sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: Aumento da Graça e da Glória

   34. AUMENTO DA GRAÇA E DA GLÓRIA.

   O que se conclui de tudo isto é que cada sofrimento bem suportado pelo justo, cada ação boa, cada ato de virtude feito por ele com reta intenção tem direito a uma nova recompensa - e assim ele vai merecendo o aumento da graça santificante e, cada vez mais, consequentemente, um aumento de glória no Céu. CRESCEI NA GRAÇA e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2ª Pedro III-18). Aquele que é justo, justifique-se ainda; e aquele que é santo, santifique-se ainda (Apocalipse XXII-11).

   Por isto, assim como o pecador que permanece no seu pecado, que peca sempre mais, vai aumentando o seu castigo e a sua desgraça: Pela tua dureza e coração impenitente ENTESOURAS para ti IRA no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus (Romanos II-5), assim também o justo praticando cada dia boas obras, vai aumentando a sua recompensa, o seu tesouro no céus: Não queirais entesourar para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consome e onde os ladrões os desenterram e roubam; mas ENTESOURAI para vós TESOUROS no Céu (Mateus VI-19 e 20). Porque no Céu é desigual a sorte dos bem-aventurados: Aquele que semeia pouco, também segará pouco; e aquele que semeia em abundância, também segará em abundância (2ª Coríntios IX-6). 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: O que o homem pode merecer

   33. O QUE O HOMEM PODE MERECER.

   Depois desta ligeira exposição sobre a doutrina da graça, surge naturalmente uma questão importante: Poderá o homem merecer alguma coisa com relação a Deus?
   Merecer - quer dizer: ter direito a uma retribuição POR JUSTIÇA. E o mérito propriamente dito supõe uma certa proporção, uma certa equivalência entre o ato merecedor e a coisa merecida.
   Sendo assim, o homem não pode merecer a graça primeira. Quem vem a ser a graça primeira? É a passagem do homem do estado de pecado para o estado de graça santificante.
   Todos nós nascemos com o pecado original. É preciso que um dia Deus nos dê a graça santificante. Pois bem, esta graça santificante nos é dada sem merecimento nenhum de nossa parte, por pura bondade e benevolência de Deus. 
  Suponhamos que a recebemos, quando éramos crianças sem uso de razão: o Batismo nos conferiu a graça santificante sem merecimentos nenhum de nossa parte, uma vez que nada tínhamos feito, nem éramos capazes de fazer livremente.
   Suponhamos, porém, o caso de um adulto que recebeu o Batismo. Ele precisou dispor-se para o Batismo, com já vimos, por atos especiais de fé, contrição etc. Porém, por mais boas obras que tenha feito, essas boas obras não têm proporção com a graça santificante que é um dom sobrenatural. A graça santificante vai tornar o homem um filho adotivo de Deus. E o servo, por mais obras que faça, não pode dizer que tem direito POR JUSTIÇA  a ser tratado e considerado como filho. Por outro lado, por maiores que sejam os pecados cometidos até então, desde que haja as necessárias disposições de fé, contrição etc. Deus não nega o Batismo com a consequente reabilitação do pecador; é como uma esmola que basta estender a mão para receber. Além disto, esta graça santificante só nos foi alcançada em virtude da morte redentora de Jesus Cristo que satisfez a Deus em nosso lugar, é um efeito da benignidade de Deus que quis sacrificar o seu Divino Filho, para que o servo se tornasse um filho adotivo. É por isto que diz São Paulo que somos justificados gratuitamente por sua graça, pela redenção que tem em Jesus Cristo (Romanos III-24).E se isto foi por graça, não foi já pelas obras; doutra sorte a graça já não será graça (Romanos XI-6). 

Cada vez, portanto, que passamos do estado de pecado mortal para o de graça santificante, isto Deus nos concede sem merecimento de nossa parte, por pura bondade e misericórdia sua, pois em estado de pecado nada podemos merecer. Para haver o merecimento em nós, é preciso que haja em nossa alma a graça santificante: Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como a vara da videira não pode de si mesmo dar fruto se não permanecer na videira, assim nem vós o podereis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós outros, as varas. O que permanece em mim, e o em que eu permaneço, esse dá muito fruto (João XV-4 e 5).

   Se temos a graça santificante, já as nossas boas ações são sobrenaturalizadas por Jesus Cristo que habita em nós e já se estabelece uma certa proporção entre elas e a recompensa, a visão beatífica que é sobrenatural também. A árvore em que corre esta seiva divina da graça já pode produzir frutos para a vida eterna. Pela graça santificante somos filhos de Deus e se morremos nesta graça, se morremos como filhos, é de justiça que se nos dê a herança da vida celestial, pois quem é filho é também herdeiro. A Escritura está cheia de textos em que o Justo Juiz nos promete um prêmio, um galardão, uma recompensa ou retribuição pelas nossas obras, coroando assim na eternidade os nossos merecimentos. 

   São Paulo diz aos Colossenses: Tudo o que fizerdes, fazei-o de boa mente, como quem faz no Senhor e não pelos homens, sabendo que recebereis do Senhor O GALARDÃO DA HERANÇA (Colossenses III-23 e 24). O mesmo São Paulo compara a vida eterna com o prêmio que se oferece nas competições esportivas, em que muitas vezes o atleta faz sacrifícios, se abstém de muitas coisas, com o pensamento de receber a palma da vitória: Não sabeis que os que correm no estádio correm sim todos, mas um só é que leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que tem de contender de tudo se abstém, e aqueles certamente por alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível (1ª Coríntios IX, 24 e 25). É a glória do céu, que vem coroar aquele que se esforçou, que fez sacrifícios e mortificações para consegui-la (castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão - 1ª Coríntios IX-27), porque, como ele diz a Timóteo, usando a mesma comparação das lutas esportivas: o que combate nos jogos públicos não é coroado, senão depois que combateu conforme a lei (2ª Timóteo II-5).

   É por isto que ele próprio, Paulo, no fim da vida, depois de ter combatido o bom combate, espera uma coroa, mas uma COROA DE JUSTIÇA, realmente merecida pelas suas boas obras juntamente com sua fé e dada pelo JUSTO JUIZ: Eu combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a fé. Pelo mais me está reservada A COROA DE JUSTIÇA que o Senhor, JUSTO JUIZ,  me dará naquele dia; e não só a mim, senão também àqueles que amam a sua vinda (2ª Timóteo IV- 7 e 8). Porque cada um receberá sua RECOMPENSA  particular SEGUNDO O SEU TRABALHO (1ª Coríntios III- 8). Os pequenos sofrimentos, bem aceitos em união com Jesus Cristo, produzem um efeito maravilhoso na vida eterna: O que aqui é para nós uma tribulação momentânea e ligeira, produz em nós, de um modo todo maravilhoso, no mais alto grau, um peso eterno de glória (2ª Coríntios IV-17). E São João diz na sua 2ª Epístola: Estai alerta sobre vós, para que não percais o que HAVER OBRADO, mas antes recebais uma PLENA RECOMPENSA (2ª João vers. 8).

   Esta doutrina dos Apóstolos não é mais do que a própria doutrina de Jesus Cristo que promete claramente no Evangelho a divina recompensa àqueles que sofrem por seu amor, àqueles que renunciam a tudo ou que praticam a caridade em seu nome: Bem-aventurados sois quando vos injuriarem e vos perseguirem e disserem todo o mal contra vós, mentido por meu respeito. Folgai e exultai, porque o VOSSO GALARDÃO é copioso nos céus (Mateus V-11 e 12). E todo o que deixar por amor do meu nome a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as fazendas, receberá CENTO POR UM E POSSUIRÁ A VIDA ETERNA (Mateus XIX- 29). Amai, pois, a vossos inimigos, fazei bem e emprestai sem daí esperardes nada, e tereis MUITA AVULTADA RECOMPENSA (Lucas VI-35). O que recebe um profeta na qualidade de profeta receberá a RECOMPENSA de profeta, e o que recebe um justo na qualidade de justo receberá a RECOMPENSA de justo. E todo o que der a beber a um daqueles pequeninos um copo d'água fria, só pela razão de ser meu discípulo, na verdade vos digo que não perderá a sua RECOMPENSA (Mateus X-41 e 42). 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: Duas causas que se unem e comparações

   29. DUAS CAUSAS QUE SE ENTRELAÇAM.

   Diante do que fica exposto sobre a ação e a necessidade da graça, se vê claramente que dizer que o homem se salva pela sua fé juntamente com suas obras ainda não é dar uma ideia exata da doutrina católica. O homem contribui com sua fé e suas obras para a salvação, mas não pode ter a fé, não pode fazer nenhum ato meritório, nem mesmo ter um pensamento salutar sem a graça divina. Cada ação meritória para a vida eterna é efeito de duas causas que se unem: a ação da graça de Deus alcançada por Cristo na cruz, e a livre cooperação do homem. 

