quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A VIDA APÓS A MORTE

A VIDA APÓS A MORTE

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*
                                                          
No próximo sábado, dia 2, faremos a comemoração de todos os fiéis defuntos, dos nossos falecidos, daqueles que estiveram conosco e hoje estão na eternidade, os “finados”, aqueles que chegaram ao fim da vida terrena e já começaram a vida eterna.
É tempo de reflexão sobre a vida após a morte, a vida eterna, e sua importância maior do que a vida presente, da qual ela depende. A nossa alma é imortal e levará consigo a responsabilidade dos seus atos na vida presente. Ademais, a morte nos leva a refletir sobre a humildade que devemos ter. Todos compareceremos diante de Deus. Ali não haverá distinção entre ricos e pobres, entre reis e súditos, entre presidentes, parlamentares e magistrados e os cidadãos comuns, entre Papa, Bispo, Padres e simples fiéis. Platão já dizia que no juízo as almas estarão nuas, sem nenhuma honraria. A distinção só será entre bons e maus, e isso não no sentir do povo, mas diante de Deus, que tudo sabe.
Mas olhemos a morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero. Confiemos na misericórdia de Deus, que é nosso Pai, que nos enviou seu Filho, Jesus, que morreu por nós, para que não nos condenássemos, mas que tivéssemos a vida eterna.  “Deus não criou a morte e a destruição dos vivos não lhe dá alegria alguma. Ele criou todas as coisas para existirem... e a morte não reina sobre a terra, porque a justiça é imortal” (Sb 1, 13-15). O pecado é que fez entrar a morte no mundo. Mas a esperança da ressurreição nos consola.
Os santos encaravam a morte com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no cântico do Sol: “Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal! Felizes dos que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade! A estes não fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. Santo Agostinho nos advertia: “Fazes o impossível para morrer um pouco mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?”
Quantas boas lições nos dá a morte. Assim nos aconselha São Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6, 10). “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro... Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23). “Eis, pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 29-31). Diz A Imitação de Cristo que bem depressa se esquecem dos falecidos. O dia de Finados foi estabelecido pela Igreja para não deixarmos nossos falecidos no esquecimento.
Três coisas pedimos com a Igreja para os nossos falecidos: o descanso, a luz e a paz. Descanso é o prêmio para quem trabalhou. O reino da luz é o Céu. E a paz é a recompensa para quem lutou. Que nossos falecidos descansem em paz e a luz perpétua brilhe para eles. Amém.

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney


domingo, 27 de outubro de 2019

JESUS, REI DE AMOR E DE PAZ

Extraído do Livro "Apelo ao Amor": Mensagem de Jesus a Sóror Josefa Menéndez, religiosa da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus (junho de 1923).

