quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A VIDA ETERNA

 A VIDA ETERNA

 

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*

                                                          

“Fazes o impossível para morrer um pouco mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?” pergunta Santo Agostinho. Todos queremos viver, viver muito tempo e mesmo para sempre. Por isso, após o mês do Rosário, a Igreja nos convida a pensar na coisa mais importante da nossa existência: a vida eterna. “Deus não criou a morte e a destruição dos vivos não lhe dá alegria alguma. Ele criou todas as coisas para existirem... e a morte não reina sobre a terra, porque a justiça é imortal” (Sb 1, 13-15). O pecado é que fez entrar a morte no mundo. Mas a esperança da ressurreição e da vida eterna nos consola.

Domingo próximo, dia 1º de novembro, celebraremos a solenidade de Todos os Santos, a festa daqueles que se salvaram, chegaram à vida eterna feliz para sempre. E, na segunda-feira próxima, a Comemoração de todos os Fiéis Defuntos, os “finados”, aqueles que já partiram dessa vida temporal e começaram a vida eterna, que, esperamos e rezamos para isso, seja no Céu. Dom Boaventura Kloppenburg fez questão de resumir o seu testamento nessa palavra: “Creio na Vida Eterna”. Creio na vida que não terá fim. É a nossa profissão de fé no Credo.

É tempo de reflexão sobre a humildade que devemos ter, sabendo que a morte nos igualará a todos. Todos compareceremos diante de Deus, para dar contas da nossa vida. Ali não haverá distinção entre ricos e pobres, entre reis e súditos, entre presidentes, parlamentares e magistrados e os cidadãos comuns, entre Papa, Bispo, Padres e simples fiéis. A distinção só será entre bons e maus, e isso não na fama, mas diante de Deus, que tudo sabe.

Olhemos a morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero. Confiemos na misericórdia de Deus, que é nosso Pai, que nos enviou seu Filho, Jesus, que morreu por nós, para que não nos condenássemos, mas que tivéssemos a vida eterna.    

Os santos encaravam a morte com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no Cântico do Sol: “Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal! Felizes dos que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade! A estes não fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. E São Paulo, o Apóstolo: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro... Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23).

“Eis, pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 29-31). “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6, 10). “Que prudente e ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida qual deseja que a morte o encontre!... Melhor é fazeres oportunamente provisão de boas obras e enviá-las adiante de ti, do que esperar pelo socorro dos outros” (Imitação de Cristo, I, XXIII).

 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

 

terça-feira, 27 de outubro de 2020

A AÇÃO DAS VIRTUDES INFUSAS COM A AJUDA DOS SETE DONS DO ESPÍRITO SANTO


SENTENÇA: "Ensinai-me a fazer a vossa vontade, porque vós sois o meu Deus. O vosso Bom Espírito me conduzirá por uma terra aplanada" (Sl 142, 10).

REFLEXÕES: As virtudes teologais são: fé, esperança e caridade. As virtudes cardeais são: prudência, justiça, fortaleza e temperança. Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade, temor de Deus.

O Espírito Santo com seus dons, completa e leva à perfeição as virtudes.

A  une-nos a Deus (Verdade) levando-nos a aderir às verdades que nos revelou. O exercício desta virtude é aperfeiçoado pelos dons da INTELIGÊNCIA e da CIÊNCIA. O dom da inteligência leva-nos a penetrar mais profundamente nas verdades da fé para nelas descobrirmos os seus tesouros escondidos. O dom da ciência eleva-nos das criaturas até Deus, mostrando-nos que Ele é o seu princípio, a sua causa exemplar e também o seu fim.

A ESPERANÇA une-nos a Deus (Suma Bondade e nossa Felicidade) levando-nos a fazer atos de confiança absoluta e de filial entrega em suas mãos. Faz-nos esperar com serenidade a Céu e os meios de lá chegarmos. Esta virtude é fortificada pelo dom do TEMOR DE DEUS, enquanto nos desapega dos falsos bens da terra que nos poderiam arrastar ao pecado. Assim, ajuda-nos a desejar o Céu.

A CARIDADE leva-nos a amar a Deus como infinitamente bom em si mesmo e, assim, nos comprazemos nas suas infinitas perfeições mais que se fossem nossas. Leva-nos a uma santa amizade e a uma doce familiaridade. É pela caridade que nos tornamos mais semelhantes ao nosso Pai Celeste. É o dom da SABEDORIA, que nos faz gostar das coisas de Deus e assim, aumenta em nós a virtude da caridade, isto é, o Amor de Deus.

A virtude da PRUDÊNCIA leva-nos a escolher devidamente os meios para alcançarmos o nosso fim sobrenatural. É muito aperfeiçoada pelo dom de CONSELHO que nos faz participar da sabedoria divina  mostrando-nos logo claramente, nos casos particulares e dificultosos, o que é conveniente fazer ou omitir.

A virtude da JUSTIÇA (à qual está relacionada a virtude da RELIGIÃO) mandando-nos dar a outrem o que lhe é devido, santifica as nossas relações com os nossos irmãos. A virtude da RELIGIÃO inclina-nos a prestar a Deus o culto que Lhe é devido. Esta virtude da religião é facilitada singularmente pelo dom de PIEDADE fazendo-nos ver em Deus um pai amorosíssimo que somos venturosos de glorificar e louvar. O dom de piedade ajuda-nos a tratar o próximo como irmãos em Jesus Cristo.

A virtude da FORTALEZA arma-nos contra as provações e a luta. Leva-nos, outrossim, a suportar com paciência os sofrimentos; a empreender com coragem os mais árduos trabalhos para glória de Deus. O dom de FORTALEZA ajuda a virtude do mesmo nome, levando esta coragem até ao heroísmo.

A virtude da TEMPERANÇA modera em nós a ânsia do prazer, e subordina-o à lei do dever. O dom do TEMOR DE DEUS, além de facilitar a virtude teologal da esperança, também aperfeiçoa em nós a temperança, fazendo temer os castigos e os males que resultam do amor ilegítimo dos prazeres.

EXEMPLO: A princesa Luísa (de que falamos em exemplo anterior) filha de Luis XV, rei de França, recebeu o véu no Carmelo de Paris, em presença do núncio apostólico do papa Clemente XIV. A capela foi engalanada com esplendor nunca visto. A princesa apareceu vestida com maravilhoso traje que reluzia de ouro e pedras preciosas, e em sua cabeça levava coroa de puríssimos diamantes. A princesa, em dado momento, despojada de todas aquelas jóias, recebeu em troca o hábito grosseiro e o véu e prostrou-se por terra. Muitas lágrimas correram dos olhos das pessoas da corte presentes na cerimônia. Viveu no claustro dezessete anos com o nome de Sóror Teresa de Santo Agostinho, em grande pobreza. Faleceu aos cinqüenta anos de idade em odor de santidade.

Eis a verdadeira grandeza!... De filha de rei mortal, tornou-se para sempre filha do Rei Imortal, o verdadeiro Rei. o Rei dos reis. Amém!

 

 

domingo, 25 de outubro de 2020

AS VIRTUDES INFUSAS


SENTENÇA: 1 - "Salvou-nos mediante o batismo de regeneração e de renovação do Espírito Santo, que Ele difundiu sobre nós abundantemente por Jesus Cristo, Nosso Salvador" (Tt III, 5 e 6). 

REFLEXÕES:  S. Agostinho, explicando as palavras "derramou com abundância", acrescentou o comentário: "isto quer dizer, para remissão dos pecados e abundância de virtudes.

Deus, Bondade infinita, depois de ter criado o homem com dons naturais espirituais e extraordinários (a inteligência para conhecer a verdade; a vontade para desejar e amar o bem) na sua infinita liberalidade, quis vir morar em nós. E mais: veio para nos santificar e tornar o homem seu filho, e, portanto, herdeiro de seu reino. Em outras palavras: quis tornar-nos participantes da sua Vida, da sua Natureza e assim divinizar a criatura humana e torná-la semelhante a Si, dando-lhe a capacidade de fazer obras meritórias para o Céu.

