terça-feira, 30 de abril de 2013

O VERDADEIRO SENTIDO DA SALVAÇÃO PELA FÉ - ( 7 )

   64.  O CASO DO PARALÍTICO.

   Mas os protestantes apresentam as palavras de Jesus ao paralítico: Filho, tem confiança; perdoados te são teus pecados (Mateus IX-2), tentando provar com elas que basta a confiança para obter o perdão dos pecados e, por consequência, a salvação.

   O argumento não prova coisa alguma.

   Eis aí um belo exemplo para se mostrar, numa aula de português, quanto pode às vezes influir no sentido de uma frase a partícula E, que tantos vezes a gente pode colocar ou suprimir, sem alterar, de maneira alguma, o sentido. 

   Se eu digo: O sol, a lua, as estrelas foram criados por Deus, posso acrescentar o E, sem sofrer alteração o sentido da frase: O sol e a lua e as estrelas foram criados por Deus. 

   Mas, se Jesus Cristo tivesse dito: - Filho, tem confiança, e perdoados são teus pecados - os protestantes teriam razão: Nosso Senhor estaria dizendo que bastava ao paralítico ter confiança para receber o perdão de suas culpas. Nesse caso os escribas não teriam estranhado a palavra do Mestre; não teriam pensado: Este blasfema (Mateus IX-3), porque assim Jesus não estaria dizendo que perdoara os pecados ao paralítico, mas aconselhando-o a que tivesse confiança, pois Deus lhe perdoaria, caso esta confiança não lhe faltasse. 

   Mas Nosso Senhor disse: Filho, tem confiança; perdoados te são teus pecados (Mateus IX-2). No mesmo segundo em que o aconselhava a ter confiança, lhe está já anunciando que PERDOOU os seus pecados. 

   Havia, entre os judeus, a convicção de que as enfermidades corporais eram castigos de pecados. Relacionavam com esta crença as palavras dos Salmos: Se seus filhos abandonarem a minha lei e não andarem nos meus preceitos, se violarem as minhas justiças e não guardarem os meus mandamentos, visitarei com vara as suas maldades e com açoites os seus pecados (Salmos 88, 31-33). E uma amostra de que tinham esta convicção está na pergunta que fizeram a Jesus os seus discípulos, diante do cego de nascença: Mestre, que pecado fez este, ou fizeram seus pais, para nascer cego? (João IX-2).

   Jesus, que lia perfeitamente nos corações, bem sabia que perturbação, que ansiedade reinava na alma do paralítico: este desejava ardentemente a cura, mas seus pecados não seriam um obstáculo para isto? Jesus o tranquiliza, fazendo-lhe ver que não há motivo de receio quanto aos pecados, eles já foram absolvidos: Filho, tem confiança; perdoados te são teus pecados (Mateus IX-2). 

   No ânimo triste e acabrunhado do paralítico, a palavra de Jesus deve produzir o mais benéfico e salutar efeito: é preciso que ele esteja confiante de que alcançará a cura do corpo, pois até a própria cura da alma já lhe foi concedida.

   Querer basear-se neste texto par provar que a confiança na salvação é a condição exclusiva para remissão dos pecados, é inteiramente fora de propósito: 1º porque a confiança, a que Jesus aí se refere, não é confiança na salvação eterna, é a confiança na libertação daquela cruel enfermidade; 2º porque esta confiança aí já se mostra não como causa, mas como EFEITO da remissão dos pecados concedida ao paralítico. 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O VERDADEIRO SENTIDO DA SALVAÇÃO PELA FÉ - ( 6 )

   63.  A CANANEIA.

   Não faz exceção a esta regra a própria cananeia, que nos legou um tão notável exemplo de confiança.

   À semelhança do que no exame faz o mestre com o ótimo discípulo, "espichando-o" bastante para que se saia com brilhantismo, Nosso Senhor procurou pôr em prova as virtudes da cananeia.

   Ela vem pedir-Lhe um milagre, mas Jesus não dá resposta. Insiste aos gritos atrás d'Ele, a ponto de azucrinar os Apóstolos que, impacientes, dizem a Jesus: Despede-a, porque vem gritando atrás de nós (Mateus XV-23).

   Jesus diz: Eu não fui enviado senão às ovelhas que pereceram da casa de Israel (Mateus XV-24). E quando a mulher O adora, dizendo: Senhor, valei-me, Jesus lhe dá uma resposta um bocado dura: Não é bom tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães (Mateus XV-26). Mas a cananeia responde calmamente: Assim é, Senhor; mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos (Mateus XV-27). Sem falarmos no amor materno, que a faz, tão solícita, tudo enfrentar pela cura da filha, quantas virtudes mostra a mulher com esta réplica tão suave! Dá um exemplo de PRUDÊNCIA NAS PALAVRAS, porque responde com respeito e, ao mesmo tempo, com lógica, fazendo reverter em seu favor as próprias palavras de Jesus; de PACIÊNCIA, porque, se fosse uma mulher afobada, se tomaria  logo de raiva e deitaria tudo a perder; de HUMILDADE, porque se conforma em ser equiparada a uma cadelazinha, em comparação com os judeus que são considerados como filhos; de PERSEVERANÇA NA ORAÇÃO, porque insiste em pedir, mesmo quando já recebeu uma resposta negativa. Por conseguinte, não foi só de confiança, que ela nos deu um admirável exemplo! Se Jesus quisesse fazer o seu elogio completo, teria muita coisa que dizer. Preferiu elogiar-lhe a fé: Ó mulher, grande á a tua fé; faça-te contigo como queres (Mateus XV-28). De todas aquelas virtudes a base era a fé, porque, se ela se portou com tanta prudência, paciência, humildade e perseverança diante de Jesus, é porque sabia que estava diante do Messias Prometido, a quem ela chamou: Senhor, filho de Davi (Mateus XV-22), estando certa, portanto, da missão divina de Jesus.

   Não há dúvida que a fé vem sempre acompanhada de um certo sentimento de confiança: QUEM ACREDITA, é porque TEM CONFIANÇA naquele que revela. E se nos textos evangélicos que nos falam das curas por Jesus realizadas, se resume sob o nome de fé um complexo sentimento daqueles que vinham em busca de milagres, sentimento este que era adesão a Cristo, incluindo também a confiança e até alguma coisa mais como no caso da cananeia e não só a fé, no sentido em que a distinguimos das demais virtudes, não há aí nenhuma confirmação da doutrina protestante, pois daí não se conclui de forma nenhuma   que devamos ter uma mera fé-confiança, sem cuidar de aderir seriamente com a inteligência à verdades reveladas. Sem esta adesão da inteligência é que não pode haver fé  de maneira alguma. E se podemos ter confiança de nos salvarmos, é só nas bases e  sob as condições em que o plano da salvação nos é apresentado pela doutrina infalível de Jesus Cristo no Novo Testamento.  

sábado, 27 de abril de 2013

O VERDADEIRO SENTIDO DA SALVAÇÃO PELA FÉ - ( 5 )

   62. OUTRO ENGANO. 

   Apresentam também outro argumento que nada prova. A algumas pessoas que alcançaram curas corporais, Nosso Senhor lhes fez ver que foi por causa de sua fé que conseguiram aqueles milagres. Assim disse à mulher que padecia do fluxo de sangue: Filha, a tua fé te salvou: vai-te em paz e fica curada do teu mal (Marcos V-34). A mesma frase: A tua fé te salvou - Jesus disse ao cego de Jericó (Lucas XVIII-42) e ao leproso que voltou para agradecer (Lucas XVII-19). Ora, dizem os protestantes, aquelas pessoas vieram com toda a confiança de que Jesus as curaria; Jesus chama a esta confiança, fé; logo, a fé é confiança. 