   É por isto que diz São Paulo: OBRAI A VOSSA SALVAÇÃO com temor e tremor, não só como na minha presença, senão muito mais agora na minha ausência, porque Deus é o que OBRA EM VÓS O QUERER E O PERFAZER segundo o seu beneplácito (Filipenses II-12 e 13). Trabalhai na vossa salvação com receio e com tremor - é o esforço, o cuidado, o trabalho do homem; Deus opera em vós o querer e o executar - é o auxílio da graça divina.

   E o mesmo Apóstolo diz na 1ª Epístola aos Coríntios: Pela graça de Deus sou o que sou, e a sua graça não tem sido vã em mim; antes tenho trabalhado mais copiosamente que todos eles; não eu, contudo, mas a graça de Deus comigo (1ª Coríntios XV-10). O Apóstolo fala aí da ação conjunta do livre arbítrio e da graça: tenho trabalhado mais que todos eles - é o seu esforço pessoal. Não eu, contudo - isto é, não eu sozinho, com minhas próprias forças, mas com a graça de Deus a me ajudar, a graça de Deus trabalhou comigo.

   E é muito instrutivo nesta matéria o contraste que há entre um pequeno trecho do profeta Zacarias e outro das Lamentações de Jeremias. Em Zacarias se lê: Convertei-vos a mim, diz o Senhor dos exércitos, e eu me converterei a vós (Zacarias I-3). Aí Deus pede a cooperação do homem e promete a sua graça.
   Nos Trenos ou Lamentações de Jeremias se lê: Convertei-nos, Senhor, a ti e nós nos converteremos (Lamentações V-21). Aí o homem pede a graça divina e promete a sua cooperação.

   A Igreja católica sempre ensinou que o homem nada pode sem a graça de Deus e tudo pode com ela: Sem mim não podeis fazer nada (São João XV-5). Tudo posso n'Aquele que me conforta (Filipenses IV- 13).

   30. ALGUMAS COMPARAÇÕES CLÁSSICAS. 

   Já no século II, Santo Irineu dizia que, assim como a terra seca não pode frutificar sem a chuva, assim também nós não frutificaremos para a vida eterna, sem a chuva que Deus manda do Céu e que é a sua divina graça.

   No século V, Santo Agostinho fazia a comparação com o olho humano o qual, embora esteja são e perfeito, não pode ver nas trevas, precisa do auxílio da luz. Assim também, a alma precisa da graça de Deus para seguir o caminho da salvação: "Assim como o olho do corpo, mesmo estando plenamente são, não pode enxergar senão ajudado pelo brilho da luz, assim também o homem, mesmo perfeitissimamente justificado, não pode viver retamente, senão ajudado pela Eterna Luz da Justiça" (Apud Journel, Enchiridion Patristicum nº 1792).

   E é muito divulgada entre os católicos a comparação da ação combinada de Deus e do homem neste sentido com uma cena que vemos [víamos] comumente na intimidade das nossas famílias: a criança que não sabe escrever, escreve com a mão coberta pela mão de sua mãezinha. Foi por um ato livre que concordou em escrever juntamente com sua mãe; se não quisesse escrever, poderia ter emperrado. E quanto mais docilmente cooperar com sua mãezinha e se entregar à ação maternal, tanto melhor sairá a escrita, porque cada emperro de sua mão produzirá mais uma imperfeição, mais uma garatuja.

   Naturalmente toda comparação claudica, mas esta dá uma boa ideia do que é a ação de Deus em nossa alma, pois sem Deus nada podemos fazer e muitas vezes atrapalhamos a ação da graça com a nossa fraqueza e imperfeição. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: DISTRIBUIÇÃO DAS GRAÇAS

2ª - A NOSSA CONTRIBUIÇÃO ENTRELAÇADA COM A AÇÃO DE DEUS (CONTINUAÇÃO)


   27. DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DAS GRAÇAS.

   A graça não é dada a todos igualmente; uns recebem mais, outros menos: A cada um de nós foi dada a graça segundo a medida do dom de Cristo (Efésios IV-7). Isto se vê também na parábola dos talentos (Mateus XXV-14 a 30) em que um homem ao ausentar-se para longe, chamou aos seus servos e lhes entregou os seus bens e deu a um cinco talentos, e a outro dois, e a outro deu um, a cada um segundo a sua capacidade e partiu logo (Mateus XXV-14 e 15) e passando muito tempo, veio o senhor daqueles servos e chamou-os a contas (Mateus XXV-19).

   É claro que no Novo Testamento, ou seja, depois da morte de Cristo, a graça de Deus é distribuída muito mais abundantemente do que na Antiga Lei; e que no Antigo Testamento era distribuída entre os judeus, que eram o povo escolhido, com mais abundância do que entre os gentios. E é claro também que aqueles que recebem maiores graças serão julgados com maior rigor. Ai de ti, Corozaim; ai de ti, Betsaida; que se em Tiro e Sidônia se tivessem obrado as maravilhas que se obraram em vós, há muito tempo que elas teriam feito penitência, cobrindo-se de cilício e de cinza. Por isso haverá sem dúvida no dia do juízo para Tiro e Sidônia menos rigor que para vós (Lucas X-13 e 14).

   28. GRAÇA SUFICIENTE PARA TODOS.

      Embora não seja dada a graça igualmente a todos, no entanto a todos é dada a graça suficiente para se poderem salvar, porque Deus quer que TODOS  os homens se salvem (1ª Timóteo II-4). Deus espera com paciência por amor de vós, não querendo que algum pereça, senão que TODOS se convertam à penitência (2ª Pedro III-9. Acaso é da minha vontade a morte do ímpio, diz o Senhor Deus, e não quero eu antes que ele se converta dos seus cainhos e viva? (Ezequiel XVIII-23).
    É um princípio da teologia católica: Aquele que faz o que está ao seu alcance, Deus não nega a sua graça; e mesmo para ele fazer isto que está ao seu alcance, Deus o ajuda com a sua graça também.
    Se nem todos se salvam, é porque nem todos cooperam com a graça, porém muitos a ela resistem: Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar teus filhos do modo que uma galinha recolhe debaixo das asas os seus pintainhos, e tu o não quisestes? (Mateus XXIII-37).

  

domingo, 20 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: NECESSIDADE DA GRAÇA

2ª - A NOSSA CONTRIBUIÇÃO ENTRELAÇADA COM A AÇÃO DE DEUS (CONTINUAÇÃO)

  24. NECESSIDADE DA GRAÇA PARA O CUMPRIMENTO DA LEI DIVINA.

   O homem, para salvar-se, precisa cumprir com os mandamentos e observar o que Jesus mandou. 
   Mas daí não se segue que ele possa fazer isto unicamente por suas forças naturais. Quando apareceu Pelágio, em princípios do século V, afirmando que não havia necessidade da graça para alcançar a vida eterna, bastando para isto o livre arbítrio ou a liberdade do homem, de modo que o homem podia por suas forças naturais vencer as tentações e observar os mandamentos, servindo a graça apenas para ajudá-lo a cumprir com mais facilidade a lei divina, se insurgiram contra a heresia pelagiana os Santos Padres da Igreja, tendo à frente Santo Agostinho, que ficou sendo chamado o Doutor da Graça. E o erro de Pelágio foi formalmente condenado pela Igreja em vários Concílios particulares e pelos Papa Santo Inocêncio I e São Zósimo.  Foi ao conhecer a condenação do pelagianismo pelo Papa, que Santo Agostinho proferiu a célebre frase: "Roma locuta, causa finita". Roma falou, acabou-se a questão. 
  