Sóror Josefa Menéndez
   "Se desejais paz, Eu sou a Paz. Sou a Misericórdia e o Amor...A vossa alma, criada por um Pai que vos ama, não com qualquer amor, mas com amor imenso, e eterno, encontrará um dia, no lugar da felicidade sem fim que esse Pai vos prepara, resposta a todas as suas necessidades.
   Lá, encontareis a recompensa do trabalho cujo peso houverdes suportado aqui na terra.
   Lá, encontrareis a família que tanto amastes sobre a terra e pela qual vertestes vossos suores.
   Lá, vivereis eternamente, pois a terra é apenas uma sombra que desaparece e o céu não passará nunca.
   Lá, vos unireis ao vosso Pai que é o vosso Deus.
   Se soubésseis que felicidade vos espera!...
   Mas, ouvindo-Me, talvez estejas dizendo: Quanto a mim, não tenho fé! Não creio na outra vida.
   Não tens fé?... Então, se não crês em Mim, por que Me persegues?... Por que te revoltas contra as minhas leis, e fazes guerra àqueles que Me têm amor?... e, se queres liberdade para ti, por que não a dás aos outros?...
   Não acreditas na vida eterna?... Dize-Me se vives feliz na terra e se não sentes necessidade de alguma coisa que não podes encontrar aqui...
   Procuras prazer e, se chegas a consegui-lo, não ficas saciado...
   Andas atrás das riqueza e, se consegues adquiri-la, nunca te julgas assaz rico...
   Tens necessidade de afeição e, se a encontras um dia, dentro de pouco tempo estás cansado!
   Não! coisa alguma destas é o que tu desejas... O que desejas, certamente não o encontrarás na terra... Porque, aquilo de que tens necessidade, é de paz, não a paz do mundo, mas a dos filhos de Deus, e como poderias tu encontrá-la no seio da revolta?
   Por isso é que Eu venho mostrar-te onde está essa paz, onde encontrarás essa felicidade, onde saciarás esta sede que há longo tempo te devora. Não te revoltes, se Me ouves dizer-te: Tudo isso, encontrá-lo-ás no cumprimento da minha Lei; não, não te espantes desta palavra, a minha Lei não é tirania; é Lei de amor!
   Sim, a minha Lei é de amor, porque Eu sou teu Pai.
   Bem sabeis que a disciplina é necessário no exército, e o regulamento na família bem ordenada. Também na grande família de Jesus Cristo, impõe-se uma Lei, mas uma Lei cheia de suavidade.
   Venho ensinar-vos o que é essa Lei e o que é o meu Coração que vô-la dá, esse Coração que vós não conheceis e que tantas vezes tendes ferido! Procurais-Me para Me dar a morte, ao passo que Eu vos procuro para vos dar a vida. Qual de nós triunfará? A vossa alma ficará tão endurecida que se não renda Àquele que vos deu a sua própria Vida e todo o seu Amor?
   Na ordem humana, os filhos usam sempre o nome do pai, sem o que não poderiam ser reconhecidos como da sua família.
   Assim, os filhos que são Meus usam o nome de cristãos, que lhes é conferido pelo sacramento do Batismo, ao nascerem. Vós que recebestes este nome, sois meus filhos, tendes direito a todos os bens de vosso Pai.
   Sei que não Me conheceis nem Me tendes amor, antes, pelo contrário, Me odiais e perseguis. Mas, Eu amo-vos com amor infinito e quero dar-vos parte naquela herança a que tendes direito.
   Crede no meu amor e na minha Misericórdia!
   Vós Me ofendestes: Eu vos perdôo.
   Vós Me perseguistes: Eu vos amo.
   Vós Me feristes com palavras e com ações; Eu quero fazer-vos bem e abrir para vós os meus Tesouros.
   Não penseis que ignoro como até aqui vivestes: sei que desprezastes as minhas graças, talvez mesmo hajais profanado os meus Sacramentos. Pois eu vos perdôo.
   E agora, se quereis viver felizes na terra e assegurar ao mesmo tempo a vossa eternidade, fazei o que vou dizer-vos: Sois pobres? Esse trabalho, que vos é imposto pela necessidade, fazei-o com submissão e ficai sabendo que também Eu vivi trinta anos sujeito à mesma lei, porque fui pobre e até muito pobre.
   Não olheis os vossos patrões como a tiranos. Não desejeis a sua desgraça, mas fazei valer os seus interesses e sede fiéis.
   Sois ricos? Tendes por vossa conta operários, servos? Não exploreis o seu trabalho. Remunerai o seu labor segundo a justiça e provai-lhes a vossa afeição e a vossa bondade. Porque, se tendes uma alma imortal, também eles a têm; se recebestes os bens que possuis, não foi somente para vosso gozo e bem estar pessoais, mas a fim de que, administrando-os com prudência, possais exercer a caridade para como o próximo.