Para tanto, o nosso Pai do Céu, elevou as nossas faculdades naturais (de si boas, porque feitas por Ele) a uma ordem acima da natureza, i, é, SOBRENATURAL. A graça santificante é o princípio vital desta vida que está acima de toda natureza criada. Juntamente com esta graça habitual que recebemos no santo Batismo, Deus infunde na alma as virtudes teologais, e, segundo doutrina comum dos teólogos, também as cardeais.

Virtude é uma disposição habitual e firme de fazer o bem. Há as virtudes morais (humanas) e as teologais (divinas). As humanas (das quais as principais são as cardeais: prudência, justiça, fortaleza e temperança) são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e orientam a nossa conduta em conformidade com a razão e a fé. As teologais (fé, esperança, caridade) têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus (teologal=que se refere a Deus). Infundidas no homem com a graça santificante, elas nos tornam capazes de viver em relação com a SS. Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes morais.

Observação importante: Estas virtudes cardeais infundidas por Deus juntamente com a graça santificante não nos dão a facilidade, mas o poder sobrenatural próximo de praticar atos sobrenaturais.  Ao chegar ao uso da razão, iluminado e movido pelas graças atuais, será necessário que o homem repita atos destas virtudes e assim, adquira o hábito delas, isto é, uma facilidade em colocar em prática aquele poder infundido por Deus.

Com os atos relativos a cada virtude teologal, porém, nós não as adquirimos, mas exercitamo-las.

EXEMPLOS: 1 - Um dia um menino de Turim, o Marques Máximo de Azeglio, dirigiu às pessoas de sua família esta pergunta: "Somos nobres?" O seu pai respondeu: "Serás nobre se fores virtuoso!"

Este pai disse uma grande verdade. Eram marqueses e, portanto, de linhagem nobre. Mas, na verdade, a nobreza da linhagem nenhum mérito tem perante Deus, ao passo que só a da alma, dada precisamente pela prática da virtude, tem grande valor perante Deus.

2 - A princesa Luíza de França (que mais tarde havia de entrar no Carmelo para expiar os crimes de seu pai o Rei Luis XV) um dia, num momento de cólera, disse para sua ama: "Não sabes que sou a filha de teu rei? --- E vós, replicou a ama, não sabeis que sou filha de vosso Deus?

A esta resposta inesperada, que lhe recordou a sua fé e a sua origem divina, a irascível princesa instantaneamente se acalmou e passou a meditar na verdadeira nobreza de ser filha de Deus. Terminou se convertendo, como veremos no próximo artigo.

 "O fim de uma vida virtuosa, diz S. Gregório de Nissa,  consiste em se tornar semelhante a Deus" Amém!

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

A GRAÇA SANTIFICANTE EXPLICADA ATRAVÉS DE COMPARAÇÕES


SENTENÇA: "O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, o qual, quando um homem o acha, esconde-o, e, contente com o achado, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo. O reino dos céus é também semelhante a um mercador que busca pérolas preciosas, e, tendo achado uma de grande valor, vai, vende tudo o que tem e a compra" (Mt XIII, 44-46).

REFLEXÕES: Jesus compara a graça santificante a um tesouro e a uma pérola de grande valor. Depois do próprio Jesus, nada existe mais precioso sobre a face da Terra.

 Compara-a também a uma água viva que jorra para a vida eterna (Jo IV, 4). Na verdade, é pela graça que entramos na família de Deus. Somos seus filhos e, portanto, irmãos de Jesus Cristo. E assim, somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo. Pela graça santificante, participamos da própria natureza divina. Pode haver tesouro maior do que este? A graça santificante dará à alma a posse da vida eterna no céu, onde a sede de felicidade e de amor será saciada inteira e eternamente, pela visão beatífica de Deus face à face.

Os Santos Padres e teólogos fazem, outrossim, muitas comparações sobre a graça santificante no intuito de dar uma ideia mais clara deste dom extraordinário. Eis algumas:

1ª - A alma em estado de graça é semelhante a um globo de cristal iluminado pelo sol. Este cristal transparente recebe a luz do sol e é como que penetrado por ele e assim adquirindo um brilho incomparável que em seguida difunde em torno. Na verdade, a alma recebe a luz divina, resplandece com vivíssimo clarão e reflete-o sobre os objetos que a rodeiam.

2ª - A graça santificante penetra no íntimo da alma: Assim como uma barra de ferro, metida numa fornalha ardente, adquire o brilho, o calor e a maleabilidade do fogo, assim a nossa alma, mergulhada na fornalha do amor divino, ali se purifica das escórias, tornando-se brilhante, ardente e dócil às divinas inspirações. A barra de ferro, sem deixar de ser o que é, parece-se com o fogo, de tal modo é penetrada por ele. Mas, retirada da fornalha, volta a ser feia e fria.

3ª - Há teólogos que comparam a graça ao enxerto. Fazem-no para mostrar que a graça é uma vida nova. A nossa alma é a árvore silvestre. A graça santificante é o enxerto divino. Assim como o enxerto não confere à árvore selvagem toda a vida da espécie a quem o foram buscar, senão tão somente uma ou outra das suas propriedades vitais, assim a graça santificante não nos dá toda a natureza de Deus, mas alguma coisa da Sua vida, que constitui para nós uma vida nova, i. é, uma participação real mas limitada da vida de Deus.

4ª - A graça santificante é já uma preparação para a visão beatífica no Céu. Neste sentido, é comparada ao botão que já contém a flor, embora vá desabrochar só lá no Paraíso. Assim, a graça habitual é chamada também de SEMENTE DA GLÓRIA. A graça santificante é uma semente lançada em nós para aí fazer germinar a vida celeste.

EXEMPLO: I Rs XVI narra como Elias ressuscitou o filho da viúva de Sarepta;  II Rs IV, 32 e 35 conta como Eliseu ressuscitou o filho da mulher Sunamita que o hospedava. O profeta estendeu-se sobre o menino morto, aplicou a boca, as mãos, os olhos sobre a cabeça, as mãos e os olhos da criança e esta voltou à vida. Assim, o Espírito Santo faz o mesmo para ressuscitar a alma para a vida divina mediante a sua graça: inclina-se para a alma, sua imagem; aplica sua boca à nossa para se insuflar em nós; põe os seus olhos sobre os nossos, i. é, dá-nos o conhecimento de si mesmo; junta as suas mãos às nossas, dando-nos a sua força divina. A nossa alma renasce assim para uma nova vida. A alma vive em Deus e Deus nela (C. Spirago).

Senhor, fazei que eu me apresente a Vós no Banquete Eterno, revestido da cândida veste nupcial! Amém! 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A PERDA DA GRAÇA SANTIFICANTE

SENTENÇA: "Mas são as vossas iniquidades que puseram uma separação entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados são os que lhe fizeram esconder de vós a sua face, para não vos ouvir" (Is 59, 2).

REFLEXÕES: Quão infeliz é a alma que cai em pecado mortal, que assim atrai o desagrado do próprio Deus. A pessoa que vive em pecado mortal, vive separado de seu Sumo Bem, que é Deus. Ela não é de Deus, nem Deus é seu. "E o Senhor disse a Oséias: Põe-lhe o nome de Não-meu-povo porque vós já não sois meu povo e eu não serei mais vosso (Deus)" (Os I, 9). Falando contra os pecados de idolatria diz a Sagrada Escritura: "Deus aborrece igualmente o ímpio e a sua impiedade". Se alguém tem por inimigo a um príncipe do mundo, não pode repousar tranquilo, receando a cada instante a morte. E aquele que foi inimigo de Deus, como pode ter paz? Pode-se escapar das mãos dos homens, mas das de Deus não: "A todo e qualquer lugar aonde vá, tua mão alcançar-me-á. E disse: Talvez me ocultarão as trevas; mas a noite converte-se em claridade para me descobrir no meio dos meus prazeres" (Sl 138, 10 e 11).

Além disso, a pessoa que vive no pecado mortal, traz consigo a perda de todos os merecimentos. Ainda que tivesse merecido tanto como uma S. Teresinha do Menino Jesus, um Santo Cura d'Ars, e até tanto como S. Paulo, se tal pessoa cometesse um só pecado mortal, perderia tudo. De filho de Deus, o pecador converte-se em escravo do demônio; de amigo predileto torna-se odioso inimigo; de herdeiro da glória, em condenado do inferno.