   Segundo a doutrina da Igreja, não é simplesmente mais difícil, é impossível ao homem, sem o auxílio da graça de Criso, vencer a própria concupiscência e cumprir a lei divina. Lê-se em São Paulo: Sinto nos meus membros outra lei que repugna à lei do meu espírito e que me faz cativo na lei do pecado, que está nos meus membros. Infeliz homem eu, quem me livrará do corpo desta morte? A graça de Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor (Romanos VII-23 a 25). O texto grego diz: Graças a Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor - mas isto não modifica o sentido: dão-se graças a Deus pelo auxílio que nos vem de Jesus Cristo, ou seja, de sua graça que Ele mereceu por nós na cruz. E o mesmo São Paulo diz ainda aos Efésios: Fortalecei-vos no Senhor e no poder da sua virtude. Revesti-vos da ARMADURA de Deus para que possais estar firmes contra as ciladas do diabo (Efésios VI- 10 e 11). 

   Jesus Cristo nos ensinou a dizer no Pai-Nosso: Não nos deixeis cair em tentação (Mateus VI-13). E disse aos Apóstolos: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca (Mateus XXVI- 41). O que nos mostra que para nos livrarmos do pecado, não basta o nosso cuidado, o nosso esforço, a nossa vigilância; é necessário também o auxílio da graça divina que se alcança pela oração. 

   25. NECESSIDADE DA GRAÇA PARA QUALQUER OBRA MERITÓRIA.

   Há ainda mais: não só é necessária a ajuda da graça de Cristo para o cumprimento da lei divina, de modo geral, mas para realizar qualquer obra, por mínima que seja, meritória para a vida eterna. Isto se vê claramente pelas palavras do próprio Cristo: Sem mim não podeis fazer nada (João XV-51). A mesma doutrina vemos em São Paulo: Não que sejamos capazes de nós mesmos de ter algum pensamento como de nós mesmos; mas o nossa capacidade vem de Deus (2ª Coríntios III-5).

   26. NECESSIDADE DA GRAÇA PARA A FÉ.

   Para a salvação é indispensável a fé. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus XI-6). E aqueles a quem chega o conhecimento do Evangelho têm que crer em tudo o que direta ou indiretamente se deduz da revelação trazida por Jesus Cristo. É uma consequência necessária do primeiro mandamento em que se nos prescreve uma plena submissão de toda a nossa alma, de todo o nosso coração, de toda a nossa inteligência a Deus. 

   Mas, embora seja a fé um ato livre da vontade, pois o homem pode crer ou deixar de crer, não podemos ter a fé sem a ajuda da graça de Deus. Jesus Cristo disse, falando aos judeus que não queriam crer nas suas palavras: Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer (João VI-44). Há alguns de vós outros que não creem... Por isso eu vos tenho dito que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai lhe não for isso concedido (João VI-65 e 66). 

   Depois dos pelagianos, apareceram os semipelagianos que, embora admitindo a necessidade da graça para a salvação, afirmavam que o início da fé, ou seja, o piedoso afeto de boa disposição para crer, que é excitado pela pregação do Evangelho, este primeiro movimento do homem para a fé seria feito só pela liberdade do homem, sem a graça de Deus. Realizado este ato, Deus entraria com a sua graça. A doutrina dos semipelagianos foi igualmente condenada pela Igreja, em 529, no 2º Concílio de Arles, em definição confirmada pelo Papa Bonifácio II. Também o início, o primeiro movimento de fé no coração do homem é feito com o auxílio da graça divina, pois a fé um dom de Deus (Efésios II-8). E o mesmo São Paulo diz aos Filipenses: A vós vos é dado por Cristo, não somente que CREIAIS N'ELE senão que padeçais também por Ele (Filipenses I-29). 

sábado, 19 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: A GUARDA DOS MANDAMENTOS.

2ª - A NOSSA CONTRIBUIÇÃO ENTRELAÇADA COM A AÇÃO DE DEUS

   23. A GUARDA DOS MANDAMENTOS.

   Voltamos agora ao caso daquele que com boas disposições de fé e contrição recebeu o Batismo. É o mesmo caso daquele que recebeu o Batismo pouco depois de nascido e agora vê chegar o uso da razão. Que lhe é necessário fazer para salvar-se? Conservar a graça santificante recebida no Batismo. Morrendo neste estado de graça, alcançará a salvação. Para conservar a graça santificante, é preciso evitar o pecado mortal e, por conseguinte, observar os mandamentos: Se tu queres entrar na vida, guarda os mandamentos (Mateus XIX-17).

   A Escritura não faz uma relação completa e minuciosa dos pecados mortais e dos veniais. Mas Jesus Cristo fala em alguns pecados que impedem a salvação, como o ódio (Mateus VI, 15), o escândalo dos pequeninos (Marcos IX-41), a falta de caridade para com os necessitados (Mateus XXV-41 a 46). E São Paulo, pelo menos, enumera vários pecados graves: Acaso não sabeis que os iníquos não hão de possuir o reino de Deus? Não vos enganeis; nem os fornicários, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os que se dão a bebedices, nem os maldizentes, nem os roubadores hão de possuir o reino de Deus (1ª Coríntios VI-9 e 10). Vê-se pelo contexto que o Apóstolo aí se refere a esses pecadores, se não se convertem e se nesse estado deplorável de pecado são colhidos pela morte: E tais haveis sido alguns; mas haveis sido lavados, haveis sido santificados (1ª Coríntios VI-11).
   Jesus Cristo não foi somente o nosso Redentor, não foi somente o Mestre que nos ensinou a sua doutrina, mas também o Legislador que promulgou preceitos que têm de ser observados: Ide, pois, e ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as A OBSERVAR TODAS AS COISAS QUE VOS TENHO MANDADO (Mateus XXVIII- 19 e 20). 

   

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: A JUSTIFICAÇÃO DOS ADULTOS PAGÃOS

2º - A NOSSA CONTRIBUIÇÃO ENTRELAÇADA COM A AÇÃO DE DEUS  (CONTINUAÇÃO).

21. A JUSTIFICAÇÃO DOS ADULTOS PAGÃOS

   Acontece às vezes, porém, que em virtude de uma conversão, ou por causa do descuido dos pais ou por outra circunstância qualquer, é uma pessoa que já tem o uso da razão (e que para este efeito de recepção dos Sacramentos é chamado ADULTO)  que vai receber o Sacramento do Batismo. Para isto, é necessário que a pessoa se disponha pela fé nas verdades reveladas, tendo um certo conhecimento dos principais mistérios da Religião e que tenha o arrependimento de seus pecados, com o firme propósito de evitá-los pela guarda dos mandamentos. Este arrependimento supõe, é claro, a esperança do Céu que se deseja alcançar e, pelo menos, um certo começo de amor a Deus, a quem não se deseja ofender. Em virtude dos merecimentos da Paixão de Cristo, o batismo recebido com estas boas disposições não só apaga o pecado original, como também perdoa os pecados pessoais cometidos até aquele momento. Aos adultos que ouviram a pregação da palavra divina no dia de Pentecostes e compungidos no seu coração (Atos II-37) perguntaram o que deviam fazer, São Pedro respondeu: Fazei penitência, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo PARA REMISSÃO DE VOSSOS PECADOS;  e recebereis o dom do Espírito Santo (Atos II-38). A justificação que se segue ao Batismo convenientemente recebido não é somente a remissão dos pecados, no sentido de que externamente não nos são mais imputados, fingindo Deus considerar-nos justos, quando continuássemos a ser os mesmos manchados pecadores, como queria Lutero. Não; é a remissão dos pecados, com a nossa renovação interior, operada pelo batismo de regeneração e renovação do Espírito Santo (Tito III-5); em virtude da imensa bondade de Deus que quer que nós sejamos chamados filhos de Deus e com efeito o sejamos (1ª João III-1); justificados pela sua graça e tornados herdeiros segundo a esperança da vida eterna (Tito III-7). É a graça santificante com os dons do Espírito Santo: Os vossos membros são templo do Espírito Santo que habita em vós (1ª Coríntios VI-19). 