   Depois de terdes, uns e outros, aceitado com submissão a lei do trabalho, reconhecei humildemente a existência de um Ser que está acima de tudo o que é criado. Esse Ser é o vosso Pai.
   Como Deus, exige que cumprais a sua Lei Divina.
   Como Pai, pede-vos filial submissão aos seus Mandamentos.
   Assim, depois de terdes passado uma semana inteira nos vossos trabalhos, nos vossos negócios, nos vossos recreios lícitos, pede-vos que deis uma hora ao menos ao cumprimento do seu preceito. Será exigir muito?
   Ide pois à sua Casa, à Igreja. Ele lá vos espera dia e noite; e, em cada domingo ou dia de festa dai-lhe essa hora, assistindo ao mistério de Amor e de Misericórdia que se chama a Missa.
   Durante ela, falai-Lhe de tudo; da vossa família, dos vossos filhos, dos vossos negócios, dos vossos desejos... Apresentai-Lhe as vossas penas, as vossas dificuldades, os vossos sofrimentos. Se soubésseis como Ele vos ouvirá e com que Amor vos atenderá!
   Talvez Me digais: - "Não sei assistir à Missa. Há tanto tempo que não entro numa igreja!" - Não vos atemorizeis. Vinde; passai simplesmente essa hora a meus pés. Deixai que a consciência vos diga o que deveis fazer, e não cerreis os ouvidos à sua voz. Abri vossa alma... Então a minha graça vos falará. Mostrar-vos-á, pouco a pouco, como deveis proceder em cada circunstância da vossa vida, como haveis de comportar-vos com vossa família ou nos vossos negócios; como deveis educar os vossos filhos, amar os vossos inferiores, respeitar os vossos superiores. Ela vos dirá, talvez, que deveis abandonar esta empresa, quebrar aquela amizade má, afastar-vos energicamente daquela reunião perigosa... Ela vos dirá que odiais tal pessoa sem razão e que, ao contrário, destoutra pessoa que freqüentais e amais, deveis separar-vos e fugir dos seus conselhos.
   Experimentai e, pouco a pouco, vereis como se vai estendendo a cadeia das minhas graças. Porque acontece com o bem como com o mal, basta começar. Os anéis da cadeia prendem-se uns aos outros. Se hoje ouvirdes a minha graça e a deixardes trabalhar em vós, amanhã a ouvireis melhor; mais tarde ainda melhor, e assim, de dia para dia, a luz aumentará, a paz crescerá e preparareis a vossa felicidade eterna!
   Porque o homem não foi criado para ficar sempre neste mundo. É feito para a eternidade. Sendo imortal, deve portanto viver, não para aquilo que morre, mas para o que permanecerá.
   Juventude, riqueza, sabedoria, glória humana, tudo isso passa e acaba. Só Deus subsiste por toda a eternidade...
   Se o mundo e a sociedade estão repletos de ódios e em lutas contínuas, povos contra povos, nações contra nações e indivíduos contra indivíduos, é porque o grande fundamento da fé quase desapareceu.
   Reanime-se a fé, e a paz voltará e a caridade reinará.
   A fé não prejudica a civilização e não se opõe ao progresso. Pelo contrário, quanto mais enraíza nos indivíduos e nos povos, mais crescem neles  sabedoria e a ciência, porque Deus é Sabedoria e Ciência infinitas. Mas onde a fé já não existe, desaparece a paz e, com ela, a civilização e o verdadeiro progresso... pois Deus não está na guerra... Já não há senão ódio entre os povos, lutas de opiniões entre si, levantamento das classes umas contra as outras e, no próprio homem, rebelião das paixões contra o dever.
   Desaparece então tudo o que constitui a nobreza do homem.
   Deixai-vos convencer pela Fé e sereis grandes. Deixai-vos esclarecer pela Fé, e sereis livres. Vivei segundo a Fé e não morrereis eternamente.
   Que todas as almas saibam a que ponto meu Amor as procura, as deseja e as espera para enchê-las de felicidade. Corro no encalço dos pecadores como a Justiça no encalço dos criminosos; mas a justiça os procura para castigá-los e Eu para lhes perdoar.
   Quero perdoar. Quero reinar.
   Quero perdoar às almas e às nações. Quero reinar sobre as almas, sobre as nações e sobre o mundo inteiro.
   Para apagar a sua ingratidão, derramarei uma torrente de Misericórdia.
   Para reinar, começarei derramando misericórdia, pois meu reino é de paz e de amor. Sou a sabedoria e a felicidade.
   Sou o Amor e a Misericórdia.