Como é triste a gente ver como os homens em geral, no mundo, choram por ter perdido algo de valor e/ou de estimação. Vi na Internet um sujeito chorando porque perdeu seu macaco de estimação. Aliás S. Agostinho já dizia: "Aquele que perde um cavalo, uma ovelha, já não come, já não descansa , mas chora e lastima-se. Mas se perde a graça de Deus, come, dorme e não se queixa!". S. Francisco de Sales dizia: "Se os anjos pudessem chorar, certamente chorariam de compaixão ao verem a desdita de uma alma que comete um pecado mortal e perde a graça divina". E S. Afonso comenta: "Entretanto, a maior tristeza é que os anjos chorariam, se pudessem chorar, e o pecador não chora".

Ó meu dulcíssimo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, se na vida passada meu coração andou mal, amando as criaturas e as vaidades do mundo, de agora em diante, só viverei para Vós e só a Vós amarei, meu Deus, meu tesouro, minha esperança e minha fortaleza. Inflamai meu coração em vosso santo amor. Maria, minha Mãe, fazei que minha alma arda em amor de Deus.

EXEMPLO: Conta S. Jerônimo que no tempo dele era permitido aos judeus de pisar o lugar de Jerusalém destruída, só uma vez ao ano, no aniversário da conquista da cidade. Nesse dia, apareciam grandes multidões de judeus, homens, mulheres, jovens e velhos, pais e filhos, trajando todos de luto, com o cabelo desgrenhado e olhos baixos, pálidas de amargura entrando processionalmente na cidade com muitas lamentações e gritos de dor. Mal entravam no recinto da destruída Capital, estourava um alarido de partir o coração; batiam violentamente aos peitos com suspiros e gemidos, arrancavam o cabelo da cabeça, correndo com gestos de desesperados pelos sítios da cidade em busca dos lugares santos dos seus antepassados. Não achando mais vestígios do antigo Templo, duplicavam os gritos de tristeza e desespero, enchendo as ruas e vielas de choros e lamentações. Assim permanecia o povo o dia inteiro, da manhã até a noite, até serem obrigados pelos soldados a retirar-se quando o sol já ia em declínio. Repetidas vezes davam aos soldados somas avultadas para que lhes concedessem a graça de permanecer mais um pouco, chorando ainda algum tempo a perda da santa Cidade de Jerusalém (S. Hieron. im cap. I. Sophon.).

Pobre pecador: se assim os judeus lastimavam a perda temporal de uma cidade como hás de chorar tu um dia, e isso sem mais remédio a perda da eterna e ditosa Jerusalém Celeste, se não te converteres a tempo. Faze já penitência e não perderás a felicidade suprema. (P. Miguel Meier, S. J. "A CATEQUESE"). Amém!.

  

domingo, 18 de outubro de 2020

A GRAÇA DE DEUS É UM BEM INEFÁVEL


SENTENÇA:"Ó se conhecêsseis o dom de Deus!" (Jo IV, 10).

REFLEXÕES: Poderíamos dirigir às multidões pecadoras e sedentas de felicidade, o mesmo lamento que Jesus Cristo expressou à mulher samaritana: "Ó se conhecêsseis o dom de Deus!".  Porque não conhecem o valor da graça divina, muitos e muitos trocam-na por ninharia, um fumo subtil, um punhado de terra, um deleite irracional.

A graça santificante, vida da alma, participação real, embora limitada da própria natureza divina, é um tesouro de valor infinito, que nos torna dignos da amizade de Deus. O próprio Jesus Cristo disse: "Quem é meu amigo, guarda os meus mandamentos". Se estou na graça de Deus, sou amigo de Deus, sou seu filho. Filho adotivo, na verdade, mas esta adoção é infinitamente superior à da terra, porque esta  é só questão de assinatura de um documento (o sangue é outro). A adoção pela graça, porém, é uma participação REAL da natureza de Deus: "participantes da natureza divina" (Cf. II Pe I, 4). Tanta é esta dignidade que Jesus Cristo no-la mereceu por sua Paixão! Jesus Cristo nos comunicou, de certo modo, o resplendor que recebeu de Deus: "Eu (disse Jesus dirigindo-se a seu Pai) dei-lhes a glória que tu me deste, para que sejam um, como também nós somos um" (Jo XVII, 22). A alma que está na graça  está intimamente unida a Deus: "Ao que está unido ao Senhor é um só espírito com ele" (1 Cor. VI, 17). O próprio Jesus disse que a Santíssima Trindade vem habitar na alma que está no estado de graça: "Aquele que retém os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama; e aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei (também), e me manifestarei a ele... Se alguém me ama, guardará a minha palavra, meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos nele morada" (Jo XIV, 22).

"Que tesouros de merecimentos, diz S. Afonso de Ligório, pode adquirir uma alma em estado de graça! Em cada instante lhe é dado merecer a glória; pois, segundo disse S. Tomás de Aquino, cada ato de amor, produzido por tais almas, merece a vida eterna". Estando na graça de Deus, podemos adquirir continuamente as maiores grandezas celestes.

 "Muita paz aos que amam a tua lei" (Sl 118, 165). A paz que provém dessa união com Deus excede a quantos prazeres possam oferecer os sentidos e o mundo: "E a paz de Deus, que está acima de todo o entendimento, guarde os vossos corações e os vossos espíritos em Jesus Cristo" (Fl IV, 7).

Donde, devemos pedir sempre o amor de Deus, a sua graça e a perseverança neles; pedir forças a Nosso Senhor para sofrermos com paciência todas as cruzes que Ele nos destinar, já que merecemos a separação e o fogo eternos se perdida a graça tivéssemos morrido assim. Devemos estar resolvidos a servir unicamente a Jesus Cristo, mesmo que for necessário vencer todo respeito humano. Devemos procurar agradar só a Jesus, e fazer de tudo para evitar o pecado mortal, e lutar também por evitar o venial.

Só quero viver na graça de Deus, e quero, pelas graças atuais, crescer sempre mais na graça santificante.

EXEMPLO: 1 - A irmã Carmelita Santa Maria Madalena de Pazzi recebeu um dia de Deus uma revelação especial acerca da suprema preciosidade e beleza da graça santificante na alma. Entrou em êxtase. Tornada a si, a santa, não podendo descrever quanto vira, porque não encontrava palavras apropriadas, contentou-se em dizer que "se uma alma, adornada com a graça santificante, conhecesse o amor e a estima que goza junto de Deus, morreria por excesso de alegria; e  disse que, caso oposto, "desejaria voltar para o nada, se visse a sua fealdade quando está privada da graça".

2 - Dizia S. Brígida que ninguém seria capaz de ver a beleza de uma alma em estado de graça, sem morrer de alegria. Santa Catarina de Sena, ao contemplar uma alma em estado tão feliz, disse que preferia dar sua vida para que aquela alma jamais viesse a perder tanta beleza. Era por isso que a Santa beijava a terra que os sacerdotes pisavam, considerando que por seu intermédio recuperavam as almas a graça de Deus. Amém!

  

terça-feira, 13 de outubro de 2020

COMO O DIVINO HÓSPEDE SANTIFICA A ALMA


SENTENÇA: "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens" (Jo I, 4).

REFLEXÕES: Deus, a própria Bondade, quis elevar-nos até Ele. Como? Fazendo-nos participar da sua própria vida. Para tanto, cria em nós um organismo sobrenatural: graça habitual santificante, virtudes infusas, dons do Espírito Santo. E para fazer agir todo este organismo que supera inteiramente toda natureza criada, dá-nos as graças atuais. Cabe a alma acolher com gratidão esta vida divina e aperfeiçoá-la com cuidado, sob a ação da graça atual.

Sem nada tirar do que há de bom em nós, Deus transforma a nossa vida natural numa vida sobrenatural, divinizada. Pela graça santificante, faz-nos semelhantes a Ele (não iguais, pois só Jesus é o Filho por natureza e, portanto IGUAL AO PAI). A graça habitual que nos é dada no santo Batismo, prepara-nos (remotamente) para podermos conhecer a Deus como Ele se conhece e para o amar como Ele se ama. As virtudes infusas e os dons do Espírito Santo (que acompanham a graça habitual) sobrenaturalizam (divinizam) as nossas faculdades naturais e dão-nos o poder imediato de praticar atos meritórios para a vida eterna.