   22. BATISMO DE DESEJO E BATISMO DE SANGUE.

   Em vista da necessidade do Batismo, surge naturalmente o problema dos adultos que não ouviram de forma alguma a pregação do Evangelho e a quem, portanto, não chegou a notícia de que o Batismo era obrigatório para a salvação. O Batismo pode então ser suprido pela caridade perfeita naqueles que, não tendo o conhecimento da Revelação, mostram a Deus o seu amor pela obediência aos ditames da própria consciência. Nessa boa disposição estão dispostos a fazer o que é possível para agradar a Deus e de boa vontade receberiam o Batismo, se dele tivessem conhecimento. Chama-se isto VOTO IMPLÍCITO DO BATISMO. Estes que, assim amando a Deus, amam consequentemente a Jesus Cristo, que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, podem também receber a graça santificante: Aquele que tem os meus mandamentos e que os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai e eu o amarei também e me manifestarei a ele (João XIV-21). Se algum me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará; e nós viremos a ele e faremos nele morada (João XIV-23).

   O outro caso em que o batismo é suprido, é o daqueles que antes de recebê-lo, são martirizados por causa da fé: O que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á (Marcos VIII-35). Todo aquele, pois, que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos Céus (Mateus X-32). 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO - 2º A NOSSA CONTRIBUIÇÃO ENTRELAÇADA COM A AÇÃO DE DEUS

   20. A REGENERAÇÃO DAS CRIANÇAS PAGÃS.

   Em consequência da culpa de Adão, nascemos com o pecado original e, portanto, sem a graça santificante: Assim como por um homem entrou o pecado neste mundo e pelo pecado a morte, assim passou também a morte a todos os homens por um homem, no qual TODOS PECARAM  (Romanos V-12). O texto grego traz assim: a morte passou a todos os homens, POR ISTO QUE TODOS PECARAM. Mas não altera o sentido. De qualquer forma se exprime que todos os homens estão sujeitos à morte PORQUE TODOS PECARAM EM ADÃO, em virtude da solidariedade entre Adão, cabeça do gênero humano e seus descendentes. As criancinhas, que não cometeram nenhum pecado pessoal, estão também sujeitas à morte, porque pecaram em Adão. Um pouco mais adiante ainda diz o Apóstolo: Pelo pecado dum só, incorreram todos os homens na condenação... pela desobediência dum só homem foram muitos feitos pecadores ( Romanos V-19) ( 3 ). O texto grego traz OS MUITOS (HOI POLLÓI) o que significa a totalidade; por isto a versão da Sociedade Bíblica do Brasil não hesitou em colocar TODOS: pela desobediência de um só TODOS  foram constituídos pecadores (Romanos V-19).
   Sendo assim, mesmo a criança que não tem o uso da razão precisa, para conseguir a visão beatífica, receber a graça santificante pelo Batismo, que produz um verdadeiro renascimento espiritual: Na verdade, na verdade te digo que não pode ver o reino de Deus senão aquele que renascer de novo... Quem não renascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus (João III-3 e 5).
   Esta é, segundo a própria norma traçada por Cristo, a condição para que se lhe aplique o benefício da Redenção. As crianças que morrem sem atingir o uso da razão e sem receber o Batismo, não vão gozar da visão beatífica, mas não sofrem nenhuma pena pessoal, podem mesmo gozar duma felicidade natural, sem a direta visão de Deus e sem ter ideia da felicidade sobrenatural que perderam. Nisto não há injustiça, porque a felicidade do Céu está acima de sua natureza e elas não fizeram nenhum ato livre pelo qual pudessem merecê-la, desde que não chegaram a atingir a luz da razão. 
   Como a vida das crianças é muito frágil, a Igreja manda que os pais providenciem para que seus filhos se batizem quanto antes, afim de que não se prive o Céu de mais um feliz habitante. ( 4 ).

NOTAS: ( 3 ) - "Pela desobediência de um só TODOS  foram constituídos pecadores". Não haverá contradição entre estas palavras de São Paulo e o dogma da imaculada Conceição de Maria Santíssima, ou seja, de que ela foi concebida sem o pecado original? Nenhuma.
   Se Adão e Eva não tivessem pecado, todas as crianças teriam, segundo os desígnios de Deus, a graça santificante POR UM DIREITO DE HERANÇA; seríamos descendentes de um homem que se tinha conservado no elevado estado em que Deus o criou. Mas Adão, antes de gerar, decaiu deste estado. Dizendo que TODOS PECARAM,  TODOS INCORRERAM NA CONDENAÇÃO, São Paulo está mostrando que toda a Humanidade sem exceção alguma, INCLUSIVE MARIA SANTÍSSIMA, perdeu este direito por herança. Acontece, porém, que aquilo a que não temos direito por herança, nós podemos receber por uma DÁDIVA, e assim puderam os homens novamente receber de Deus a graça santificante, em virtude dos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que um dia havia de morrer por nós na cruz. Mas Deus é senhor absoluto das suas dádivas; Ele não estava proibido de dar a graça santificante a uma pessoa, mesmo antes que esta pessoa nascesse. Assim é que São João Batista já foi santificado, já recebeu a graça santificante e se libertou do pecado original antes de seu nascimento: já desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo (Lucas I-15). Tudo indica que esta regeneração de João Batista se deu no próprio momento em que Maria Santíssima visitou a Santa Isabel, pois esta diz à Santíssima Virgem: assim que chegou a voz da tua saudação aos meus ouvidos, logo o menino deu saltos de prazer no meu ventre (Lucas I-44). Pois bem, Maria Santíssima foi santificada também no ventre de sua mãe, Sant'Ana, porém no próprio instante da sua conceição, não houve um só instante em que estivesse sujeita ao pecado original; isto aconteceu, não em virtude de um direito seu, mas por concessão de um privilégio especial de Deus e em virtude de um direito seu, mas por concessão de um privilégio especial de Deus e em virtude dos futuros merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus foi, portanto, o Salvador, o Redentor para ela, como foi para todos os homens; e a Redenção foi para ela uma Redenção preservativa. 

  ( 4 ) - A doutrina que acabamos de expor sobre a sorte das crianças que morrem sem o batismo antes do uso da razão, não  foi definida como dogma. Existem muitos teólogos antigos e modernos, alguns de grande autoridade teológica, que são de opinião que não existe o LIMBO DAS CRIANÇAS, ou seja, as crianças que morrem sem o batismo antes do uso da razão , por uma DÁDIVA  de Nosso Senhor Jesus Cristo e em virtude de Seus merecimentos, como são, segundo o próprio Jesus os seus prediletos (Deixai vir a mim as criancinhas porque delas é O REINO DOS CÉUS) são libertadas do pecado original, levando em conta  unicamente os sofrimentos da doença e da morte. É mister, no entanto, deixar bem claro que a Santa Igreja sempre defende a necessidade de se batizar as crianças o quanto antes. Afinal, o santo Batismo é sempre o meio ordinário de salvação. Devemos ter em mente outrossim que as crianças batizadas e morrem antes do uso da razão vão para o céu e  têm uma glória maior do que aquela que, na hipótese de não existir o limbo, vai para o céu sem o batismo.
   Esta questão da existência ou não do limbo das crianças não deve causar estranheza a ninguém, porque antes de ser algo definido como dogma, pode-se discutir a questão e ter inclusive opinião diferente daquela que a Igreja aprova comumente (sem ainda ter definido). Por exemplo: O dogma da Imaculada Conceição só foi definido em 1854. Pois bem, a Igreja desde longos séculos tinha até a festa da Imaculada Conceição, mas não tinha ainda definido como dogma. A Igreja, no entanto, não condenou nenhum teólogo (entre eles o grande Santo Tomás de Aquino), que tinha opinião diferente, ou seja, não conseguia entender a doutrina da imaculada Conceição de Maria Santíssima. 
     Leiam por gentileza no meu outro blog VIA-VERITAS-VITA o post O LIMBO DAS CRIANÇAS, SEXTA-FEIRA, 4 DE NOVEMBRO DE 2011.
   Só a Igreja, no entanto, tem a última palavra. Só ela pode definir. Nenhum teólogo pode impor sua opinião como a doutrina certa e definitiva. E a Igreja é infalível em se tratando de definição de um dogma. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: Promessa do Redentor

1º  - A PARTE REALIZADA POR JESUS CRISTO (continuação)