   É fácil mostrar onde está o engano deste raciocínio. Aquela fé que traziam os cegos, doentes, leprosos etc., quando vinham ter aos pés de Jesus, se compunha de 2 elementos. Eles vinham, certos, convictos de 2 coisas: 
  1. Jesus queria curá-los;
  2. Jesus podia curá-los.
   Ora, a convicção de que Jesus QUERIA curá-los não causa nenhuma admiração. Não admira que um homem, mesmo sendo mau e perverso, se prontificasse a curar um cego, um leproso etc, se soubesse que bastaria uma palavra sua para livrá-lo daquele triste estado. Querer curá-los qualquer homem quereria; mas poder curar aquilo que é por sua natureza incurável - aí é que está o difícil. A convicção de que Jesus queria curá-los era confiança, mas uma confiança natural, que facilmente se explica; a convicção de que Jesus PODIA, isto era a convicção de uma verdade: que Jesus era Deus ou, pelo menos, um Enviado de Deus, o Messias Prometido, porque estava a seu alcance fazer o que quisesse. É sempre a aceitação de uma verdade.

   A prova está aqui: Aos dois cegos que seguiam atrás d'Ele dizendo: Tem misericórdia de nós, Filho de Davi, Jesus não pergunta: Tendes confiança de que eu quero curar-vos? Sua pergunta é esta: Credes que vos posso fazer isto a vós outros? (Mateus IX-28) e quando eles respondem Sim, Senhor, Jesus lhes diz: Faça-se-vos, segundo a vossa FÉ (Mateus IX-29). E no capítulo anterior, São Mateus nos narra que, quando Jesus desceu do monte, muita gente o seguiu; veio ao encontro d'Ele um leproso, e como é que esse leproso exprime a sua fé? É com esta palavra: Se tu queres, Senhor, bem me PODES alimpar (Mateus VIII-2). Parece não estar muito certo de que o Mestre quer, pois talvez ele não o mereça; está, porém, certíssimo de que o Mestre pode.

   O centurião vem pedir a Jesus a cura do criado e o Mestre lhe diz imediatamente: Eu irei e o curarei (Mateus VIII-7). Até aqui nenhuma admiração de Jesus pelo fato de ter vindo o centurião à sua presença. Mas, quando o centurião Lhe faz ver que não é necessário que Jesus vá à casa dele, pois PODE curar de longe mesmo: Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; porém manda-o só com a tua palavra e o meu criado será salvo (Mateus VIII-8) diz o Evangelho o que aconteceu: Jesus ouvindo-o assim falar, admirou-se e disse para os que O seguiam: Em verdade vos afirmo que não achei tamanha FÉ  em Israel (Mateus VIII-10) A fé, portanto, dos que recorriam a Jesus era sobretudo a convicção de que Jesus podia fazer o milagre e, se podia, é porque era um Enviado de Deus, pois, como disse Nicodemos: Ninguém pode fazer estes milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele (João III-2). 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

VERDADEIRO SENTIDO DA SALVAÇÃO PELA FÉ - ( 4 )

   61. UM TEXTO DA EPÍSTOLA AOS HEBREUS.

   Os argumentos que apresentam os protestantes para confundir uma virtude com outra, são muito fracos diante de tantos textos da Bíblia que vamos daqui a pouco apresentar para mostrar o legítimo sentido da palavra CRER. Apelam para o texto de São Paulo: É pois, a fé, a substância das coisas que se devem ESPERAR,  um argumento das coisas que não aparecem (Hebreus XI-1). É claro que há uma relação íntima entre a esperança e a fé, pois a fé apresenta matéria, objeto, quase diríamos assunto para a esperança. Se espero o Céu, é porque a fé me dá certeza de que este Céu existe; é por isto que São Paulo diz que a fé é a substância das coisas que se devem esperar, não se esquecendo logo de acrescentar: um argumento, uma demonstração, uma prova daquelas coisas que não aparecem, que não se veem. E se ele diz um argumento, uma demonstração (que é este o sentido da palavra élenchos, aí empregada no texto grego: élenchos, isto é, o ato de argumentar, de convencer, de persuadir, de demonstrar), é porque a fé não é um mero sentimento; é, sobretudo, um ato da inteligência que se convence da verdade. E neste mesmo trecho, cinco versículos mais adiante, diz São Paulo: Sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que o que chega a Deus creia que há Deus e que é remunerador dos que O buscam (Hebreus XI-6). Aí São Paulo nos diz que para agradar a Deus precisamos ter fé; depois mostra em que consiste esta fé INDISPENSÁVEL PARA AGRADAR A DEUS; não se trata de esperança ou da certeza de que seremos salvos; trata-se de, pelo menos, DAR CRÉDITO a duas coisas (uma vez que nem todos chegam a ter conhecimento da doutrina do Evangelho), de dar o nosso assentimento a duas verdades: 1ª Deus existe; 2ª  Deus é justo e recompensa aqueles que O buscam. 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O VERDADEIRO SENTIDO DA SALVAÇÃO PELA FÉ - ( 2 )

   58. DOUTRINA PROTESTANTE E DOUTRINA CATÓLICA.

   Dizem os protestantes de hoje que as boas obras são um meio de exercitar a fé, são um fruto ou consequência da salvação: o indivíduo que já está salvo pela fé pratica boas obras, mas as boas obras não são CAUSA  da salvação.

    A distinção é subtil, capciosa e, sobretudo, confusa para se ensinar ao povo, que precisa saber de uma maneira límpida e clara o que deve fazer e o que não deve fazer par ganhar o Céu. Mas o Protestantismo não está ligando muita importância a isto: discordar da Igreja Católica é todo o seu gosto e prazer.

   A fórmula protestante encerra uma linguagem duvidosa e geradora de confusões: "As boas obras são uma consequência da fé: aquele que já está salvo pela fé, pratica boas obras".

   Mas consequência, de que modo? 

   Consequência livre, no sentido de que aquele que tem fé praticará as boas obras que bem entender? Isto não se admite. Se Deus nos impôs 10 mandamentos, não está em nosso poder fazer uma escolha entre eles, não nos é lícito nem ao menos escolher nove mandamentos e rejeitar um só; quem peca contra um só mandamento que seja, peca contra toda a lei, pois se rebela contra Deus, Senhor Supremo, que é o Autor de toda a lei: Qualquer que tiver guardado toda a lei e faltar em um só ponto, fez-se réu de ter violado todos (Tiago II-10).