NB.: Talvez possa haver quem desconheça estas belíssimas mensagens do Coração de Jesus a Sóror Josefa Menéndez e, assim, pergunte qual a autenticidade e, portanto, a segurança destas aparições. Pois bem, no prólogo da edição francesa lemos o seguinte: "As almas que lerem estas páginas terão a alegria filial de encontrar aqui - com consentimento de Sua Santidade, dado pelo próprio punho - o autógrafo do Cardeal Pacelli, então Protetor da Sociedade do Sagrado Coração, abençoando a 1ª edição francesa do "Apelo ao Amor".

JESUS, REI DOS REIS

  Apocalipse I, 4-8: "Graça a vós e paz, da parte d'Aquele que é, que era e que há de vir; e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono; e da parte de Jesus Cristo, que é testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos, o príncipe dos reis da terra, que nos amou e nos lavou dos nossos pecados no seu sangue, e nos fez sermos reino e sacerdotes para Deus seu Pai. A Ele, glória e império pelos séculos dos séculos. Amém. Eis que Ele vem sobre as nuvens e todos os olhos O verão, também aqueles que o transpassaram. E baterão no peito ao vê-lo todas as tribos da terra. Assim se cumprirá. Amém. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor Deus, que é, que era e que há de vir. o Todo-poderoso". Capítulo XXI, 5-8: "O que estava sentado no trono disse: Eis que Eu renovo todas as coisas. E ajuntou: Escreve, porque estas palavras são dignas de fé e verdadeiras. Depois disse-me: Está feito! Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. Eu darei gratuitamente da fonte da água da vida ao que tiver sede. Aquele que vencer, possuirá estas coisas. Eu serei seu Deus e ele será meu filho. Mas, pelo que toca aos tímidos, aos incrédulos, aos execráveis, aos homicidas, aos fornicadores, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no tanque ardente de fogo e de enxofre: o que é a segunda morte".


Caríssimos e amados leitores, hoje, último domingo de outubro, a Santa Madre Igreja celebra a festa da Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. Primeiramente, vamos meditar nas palavras do próprio Deus nas Sagradas Escrituras. No
Capítulo XXI, 24-27: "As nações caminharão à sua luz e os reis da terra lhe trarão a sua glória e a sua honra". Capítulo XXII, 13- 16: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, o princípio e o fim. Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestes no sangue do Cordeiro, para terem parte na árvore da vida e entrarem pelas prtas na cidade. Ficam fora os cães, os feiticeiros, os impudicos, os homicidas, os idólatras e todos os que amam e praticam a mentira. Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos atestar estas coisas nas Igrejas. Eu sou a raíz e a geração de David, a estrela resplandecente da manhã".
   Ouçamos o testemunho do próprio Jesus, Evangelho de São João, XVIII, 33-37: "Naquele tempo, disse Pilatos a Jesus: És tu o Rei dos judeus? Respondeu Jesus: Dizes isso por ti mesmo ou foram outros que te disseram de mim? Respondeu Pilatos: Sou eu, por ventura, judeu? Tua gente e os pontífices Te entregaram a mim. Que fizestes pois? Respondeu Jesus: Meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, meus servos lutariam, para que eu não fosse entregue aos judeus: porém, agora meu Reino não é daqui. Disse-Lhe, então, Pilatos: Logo, Tu és Rei? Respondeu Jesus: Tu dizes: Eu sou Rei. Eu para isto nasci e para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho à verdade. Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz."
   Ouçamos agora a São Paulo na Epístola aos Colossenses, I, 12-20. O Apóstolo aí enumera os títulos que fazem de Jesus Cristo o Rei de todos os reis. Rei enquanto Deus, Rei enquanto Homem: "Irmãos, damos graças a Deus Pai, que nos fez dignos de participar da sorte e herança dos Santos na Luz; que nos tirou do poder das trevas e nos transportou ao Reino do Filho do seu amor. N'Ele, e por seu Sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criatura. Porque, n'Ele foram criadas todas as coisas nos Céus e na Terra, quer as visíveis, quer as invisíveis; os Tronos, as Dominações, os Principados, as Potestades, tudo foi criado por Ele e n'Ele. E Ele está acima de todas as coisas, e todas subsistem por Ele. Ele é também a Cabeça do Corpo da Igreja, é o princípio, o primogênito dentre os mortos. Ele em tudo tem a primazia, porque, foi do agrado do Pai que n'Ele residisse toda a plenitude: para que se reconciliassem por Ele todas as coisas, pacificando pelo Sangue derramado na Cruz, tanto as coisas da terra como as coisas dos Céus, em Cristo Jesus, Senhor Nosso".
   REFLEXÕES (Missal Dominical Popular):
   Em virtude da Sua divindade, é Jesus Cristo Rei do Céu e da Terra. "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada foi feito". Jesus-Deus é Senhor Supremo e ilimitado de tudo quanto existe no universo criado.
   Mas também como Homem Jesus é rei do universo. Interrogado por Pilatos a respeito da Sua realeza, Jesus respondeu: "Sim, Eu sou Rei; mas o meu reino não é deste mundo". O reino de Nosso Senhor Jesus Cristo não é do mundo, mas está no mundo, não é reino mundano, temporal, como os outros reinos; mas é um reino sobrenatural, celeste, divino, que existe no mundo e para o mundo. Pela Encarnação, pela Paixão e Morte adquiriu Jesus novos títulos de soberania sobre o mundo e a humanidade. Nasce num estábulo, na mais extrema pobreza, mas de terras longínquas acodem reis poderosos para Lhe prestarem sua homenagens! Morre no patíbulo da ignomínia, mas sobre a Sua cabeça fulgura em três línguas o título da Sua realeza. Expira como se fora um criminoso, e no mesmo instante a natureza o proclama com misteriosas salvas como a seu Rei e soberano Senhor: o sol cobre-se de luto, a terra estremece de dor, partem-se os rochedos com formidável estampido, rasga-se o véu da antiga aliança, e os próprios mortos ressurgem, para dizerem aos vivos que o Crucificado é o Rei do Universo, Rei também das tenebrosas regiões da morte.
   "Coração de Jesus, Rei e centro de todos os corações", assim dizemos na ladainha. De todos os corações! Será verdade? Oxalá assim fosse!
   Se Jesus Cristo reinasse na sociedade, ah! Que ditosos tempos de paraíso não haviam de despontar muito em breve! Se Cristo reinasse na legislação da nossa querida Pátria; se Cristo reinasse nas Câmaras e nos Congressos; se Cristo reinasse nos Tribunais; se Cristo reinasse nas Escolas e nas Repartições públicas que feliz e próspera nação não seria a nossa!... Mas, ai! Que o reinado de Cristo abrange apenas uns pontos mui diminutos da nossa vida social! E sabes tu, meu caro cristão, quem é que, antes dos mais, estaria em condições de conquistar para Jesus Cristo o reinado social? Quem Lhe poderia garantir o triunfo da sociedade humana?
   São Pio X dizia: "Dêem-me mães verdadeiramente cristãs, e eu salvarei este mundo decadente". É a família cristã e, antes de tudo és tu, ó mãe de família! Nas tuas mãos é que está o futuro do nosso povo, a felicidade ou a desgraça do Brasil! Se tu não souberes, ou não quiseres educar os futuros cidadãos, juízes, funcionários, magistrados, debalde será todo o nosso esforço. Mas se tu lançares na alma dócil dos teus filhos os alicerces da fé e da moral cristã, então, sim, mãe cristã, podemos esperar o triunfo do reino de Cristo na sociedade brasileira!
   Os reis e soberanos da terra recompensam a dedicação dos súditos com ordens e insígnias, com empregos e colocações. O reino de Cristo não é deste mundo; não é agora o tempo das recompensas cabais; agora temos de trilhar com Ele o caminho da cruz. Mas dia virá, "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus preparou àqueles que O amam."
   A quaresma segue-se a Páscoa, à Sexta-feira da Paixão o domingo da Ressurreição, e o Tabor não fica longe do Calvário.
   Se neste vida formos companheiros do Rei das dores, é certo que na outra seremos também companheiros do Rei da glória.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