   14. PROMESSA DO REDENTOR.

   Naquela hora em que Adão e Eva pecaram, ficou a Humanidade em um estado deplorabilíssimo. Adão e Eva estariam pelo seu pecado condenados ao inferno. Os seus descendentes, mesmo que observassem em toda a vida os ditames da própria consciência e jamais cometessem um pecado mortal, seriam felizes depois da morte, mas de uma felicidade natural, sem ver a Deus, nem ir para o Céu, porque a Humanidade  com o pecado de Adão, havia decaído do estado sobrenatural, havia perdido o direito à visão beatífica. Mas o que era pior é que bastaria que um de nós cometesse um só pecado mortal para ser irremediavelmente condenado ao inferno pelo motivo seguinte: O pecado mortal é uma ofensa de malícia infinita, pois a ofensa cresce na proporção da dignidade da pessoa ofendida. A ofensa feita a um homem comum é um crime comum; feita ao rei, há se torna um crime de lesa-majestade; feita a Deus é uma ofensa ilimitada, pela infinita grandeza de Deus. Ora, o homem, sendo uma criatura limitada, não podia nunca oferecer a Deus uma satisfação suficiente pela ofensa feita pelo pecado mortal, que é um total afastamento de Deus, Infinitamente Perfeito. E no entanto era muito fácil ao homem cair num pecado mortal por causa da concupiscência desenfreada que apareceu em Adão e em nós, após o pecado de Adão, a qual não destrói o nosso livre  arbítrio, mas o deixa muito enfraquecido e inclinado para o mal. O homem precisa da graça de Deus para observar os preceitos da lei divina impressos no seu coração e, naquele estado de afastamento de Deus em que estaríamos pela triste herança recebida de Adão, não poderíamos receber a graça de Deus. A Humanidade haveria de cair no inferno aos borbotões. Havia, além disto, as dores e enfermidades aqui na terra, que foram consequência do pecado de Adão. 

   Mas o estado lamentabilíssimo da Humanidade não durou muito tempo. Logo depois da queda de Adão, Deus, compadecido de nossa miséria, o procurou e fez imediatamente a promessa do Redentor, nas palavras dirigidas à serpente: Eu porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dela. ELA TE ESMAGARÁ A CABEÇA,  e tu aramarás ciladas ao seu calcanhar (Gêneses III-15). Com esta promessa foi outra vez a Humanidade posta em condições de atingir o fim sobrenatural, podendo novamente receber a graça santificante. E isto se realizou em virtude dos futuros merecimentos de Cristo, ou seja, na previsão de sua morte redentora. 

   Quanto aos outros dons gratuitos, não puderam mais ser readquiridos por nós aqui na terra, mas por outro lado, com o auxílio da graça de Deus as dores, as enfermidades, a morte, as tentações da concupiscência podiam e podem tornar-se uma fonte riquíssima de merecimentos para o homem, pela resignação, pela paciência e pelo heroísmo em vencer-se a si mesmo, amparado com a ajuda divina. E assim aquelas vantagens no que diz respeito ao corpo, as quais possuíam Adão e Eva e possuiriam seus descendentes, se eles não houvessem pecado, nós as conseguiremos em grau mais esplêndido e elevado, depois da ressurreição da carne, se merecermos a salvação que Deus, na sua infinita misericórdia, quer conceder a cada um de nós. 

  

domingo, 13 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO (continuação)

13. DONS GRATUITOS.

  Além daquele dom sobrenatural da alma, ou seja, a graça santificante, Deus concedeu a Adão e Eva outros dons, como por exemplo: a imortalidade do corpo. Não haveriam de morrer. Além disto, não sentiam os movimentos desordenados da concupiscência, isto é, as suas paixões não resistiam, nem se antecipavam à voz da razão. E viviam num estado de felicidade, sem dores nem agruras, lá no Paraíso terrestre.
  Mas tanto a graça santificante e destinação à visão beatífica, como estes dons de imortalidade do corpo, imunidade à concupiscência e felicidade terrena eram dons gratuitos. Deus os concedeu ao homem simplesmente porque quis, pois podia tê-lo criado para um fim meramente natural, isto é, destinado a ser eternamente feliz, mas feliz sem ver a Deus, como pode ser feliz uma pessoa aqui na terra, com o conhecimento indireto do Criador, por intermédio das criaturas; podia ter deixado o homem em seu estado natural e entregue às suas próprias forças, sem a graça santificante e fazendo o que pudesse sem o auxílio especial da graça. Como também podia tê-lo criado já sujeito à morte que é o fim natural do nosso fraco e imperfeito organismo e sujeito aos movimentos desenfreados da concupiscência, que são uma consequência também das inclinações do nosso corpo para as coisas sensíveis e materiais como ele. 

  Mas não! Quis dar-lhe aqueles dons gratuitos, os quais passariam aos descendentes, porém com uma condição, a saber, se Adão obedecesse ao preceito divino: Come de todos os frutos das árvores do paraíso, mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque, em qualquer dia que comeres dele, morrerás de morte (Gêneses II-16 e 17).

  Cometido o pecado da desobediência - que, diga-se de passagem, não foi o pecado da carne, como pensam muitos erradamente, pois Adão e Eva eram legítimos esposos, a quem Deus já havia dito: Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra (Gêneses I-28) - ficaram Adão e Eva sujeitos à concupiscência, o que sentiram imediatamente (pois logo se envergonharam de sua nudez), ficaram sujeitos às dores, às enfermidades e à morte e perderam a graça santificante. Seus descendentes nascem nas mesmas condições - e a esta privação da graça santificante em nós é que chamamos PECADO ORIGINAL: nascemos fora da graça de Deus. No que não há injustiça da parte de Deus com relação a nós, pois somos privados de dons que estavam acima da nossa própria natureza. 

  

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( VI )


CAPÍTULO PRIMEIRO
DESMANTELO E DESEQUILÍBRIO DA TEORIA PROTESTANTE

   Já vimos: No post A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( I ) : 1. A TESE DO PASTOR; 2. TEXTOS EVANGÉLICOS; 3. CONCILIAÇÃO DOS TEXTOS.
                         No post A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( II ) : 4. PERANTE A LÓGICA E A BÍBLIA: O CASO DOS PAGÃOS.
                        No post A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( III) : 5. PERANTE A LÓGICA E A BÍBLIA: O CASO DOS CRISTÃOS.
                        No post A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( IV) : 6. DESEQUILÍBRIO DA DOUTRINA PROTESTANTE.
                   No post A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( V ) : 7. ESTRANHO REMÉDIO PARA OS MALES DO MUNDO.  8. ONDE ESTÁ O DESMANTELO. 


(CONTINUAÇÃO)