   Consequência necessária no sentido de que aquele que tem fé, já não peca mais e só pratica boas obras? Ninguém é tolo para acreditar nisto. A experiência de cada dia nos demonstra que não existe sobre a face da terra nenhum homem impecável: Todos nós tropeçamos em muitas coisas (Tiago III-2). Aquele, pois, que crê estar em pé veja não caia (1ª Coríntios X-12). 

   Consequência necessário, no sentido de que qualquer ação, seja boa, seja má, praticada por aquele que tem fé se torna uma obra boa? Mas isto seria o maior dos absurdos. Como é que Deus vai considerar obras boas o roubo, a injustiça, o adultério, o falso testemunho pelo simples fato de serem praticados por um homem que tem fé? Muito pelo contrário: se estes pecados já são graves para o pagão que não conhece a Cristo, mais graves ainda se tornam para o cristão, esclarecido pelas luzes da fé.

   Consequência necessário, no sentido de que aquele que tem fé se sente forçosamente na obrigação de observar os mandamentos e praticar boas obras? Mas isto é a pura doutrina católica; neste caso os mandamentos são tão obrigatórios como a própria fé. Sua observância é indispensável para a conquista do Céu. Não se trata mais, portanto, de salvação pela fé sem as obras.

   Nós, católicos, afirmamos que para o homem salvar-se, para ganhar o Céu, não só é necessária a fé em Cristo; é necessária também a observância dos mandamentos, pelo amor de Deus e do próximo, indispensável para a salvação. Não é a fé sem as obras que salva; é a fé acompanhada das obras, a fé CONSUMADA PELA OBRAS (Tiago II-22), como se expressou São Tiago.

   Se se exige o arrependimento dos pecados para o pecador receber o perdão, isto é porque ele, desviando-se da obrigação dos mandamentos, se afastou do caminho do Céu. Dizendo, porém, que a fé salva com as obras, não afirmamos que o homem realiza estas obras, sozinho, por suas próprias forças naturais; realiza-as, sim, ajudado com a graça de Deus, a qual Deus dá a todos; ao que faz o que está no seu alcance, Deus não nega a sua graça, porém a graça é necessária, não só para a fé, mas para a observância dos mandamentos, como também para fazer qualquer ato bom meritório para a vida eterna. Em suma, existe na obra da salvação a parte de Deus e a nossa. A nossa parte não consiste só na fé, mas também nas obras, na observância dos mandamentos, embora que para isto precisamos que Deus nos ajude. Se cooperarmos com a sua graça, pela fé e pela observância dos mandamentos de Jesus, e morrermos em estado de graça santificante, seremos salvos. Se com ela não cooperarmos e morrermos em estado de pecado mortal, seremos condenados. A salvação é, portanto, efeito da graça e das nossas obras, da nossa cooperação, ao mesmo tempo. 

   

terça-feira, 23 de abril de 2013

O VERDADEIRO SENTIDO DA SALVAÇÃO PELA FÉ - ( 1 )

   57. TEXTOS BÍBLICOS SOBRE A SALVAÇÃO PELA FÉ.


 
Agora que já fizemos uma ligeira exposição da doutrina católica no capítulo segundo e mostramos, no capítulo terceiro, como nasceu a teoria da salvação só pela fé, passamos a mostrar diretamente como é falsa esta teoria, expondo a verdadeira interpretação dos textos em que os protestantes pretendem apoiá-la.

   Vamos aos textos.

   O Evangelho de S. Marcos nos mostra Jesus mandando os Apóstolos a pregar o Evangelho por todo o mundo: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura (Marcos XVI-15) e acrescentando logo em seguida: O que CRER e for batizado SERÁ SALVO; o que, porém, não crer será condenado (Marcos XVI-16).

   Mas onde se encontram muitos textos sobre a salvação pela fé é no Evangelho de São João, que nos mostra Jesus dizendo: Assim amou Deus ao mundo, que lhe deu a seu Filho Unigênito, para que TODO O QUE CRÊ N'ELE não pereça, mas TENHA A VIDA ETERNA; porque Deus não enviou seu Filo ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem n'Ele CRÊ NÃO É CONDENADO, mas o que não crê já está condenado, porque não crê no nome do Filho Unigênito de Deus (João III-!6 a 18). Mais adiante, no fim do mesmo capítulo 3º: O que CRÊ no Filho TEM A VIDA ETERNA; o que, porém, não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus (João V-24).

   No capítulo 5º: Em verdade , em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e CRÊ n'Aquele que me enviou, TEM A VIDA ETERNA  e não incorre na condenação, mas passou da morte para a vida (João V-24).

   No capítulo 6º: A vontade de meu Pai que me enviou é esta: que todo o que vê o Filho e CRÊ N'ELE TENHA A VIDA ETERNA;  e o eu o ressuscitarei no último dia (João VI-40). Uma palavra semelhante diz Jesus a Marta, pouco antes da ressurreição de Lázaro: Eu sou a ressurreição e a vida; o que CRÊ em mim NÃO MORRERÁ ETERNAMENTE (João XI_25 e 26). Ainda no capítulo 6º: O que CRÊ em mim TEM A VIDA ETERNA (João VI-47).

   Nos Atos dos Apóstolos se lê que, enquanto Paulo e Silas estavam na prisão, o carcereiro, tendo visto os fenômenos extraordinários que se deram à meia-noite quando ambos se entregavam à oração, lhes perguntou: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? (Atos XVI-30. A resposta foi esta: CRÊ no Senhor Jesus, e SERÁS SALVO tu e a tua família (Atos XVI-31).

   No primeiro capítulo da Epístola aos Romanos se lêem estas palavras de São Paulo: Eu não me envergonho do Evangelho, porquanto a virtude de Deus é para dar A SALVAÇÃO A TODO O QUE CRÊ (Romanos I-16). E na mesma Epístola se lê mais adiante, com referência a Jesus: Todo o que CRÊ N'ELE NÃO SERÁ CONFUNDIDO (Romanos X-11). Frase esta que se lê também na 1ª Epístola de São Pedro, em que se fala sobre Jesus, que é a pedra angular da Igreja: Eis aí ponho eu em Sião a principal pedra do ângulo, escolhida, preciosa; e o que CRER NELA NÃO SERÁ CONFUNDIDO (1ª Pedro II-6).

  Há ainda outros textos (todos de São Paulo) alegados também pelos protestantes em favor de sua teoria; nós os examinaremos, um por um, nos três capítulos seguintes, porque todos eles só podem ser estudados no seu respectivo contexto.