Como Deus é vida, também é luz. Pelas suas graças atuais, Deus dá-nos força e luz. Luz para a inteligência; e força para a vontade. Deus opera em nós o querer e o fazer: "Deus é o que opera o querer e o executar, segundo o seu beneplácito" (Fl II, 13). Assim, os atos que fazemos em estado de graça, na verdade, não são meramente humanos: embora nossos, são divinos. A graça santificante penetra totalmente a vida natural e a transforma em uma vida semelhante à vida de Deus.

Deus opera a nossa salvação e santificação através de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, que, inclusive nos  deixou a sua Igreja com os seus sete sacramentos. Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade, a Vida e a Luz.

Deus quer que, reconhecendo a nossa incapacidade e miséria, peçamos a Ele, com toda confiança, as luzes e a força para praticarmos o bem e evitarmos o mal. Portanto, a nossa salvação será garantida pela oração feita com fé, humildade, atenção, confiança e perseverança. Daí dizer Santo Afonso de Ligório: "Quem reza, se salva".

Aqui na terra, a pessoa em estado de graça vai possuindo a Deus pela fé e pelo amor, de uma maneira inferior como será no Céu, mas verdadeiramente de modo muito superior ao conhecimento natural que se tem pelo razão.  

Em próximos capítulos falaremos mais especificamente de cada um destes elementos do organismo sobrenatural.

EXEMPLO: Nos fins do século III, vivia em Roma uma santa viúva, de família nobre. Seu marido havia sido martirizado, deixando um único filho com poucos meses.

A santa viúva amava ternamente o seu filho, porque era um menino obediente e piedoso. Tinha doze anos de idade, quando se deu o fato que se segue:

 Todos os dias aquela piedosa mãe, pondo-se de joelhos, pedia a Deus que seu amável filho fosse sempre bom; que não se extraviasse como tantos outros meninos que até aos doze anos são anjos de pureza e aos quinze começam a ser demônios de luxúria.

Um dia, estava ela em oração, quando, de repente, seu filhinho abre violentamente a porta do quarto dizendo em voz alta: mamãe, mamãe! A mãe levanta-se de seu genuflexório, e, abraçando-o, pergunta-lhe tremendo de emoção:

--- Que te aconteceu, meu filho?

--- Mamãe, respondeu o menino com voz entrecortada pela fatiga --- mamãe, agora mesmo, quando saia do colégio, o filho do governador, que é pagão, perguntou-me se eu era cristão. E eu,mamãe, respondi como a senhora me ensinou: sou cristão pela graça de Deus.

--- Muito bem, meu filho. E o que ele fez? perguntou a mãe.

--- Mamãe, como é pagão e muito mau, ele deu um forte soco no meu rosto.

Aquela santa mãe sentiu como se aquele soco fosse no seu próprio rosto; mas contendo a emoção e as lágrimas, querendo ver até onde ia a virtude de seu filhinho amado, perguntou-lhe: meu filho, que você fez, então?

--- Mamãe, fiz como Jesus fez e ensinou: perdoei do fundo do coração.

E a mãe não pôde conter as lágrimas pela felicidade que sentiu em ter um filho tão santo que aprendera e colocava em prática a doutrina e os exemplos do divino Mestre.

Naqueles tempos, os filhos de famílias nobres levavam ao pescoço, até a idade viril, pendente dum cordão de ouro, uma bolinha também de ouro. A mãe, tirando o cordão do pescoço do filho, disse-lhe : Filho meu, já não és menino, porque ages como adulto. Por isso, em lugar desta bolinha de ouro, vás trazer ao pescoço outra que vale muito mais que todo ouro do mundo. E a mãe tirou do pescoço um cordão no qual estava suspensa uma bolinha de cristal, dentro da qual via-se uma esponja. Mostrou-a ao filho e disse-lhe: Vês esta esponja que está dentro desta bolinha de cristal? É vermelha..., porque foi empapada de sangue. Meu filhinho, é uma preciosa relíquia porque é o sangue de seu pai! Por ser cristão e confessar a Jesus Cristo, foi condenado a ser lançado às feras. E no anfiteatro foi despedaçado e devorado pelos leões. Quando as feras foram recolhidas, corri até o local do martírio e embebi esta esponja no sangue de seu pai que ainda estava numa poça. Beija, meu filho, é o sangue de seu pai. Até hoje, trouxe esta relíquia sobre o meu coração; a partir de hoje, levá-la-ás sobre o teu. Quero antes, porém, que me prometas três coisas: viverás como cristão, sofrerás como cristão e morrerás como cristão? O menino contemplava sua mãe, sereno e imóvel como um mártir, e disse-lhe: mamãe, pela graça de Deus, farei como papai fez: viverei como cristão, sofrerei como cristão e morrerei como cristão.

E a mãe beijou a esponja, beijou o filhinho, e chorando de emoção, colocou a preciosa relíquia no pescoço do filho.

Aquele angélico rapaz cumpriu a sua palavra. E dois anos depois, foi levado a presença do governador pagão; confessou a nosso Senhor Jesus Cristo e foi devorado pelas feras.

É o grande mártir S. Pancrácio (+ 304) cuja memória é celebrada pela Igreja no dia 12 de maio. Amém!

  

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O QUE DEVEMOS EVITAR EM RELAÇÃO AO HÓSPEDE DIVINO


SENTENÇAS: 1 - "Não extingais o Espírito (Santo)"  (I Ts V, 19).

                          2 - "Não entristeçais o Espírito Santo de Deus"  (Ef IV, 30).

                          3 - "Vós resistis sempre ao Espírito Santo" (At VII, 51).

REFLEXÕES:  S. Paulo adverte-nos que não expulsemos e não contristemos o Espírito Santo. O diácono Santo Estevão lança em rosto dos judeus de cerviz dura, a terrível acusação: "Vós resistis sempre ao Espírito Santo". Portanto, são três coisas que devemos evitar em relação à Santíssima Trindade (por apropriação ao Espírito Santo) que habita em nossa alma: não extinguir (=não expulsar), não contristar e não resistir às suas inspirações.

1 - NÃO EXPULSAR A SS. TRINDADE: Quando alguém tem a infelicidade suma de cometer um pecado grave,  extingue em sua alma a SS. Trindade.  Com o pecado mortal, o pecador expulsa de si o Espírito Perfeitíssimo, Eterno, Criador e Sumo Benfeitor. O pecado mortal acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Onde há o espírito do mundo e do demônio, não pode estar o Espírito de consolação, de verdade e de pureza. Cometer um pecado mortal significa expulsar o Espírito Santo que é Deus, e introduzir em seu lugar, o espírito imundo, que é o Demônio. Nada mais horrível do que isto!!!...

2 - NÃO CONTRISTAR A SS. TRINDADE: Quem comete o pecado venial entristece e trata mal o doce Hóspede Divino. Depois do pecado mortal, o pecado venial é o maior mal sobre a face da terra. É chamado LEVE, mas em relação ao mortal, assim como dizemos que a Terra é pequena em comparação com o Sol. Facilmente entendemos que não pode ser leve o tratar mal em si mesmo o próprio Deus! Normalmente temos todo cuidado em tratar bem os hóspedes. Será que não vamos ter este cuidado justamente com o nosso Pai, Redentor e Santificador que se digna vir habitar na sua pobre criatura?! O pecado venial enfraquece a caridade; traduz uma afeição desordenada pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e a prática do bem moral; merece penas temporais. Não leva ao Inferno, mas, se não for perdoado e reparado em vida, leva ao Purgatório. O pecado venial deliberado e que fica sem arrependimento dispõe-nos pouco a pouco a cometer o pecado mortal.

3 - NÃO RESISTIR À SS. TRINDADE: Isto é, não resistir às inspirações e moções que o Hóspede Divino amorosamente nos dá, desejando operar a nossa santificação e salvação.

Os pecados que o Catecismo chama contra o Espírito Santo não têm perdão nem neste mundo e nem no outro. A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna.