9. ACEITAÇÃO INTEGRAL DE CRISTO.

   Se aceitamos a Cristo exclusivamente como Salvador, se tapamos a sua boca quando Ele nos vai doutrinar, se não Lhe damos outro direito senão o de estender os braços sobre a cruz e morrer por nós, então é fácil lançarmos mão do Evangelho e fazermos a salvação do tamanho que a quisermos, mas se aceitamos a Cristo integralmente, se O deixamos falar como nosso Legislador, como nosso Mestre, como fundador da sua e nossa Igreja, logo chegaremos à conclusão de que para a salvação:  
  •  é necessária a observância dos mandamentos: se tu queres entrar na vida, GUARDA OS MANDAMENTOS  (Mateus XIX- 17);
  •     são necessárias as boas obras, como se deduz claramente da descrição do juízo final (Mateus XXV- 31 a 47);
  •  é de grande importância a penitência: Ai de ti, Corozaim; ai de ti, Betsaida; que se em Tiro e Sidônia se tivessem obrado as maravilhas que se obraram em vós, há muito tempo que elas teriam feito PENITÊNCIA, COBRINDO-SE DE CILÍCIO E DE CINZA. Por isso haverá sem dúvida no dia do juízo para Tiro e Sidônia menos rigor que para vós (Lucas X-13 e 14);
  • é preciso fazer sacrifícios e renúncias: Se o teu olho te escandaliza, LANÇA-O FORA; melhor te é entrar no reino de Deus sem um olho do que, tendo dois, ser lançado no fogo do inferno (Marcos IX- 46). Se alguém quer vir após de mim, NEGUE-SE A SI MESMO, E TOME A SUA CRUZ CADA DIA e siga-Me (Lucas IX- 23);
  • é preciso orar para se obter a graça, pois sem a graça não se pode praticar a virtude: Importa orar sempre e não cessar de o fazer (Lucas XVIII- 1. Vigiai e orai, para que não entreis em tentação (Mateus XXVI-41);
  • é preciso receber os sacramentos: quem não renascer da ÁGUA e do ESPÍRITO SANTO não pode entrar no reino de Deus (João III-15). Se não comerdes a carne do Filho do Homem e beberdes o seu sangue, NÃO TEREIS A VIDA EM VÓS (João VI-54). Aos que vós perdoardes os pecados, se-lhes-ão eles perdoados, e aos que vós os retiverdes, ser-lhes-ão eles retidos (João XX-23);
  • é preciso obedecer à Igreja: Tudo o que ligares sobre a terra será ligado também nos Céus, e tudo o que desatares sobre a terra será desatado também nos Céus (Mateus XVI-19), disse Jesus a Pedro, pedra da Igreja. E se não ouvir a Igreja, tem-no por um gentio ou um publicano (Mateus XVIII-17). 
     E verenos que, em vez desta salvação baratíssima, Ele nos prega uma salvação árdua e penosa: Larga é a porta e espaçoso o caminho que guia para a perdição e muitos são os que entram por ela. QUE ESTREITA É A PORTA E QUE APERTADO O CAMINHO QUE GUIA PARA A VIDA e que poucos são os que acertam com ele! (Mateus VII-13 e 14).
    Por que motivo então havemos de aceitar a Cristo como Aquele que nos dá a salvação e não havemos de aceitá-Lo como Aquele que tem o direito de nos impor, de nos indicar as condições em que esta salvação é obtida?
    Reduzindo a fé que salva à simples aceitação de Cristo como Salvador e ao mesmo tempo dando a cada um o direito de interpretar a Bíblia como bem entende, o Protestantismo abre o Céu de par em par a todos os hereges. Isto  de doutrina, de ensinamentos de Cristo passa a ter muito pouca importância, cada um os aceita como acha mais conveniente; o que vale somente para a vida eterna é aceitar a Cristo COMO SALVADOR.
    Como veremos mais adiante (ns. 225 a 243:
  • há, entre os protestantes, uns que negam a Santíssima Trindade e outros que a admitem;
  • uns que dizem que Jesus Cristo é Deus, e outros, que é um simples homem;
  • uns que creem na existência do inferno e outros que a rejeitam;
  • uns que admitem a imortalidade da alma e outros que a negam;
  • uns que creem que Jesus está realmente presente na Eucaristia e outros que dizem que a Eucaristia não é mais do que pão e vinho;
  • uns que batizam e outros que não batizam etc., etc. 
    Todos estes entram de roldão no Céu. Pois a pergunta de ordem é somente esta: Aceitais a Cristo como vosso Único e Suficiente Salvador, como vosso Salvador Pessoal?
    - Aceitamos - respondem todos.
    - Pois, então, todos estão salvos.
    Não se podia inventar uma doutrina que fosse mais a gosto para contentar a todos os hereges. 
    Além disto (e a questão agora é com aqueles inúmeros protestantes que acham que aquele que ACEITOU A CRISTO COMO SALVADOR já não se pode perder mais) perguntamos:
    Um homem se arrependeu de seus pecados e aceitou a Cristo como Salvador. De agora por diante, que homem vai ser ele? O mesmo homem combatido pelas paixões próprias e pelas tentações do inimigo, livre para pecar ou deixar de pecar - ou um homem impecável? Cada um olhe sinceramente para si e veja se se tornou impecável, depois que aceitou a Cristo como Salvador...
    Se este homem depois peca, engolfa-se no pecado, não se arrepende mais, não quer mais emendar-se, como pode ter já neste mundo a salvação garantida? A salvação dada por Cristo será uma licença ampla para cada um fazer o que bem lhe apraz e ir para o Céu de qualquer jeito?
    
    


   

   

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( V )

CAPÍTULO PRIMEIRO
DESMANTELE E DESEQUILÍBRIO DA TEORIA PROTESTANTE

Já vimos: No Post A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( I ) : 1. A TESE DO PASTOR; 2. TEXTOS EVANGÉLICOS;  3. CONCILIAÇÃO DOS TEXTOS.
                     No  Post   A SALVAÇÃO PELA FÉ   - ( II ) : 4. PERANTE A LÓGICA E A BÍBLIA: O CASO DOS PAGÃOS.
                    No Post A SALVAÇÃO PELA FÉ  - ( III ) : 5. PERANTE A LÓGICA E A BÍBLIA: O CASO DOS CRISTÃOS.
                    No Post A SALVAÇÃO PELA FÉ  - ( IV ) : 6. DESEQUILÍBRIO DA DOUTRINA PROTESTANTE.

(CONTINUAÇÃO)

7. ESTRANHO REMÉDIO PARA OS MALES DO MUNDO. 

   Quem quiser ouvir ensinamentos que aberram contra toda lógica e bom senso, é só prestar bem sentido à doutrina da salvação, à doutrina do Evangelho tal qual vem sendo apresentada pelos protestantes.

   Nós sabemos que o mundo sempre foi perverso e corrompido, e especialmente nos dias de hoje. Isto decorre da decadência da nossa natureza humana, fortemente inclinada para o mal.

   O homem tem que lutar contra suas paixões: há de vencê-las pelo sacrifício, pela mortificação e pela renúncia ou há de sucumbir a elas. Abrace qual religião abraçar, esta luta continuará sempre. Mesmo que se eleve à mais alta santidade, está sujeito a cair, pois continua sempre libre e sempre inclinado para o mal.

   É claro que a doutrina do Evangelho é uma doutrina santificadora, que estimula o homem a dominar-se, a cantar vitória sobre si mesmo, sobre seus instintos, que o eleva à prática da virtude, a qual muitas e muitas vezes requer heroísmo. Ela se apresentará, assim, como um incentivo para o bem, a contrapor-se à maléfica influência do mundo que, posto na maligno (1ª João V-19), arrasta o homem para o mal, com suas máximas funestas, seus escândalos e seus maus exemplos. 

   Mas qual é a doutrina que traz o Protestantismo para o mundo corrupto de hoje? 
   Dizem os protestantes:
   Há quem ensine que a salvação se alcança:
                    praticando boas obras;
                    fazendo penitências;
                    fazendo sacrifícios e renúncias;
                    rezando;
                    recebendo sacramentos etc., etc.
   Nada disso! A salvação se alcança simplesmente pela fé em Jesus. E em que consiste a fé em Jesus, segundo a doutrina protestante?
  Consiste apenas nisto: em ACEITAR A CRISTO COMO NOSSO ÚNICO E SUFICIENTE SALVADOR, COMO NOSSO SALVADOR PESSOAL.
    Se o pecado se arrepende de seus pecados e aceita a Cristo como seu Salvador, está salvo - e, segundo ensina um grande número de seitas protestantes, está salvo para sempre, não pode perder-se jamais, IRÁ PARA O CÉU COM TODA CERTEZA. 
   A salvação lhe é dada de graça. Basta estender a mão para recebê-la. Não é prêmio das virtudes, nem de boas obras, nem de prática da Religião, nem da observância da lei de Deus.
   E quando se objeta que esta salvação assim dada "de graça" está barata demais, os protestantes respondem que é uma loucura recusar-se uma coisa, só porque é dada de graça: a luz do sol e o ar que respiramos também nos são dados gratuitamente e ninguém os vai recusar por isto...
   É este o Evangelho que vai regenerar e santificar o homem, segundo o ensino protestante! Não se fala na necessidade da mortificação, do sacrifício para ganhar o céu; barateia-se a salvação para que ela fique ao alcance de todos. 