   Quanto aos textos deste capítulo, o leitor está vendo logo que são muitos, mas exprimem exatamente a mesma coisa:
  • Quem crê em Cristo se salva; quem não crê se condena.
  • Crê em Jesus e serás salvo.
  • Quem n'Ele crê não perece, mas tem a vida eterna.
  • Quem n'Ele crê não é confundido. 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 21)

  56. A FÉ QUE SALVA.

 
 O que se mostra em tudo isto é que os protestantes não entendem ou fingem não entender o que Cristo disse, quando afirmou que aquele que n'Ele crê se salva, aquele que não crê se condena. Cristo aí fala da fé. Mas a fé de que aí se faz menção não é um mero sentimento que nasce no nosso íntimo e aí termina. Não. Trata-se de um sentimento que é ao mesmo tempo um princípio de atividade, uma fonte de virtudes e de boas obras. Pela fé é que Abraão ofereceu a Isaque quando foi provado (Hebreus XI-17). Pela fé é que Raab, que era uma prostituta, não pereceu com os incrédulos, recebendo aos espias em paz (Hebreus XI-31). Pela fé conquistaram reinos, obraram ações de justiça, alcançaram as promessas (Hebreus XI-33).

   Quando o católico procura com a graça de Deus, vencer as suas tentações, observar os mandamentos, convencido de que isto é indispensável para a salvação, está fazendo um ATO DE FÉ  em Jesus Cristo Legislador que lhe mandou cumprir com os mandamentos; em Jesus Cristo, Justo Juiz que um dia o há de julgar segundo as suas obras. Quando o católico se ajoelha aos pés do seu confessor, faz um ato de fé não naquele homem que ali está, mas um ATO DE FÉ em Jesus Cristo que deu a homens por Ele escolhidos e enviados, o poder de perdoar pecados: Aos que vós perdoardes os pecados, ser-lhes-ão eles perdoados; e aos que vós os retiverdes, ser-lhes-ão eles retidos (João XX-23). Quando o católico se mostra submisso à Igreja, faz um ATO DE FÉ em Jesus Cristo que edificou a sua Igreja sobra a pedra que era Pedro e prometeu que as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mateus XVI-18). Sim; é a fé que o salva. Não essa fé ilusória pela qual, alguém pensando ter-se salvado, já por isto está salvo. Não a fé desacompanhada das obras que demonstram a submissão à lei e aos preceitos de Cristo. Mas a fé inspiradora das virtudes e das boas obras; a fé que domine toda a sua vida, toda a sua atividade de cristão, pois o meu justo vive da fé (Hebreus X-38)

domingo, 21 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 20 )

   55.  A MÁSCARA PROTESTANTE (b).

   A causa de tanta desordem, de tantas seitas no Protestantismo é precisamente esta. Cada qual se aferra a uns textos e despreza outros, procurando tirar da Escritura o que bem entende. Quem vai explicá-lo bem direitinho é o próprio pastor protestante, Alexandre Vinet, que pode falar de cátedra, pois saberá descrever mais perfeitamente do que nós, o que se passa nos arraiais protestantes:
"A palavra de Deus, não há dúvida, só pode ter um sentido em si mesma; mas terá mil sentidos no espírito do leitor... Não se procura com efeito na Bíblia toda a verdade, mas a verdade que agrade e deleite. Cada qual se lança sobre sua presa; rica e esplêndida presa, porque mesmo as verdades parciais têm na Bíblia uma beleza que as transformaria em belos erros, e a autoridade do livro lhes dá uma consagração majestosa. Insiste-se no sentido da verdade que se procurou; excluem-se ou desprezam-se aqueles que a completam, servindo-lhe de contrapeso; não se vê na Bíblia senão o que se quer; de sorte que de fato cada um tem a sua Bíblia, sustenta em seu nome e tira de seu texto os erros mais antibíblicos, e assim os caracteres, as inclinações, os homens que diferem mais profundamente entre si, se valem todos da Bíblia e o mesmo estandarte flutua para exércitos rivais" (L'Eglise et des confessions de foi, p. 29). 
   Vê-se aí, pelas palavras do próprio autor protestante, como se pode abusar facilmente do Livro Sagrado. Assim o fez Lutero, apegando-se exclusivamente àqueles textos em que se mostra a fé como necessária à salvação. Os protestantes de hoje reconhecem que Lutero errou, pois não admitem mais aquela teoria absurda, escandalosa e subversiva que foi pregada pelo iniciador da Reforma, ou seja, a salvação pela fé e SEM O ARREPENDIMENTO. 

   Mas continuam a apegar-se aferradamente aos mesmos textos e, o que é mais grave ainda, em matéria de falsa interpretação, arranjando-os, alterando-os aos seu modo. 

   Quem crê em Jesus (e se arrepende de seus pecados) se salva - crê em Jesus (e arrepende-te dos teus  pecados) e serás salvo - o que crê no Filho (e se arrepende dos pecados) tem a vida eterna. 

   Não, caros amigos! Já que vocês se aferram tão obstinadamente a estes textos e não se dão nem ao trabalho de conferi-los com os outros da mesma Bíblia, numa busca sincera da verdade, como era sua obrigação, pelo menos deveriam ter a lealdade de não mexer neles, de não alterá-los.

   -- Mas, dirão estes protestantes, nós não estamos alterando; estamos apenas subentendo uma palavra no texto de Cristo. 

   -- Muito bem! se subtendem juntamente com a palavra CRER, que está no texto, a palavra ARREPENDER-SE, que nele não se encontra, por que não subtender também todas as outras condições que, segundo as palavras claras de Cristo, são igualmente indispensáveis para a salvação? Os textos falam da fé em Cristo, não é verdade? E fé em Cristo não é acreditar em todas as palavras de Ele disse?

   E que arranjos são estes com os textos das Escrituras? como é que os textos que serviam ao Protestantismo no tempo de Lutero, de Calvino e dos Primeiros Reformadores, para provar que só a fé é quem salva, sem o arrependimento ser necessário, estes mesmos textos servem agora ao mesmo Protestantismo para provar que para a salvação é necessária a fé e é necessário também o arrependimento, se estes textos não falam em arrependimento? 

NOTA: Temos visto protestantes que, tentando acobertar a incoerência do seu sistema, querem agora valer-se de uma fórmula inteiramente imaginária: "A fé e o arrependimento sempre andam juntas; são duas graças gêmeas. Quem crê, se arrepende; quem se arrepende, crê".
   Mas isto não é verdade, ou se tome a fé no sentido protestante ou no sentido católico. Que é a fé, segundo o conceito dos protestantes? É a confiança de ser salvo por Jesus. Pode haver esta confiança de salvar-se, sem haver a contrição. Será uma confiança AINDA MAIOR,  a de que Jesus nos salve sem exigir de nós o arrependimento, mas uma confiança que excede os seus justos limites. Aqueles que chegarão, no dia do juízo, CERTOS DE SEREM SALVOS POR JESUS, mas a quem o Divino Mestre dirá: Apartai-vos de mim os que obrais a iniquidade (Mateus VII-23), por que serão condenados eternamente, senão porque lhes faltou o arrependimento de seus pecados? Bem como, pode haver o arrependimento sem haver esta confiança, como se viu no caso de Judas que tocado de ARREPENDIMENTO, tornou a levar as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos (Mateus XXVII-3) e no entanto levado pelo desespero, destituído de qualquer confiança de salvar-se,  retirou- se e foi-se pendurar de um laço (Mateus XXVII-5).
   Se se toma a fé no sentido católico, o de ACREDITAR nas verdades reveladas, também é evidente que esta fé pode existir sem arrependimento, como é o caso daqueles que creem nas verdades da fé sem ter coragem de deixar o pecado; e o arrependimento pode existir sem a fé, é o que se observa naqueles que detestam de coração seus próprios crimes e desatinos e têm firme propósito de emenda, mas ainda não se abalançaram a acreditar em todos os dogmas ensinados por Cristo.

sábado, 20 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 19 )

   55.  A   MANHA  PROTESTANTE (a). 

   E assim o leitor já vai começando a tomar contato com este fenômeno tantas vezes comprovado: A MANHA PROTESTANTE.