O ESPÍRITO SECTÁRIO

O ESPÍRITO SECTÁRIO

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*
                                                          


            Seita é uma palavra que vem do latim ‘secta”, do verbo secare, separar, significando partido, causa, fileiras. O termo “seita” é geralmente aplicado a grupos que professam doutrina ou ideologia divergentes da correspondente doutrina ou sistema oficial ou dominante, ou seja, professam doutrinas e práticas novas e não ortodoxas. O que caracteriza a seita, ou seja, o seu “espírito”, é a separação ou divergência do grupo que considera hostil ou descrente. A seita procura se fechar em um corpo de doutrinas e vê o grupo do qual se separou como mau e pecador, desviado, considerando-se como os autênticos defensores da verdadeira doutrina.


            A seita tem doutrina própria. A seita se considera como meio de salvação e refúgio da ortodoxia. A seita considera quem a abandona como um traidor, apóstata e infiel. Por isso, é difícil sair de uma seita, acarretando grandes problemas psicológicos e morais. A seita exerce um controle sobre o indivíduo que a ela adere, regulando seus pensamentos e ações. A seita estabelece uma reinvindicação de possuir acesso exclusivo e privilegiado à verdade e à salvação. A seita geralmente tem um líder, ao qual os membros aderem incondicionalmente e seguem sem a menor contestação, que seria considerada um pecado e uma desobediência.


            A seita é imbuída de fanatismo: é cega, não consegue ver os próprios erros. Ninguém os convence. Não aceita contestação nem crítica. Normalmente os adeptos de uma seita negam que esta seja um grupo sectário, pois creem que a sua visão de mundo é a verdade única.