8. ONDE ESTÁ O DESMANTELO.

   Ora, percebe-se claramente que existe neste sistema uma bruta falsificação da doutrina do Evangelho.
   Enquanto o Protestantismo ensina que o remédio para os males do mundo, a salvação do homem está na FÉ EM JESUS,  tudo vai muito bem. Porque é realmente SEGUINDO A DOUTRINA QUE JESUS ENSINOU, que a Humanidade encontra o bom caminho e o homem se salva. 
   Todo o mal do homem está em não crer em Jesus, ou em crer, mas não viver de acordo com a sua crença, o que seria uma fé morta, uma fé contradita, negada e desmoralizada pelas obras.
   Mas, quando o Protestantismo nos vem dizer que a fé em Jesus consiste EXCLUSIVAMENTE  em aceitar a Cristo como nosso Salvador, aí é que está a completa e escandalosa adulteração do Evangelho. Esta noção de fé é mera invenção de Lutero; procura-se assim misturar a verdade evangélica com o erro luterano. 
   Não há dúvida que, se o Evangelho nos diz que o homem se salva CRENDO EM CRISTO,  compete ao próprio Evangelho dizer-nos ESTA FÉ em que consiste. É isto o que vamos examinar minuciosamente com a Bíblia na mão, daqui a pouco (capítulo 4º). 
   Mas se os protestantes dizem só admitir aquilo que está na Bíblia, em que parte da Bíblia eles viram que esta fé em Cristo, esta fé que nos salva, consiste SOMENTE em aceitar a Cristo como Salvador? Quem autorizou os protestantes a andar pregando pelo mundo esta aceitação de Cristo, tão mesquinha, tão parcial e tão incompleta? Por que motivo não havemos de aceitar a Cristo como o MESTRE que nos ensinou uma  DOUTRINA,  um conjunto de VERDADES, que estamos obrigados a aceitar, porque Ele é Deus e Deus não pode errar? Por que motivo não havemos de aceitar a Cristo como FUNDADOR DE UMA IGREJA que Ele deixou aqui na terra, inseparavelmente unida a Ele que é a cabeça do corpo da Igreja (Colossenses I-18)?
   Não falam tanto os protestantes na adesão a Nosso Senhor Jesus Cristo? E como é que acham que vão para o Céu aqueles que veem em Cristo um Salvador e nada mais?


domingo, 6 de janeiro de 2013

Duas NOTAS relativas ao Post anterior

(1) - Aqui naturalmente perguntarão os protestantes: E os católicos também não ensinam que FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO? Logo, segundo eles, também todos os pagãos se condenam, pois estão fora da Igreja. 
   - É preciso que se tome bem em consideração o sentido que o Catolicismo empresta a esta fórmula: FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO.

   A mesma Igreja que ensina, como veremos, (nº 22) que o Batismo é indispensável para a salvação, mas afirma também que o Batismo de água pode ser suprido pelo Batismo de desejo, ou seja, a reta consciência naqueles que não conhecem o Sacramento do Batismo, e que ensina que, em caso de impossibilidade, a Confissão sacramental pode ser suprida pelo ato de contrição perfeita, ensina igualmente que se pode pertencer à Igreja ou realmente ou EM VOTO. Ou, para usar uma linguagem mais acessível a todos, pode-se pertencer a ela PELO CORAÇÃO. Aqueles que de BOA FÉ estão separados da Igreja, mas buscam sinceramente a verdade e querem do íntimo da alma servir a Deus e realmente o fazem, obedecendo aos ditames da própria consciência, pertenceriam a Igreja Verdadeira, como devotados fiéis, se dela tivessem suficiente conhecimento. São, portanto, filhos seus, que ela não conhece; pertencem à ALMA DA IGREJA; fazem lá a seu modo, na sua ignorância, o que ela quer que todos façam: servir a Deus de todo o coração. Por isso disse o Papa Pio IX: "Aqueles que estão em ignorância invencível a respeito de nossa Santa Religião, mas observem fielmente os preceitos da lei natural gravados por Deus no coração de todos e, prontos a obedecer a Deus, levam uma vida proba e honesta, podem, pela luz divina e pela operação da graça, obter a vida eterna: porque Deus penetra, perscruta e conhece os corações, os espíritos, os pensamentos e a conduta. Em sua bondade e clemência supremas, não consentirá jamais em punir com suplícios eternos um homem que não é culpável de falta voluntária" (Encíclica Quanto conficiamur).
   Mas aqueles que receberam a luz da revelação cristã têm obrigação de conhecer a Verdadeira Igreja que Cristo fundou e de pertencer a ela; estar deliberadamente separado da Igreja de Cristo é o mesmo que estar separado de Cristo, pois Cristo é a cabeça da Igreja (Efésios V-23). Se alguém não ouvir a Igreja, tem-no por um gentio ou um publicano (Mateus XVIII-17). 
   Desta possibilidade de salvar-s o pagão, baseada em que Deus dá a todos a graça suficiente para a salvação, não se conclui absolutamente que seja inútil a pregação do Evangelho: 1º porque a Igreja recebeu a incumbência de pregar o Evangelho a toda a criatura, de levar a todos o conhecimento da verdade; 2º porque a pregação da doutrina de Cristo vai excitar ao arrependimento muitos pagãos que se acham de má fé ou mergulhados no pecado e que assim se encontra francamente no caminho da condenação; 3º porque estes próprios que observam fielmente a lei natural e que não parecem ser em grande número podem, com a abundância de meios sobrenaturais que a Igreja lhes oferece, fortificar-se ainda mais na graça e atingir uma melhor perfeição, para maior glória de Deus.

( 2 ) - Quando diz: como crerão àqueles que não ouviram? e como crerão sem pregador?, São Paulo toma a fé no sentido restrito da palavra, fé NAS VERDADES REVELADAS, as quais não são conhecidas onde não foi anunciada ainda a palavra de Deus. E quando diz: Sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que o que se chega a Deus creia que há Deus e que é remunerador dos que O buscam (Hebreus XI-6), S. Paulo toma a fé em um sentido lato, a crença em verdades QUE PODEM SER ATINGIDAS PELA PRÓPRIA RAZÃO HUMANA, a qual não só pode provar a existência de Deus, mas também chegar à ideia de sua justiça, bondade e perfeição. Aliás, ele estava falando naquele momento (Hebreus XI-4 e 5) em Abel e Henoque, os quais viveram num tempo em que não haviam sido feitas ainda as revelações transmitidas a Abraão, a Moisés e aos profetas. 
   Ora, nós católicos, admitimos que a todos os homens que gozam do uso da razão a guarda dos mandamentos é indispensável para a salvação; a fé em Cristo Remunerador, ou seja, a fé em sentido lato, é indispensável mesmo para aqueles que nunca ouviram falar em Cristo. Mas a mentalidade dos protestantes é inteiramente outra; tomam as palavras evangélicas: Quem crê em Jesus se salva, quem não crê se condena (as quais se referem naturalmente àqueles a quem o Evangelho é anunciado) no sentido de que quem não ouve a pregação do Evangelho está irremediavelmente perdido; quem aceita o Evangelho está salvo com toda a certeza. Sim, porque eles veem como caminho para o Céu, pura e exclusivamente CRER EM JESUS. Obras, absolutamente não! Mas se crer em Jesus é, segundo eles, CONFIAR QUE JESUS NOS SALVA,  eis aí um sentimento que é inteiramente incapaz de ter aquele que ainda não foi devidamente instruído a respeito da doutrina do Evangelho. 

sábado, 5 de janeiro de 2013

A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( IV )

Já vimos no post A SALVAÇÃO PELA FÉ  - ( I ): 1. A TESE DO PASTOR; 2. TEXTOS EVANGÉLICOS; 3. CONCILIAÇÃO DOS TEXTOS.
Já vimos no post A SALVAÇÃO PELA FÉ  - ( II ): 4.  PERANTE A LÓGICA E A BÍBLIA: O CASO DOS PAGÃOS.
Já vimos no post A SALVAÇÃO PELA FÉ  - ( III): 5.  PERANTE A LÓGICA E A BÍBLIA: O CASO DOS CRISTÃOS. 