   Cristo nos veio ensinar a doutrina da salvação. Teve, portanto, que falar muitas vezes sobre isto, ou melhor, sempre que falava era sobre este assunto. Mas não era necessário que cada vez que falasse sobre a salvação, repetisse enfadonhamente todas as coisas que são necessárias para o homem salvar-se. Uma noite em conversa com Nicodemos fala na necessidade do Batismo (João III-5). Em outras ocasiões mostra que o caminho do Céu é a observância dos mandamentos (Mateus XIX-17; Lucas X-25-28). Salienta ser imprescindível, para a salvação a caridade para com o próximo (Mateus VI-15 XXV-31 a 46). Se a salvação não é possível sem a remissão dos pecados, Ele mostra por mãos de quem nos chega esta remissão (João XX-23). Fala-nos da necessidade de recebê-Lo eucaristicamente para manter em nós a vida de graça e conseguir a vida eterna  (João VI- 54). Mostra-nos que no dia de juízo virá retribuir a cada um segundo as suas obras (Mateus XVI-27). Além disto, há um texto bem claro da Bíblia que nos diz abertamente que a fé sem as obras não pode salvar (Tiago II-14).

   Por isto, antes de Lutero, já fazia 15 séculos que a Bíblia vinha passando em muitas e muitas mãos; homens santos e sábios tinham-se debruçado sobre ela por toda a vida e feito luminosas interpretações, mas nenhum deles se havia lembrado de ver nas frases - Quem crê em Jesus se salva, que não crê se condena.; Crê em Cristo e serás salvo; o que crê no filho tem a vida eterna - a doutrina de que a fé, somente ela, sem as outras condições preceituadas por Cristo era capaz de salvar o homem. Estes textos estavam todos misturados na Bíblia e cada um sabia que cada trecho da Escritura merece toda a nossa consideração, e não um mais do que outro, porque todos são palavra de Deus. Além disto, a Igreja sempre teve como norma rejeitar qualquer doutrina, quando esta doutrina logicamente leva à imoralidade e à corrupção dos costumes. Porque, é claro, o Deus que nos ensina a verdade é o mesmo Deus que nos manda praticar as virtudes. 

   Chega, porém, Lutero e, na ânsia de resolver os problemas do seu espírito atribulado, não recua diante da doutrina ímpia e escandalosa: a fé, só ela é quem salva. Pouco lhe importam os outros textos bem claros, bem evidentes em que se mostra que outras coisas também são necessárias para a salvação. Refuga-os, despreza-os, torce-os, e chega até ao cúmulo de se declarar abertamente contra a própria Bíblia: "Se os nossos adversários, diz ele, fazem valer a Sagrada Escritura contra Jesus Cristo, nós fazemos valer Jesus Cristo contra a Escritura. Do meu lado tenho o Senhor; eles têm os servos; nós, a cabeça; eles os pés e os membros, que se devem sujeitar e obedecer à cabeça. Se é mister sacrificar-se a lei ou Jesus Cristo, sacrifique-se a lei, não Jesus Cristo" (Opera Latina I-387-a). "Tu fazes grande caso da Escritura que é serva de Jesus Cristo; eu, pelo contrário, dela não me importo. À serva liga a importância que quiseres, eu quero valer-me de Jesus Cristo, que é o verdadeiro senhor e soberano da Escritura e que mereceu e conquistou, com sua morte e ressurreição a minha justiça e a minha salvação eterna" (Walch VIII-2140 e sgs.).

   Admite assim Lutero que há contradição entre Jesus Cristo Salvador e as Escrituras, o que equivale a dizer, entre a Escritura e ela própria, pois o que sabemos de Jesus Cristo é pela Escritura. Interpretar a Escritura desta maneira, vendo nela contradições, decidindo-se por uns textos e rejeitando outros, isto não é interpretar, é mostrar claramente que não se encontrou ainda a verdade e se quer apenas lançar a confusão nos espíritos. 

continua no próximo post

sexta-feira, 19 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 18 )

   54. (c). A  MÁSCARA.

   Que é o arrependimento? É o pesar por haver praticado más obras. Supõe, para ser verdadeiro, o firme propósito de daqui por diante não praticá-las mais. 

   Se, por exemplo, um homem vive em união ilícita com uma mulher, se está metido em transações proibidas que dão prejuízo ao próximo, se tem o ódio no seu coração, não basta que ele na igreja ou nas suas orações se mostre compungido. Porque a Deus ninguém engana. É preciso que abandone aquela união pecaminosa, aquelas transações ilegais, aquele ódio que domina o seu coração. São, portanto, as suas obras, o seu modo de agir, a sua maneira de proceder daqui por diante que vão demonstrar a sinceridade do seu arrependimento. Por que é que Lutero tanto se zangava quando se falava em arrependimento? Era porque arrependimento inclui uma emenda, uma correção, uma alteração em nossas obras, em nossa maneira de proceder; o que já não vem a ser salvação só pela fé.

   Você diz que para a salvação é necessário o arrependimento dos pecados. E diz muito bem. Mas em que  consiste o pecado? Em não obedecer ao que Deus nos preceituou na sua lei. Só posso arrepender-me de não ter feito uma coisa, quando reconheço que tinha obrigação de fazê-la. Como posso arrepender-me de não ter sido casto, se não reconheço a obrigação da castidade? Como posso arrepender-me de ter feito um roubo, se não reconheço a obrigação de respeitar a propriedade alheia? Como posso arrepender-me de uma grosseria para com meus pais, se não reconheço a obrigação de honrá-los? Afirmando, portanto, a necessidade do arrependimento dos pecados para a salvação, Você está reconhecendo consequentemente que é necessária para a salvação a observância dos mandamentos. Logo, não é só a fé. 

   E não venha dizer-me que o homem que crê em Cristo se torna impecável, já não comete pecados, porque posso dizer-lhe seguramente que é mentira. Primeiro que tudo, temos o exemplo na própria Bíblia. São Pedro cria em Cristo, fez as mais belas profissões de fé, e isto não o impediu de cair em pecado. E a experiência de cada dia nos mostra que não é o fato de crerem os homens em Jesus Cristo que os torna  incapazes de cometer pecados, pois a fé não tira o livre arbítrio de cada um.

   Como vê o leitor, o protestante de nossos dias, embora não admita a teoria da salvação só pela fé, usa de textos da Bíblia fingindo admiti-la: "Não estão vendo os Srs.? A Bíblia afirma que basta crer em Cristo para salvar-se; logo, as nossas obras não influem na salvação".

