstolos de que aquele que está no bom caminho pode perder-se, desviando-se dele, é confirmada ainda pelo ensino do Antigo Testamento e pelas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

   Ouçamos o que diz o profeta Ezequiel: Se o justo se apartar da sua justiça e vier a cometer a iniquidade, segundo todas as abominações que o ímpio costuma obrar, acaso viverá ele? De nenhuma das obras de justiça que tiver feito se fará memória: na prevaricação com que prevaricou e no seu pecado que cometeu, nestas mesmas circunstâncias morrerá (Ezequiel XVIII-24). 

   E Nosso Senhor Jesus Cristo diz aos Apóstolos: Vós já estais puros em virtude da palavra que eu vos disse. Permanecei em mim e eu permanecerei em vós (João XV-3 e 4) para dizer, dois versículos mais adiante: Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora como a vara, e secará, e enfeixá-lo-ão e lançá-lo-ão no fogo, e ali arderá (João XV-6). 

   De tudo isto se conclui que, se a Bíblia usa algumas vezes esta expressão - estarmos salvos - isto quer dizer: estarmos no caminho da salvação (e estão no caminho da salvação aqueles que possuem a graça santificante pela VERDADEIRA FÉ e pela OBSERVÂNCIA DOS MANDAMENTOS DE JESUS), mas daí não se segue que seja a salvação definitiva, sem perigo algum de perder-se. Também do doente que, depois de encontrar-se em estado grave, conseguiu a cura, se diz que ESTÁ SALVO,  e no entanto ele ainda pode recair na sua enfermidade mortal.  

   Salvação definitiva para o fiel, de tal forma que ele não possa jamais perder-se, virá na hora da morte, se ele perseverar até o fim: O que, porém, perseverar até o fim, esse é que será salvo (Mateus X-22).                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO ( 13 )

   91. QUALQUER PESSOA PODE PERDER-SE (b).

   Assim como se pode perder a salvação, perdendo-se a fé, pode-se perder também pelos pecados que são contrários às demais virtudes.

   Lê-se na Epístola aos Hebreus: É impossível que os que foram uma vez iluminados, que tomaram já o gosto ao dom celestial e que foram feitos participantes do Espírito Santo, que gostaram igualmente a boa palavra de Deus e as virtudes do século vindouro, E DEPOIS DISTO CAÍRAM, é impossível, digo, que eles tornem a ser renovados pela penitência, pois crucificaram de novo ao Filho de Deus em si mesmos e O expõem ao ludíbrio (Hebreus VI-4 a 6). Trata-se aí de apóstatas que tinham recebido graças especialíssimas, como por exemplo, um sacerdote; trata-se de uma impossibilidade moral e não absoluta; o que é moralmente impossível pode realizar-se por um milagre e a graça de Deus também faz os seus milagres. Mas as palavras do Apóstolo mostram muito bem que nem mesmo aqueles que já foram iluminados, que já foram feitos participantes do Espírito Santo estão livres de cair, e caindo de tão alto, não se lhes torna nada fácil levantar-se.

   É por isto que o próprio São Paulo que se confessa atormentado na sua carne - permitiu Deus que eu sentisse na minha carne um estímulo, que é o anjo de Satanás para me esbofetear (2ª Coríntios XII-7) - fala nas mortificações e penitências que faz no seu próprio corpo para não cair no número dos réprobos : Castigo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que não suceda que, havendo pregado aos outros, venha eu mesmo a ser reprovado (1ª Coríntios IX-27). O perigo que ele vê para si, também o vê nos fiéis: Aquele, pois, que crê estar em pé veja não caia (1ª Coríntios X-12). Nesta palavra de São Paulo deveriam meditar muito seriamente os protestantes que julgam estar em pé e que com tanta presunção e arrogância garantem que infalivelmente, certissimamente serão levados para o Céu, no próprio momento da morte. Falando sobre a rejeição dos judeus, diz São Paulo ao cristão que está FIRME NA FÉ, ao cristão leal e fervoroso: TU PELA FÉ ESTÁS FIRME; pois, não te ensoberbeças por isso, mas TEME; porque, se Deus não perdoou aos ramos naturais, deves tu temer que Ele te não perdoe a ti. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: a severidade, por certo, para com aqueles que caíram, e a bondade de Deus para contigo, SE PERMANECERES NA BONDADE; DOUTRA MANEIRA também tu SERÁS CORTADO (Romanos XI-20 a 22). E em vez de procurar incutir uma ilusória segurança, aconselha o temor: Olhai a vossa salvação COM RECEIO e COM TREMOR (Filipenses II-12).

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 12 )

   91.  QUALQUER PESSOA PODE PERDER-SE (a).

   Vimos, portanto, que a Bíblia fala na salvação e na vida eterna como um bem que já se adquiriu ou que ainda se vai possuir. Resta-nos saber que este bem que já foi adquirido pode ou não pode perder-se, se o indivíduo que aqui na terra foi salvo pode depois perder esta salvação. É uma salvação definitiva, que se realiza infalivelmente, ou é uma salvação que se vai realizando debaixo de uma condição: a de manter-se o homem neste bom caminho? Pode o homem decair deste estado de graça, que a Escritura chama VIDA ETERNA?

   Ora, ao contrário do que ensinou Calvino, a Bíblia nos mostra que se pode perder a fé. Se a fé é necessária para a salvação, segue-se que a salvação adquirida nesta vida pode perder-se.

   Vejamos. Nosso Senhor, na parábola do Semeador, explicando qual é a semente que cai no pedregulho, diz: Quanto à que cai em pedregulho, significa os que recebem com gosto a palavra, quando a ouviram; e estes não têm raízes, porque até certo tempo CREEM  e no tempo da tentação VOLTAM ATRÁS (Lucas VIII, 13). São Paulo fala em alguns que perderam a fé, porque não souberam conservar a boa consciência, ou porque se deixaram levar pela avareza: Conservando a fé e a boa consciência, a qual porque alguns repeliram, NAUFRAGARAM NA FÉ; deste número é Himeneu e Alexandre, os quais eu entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar (1ª Timóteo I-19 e 20). A raiz de todos os males é a avareza, a qual cobiçando alguns SE DESENCAMINHARAM DA FÉ (1ª Timóteo VI-10). No fim da mesma Epístola, São Paulo fala de alguns que também descaíram da fé (1ª Timóteo VI-21) já por outro motivo: enredaram-se com as profanas novidades de palavras e uma ciência da falso nome (VI-20).

   Na 2ª Epístola aos Coríntios, o Apóstolo fala na fé pela qual Deus resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo (2ª Coríntios IV-6) mas, logo após, acrescenta: Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a sublimidade seja da virtude de Deus, e não de nós (2ª Coríntios IV-7). O que mostra muito bem que facilmente podemos perder a fé, porque vasos de barro se podem quebrar com facilidade.