terça-feira, 13 de outubro de 2020

COMO O DIVINO HÓSPEDE SANTIFICA A ALMA


SENTENÇA: "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens" (Jo I, 4).

REFLEXÕES: Deus, a própria Bondade, quis elevar-nos até Ele. Como? Fazendo-nos participar da sua própria vida. Para tanto, cria em nós um organismo sobrenatural: graça habitual santificante, virtudes infusas, dons do Espírito Santo. E para fazer agir todo este organismo que supera inteiramente toda natureza criada, dá-nos as graças atuais. Cabe a alma acolher com gratidão esta vida divina e aperfeiçoá-la com cuidado, sob a ação da graça atual.

Sem nada tirar do que há de bom em nós, Deus transforma a nossa vida natural numa vida sobrenatural, divinizada. Pela graça santificante, faz-nos semelhantes a Ele (não iguais, pois só Jesus é o Filho por natureza e, portanto IGUAL AO PAI). A graça habitual que nos é dada no santo Batismo, prepara-nos (remotamente) para podermos conhecer a Deus como Ele se conhece e para o amar como Ele se ama. As virtudes infusas e os dons do Espírito Santo (que acompanham a graça habitual) sobrenaturalizam (divinizam) as nossas faculdades naturais e dão-nos o poder imediato de praticar atos meritórios para a vida eterna.

Como Deus é vida, também é luz. Pelas suas graças atuais, Deus dá-nos força e luz. Luz para a inteligência; e força para a vontade. Deus opera em nós o querer e o fazer: "Deus é o que opera o querer e o executar, segundo o seu beneplácito" (Fl II, 13). Assim, os atos que fazemos em estado de graça, na verdade, não são meramente humanos: embora nossos, são divinos. A graça santificante penetra totalmente a vida natural e a transforma em uma vida semelhante à vida de Deus.

Deus opera a nossa salvação e santificação através de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, que, inclusive nos  deixou a sua Igreja com os seus sete sacramentos. Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade, a Vida e a Luz.

Deus quer que, reconhecendo a nossa incapacidade e miséria, peçamos a Ele, com toda confiança, as luzes e a força para praticarmos o bem e evitarmos o mal. Portanto, a nossa salvação será garantida pela oração feita com fé, humildade, atenção, confiança e perseverança. Daí dizer Santo Afonso de Ligório: "Quem reza, se salva".

Aqui na terra, a pessoa em estado de graça vai possuindo a Deus pela fé e pelo amor, de uma maneira inferior como será no Céu, mas verdadeiramente de modo muito superior ao conhecimento natural que se tem pelo razão.  

Em próximos capítulos falaremos mais especificamente de cada um destes elementos do organismo sobrenatural.

EXEMPLO: Nos fins do século III, vivia em Roma uma santa viúva, de família nobre. Seu marido havia sido martirizado, deixando um único filho com poucos meses.

A santa viúva amava ternamente o seu filho, porque era um menino obediente e piedoso. Tinha doze anos de idade, quando se deu o fato que se segue:

 Todos os dias aquela piedosa mãe, pondo-se de joelhos, pedia a Deus que seu amável filho fosse sempre bom; que não se extraviasse como tantos outros meninos que até aos doze anos são anjos de pureza e aos quinze começam a ser demônios de luxúria.

Um dia, estava ela em oração, quando, de repente, seu filhinho abre violentamente a porta do quarto dizendo em voz alta: mamãe, mamãe! A mãe levanta-se de seu genuflexório, e, abraçando-o, pergunta-lhe tremendo de emoção:

--- Que te aconteceu, meu filho?

--- Mamãe, respondeu o menino com voz entrecortada pela fatiga --- mamãe, agora mesmo, quando saia do colégio, o filho do governador, que é pagão, perguntou-me se eu era cristão. E eu,mamãe, respondi como a senhora me ensinou: sou cristão pela graça de Deus.

--- Muito bem, meu filho. E o que ele fez? perguntou a mãe.

--- Mamãe, como é pagão e muito mau, ele deu um forte soco no meu rosto.

Aquela santa mãe sentiu como se aquele soco fosse no seu próprio rosto; mas contendo a emoção e as lágrimas, querendo ver até onde ia a virtude de seu filhinho amado, perguntou-lhe: meu filho, que você fez, então?

--- Mamãe, fiz como Jesus fez e ensinou: perdoei do fundo do coração.

E a mãe não pôde conter as lágrimas pela felicidade que sentiu em ter um filho tão santo que aprendera e colocava em prática a doutrina e os exemplos do divino Mestre.

Naqueles tempos, os filhos de famílias nobres levavam ao pescoço, até a idade viril, pendente dum cordão de ouro, uma bolinha também de ouro. A mãe, tirando o cordão do pescoço do filho, disse-lhe : Filho meu, já não és menino, porque ages como adulto. Por isso, em lugar desta bolinha de ouro, vás trazer ao pescoço outra que vale muito mais que todo ouro do mundo. E a mãe tirou do pescoço um cordão no qual estava suspensa uma bolinha de cristal, dentro da qual via-se uma esponja. Mostrou-a ao filho e disse-lhe: Vês esta esponja que está dentro desta bolinha de cristal? É vermelha..., porque foi empapada de sangue. Meu filhinho, é uma preciosa relíquia porque é o sangue de seu pai! Por ser cristão e confessar a Jesus Cristo, foi condenado a ser lançado às feras. E no anfiteatro foi despedaçado e devorado pelos leões. Quando as feras foram recolhidas, corri até o local do martírio e embebi esta esponja no sangue de seu pai que ainda estava numa poça. Beija, meu filho, é o sangue de seu pai. Até hoje, trouxe esta relíquia sobre o meu coração; a partir de hoje, levá-la-ás sobre o teu. Quero antes, porém, que me prometas três coisas: viverás como cristão, sofrerás como cristão e morrerás como cristão? O menino contemplava sua mãe, sereno e imóvel como um mártir, e disse-lhe: mamãe, pela graça de Deus, farei como papai fez: viverei como cristão, sofrerei como cristão e morrerei como cristão.

E a mãe beijou a esponja, beijou o filhinho, e chorando de emoção, colocou a preciosa relíquia no pescoço do filho.

Aquele angélico rapaz cumpriu a sua palavra. E dois anos depois, foi levado a presença do governador pagão; confessou a nosso Senhor Jesus Cristo e foi devorado pelas feras.

É o grande mártir S. Pancrácio (+ 304) cuja memória é celebrada pela Igreja no dia 12 de maio. Amém!

  

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