   É a máscara que usam, fazendo-se mais feios do que realmente são. "Os protestantes pessoalmente valem mais do que a sua doutrina" - tem sido reconhecido isto por vários escritores católicos. Se usam máscara, é para fazer a sua propaganda contra a Igreja. A sua atitude admitindo agora o livre arbítrio põe por terra a teoria de Lutero, a qual se baseava no princípio do arbítrio escravo: o homem é um jumento etc. Se o homem não é um jumento, mas um ser livre, precisa arrepender-se de seus malfeitos para salvar-se. Arrepender-se não é só sentir uma dor passageira, é mudar de vida. E mudando de vida, está contribuindo com suas obras para a salvação. 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - (17)

   54.  A MÁSCARA (b).

   Tais princípios (vistos no post anterior) logicamente levariam a uma Igreja invisível; e entretanto os protestantes se organizam em igrejas visíveis, porque sabem muito bem que foi uma Igreja Visível que Jesus instituiu.

  Esta arma perigosa contra a Igreja Católica, podiam usá-la Lutero e Calvino e os Primeiros Reformadores, mas a que preço? Nagando a liberdade humana, base de toda a Religião, pregando o arbítrio escravo, teoria evidentemente antibíblica e que acarreta as piores consequências, como já vimos. 

   O protestante de hoje, que admite o livre arbítrio, jã não pode usá-la por uma razão muito simples: ele não crê mais na salvação só pela fé; ao contrário reconhece que as obras do indivíduo influem na salvação. Não se espante o leitor.

   É muito fácil prová-lo.

   Chame o leitor qualquer protestante que encontrar por aí e pergunte-lhe:
   -   Um homem crê em Cristo, mas já cometeu muitos pecados graves; que lhe é necessário para salvar-se? basta a fé?
   O protestante responderá:
   -   Não. É necessário também o arrependimento dos pecados. 

   (Ele responderá sempre assim e só assim é que pode responder, porque dispensar do arrependimento os pecadores seria abrir a porta pata todos os crimes e todas as misérias). 

   - Já se vê, meu caro amigo protestante, que Você não admite a salvação só pela fé. Admitia-a, sim, o chefe Lutero, o qual não exigia arrependimento para o homem salvar-se; era só a fé e nada mais. 

   Das duas, uma:

  Ou aquelas palavras da Bíblia não têm a significação que Você quer emprestá-lhes, ou então Você já não acredita mais nas palavras da Bíblia, que prega com tanto ardor. 

  Porque a Bíblia não diz: Crê no Senhor Jesus e arrepende-te dos teus pecados e serás salvo; mas dia: Crê no Senhor Jesus e serás salvo (Atos XVI-31).

  A Bíblia não diz: O que crer e for batizado e se arrepender de seus pecados será salvo - mas - o que crer e for batizado será salvo (Marcos XVI-16).

  A Bíblia não diz: O que crê no filho e se arrepende de seus pecados tem a vida eterna - mas - mas o que crê no Filho tem a vida eterna (João III-36).

   Em parte alguma do mundo fé e arrependimento, crer e arrepender-se são sinônimos.

  Além disto, caro amigo protestante, Você dizendo que o arrependimento é necessário para o homem salvar-se, está reconhecendo que as nossas obras influem na salvação. E no entanto vive a pregar que elas não influem na salvação nem direta nem indiretamente. 

continua no próximo post

quarta-feira, 17 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - (16)

   54. A MÁSCARA (a).

   Os protestantes tiveram, portanto, que rejeitar o erro de Lutero. Toda a teoria luterana se baseia no princípio de que no homem não é livre. Mas os protestantes de hoje, na sua quase totalidade, admitem a liberdade humana. Cai assim por terra todo o sistema do Patriarca da Reforma, porque, se o homem é livre, ninguém o dispensa de servir a Deus em seus pensamentos, palavras e obras para conseguir o Céu. E adeus, salvação só pela fé!

   Mas os protestantes, embora não admitindo mais a salvação só pela fé, passaram a fingir que a admitiam. Mudaram completamente de doutrina, mas continuam a pôr na fachada o mesmo letreiro de outrora. Por que motivo?

   Porque confessar abertamente agora que as obras do indivíduo influem na salvação seria confessar claramente o fracasso doutrinário da Reforma e seria renunciar à vantagem que a apresentação da doutrina da salvação só pela fé trazia e traz, para eles , ou seja, o efeito da propaganda. 

   Realmente apresentar ao povo frases da Bíblia como estas: Crê no Senhor Jesus e serás salvo (Atos XVI-31); 
   O que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer será condenado (Marcos XVI-16);
   O que crê no Filho tem a vida eterna (João III-36);
   e sem apresentar-lhe também outras passagens que "as completam, servindo-lhes de contrapeso", para nos utilizarmos da expressão de Vinet, autor protestante, que daqui a pouco citaremos;
    e acrescentar a isto a teoria do livre exame - cada um interpreta a Bíblia como bem entende, pois este é o nosso direito - é usar a mais perigosa das armas contra a Igreja Católica. 

   Se basta crer em Cristo para me salvar, e a Bíblia que eu tenho em casa posso interpretá-la como me convier, então não preciso da Igreja Católica, nem dos seus sacramentos, nem da sua doutrina, para coisa alguma.

   Arma perigosíssima que, como todas as armas deste gênero, pode voltar-se contra aqueles mesmos que a manejam, ou seja, no caso, os protestantes, os quais costumam organizar-se em igrejas visíveis, com seus templos, reuniões, associações etc. Há algumas seitas protestantes até que arrecadam nada menos que 20% dos rendimentos de seus adeptos. Mas o protestante também pode pensar assim: Se basta crer em Cristo para salvar-me, que necessidade tenho eu de frequentar esta seita ou de pertencer a ela? Se Cristo prometeu graças especiais quando se acham reunidos 2 ou 3 pessoas em seu nome (Mateus XVIII-20) 2 ou 3 pessoas é fácil reuni-las aqui mesmo dentro de casa. E que necessidade tenho eu de ouvir a pregação do pastor que, pelo livre exame, vai expor suas opiniões pessoais sobre a Bíblia, se a Bíblia a tenho eu em casa, e também sei interpretá-la, talvez até melhor do que ele.

continua no próximo post. 

terça-feira, 16 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - (15)

   53.  SÓ PODIA DAR NISSO MESMO!

   Muitos dos primeiros chefes e adeptos do Protestantismo, embora divergindo em muitas coisas não só de Lutero, mas também entre si, estavam de acordo naquele ponto: em que o homem não goza de livre arbítrio. Cristo pagou por todos nós e não nos resta mais fazer nada, a não ser crer em Cristo, etc, etc. Mas a pregação de tais ideias, que vinham dar numa doutrina francamente imoral e escandalosa, não podia deixar de receber as censuras mais acerbas, não só da parte dos católicos, senão também de todos os homens de bom senso. E desde cedo se começaram a ver os tristes efeitos da disseminação de tais ideias no seio do povo, os quais logicamente não podiam ser senão os mais desastrosos. Não há testemunho mais insuspeito sobre o assunto do que o do próprio Lutero: "Os evangélicos são sete vezes piores que outrora. Depois da pregação da nossa doutrina, os homens entregaram-se ao roubo, à mentira, à impostura, à crápula, à embriagues, e a toda a espécie de vícios. Expulsamos um demônio e vieram sete piores. Príncipes, senhores, nobres, burgueses e agricultores perderam de todo o temor de Deus" (Weimar XXVIII-763). O demônio que ele dizia ter expulsado era o Papado. 