VEJAMOS AGORA:

6. DESEQUILÍBRIO DA DOUTRINA PROTESTANTE.

   Comparemos isto [do post anterior] com o desequilíbrio da doutrina dos protestantes. Nós lhes apresentamos um número incalculável de pagãos que existiram antes de Cristo ou que existem ainda hoje (milhões dos quais têm adorado o Deus Verdadeiro, como os maometanos, por exemplo) pagãos estes que não chegaram a ter conhecimento da doutrina de Cristo e que têm a fé minima, a que se refere S. Paulo na sua Epístola aos Hebreus, isto é, creem  que existe um Deus e que Ele é remunerador; quanto ao mais, nada sabem da doutrina revelada. Ora, segundo a doutrina protestante, só a fé é que salva, as boas obras do indivíduo NÃO VOGAM para a salvação. Agora perguntamos: esta fé mínima - crer em um Deus Remunerador - é suficiente para a salvação ou não? Se é suficiente, todos esses pagãos se salvaram ou ainda se salvam, só vão para o inferno os ateus, pois segundo os protestantes, o que salva é a fé, e não as obras. Neste caso, onde está a justiça de Deus, colocando assim no Céu a todo o mundo, indistintamente, sem nenhuma atenção à maneira de proceder de cada um? Se não é suficiente, então todos eles se condenam, mesmo que pratiquem as melhores obras deste mundo e se mostrem corretíssimos na sua maneira de proceder, pois as boas obras, segundo os protestantes, não influem na salvação. Estão esses pagãos irremediavelmente perdidos, porque sua fé é, na hipótese, insuficiente para salvar. Neste caso, onde está a justiça de Deus condenando, por não terem fé em Cristo povos inteiros que, sem culpa sua, desta fé foram privados? [A NOTA no rodapé que o autor põe aqui, exporá-la-ei no post seguinte: FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO? ]. 
   
   Os protestantes já estão salvos aqui na terra... apesar de todas as suas faltas e imperfeições, as quais temos todos nós humanos, quando morrem, vão diretamente para o Céu (pois os protestantes não acreditam na existência do purgatório)... mas fora do Protestantismo, são muitos os que inevitavelmente se condenam... Deus seria neste caso, não um Pai de Misericórdia, mas um Soberano evidentemente  injusto e monstruoso, que predestina uns para o Céu e outros para a perdição. 

   Este Deus que assim concebem os protestantes, que a inúmeros homens nega qualquer oportunidade para se salvarem, pois para a salvação só aceita a fé e nada mais, mas como crerão Àquele que não ouviram? e como ouvirão sem pregador? (Romanos II- 11), este Deus parcial que aos protestantes dá tudo e a outros nega tudo em matéria de salvação, será o mesmo Deus da Bíblia que quer que todos os homens se salvem 1ª Timóteo II-4)? [2 - aqui o autor tem uma outra NOTA que incluiremos no post seguinte) que não tem acepção de pessoas (2º Paralipômenos XIX-7; Romanos II-11; Efésios VI-9; Colossenses III-25; 1ª Pedro I-17)? O único Mediador que eles pregam será mesmo Jesus Cristo que se deu a si mesmo para REDENÇÃO DE TODOS (1ª Timóteo II-6, que é propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de TODO O MUNDO (1ª João II-2)? Não há lógica, portanto, nesta matéria de doutrina da salvação, se não se admite aquilo que vimos agora mesmo a Bíblia dizer pela pena de São Paulo, na sua Epístola aos Romanos: que Deus há de retribuir a cada um SEGUNDO AS SUAS OBRAS (Romanos II-6).

   Lutero pensava e ainda pensam os protestantes de hoje que se pode alterar facilmente a doutrina verdadeira que Deus deixou neste mundo e que vem sendo ensinada pela sua Igreja, a Igreja Católica. Com a sua ampla liberdade para mexer na Bíblia e dela extrair apenas o textos que mais lhes convenham e agradem, os protestantes entenderam de tornar para si muito fácil a salvação, fazendo-a depender somente da fé, tornando-a inteiramente independente das boas obras. Mas ao mesmo tempo a tornaram impossível para os pagãos que nenhum conhecimento tiveram de Nosso Senhor Jesus Cristo.

   A doutrina da salvação só pela fé, sem as obras, logo se fez acompanhar da doutrina horrorosa e blasfema de que Deus predestina uns para o Céu e outros para o inferno, a qual há estava contida claramente nas obras de Lutero e foi abertamente ensinada por Calvino. Por mais que repugne a alguns modernos protestantes esta monstruosa teoria, não há como fugir a ela, na hipótese de que só a fé e nunca as obras do indivíduo é que podem influir na salvação. Aqueles a quem não chega a luz da revelação ficam assim numa situação irremediável. No entanto, nada mais contrário ao ensino da Bíblia, segundo a qual Deus é infinitamente bom e quer salvar a todos.

   E é muito de admirar que os protestantes vejam perigo (de favorecer ao orgulho e à presunção) na teoria de que o homem se salva praticando boas obras - veremos (nº 37; 135 e 136) até onde existe este perigo na doutrina católica - e não vejam perigo nenhum em ensinar-se ao povo que pela fé ele já está salvo e que as boas obras não influem nem direta nem indiretamente na salvação da nossa alma...

   

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A SALVAÇÃO PELA FÉ - (III)

CAPÍTULO  PRIMEIRO
DESMANTELO E DESEQUILÍBRIO DA TEORIA PROTESTANTE

No post A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( I ) já vimos: 1. A TESE DO PASTOR
                                                                                       2. TEXTOS EVANGÉLICOS
                                                                                       3. CONCILIAÇÃO DOS TEXTOS

No post A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( II) já vimos: 4. PERANTE A LÓGICA E A BÍBLIA: O CASO DOS PAGÃOS. 

HOJE VEJAMOS:
PERANTE A LÓGICA E A BÍBLIA: O CASO DOS CRISTÃOS.

   Passemos agora às religiões cristãs, que admitem a revelação feita por Nosso Senhor Jesus Cristo. Se elas ensinam que "o homem se salva pelas obras", estão ensinando uma coisa certa ou errada? Isto depende do sentido que se queira dar à frase. Se se toma no sentido de que o homem se salva exclusivamente pelas suas obras, desprezando-se a fé, como a desprezam aqueles que dizem "Todas as religiões são boas, vem a dar tudo na mesma coisa; minha religião consiste em fazer o bem", a doutrina está errada. Foi precisamente para combater este erro, para mostrar que era preciso submeter humildemente a inteligência a todas as verdades por Ele reveladas, que Jesus Cristo tanto insistiu em dizer que - quem crê n'Ele se salva, quem não crê se condena. Mas, se se toma num sentido que não exclua a obrigação de crer e se leva em conta a absoluta necessidade da graça para a realização das boas obras, a frase tem um sentido legítimo e verdadeiro, perante a razão e perante a Bíblia.

   Senão vejamos. Os cristãos, ou aqueles que têm conhecimento da doutrina cristã, Nosso Senhor veio ao mundo para dispensá-los da observância dos mandamentos, impondo-lhes unicamente a obrigação de crer? Absolutamente não! porque é o próprio Cristo quem diz: Se tu queres entrar na vida, guarda os mandamentos (Mateus XIX-17). Absolutamente não! porque ninguém está dispensado de obedecer à voz da consciência, de cumprir esta lei que está escrita no coração humano, se quiser conseguir o Céu. Foram abolidas todas as cerimônias e prescrições da lei mosaica, mas o Decálogo ficou de pé, porque é a lei eterna, que rege a alma do homem, é a fonte de toda a moral, de todas as leis. 
   O que acontece com o cristão é que, tendo um conhecimento mais vasto das coisas de Deus, dos preceitos e da vontade divina, a observância dos mandamentos lhe abre novos horizontes. Tem maiores obrigações e responsabilidades, desde que por sua vez recebeu maiores luzes, mais abundantes graças e tem mais facilidade para salvar-se. A todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido (Lucas XII-48). Ele sabe que o grande mandamento da lei é este: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (Mateus XXII-37). Bem como, conhece pelo Evangelho as palavras de Jesus Cristo. Ora, não estará amando a Deus com todo o seu entendimento, se não crer nas palavras do Divino Mestre. Logo, a obrigação de crer nas palavras de Jesus, que são palavras de Deus, pois Jesus Cristo é Deus, já está incluída na lei: observa os mandamentos. Porque não posso amar a Deus e, ao mesmo tempo desacreditar a sua palavra. E quando Jesus lhe diz que quem crê n'Ele se salva, quem não crê se condena, o cristão sabe que tem que aceitar todas as palavras de Jesus; logo, não pode desprezar a verdade que está contida nestas palavras: Se tu queres entrar na vida, guarda os mandamentos (Mateus XIX-17). Veja-se, portanto, que equilíbrio, que lógica se encerra na doutrina católica! Os mandamentos incluem a obrigação da fé em Cristo, e a fé em Cristo traz como consequência a obrigação dos mandamentos.