PARÁBOLA:  Havia um grande e poderoso rei. Só tinha um filho que foi morto por um seu inimigo por inveja. Um dia este rei, descendo a escadaria de seu palácio, encontrou estendido no último degrau, um menino mendigo, maltrapilho, coberto de feridas purulentas. Era horrível de ver e exalava um mau cheiro horrível. O bondoso rei comoveu-se. Tomou a pobrezinho em seus braços e levou-o a seu quarto e ali começou a cuidar dele como se fosse o seu filho. Logo depois, mandou vir os melhores médicos e ele mesmo com suas próprias mãos aplicava-lhe os medicamentos. O pobrezinho ficou curado. O rei vestiu-o de seda. Chegado, aquele rapaz, aos vinte anos, o rei adotou-o como filho. Agora com toda saúde, belo como um príncipe. O rei amava-o ternamente. E assim eis aquele que fora um menino mendigo e coberto de feridas, agora é o filho do rei.

Num gesto de altíssimo amor, um dia o rei disse ao seu filho adotivo: Passarei todo meu reino para seu nome. Mas, como te amo, quero ficar junto de você no seu palácio.

Foram feitos os documentos e o rei assinou-os. Mas, não demorou muito, o filho adotivo começou a tratar mal o seu pai e benfeitor. Conversava pouco com ele, e mesmo assim não prestava muita atenção nas conversas. Não dava a mínima atenção aos conselhos do experiente e sábio rei. Estas indelicadezas e resistências foram aumentando até que um dia, o filho adotivo agarrou o rei pelo braço, lançou pela escadaria abaixo dizendo: fora daqui. E o rei expulso teve a tristeza que ver que o seu filho adotivo recebia com honras em seu palácio o assassino de seu filho verdadeiro.

Na verdade, nenhuma imaginação conseguirá pintar em parábolas a rebeldia horrível e a monstruosa ingratidão do pecador para com seu Pai do Céu!

Arrependo-me, Senhor, de todo o coração de Vos ter ofendido e ter correspondido tão mal aos Vossos numerosos benefícios. Amém!

 

 

 

 

 

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

OS NOSSOS DEVERES PARA COM O HÓSPEDE DIVINO


SENTENÇA: "Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém!" (Doxologia dos primeiros cristãos).

REFLEXÕES: A vida cristã consiste, antes de tudo, numa união íntima, afetuosa e santificante com as três Pessoas divinas.

São três os nossos deveres para com o Hóspede Divino, que é a SS. Trindade, (mas que, por apropriação, atribui-se ao Espírito Santo).

1 - ADORAR: glorificar, bendizer e dar graças ao Hóspede divino. "Adorar, diz Bossuet, é  o reconhecermos em Deus a mais elevada soberania; e reconhecermos em nós a mais profunda dependência". De manhã rezamos: Santíssima e Augustíssima Trindade, Deus Uno em Três Pessoas; eu, pobre e miserável criatura, me prostro em vossa presença e vos adoro com a mais profunda humildade... No início e término das ações diárias devemos dizer: Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; e rezar: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo... Na oração da noite assim rezamos: "Dulcíssimo Coração de Jesus... fazei que as palpitações do meu coração sejam outros tantos louvores que ofereçais, por mim, à SS. Trindade. Fazei que o meu respirar se torne em atos de ação de graças e de afetos inflamados de amor por Vós..."

2 -  AMAR: Deve ser um amor repassado de confiança. Docemente, o nosso Pai do Céu pede este amor: "Dai-me, meu filho, o teu coração" (Prov. XXIII, 26). O nosso amor a Deus deve ser um amor de amizade: na oração conversamos com o mais fiel e generoso dos amigos; levados por este amor, abraçamos todos os interesses de Deus, procuramos Sua glória, fazemos glorificar o Seu santo nome. Deve ser um amor reconhecido, dando sempre ações de graça ao maior e mais insigne Benfeitor; um amor penitente, para expiar as nossas tão numerosas infidelidades. Enfim, o nosso amor ao Divino Hóspede, deve ser generoso, que vai até ao sacrifício, à renúncia da própria vontade, à aceitação de todas as provações.

3 -  IMITAR: Pureza de corpo e alma; e procurarmos ser santos, por que Deus é santo. É, pois, necessário purificar e adornar incessantemente um templo onde reside o próprio Deus. Jesus disse: "Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito". Deus elevou-nos à maior nobreza: ser Seus filhos, e tornou a nossa alma Sua morada. A nobreza obriga! Devemos procurar ser parecidos o mais possível com o nosso Pai do Céu. Mas como imitar a Trindade, cuja santidade é INFINITA?  Não esqueçamos que a SS. Trindade está em nossa alma, justamente para santificá-la. O Filho de Deus fez-se homem como nós, viveu a nossa vida, abraçou as nossas enfermidades, exceto o pecado e tornou-se, assim, o caminho que devemos trilhar para chegarmos ao Pai. Imitar o Filho é imitar o Pai, porque o Filho procede sempre segundo a vontade do Pai.

Mas na imitação da SS. Trindade, devemos destacar a CARIDADE FRATERNA: "Que todos sejam um, como tu, meu Pai, o és em mim e eu em ti , para que eles sejam um em nós" (Jo XVII, 21). E S. Paulo  pede a caridade mútua alegando: "Há um só Deus e Pai de todos... que atua por todas as coisas e reside em todos nós"  (Ef IV, 6).

EXEMPLO: Santa Genoveva nasceu perto de Paris e era pastorzinha desde criança. Contando sete anos, passou por lá o bispo S. Germano, e vendo-a no meio da gente, quis saber o seu nome. Ela respondeu: Chamo-me Genoveva.  S. Germano perguntou-lhe se ela amava a Jesus e Nossa Senhora. Ela respondeu: Amo a Jesus porque Ele é meu Deus, e amo a Maria porque ela é a mãe de meu Deus. Então o santo deu-lhe de presente uma cruzinha que ela levou ao pescoço toda a sua vida. Era Genoveva um anjo de pureza, paciência e caridade. Por isso o demônio, invejoso, mandou-lhe uma mulher má para roubar-lhe a inocência. Genoveva pegou rapidamente a cruzinha  e apresentou-a àquela malvada, que no mesmo instante ficou cega. Depois a mulher se arrependeu e pediu perdão a Deus e a Genoveva, que, fazendo de novo o sinal da cruz sobre a penitente, restituiu-lhe a vista do corpo e a saúde da alma.

"Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós? Amém!

 

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O DEMÔNIO DO ABORTO


SENTENÇA: "Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino dos céus" (   ).

REFLEXÕES: A própria ciência ensina que a vida humana inicia-se no primeiro momento da concepção. A Igreja ensina que neste momento Deus cria a alma. O pecado original também é dogma da Igreja.

Lúcifer e seus anjos maus ou demônios, têm ódio a Deus. Não podendo, porém, fazer nada contra Deus, procuram prejudicar o que Deus mais ama, que são as almas. A maior prova deste amor divino às almas é Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus feito Homem para salvá-las. E Jesus derramou todo seu Sangue para resgatá-las das garras do demônio e para santificá-las. Para isto instituiu os sacramentos. Pelo batismo Deus nos adota como seus filhos, participando realmente (embora de maneira limitada) de sua própria natureza, pela graça santificante.  

Uma criança inocente (e que alma mais inocente do que a que anima o corpinho da criança no seio materno?) constitui as delícias do Coração de Jesus. Pois bem, é sobre as criancinhas que o demônio descarrega o maior ódio. Por isso, segundo o testemunho de satanistas convertidos, o demônio  procura (especialmente nestes últimos tempos) praticar abortos. Mas por que o demônio tem este intento? Por três motivos: 1º - pelo ódio que tem a Jesus cuja predileção às crianças inocentes deixou bem clara nos Evangelhos; 2ª - porque com o aborto as criancinhas não são batizadas, i. é, não recebem a graça santificante, que tira o pecado original (primeira  obra  da inveja diabólica)  e faz a criancinha ser filha de Deus; 3ª - por ódio a Jesus que é o Filho de Deus que se fez Homem no seio puríssimo de Maria, e desde aquele primeiro momento disse: "Eis que venho, ó Pai, para fazer a vossa vontade" (Hb X, 9). E Deus Pai quis que seu Filho viesse a este mundo para vencer o demônio. Não podemos calcular a inveja e o ódio de Lúcifer! "O dragão parou diante da mulher que estava para dar à luz, a fim de devorar o seu filho" (Ap XII, 4). A Bíblia não o diz, mas S. Tomás é de opinião que a prova que Deus deu aos Anjos foi a revelação a eles do mistério da Encarnação do seu Filho. E, certamente, através de uma mulher: "feito de uma mulher" (Gl IV, 4). Não será por isso que  a primeira profecia indicando o Salvador, foi feita pelo próprio Deus colocando com protagonista uma mulher? (Gn III, 15). 