   Diz ainda Lutero:

   "Depois que compreendemos não serem as boas obras necessárias para a justificação, ficamos muito mais remissos e frios na prática do bem. É admirável com que fervor nos dávamos às boas obras outrora, quando por meio delas nos esforçávamos por alcançar a justificação. Cada qual porfiava por vencer os outros em piedade e honestidade. E se hoje se pudesse voltar ao antigo estado de coisas, se de novo reviesse a doutrina que afirma a necessidade do bem fazer para ser santo, outra seria a nossa alacridade e prontidão no exercício do bem" (Weimar XVII-443). "Quem de nós, - continua Lutero - se teria abalançado a pregar, se pudesse prever que tanta desgraça, tanto escândalo, tanto crime, tanta ingratidão e malvadez seriam o resultado da nossa pregação? Agora, uma vez que chegamos a este estado, soframos-lhe as consequências" (Walch VIII-564).

   O leitor nem precisava destes comentários feitos tão sinceramente por Lutero para calcular, por si mesmo, os efeitos daquela teoria da salvação só pela fé: se os pregadores, apresentando o Cristianismo como realmente é, um admirável código de moral, e mostrando Deus a impor aos homens a sua lei e querendo que eles se santifiquem (esta é a vontade de Deus: a vossa santificação - 1ª  Tessalonissenses IV-3) não podem com isto impedir que haja muitos crimes, escândalos e pecados, muita libertinagem nesta massa humana, tão inclinada para o mal e para a perdição - que não será agora a pregação desta nova doutrina, e isto em nome de Cristo, em nome do Evangelho: que não há mais necessidade de observar os mandamentos, mas só a de confiar em Cristo para conseguir o Céu, porque Cristo já conseguiu o Céu para todos nós?

sábado, 13 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 14 )

   52.  BONITO COMEÇO!... (b).

   Sustentando tal doutrina, Lutero sabia que tinha que romper abertamente com a interpretação tradicional da Igreja.

   Qual é o defensor de uma tese que, depois de apresentar seus próprios argumentos, não acha vantagem em ampará-la com o testemunho dos sábios que o precederam? Mas, negando o livre arbítrio, ele não podia encontrar apoio nos Santos Padres, nem nos intérpretes de nenhuma época. Não teve outro recurso senão proclamar o livre exame da Bíblia: ele interpretava assim contra a opinião do mundo inteiro, porque cada um tem o direito de interpretá-la com bem entende. E como isto não é argumento capaz de convencer a ninguém, Lutero se declara inspirado por Deus:

   "Quem não crê como eu é destinado ao inferno. Minha doutrina e a doutrina de Deus são a mesma coisa. Meu julgamento é o julgamento de Deus" (Weimar X 2 Abt. 107). "Tenho certeza que meus dogmas vêm do Céu... eles hão de prevalecer e o Papa há de cair, a despeito de todos os poderes dos ares, da terra e do mar" (Weimar X, 2 Abt. 184). 

   Em 1535, ele declara ao legado do papa: "Somos agora esclarecidos sobre todas as verdades da fé pela luz direta do Espírito Santo" (Apud Janssen III-481).

   Foi, portanto, para acobertar uma tese profundamente antibíblica que Lutero recorreu ao livre exame. Hoje a grande maioria dos protestantes estão inteiramente em desacordo com Lutero, pois admitem a liberdade humana e não concordam com aquela teoria ímpia de que o cristão está livre de todas as leis. São obrigados, por conseguinte, a confessar que o livre exame foi inaugurado com erros gravíssimos. Que bonita estreia!

   Depois de Lutero apareceu uma chusma de intérpretes, todos iluminados diretamente pelo Espírito Santo... e cada um apresentando uma doutrina diferente. Já Lutero se escandalizava ao ver como Zuínglio e outros podiam negar a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, a qual está baseada em textos tão claros da Bíblia. Mas quem os tinha ensinado a torcer o sentido das Sagradas Letras, senão o próprio Lutero?

sexta-feira, 12 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 13 )

52. BONITO COMEÇO... (a)

   A outra observação que vem a talho de foice é esta: Que bonita estreia para a teoria do livre exame!

  Os protestantes costumam celebrar o gesto de Lutero rompendo com a Interpretação tradicional da Igreja e estabelecendo o princípio do livre exame: cada um tem o direito de fazer também a interpretação da Bíblia - como sendo uma verdadeira libertação. A Igreja estaria querendo monopolizar a interpretação para impor suas teorias errôneas (!!). Lutero então teria aberto o caminho para se chegar à interpretação verdadeira. Esta é a versão protestante.

   Vejamos agora como as coisas se passaram. 

   Lutero, como vimos, tomou como ponto de partida de sua doutrina o princípio de que O HOMEM NÃO É LIVRE NAS SUAS AÇÕES, NÃO POSSUI O LIVRE ARBÍTRIO. 

   Ora, se há uma verdade que transparece em todos os capítulos da Bíblia Sagrada, desde as primeiras páginas  do Gêneses em que Adão e Eva são chamados à responsabilidade pela sua desastrosa desobediência, até a última página, o último capítulo do Apocalipse em que se lê: "Eis aqui que depressa virei, e o meu galardão anda comigo para recompensar a cada um segundo as suas OBRAS (XXII-12) - é a noção da liberdade do homem, a ideia de que ele pode dispor de seus atos.

   Ao próprio Caim, que a muitos poderia aparecer como sujeito à fatalidade de uma maldição, Deus se mostra dizendo que ele é livre e bem pode vencer suas tentações: "Por que anda tu irado? e por que se descaiu a tua face? Porventura, se tu obrares bem, não receberás recompensa? e se obrares mal, não estará logo o pecado à porta? Ma a tua concupiscência estar-te-á sujeita e tu dominarás sobre ela "(Gêneses IV-6 e 7).

   São inúmeras as passagens da Bíblia em que Deus nos aparece impondo preceitos aos homens, ameaçando com castigos aos que os transgridem, prometendo galardão aos que lhes obedecem. E se Ele assim o faz, não é para ludibriar dos homens, impondo-lhes mandamentos impossíveis (o que seria indigno da santidade de Deus); se Ele exige, é porque dá graça suficiente para cumpri-los. Se Ele exige, é porque o homem tem à sua mão escolher entre o bem e o mal, entre a recompensa e o castigo. 