A virgem Maria sempre esmagou a cabeça da serpente infernal. As mães  que procuram se santificar (como diz S. Paulo em I Cor II, 15) pela fé, educação dos filhos e modéstia vencem também o demônio. Mas, infelizmente, muitas se entregam a este Homicida, máxime, as que praticam aborto. Com relação às criancinhas que nasceram, o demônio também tem ódio, porque Jesus disse que para se ir ao Céu,  é necessário ter a humildade e a inocência das crianças. O diabo procura tirar a inocência das crianças e já está trabalhando, inclusive, para que o crime horrendo da pedofilia seja legalizado, como já foi o aborto em vários países.

NB.: Estas crianças vítimas de aborto não irão para o Céu, por não terem recebido o batismo? Na verdade, a existência do Limbo das crianças, não é dogma. Vinha sendo aprovada pela Igreja a opinião que afirmava a sua existência, mas, no  CIC, nº  1261 diz..."A ternura de Jesus para com as crianças que o levou a dizer: 'Deixai as crianças virem a mim, não as impeçais' (Mc 10, 14), nos permite esperar que haja um caminho de salvação para as crianças mortas sem Batismo".  Penso que estas crianças vão para o Céu, assim como foram as que Herodes matou, os Santos Inocentes (festa no dia 28 de dezembro). A mesma razão humana recusa-se a aceitar que a sorte dos inocentes tenha sido melhor antes da vinda e morte do Salvador... O demônio  que mata os inocentes por ódio a Jesus, é o mesmo que dominou Herodes. De um mal Deus tira um bem, e assim o demônio é vencido.  O demônio nunca jamais sairá vitorioso contra Deus.

EXEMPLO: 1º - Há uma lenda que serve de verdadeira parábola: No dia dos Santos Inocentes (28 de dez.) sobre o túmulo de Herodes voam milhares de anjos de nívea brancura. Herodes espavorido, sai do túmulo em figura horrível  de um tição com asas de morcego. Sai voando e procura se esconder em uma escura caverna. Os anjinhos reluzentes voam atrás daquele monstro, que não tem sossego. Sai dali o monstro e se esconde numa densa floresta. Os anjinhos voam ao seu encalço. Herodes sai dali e os anjinhos acompanham-no como birros atrás do gavião. Até que Herodes , não agüentando mais, pára e volta-se para aquelas criancinhas  reluzentes com brilho celestial: "por que vocês me perseguem - diz Herodes  - e mostrando uma casa, acrescenta: naquela casa habita uma mulher muito mais criminosa do que eu, porque matou o próprio filho em seu próprio seio". E os anjinhos deixam de persegui-lo.

2º - Cheguei a uma paróquia como coadjutor. Procuraram-me e pediram que fosse a uma casa que há anos vinha sendo atacada por algo invisível: pedras e barro eram jogados, e um menino, filho adotivo, era atacado por este "ser" invisível. Todos da casa achavam que era o demônio e o pároco havia várias vezes benzido a casa, inclusive, com o santíssimo sacramento. Mas, tudo em vão. Pela experiência que eu já tinha, desconfiei que aquele rapazinho não era batizado. Tinha feito a 1ª comunhão e comungava  frequentemente. Pedi, porém, que seus pais  adotivos, verificassem bem sobre o batismo dele. E descobriram que não fora batizado validamente (seus pais tinham sido espíritas). E o "Encardido" (para usar uma expressão do saudoso P. Leo) continuou fazendo as dele. A partir do batismo, porém, a paz voltou a reinar naquela casa.  

Lição: Deus permitiu que o demônio fizesse aquelas infestações para que o menino recebesse o santo Batismo. Amém!

  

terça-feira, 6 de outubro de 2020

A SS TRINDADE MORA NA ALMA EM ESTADO DE GRAÇA


SENTENÇA: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele a nossa morada" (Jo XIV, 23).

REFLEXÕES: A alma que verdadeiramente ama a Jesus, e portanto, observa os seus mandamentos, é amada pelo Pai, e o Pai vem a ela com o Filho e o Espírito Santo. A SS. Trindade não vem para uma simples visita, mas para fixar uma morada. E Deus mora nesta alma para sempre, só dela se afastando, quando a pessoa tem a desgraça de expulsá-Lo com um pecado grave.

Sabemos que Deus está em toda parte porque é infinito, porque tudo governa com seu poder, e é por Ele que todas as criaturas subsistem, porque elas não tendo em si a razão de sua existência, são sustentadas no ser, pela Essência divina: "É n'Ele que temos a vida, o movimento e o ser" (At XVII, 28).

Mas a presença sobrenatural de Deus na alma em estado de graça é muito superior e mais íntima. Vejam: o Pai vem até nós e em nós continua a gerar o seu Filho, o Verbo. E o Pai e o Filho se amam infinitamente, e deste Amor procede o Espírito Santo, a terceira Pessoa, que é igual ao Pai e ao Filho. Deus é a Vida Eterna em nós com a graça santificante. Assim se expressa S. Paulo: "O amor de Deus está em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm V, 5). Por isso que a graça santificante é já o início da vida eterna, é a semente da Glória.

Pela graça santificante, o Pai adota-nos como filhos. Torna-nos participantes da própria NATRUEZA DIVINA. Não é só um nome de filho, i. é, uma ficção, mas uma participação REAL, embora, limitada, porque só o Verbo tem a plenitude da divindade e é igual ao Pai e ao Espírito Santo: "Vede que amor nos testemunhou o Pai, determinando que sejamos chamados filhos de Deus, e que o sejamos com efeito" (I Jo III, 1).

O Filho também veio habitar na alma em estado de graça. Assim Ele nos chama de irmãos e amigos. Após a Ressurreição diz a Madalena: "Vai a meus irmãos e diz-lhes: subo para meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus" (Jo XX, 17). "Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos (Jo XV, 13). E é uma amizade íntima. O autor do Livro da Imitação de Cristo mostra conhecer a convivência íntima com Jesus quando descreve as visitas que Jesus faz às almas interiores, os suaves colóquios que trava com elas; as consolações espirituais, a paz e a familiaridade que lhes concede.

O Espírito Santo vem para santificar, dar força, luz e adornar a alma com todas as virtudes e com seus dons. Torna a alma em estado de graça num templo vivo de Deus. Diz S. Paulo: "Não sabeis que sóis templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?"  (I Cor III, 16 e 17).

EXEMPLO: Os Santos não só crêem, mas vivem a sua fé. Santa Catarina de Sena, sempre, subindo ou descendo as escadas, a todo momento, dizia: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Um dia, já havia rezado: "Glória ao Pai...", quando, de repente viu Jesus radiante de luz que subia a seu lado. E ela, inclinando-se para o Redentor, continuou: "e a Ti..." e ao Espírito Santo.

Um jovem estudante em Turim, Pier Giorgio Frassati, era muito ligado à sua fé. Lendo este episódio na vida de Santa Catarina de Sena, ficou entusiasmado com ele. Tomou a resolução de rezar muitas vezes ao dia este louvor à SS. Trindade. Frassati foi um católico fervoroso e morreu em odor de santidade. Amém!

 

  

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A SANTÍSSIMA TRINDADE


SENTENÇA: "Ide,  ensinai a todos os povos (fazendo-os meus seguidores) e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt XXVIII, 19).

REFLEXÕES:  No Batismo de Jesus deu-se a revelação das três Pessoas da SS. Trindade.

Os Símbolos de fé são um resumo admirável de todos os artigos de nossa fé. E as verdades de fé neles professadas são articuladas em referência às três Pessoas da Santíssima Trindade.  Esse mistério foi revelado por Jesus Cristo; é a fonte de todos os outros e o ponto central de toda vida cristã.

Deus é uno porque é uma natureza para as três pessoas. Deus é Trino, porque são três Pessoas iguais mas distintas. Assim: Inseparáveis na sua única substância, as Pessoas divinas são inseparáveis também em suas operações: a Trindade tem uma só e mesma operação. Mas no único agir divino cada Pessoa está presente segundo o modo que lhe é próprio na Trindade. O Pai tem a Paternidade, porque,  desde toda a eternidade, gera por via de inteligência, o Filho. O Filho tem  a Filiação; e o Espírito Santo procede deste toda eternidade, do amor do Pai e do Filho.

Em Teologia há uma coisa chamada "APROPRIAÇÃO": as obras fora de Deus são comuns às três Pessoas. Quanto ao mistério da Encarnação, é só o Filho que se encarnou. Mas, sendo Jesus Cristo também Deus, é igual ao Pai e ao Espírito Santo. Donde, os mistérios da Encarnação e Redenção são obras das três Pessoas divinas. Mas, por APROPRIAÇÃO, atribuímos ao Pai, todas as obras de poder, como, por exemplo, a Criação; e atribuímos as obras de sabedoria ao Filho; e as obras de amor, como p. ex. a nossa santificação, atribuímos ao Espírito Santo, porque Ele procede do Pai e do Filho por via de amor.

Todos os fiéis são chamados à santidade cristã; pois, a santidade é a plenitude da vida cristã e perfeição da caridade. E esta plenitude se realiza na união íntima com Cristo e, n'Ele,  na união íntima com a Santíssima Trindade (Cf. Comp. do CIC, nº 428). A oração cristã, pois, é relação pessoal e viva dos filhos de Deus com o seu Pai infinitamente bom, com o Filho Jesus Cristo e com o Espírito Santo, que habita neles pela graça santificante.

Veremos, então, que  o importante é vivermos com a Santíssima Trindade. Caso alguém venha ter a infelicidade de perder a Deus  por um pecado mortal, deve logo recuperá-Lo por uma confissão bem feita, ou com um ato de contrição perfeita com o desejo de receber a absolvição sacramental logo quando puder.

EXEMPLO:  O genial doutor da Igreja S. Agostinho escreveu um Tratado Teológico sobre a SS. Trindade; e gastou 16 anos nos seus 15 livros (400 a 416). Conta-se uma formosa e simbólica lenda sobre isto: Estando a compor essa obra, e indo, como de costume, num lugar recolhido à beira mar, viu de repente na sua frente um lindo menino. Reparou que o pequeno tinha cavado na areia um buraquinho e estava colocando a água do mar naquela covinha. Perguntando o santo pelo que estava fazendo, o menino (=anjo) respondeu que pretendia passar toda o oceano para aquele buraquinho. __  "Menino mas isso é impossível", disse S. Agostinho. Aí replicou o pequeno: "Pois é mais fácil eu passar todo o mar para este buraquinho do que tu colocares o inefável mistério da SS. Trindade em seu pequeno livro". "Si non è vero, è bene trovato".

No Livro VI, c. 10, nº 12 diz S. Agostinho:  "Cada uma das Pessoas divinas está em cada uma das outras, e todas em cada uma, e cada uma em todas estão em todas, e todas são somente um" (A TRINDADE).

Toda comparação claudica. E para diminuir as falhas da comparação, é necessário fazermos também puras suposições. Suponhamos um Sol eterno e em formato não circular mas de um triângulo equilátero. O sol é fogo, calor, luz. Escrevemos em um lado PAI; no outro FILHO; no terceiro ESPÍRITO SANTO. Devemos considerar cada lado mas olhando para todo o triângulo: vemos fogo, calor, luz. Deste toda eternidade o fogo gera o calor e do fogo e do calor procede a luz. Apliquemos isso às palavras supracitadas de S. Agostinho.

É bom, porém, lembrar a lição do "anjinho!". Dobremos sim o joelhos e adoremos!!! Amém!

  

domingo, 4 de outubro de 2020

PENSAR EM DEUS

 

SENTENÇA: "Por que é que o pecador não quer pensar em Deus? Porque sente que contraiu grandes dívidas para com Deus. Cada qual evita ansiosamente a casa do seu credor".  (D. Tihamer Tóth - "A Casta Adolescência").

REFLEXÕES: Quando uma criança começa a não ter gosto pela oração (que é conversar com Deus); quando acha incômodos os exercícios espirituais (p. ex. o santo Terço); quando não se sente bem na Santa Missa e já não tem aquela alegria franca de antes, é aconselhável que faça uma boa confissão. Se se afastar também da confissão, corre o risco de ficar indiferente à Religião, e até mesmo pode chegar a perder a fé. Se alguém quiser ficar convencido das verdades eternas, não é preciso multiplicar provas, mas sim é urgente purificar o coração.  É mister pagar a dívida dos pecados lavando a alma no Sangue de Jesus através do sacramento da Penitência.

Devemos ser fortes na fé. E, assim como o corpo se fortifica pelo alimento, a fé se fortifica pela audição da palavra de Deus. A alma tem necessidade do alimento da oração, da meditação das verdades aprendidas no catecismo e nas pregações.

Quando a fé diminui, também diminuem as forças da alma. Uma alma sem fé viva, é uma alma anêmica.

O ateísmo (mesmo o prático) geralmente vem de duas enormidades: um enorme orgulho e uma enorme imoralidade. A história da humanidade prova que a causa universal da apostasia da fé é a apostasia da pureza. Daí compreende-se que, pela televisão (sobretudo pelas novelas), pela Internet e celular (empregados infelizmente para o mal), muitas almas estão perdendo a fé e não podem mais agradar a Deus.  Não gostam mais das coisas da Religião (oração, liturgia, doutrina  e sacramentos) justamente porque a Religião nos liga a Deus, e essas pessoas não querem nem pensar em Deus.

EXEMPLOS: 1º - O ímpio Georges Clemenceau (1841-1929), político francês, chefe da extrema esquerda (depois rompeu com o Socialismo), antes da morte escreveu ao seu amigo Hervé: "Vou deixar o mundo. O amigo sabe que durante toda a minha vida desprezei a Religião. Agora, porém, tenho certeza que é impossível construir a ordem na sociedade sobre a irreligião. Se eu tivesse compreendido antes, teria confessado a Religião sem ter medo de ser escarnecido. Dou-lhe licença de publicar esta minha confissão para servir de lição para a jovem geração".

2º - O Santo Cura d'Ars chamou um homem que estava sentado no banco da igreja: "Filho, vem ao confessionário, e vou te ajudar fazer a confissão". O homem recusou dizendo que tinha muitas dúvidas contra a fé.  Mas com a insistência do padre, foi ao confessionário. O santo ajudou-o a fazer a sua confissão e, tendo dado a absolvição, disse ao penitente: "Filho exponha agora as suas dúvidas contra a fé". O homem respondeu: "Padre, agora não estou sentindo nenhuma duvida".

"BEM-AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO, PORQUE VERÃO A DEUS" (Mt V, 8). Amém!

sábado, 3 de outubro de 2020

DEUS É AMOR

 

SENTENÇA: "Onde a caridade e o amor, Deus aí está" (Ant. na cerimônia do Lava-pés).

REFLEXÕES: Deus é o Sumo Bem, é a Bondade, logo é Amor. E há um axioma filosófico que diz: "O Bem é difusivo de si mesmo". Deus é o Bem Supremo e, em Si mesmo, é a Beatitude infinita. Eternamente há uma comunicação essencial em Deus, pela qual o Pai e o Filho juntos, dão procedência ao Espírito Santo e Lhe comunicam, por via de amor, a sua própria e única divindade. Mas, o Sumo Bem, a Bondade Infinita, quis livre e amorosamente, comunicar suas perfeições a outros seres, que Ele tirou do nada.

"Conhecemos e cremos na caridade que Deus tem por nós. Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele" (I Jo IV, 16). Deus , infinitamente perfeito e feliz em si mesmo, por puro amor, criou livremente o homem para fazê-lo participar da sua vida bem-aventurada. Mais: na plenitude dos tempos, Deus Pai enviou seu Filho como Redentor e Salvador dos homens caídos no pecado, convocando-os para sua Igreja e tornando-os filhos adotivos por obra do Espírito Santo e herdeiros da sua eterna bem-aventurança. Toda nossa vida seria insuficiente para meditar em tanto amor...!