   Assim se lê na Bíblia:

   "Este mandamento que eu hoje te intimo, não está sobre ti, nem está longe de ti, nem está no Céu, de sorte que possas dizer: Qual de nós pode subir ao Céu, para que no-lo traga e o ouçamos e o ponhamos por obra? Também não está da banda dalém do mar, para que te desculpes e digas: Qual de nós poderá passar o mar e trazer-no-lo, para que possamos ouvir e cumprir o que se nos manda? Mas esta palavra está muito perto de ti, na tua boca está e no teu coração para a cumprires. Considera que eu te pus hoje diante dos olhos a vida e o bem, e ao contrário a morte e o mal, para que tu ames o Senhor teu Deus e andes nos seus caminhos e guardes os seus mandamentos" (Deuteronômio XXX-11-16). 

   Josué diz ao seu povo: "Temei ao Senhor e servi-O com um coração perfeito e mui sincero, tirai os deuses a que vossos pais serviram na Mesopotâmia e no Egito e servi ao Senhor. Porém, se vos achais mal com servir ao Senhor, na vossa mão está a escolha: escolhei hoje o que mais vos agradar e a quem principalmente deveis servir, se aos deuses a quem serviram vossos pais na Mesopotâmia, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porque eu e minha casa havemos de servir ao Senhor" (Josué XXIV-14 e 15).

   Do profeta Ezequiel: "Quando o justo se apartar da sua justiça e cometer a iniquidade, morrerá nesse estado; ele morrerá nas obras injustas que cometeu. E quando o ímpio se apartar da sua impiedade que cometeu e obrar conforme a equidade e a justiça, ele assim dará a vida à sua alma; porque, considerando o estado em que se acha e apartando-se de todas as suas iniquidades que obrou, ele certamente viverá e não morrerá. Depois disto dizem ainda os filhos de Israel: O caminho do Senhor não é justo. Acaso os meus caminhos não são justos, casa de Israel, e não são antes os vossos os que são corrompidos? (Ezequiel XVIII-26 a 29). O Deus das Escrituras não é aquele que é pintado por Lutero e que faz do homem um jumento, cavalgando-o a seu bel-prazer, mas um Deus que, apesar de Todo-Poderoso, respeita a liberdade humana e se queixa amorosamente, amargamente, porque o homem não quis seguir o bom caminho de seus mandamentos, não quis cooperar com a sua graça: 

   "Agora, pois, habitadores de Jerusalém e varões de Judá, sede vós os juízes entre mim e a minha vinha. Que coisa há que eu devesse fazer à minha vinha que lhe não tenha feito? Far-lhe-ia acaso injúria sem esperar que ela desse boas uvas em lugar das labruscas que só produziu?... Porque a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel; e o varão de Judá, o seu renovo deleitável; e esperei que fizesse juízo e eis que só há iniquidade, e que praticasse justiça, e eis que só há clamor" (Isaías V-3, 4 e 7). 

   Em Jeremias se lê também a queixa de Deus: "Pasmai, céus, sobre isto e ficai em total desolação, portas deles, diz o Senhor. Porque dois males fez o meu povo: deixaram-me a mim, fonte d'água viva e cavaram para si cisternas rotas que não podem reter as águas" (Jeremias II-12 3 13). E alguns versículos mais adiante: "Também os filhos de Mênfis e de Tafnes te afrontaram até ao alto da cabeça. Porventura não te tem acontecido isto, porque abandonaste ao Senhor teu Deus naquele tempo em que te conduzia pelo teu caminho? (Jeremias II-16 e 17).    

   Lutero sabia que Jesus Cristo era Deus. E que prova mais espetacular da liberdade do homem do que chorando sobre a ingratidão de Jerusalém? É verdade que nessa hora Jesus cavalgava um jumentinho, mas era precisamente porque o homem estava longe de ser como aquele jumentinho que tão facilmente se deixava conduzir, era por causa das resistências do homem à s inspirações da divina graça, que Jesus chorava naquele momento. 

   Será inútil prosseguir nas citações. Negar a liberdade do homem, depois de tais passagens da Bíblia, afirmar depois disto, como Lutero, que Deus "opera em nós o bem e o mal" seria atribuir a Deus uma farsa inominável. Não pode haver, portanto, doutrina mais contrária ao ensino bíblico do que a negação da liberdade humana; qualquer pessoa que tenha um conhecimento, embora mínimo, das Escrituras, sabe muito bem disto. 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 12 )

   51. E ERA ASSIM?...

   O primeiro comentário que não podemos conter é este: E era com esta doutrina que Lutero queria reformar a Igreja?!!!

    Como sabemos, a Igreja tem o seu lado divino e o seu lado humano. Ela foi fundada por Cristo, cabe-lhe a guarda do depósito da fé; é a coluna e firmamento da verdade (1 Timóteo III-15). REFORMA DOUTRINÁRIA não pode haver na Igreja, pois Cristo garantiu a firmeza e a estabilidade de sua doutrina, prometendo que as portas do inferno não prevalecerão contra ela ( Mateus XVI-18). É o seu lado divino.

   Mas a Igreja é constituída por homens que, como tais, estão sujeitos a pecar, por maior que seja a sua dignidade. Tem produzido grandes santos, muitos de seus membros levam uma vida altamente edificante e piedosa, mas dentro dela há também homens que erram, que são pecadores, porque o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada no mar que colhe toda espécie de peixes; e depois de estar cheia, a tiram os homens para fora, e, sentados na praia, escolhem os bons para as vasilhas, e deitam fora os maus. Assim será no fim do mundo: sairão os anjos e separarão os maus dentre os justos e lançá-los-ão na fornalha de fogo" (Mateus VIII-47 a 50). Se os próprios santos nunca estão satisfeitos consigo mesmos, sempre acham que deveriam amar e servir a Deus muito mais, que se dirá então dos pecadores? Em todas as épocas, portanto, os membros da Igreja sentem necessidade de uma REFORMA MORAL, para cuja realização encontram meios na própria Igreja: na sua doutrina e nos seus sacramentos.

    E é muito significativo o que nos inícios da Igreja escreve o livro do Apocalipse em repreensão e advertência aos anjos das Igreja de Éfeso (II-4 e 5), de Pérgamo (II-14-16), de Tiatira (II-20) de Sardes (III-1 a 3) e de Laodiceia (III-15 e 16). Ou se interprete como sendo censuras feitas diretamente aos bispos destas igrejas ou às comunidades cristãs por eles dirigidas, o fato é que já naqueles tempos do primitivo fervor, aí se prega a reforma de certas fraquezas e se aconselha a penitência. A Igreja, que viveu cerca de 2.000 anos passou por várias vicissitudes e teve suas épocas, umas melhores, outras piores. E é possível que no começo de século XVI os seus membros precisassem de uma reforma moral, mais do que em outra qualquer época de sua história. Mas era com esta doutrina de que o homem não pode fazer outra coisa senão pecar e basta crer em Cristo para salvar-se, de que crendo em Cristo fica livre de todas as leis, de que só há um pecado que condena o cristão, o pecado da incredulidade, era com esta doutrina que se podia trazer aos membros da Igreja a reforma moral de que eles necessitavam?