Como Deus é Eterno,  para Ele tudo é presente. Donde, nos amou desde toda a eternidade: "Amei-te (diz Deus) com um amor eterno, por isso, compadecido de ti, te atraí a mim" (Jr XXXI, 3).

O Filho de Deus feito Homem, Jesus Cristo , amou-nos de tal modo que, sendo rico, fez-se pobrezinho por nós, sendo o Rei dos reis, fez-se servo. "Ó inestimável excesso de teu Amor! Para remir o servo, entregaste o teu Filho" (Precônio pascal). "No presépio fez-se nosso irmão, na Ceia, nosso alimento; na Cruz, nosso resgate, no Céu, nossa recompensa" (S. Tomás).

Amor se paga com amor. Quem faz da carne, do dinheiro e do "eu", os seus deuses, é um idólatra. "Quem não amar a Nosso Senhor, seja amaldiçoado" (I Cor XVI, 22). "Somos dominados pelo amor que Cristo tem por nós... Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou para o bem deles" (II Cor V, 15). 

Nossa vida deve ser amor: amor a Deus e amor ao próximo por Deus. Amamos os irmãos porque são filhos de Deus, ou para que o sejam. Jesus Cristo, por amor, quis ser o Primogênito entre os irmãos (Cf. II Cor VIII, 29). Amamos a Deus em todos e em tudo. Pois,todas as coisas no universo são obras do amor de Deus.

EXEMPLO:  Um homem teria que ter a língua amputada por causa de um cancro. Prestes a receber a anestesia, disse aos seus familiares: "Eu vos amo em Cristo Jesus". E suas últimas palavras foram: "Meu Pai do Céu, eu Vos amo; louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!"

PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU, SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME... Amém!

 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

DEUS É PAI


SENTENÇA: "Creio em Deus Pai" (Credo). "Pai Nosso que estais no Céu" (Mt VI, 9).

REFLEXÕES: O  3º Catecismo  apresenta as razões pelas quais se dá a Deus o nome de Pai: 1º porque é Pai, por natureza, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, isto é, do Filho por Ele gerado; 2º porque Deus é Pai de todos os homens, que Ele criou, conserva e governa; 3º porque é Pai, pela graça, de todos os cristãos, os quais por isso se chamam filhos adotivos de Deus.

O  Catecismo mostra porque Jesus ensinou-nos a dizer Pai nosso e não Pai meu: "porque todos somos seus filhos, e portanto, devemos considerar-nos e amar-nos todos como irmãos, e orar uns pelos outros".

O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 46 diz: "Jesus Cristo nos revela que Deus é "Pai", não somente porque é Criador do universo e do homem, mas sobretudo porque gera eternamente em seu seio o Filho, que é o seu Verbo, "resplendor da glória do Pai, expressão de seu ser" (Hb I, 3). E no nº 583: "Podemos invocar o "Pai" porque o Filho de Deus feito homem no-lo revelou e o seu Espírito no-lo fez conhecer. A invocação do Pai nos faz entrar no seu mistério com uma admiração sempre nova e suscita em nós o desejo de um comportamento filial. Com a oração do Senhor, estamos, portanto, conscientes de ser filhos do Pai no Filho".

Sabemos que Deus é Majestade infinita, é o Senhor Supremo, mas o próprio Jesus quis que nos dirigíssemos a Ele invocando-O como pai. Os autores espirituais dizem que esta consideração da Paternidade de Deus é importantíssima na ascese espiritual. O P. Faber diz: "Não há verdade mais certa do que esta: Deus é nosso Pai, e o que há de mais terno e de mais suave em toda a paternidade da terra não é senão uma ínfima sombra da doçura sem limites e da afeição de sua paternidade no céu. A beleza e a consolação de tal ideia excedem quaisquer palavras".

Santa Teresa diz: "Se digo: "Pai nosso", pede o amor que compreenda quem é esse nosso Pai e qual o Mestre que nos ensinou esta oração... Já não seria excessivo, Senhor, no fim da oração conceder-nos a graça de chamar-vos nosso Pai? Mas vós nos encheis as mãos e fazeis logo no começo tão grande favor... Pelo fato de n'Ele existir a perfeição de todos os bens, forçosamente é melhor que todos os pais do mundo".

EXEMPLO: Sóror Genoveva da S. Face (Celina) conta o seguinte  de sua irmã Sóror Teresa do Menino Jesus: Um dia, entrei na cela da nossa querida Irmãzinha e fiquei impressionada com a sua expressão de grande recolhimento. Cosia ela ativamente e contudo parecia perdida numa profunda contemplação. Perguntei-lhe em que pensava. E ela respondeu-me: "Medito no Pai-Nosso; é tão doce chamar ao bom Deus nosso Pai!..." E as lágrimas brilharam-lhe nos olhos.

SANTA TERESINHA, ENSINAI-ME A AMAR O MEU PAI DO CÉU! Amém!

 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

QUEM É DEUS

 

SENTENÇA: "Eu sou Aquele que sou (YHWH)" (Ex III, 14).

REFLEXÕES: Como Deus é infinito, só Ele poderia dar de Si a definição. E Deus se dignou dizer quem Ele é: JAVÉ = Aquele que é. Somente Deus é em si mesmo a plenitude do Ser e de toda Perfeição, ao passo que as criaturas receberam d'Ele tudo o que são e têm. Deus é "Aquele que é". E, por isso, é Eterno, isto é, não teve princípio nem terá fim. Deus é a Vida por excelência, é o Ser que existe por si mesmo. É o Ser necessário (=q. não pode deixar de existir), enquanto as criaturas são entes que existem porque Deus deu-lhes a existência e sustenta, a todo momento, esta existência, já que a criatura não tem em si a razão de seu existir.

A Eternidade de Deus: "É a posse plena e simultânea da vida, sem princípio e sem fim" (Boécio). Deus é o Ser sumamente SIMPLES. Em teologia, "simples" quer dizer que não tem composição. Deus é o Puríssimo Espírito Perfeitíssimo. Deus não tem a mínima composição; pois, sua existência é idêntica à sua essência. Em outras palavras: a essência de Deus é Ser = Aquele que é. Assim Deus é o Ser, é a Perfeição,  é a Bondade, é o Amor, é a Vida, é a Justiça, é a Misericórdia etc. Deus é uno, é infinito, é imenso, é onisciente, é onipotente, é  onipresente (Este prefixo "oni" vem do latim = "omnis" =todo. Daí as palavras: Onipotente, Onisciente, Onipresente).

Pela definição dada pelo próprio Deus =JAVÉ, dizemos que Deus é o SER. Cada coisa que existe é um ser. p. ex., a pedra é ser, a planta  é ser, o bruto é ser, o homem  é ser, o anjo é ser. Deus também é  Ser, mas não é qualquer ser. Ele é o Ser perfeitíssimo Criador e Senhor do Céu e da Terra; isto é, aquele SER de quem vêm todos os outros; por isso não dizemos que Deus é um Ser, mas que é O SER, isto é, o Ser por excelência, o Ser Supremo, o Ser de quem dependem todos os outros.

EXEMPLO: Êxodo III, 1-15. Resumo: Moisés chegou ao monte de Deus, ao Horeb (=Sinai). Deus apareceu-lhe em forma de fogo numa sarça que ardia mas não era consumida pelo fogo. Como Moisés quisesse se aproximar, Deus disse que não o fizesse, porque aquele lugar era santo e, mandou que tirasse as sandálias. Moisés obedeceu e também cobriu o rosto não se julgando digno de olhar para Deus. O Senhor viera confiar a Moisés a empresa de tirar o seu povo da escravidão do Egito e conduzi-lo  a uma terra boa, espaçosa e rica. Moisés perguntou-Lhe  qual era o seu nome para responder aos Israelitas se lho exigissem. O Senhor lhe disse: EU SOU AQUELE QUE SOU (hebraico  =Javé): assim dirás aos filhos de Israel: AQUELE QUE É me mandou s vós.

MEU DEUS E MEU TUDO! Amém!