Geralmente as seitas têm um espírito apocalíptico e escatológico: falam sempre em castigos e numa grande punição que Deus enviará ao mundo, especialmente para os outros, pois pensam que eles serão preservados. Os membros da seita se consideram superiores a todos os outros que a ela não pertencem. Eles são “os santos”, “os que compreenderam realmente a reta doutrina e posição”, pois têm um conhecimento privilegiado (gnose). São moralistas rígidos e casuístas, criando escrupulosos entre seus adeptos. As seitas são proselitistas, procurando atrair a todo custo os outros para o seu grupo, usando o argumento da exclusividade, da sua pureza de doutrina, dos castigos e dos defeitos dos outros. Os de espírito sectário são altamente críticos dos outros grupos, especialmente do grupo de onde saíram, com argumentos às vezes sedutores, baseando-os em defeitos reais. Além de alarmistas, são também pessimistas, com zelo amargo, sempre olhando o lado ruim das coisas. E, defendendo rigidamente a própria posição, são rígidos e duros para com a posição dos outros. Querem a “fé”, sem a caridade.


            Sem atribuir a ninguém essa pecha de seita, examinemo-nos a nós mesmos e os nossos grupos, para ver se, mesmo não sendo seita, não adquirimos algum espírito sectário. Há muitos grupos que rejeitam a denominação de seitas, mas cultivam o seu mau espírito.


            O verdadeiro católico não é sectário: não tem doutrina própria, pois se guia pelo Magistério da Igreja; como cristão é otimista, pois confia em Deus e na sua Igreja: “alegres pela esperança” (Rm 12,12); cultiva a caridade, esforça-se por ser humilde, sem se achar dono da ortodoxia e da virtude; não se julga melhor do que ninguém, procurando não criticar os outros e respeitando a consciência alheia, o que não significa concordar com os erros; olha mais para as suas falhas e defeitos, como o publicano do Evangelho, que foi justificado, e não se compara com os outros, como o fariseu, que foi reprovado por Deus.

 *Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Alguns Pensamentos de Santa Teresa d'Ávila

Teresa e Rodrigo fugindo para terra de mouros
   Introdução: Havia em Ávila uma bela Basílica levantada em memória de três pequenos mártires, Vicente e as suas duas irmãs Cristela e Sabina, que haviam negado a oferecer sacrifícios aos falsos deuses em tempos dos romanos. Flagelados, submetidos ao suplício da roda, tinham perseverado nos seus louvores a Jesus Cristo até lhes arrebentarem a cabeça contra as pedras. Os pagãos tinham proibido que os enterrassem, mas uma monstruosa serpente, temida na região pelos estragos que causava, erigira-se em guardiã dos seus inocentes cadáveres; não espantara somente as aves de rapina, mas ainda os profanadores, e um judeu que se arriscara a aproximar-se só conseguira livrar-se invocando o nome de Jesus e prometendo ao monstro que receberia o batismo. Pois bem! A pequena Teresa já imaginava outra basílica em Ávila: a dos irmãos mártires Rodrigo e Teresa. Sabendo que os turcos muçulmanos matavam os cristãos, Teresa e seu irmão Rodrigo fugiram de casa à procura do martírio. Para tanto,  pensavam em ir à terra dos mouros. Este foi um dos primeiros pensamentos de Teresa: morrer mártir por amor a Jesus. Tinha ela, então, 7 anos.

  Meditemos agora em alguns pensamentos desta Doutora da Igreja, Mestra na Vida Espiritual. Mas antes quero lembrar  o dia 27 de setembro de 1970, quando Sua Santidade o Papa Paulo VI proclamou Santa Teresa, Doutora da Igreja: Finda a cerimônia, retirados os paramentos sagrados, o Santo Padre Paulo VI saudando o Prepósito Geral da Ordem dos Carmelitas Teresianos, exclamou com viva alegria: "São tão oportunos hoje os ensinamentos de Santa Teresa, que, na verdade, o relógio da Providência marcou hoje a HORA  de Santa Teresa. Ela nos ensina o caminho verdadeiro, o "caminho" da oração, da comunhão com Deus. Os demais são veredas, nem sempre chegam ao destino. O Espírito Santo deseja que voltemos ao caminho autêntico: "à oração, à vida íntima com Deus. Eis a lição que nos dá Santa Teresa, Doutora da Igreja".
   Assim sendo, ouçamo-la durante alguns instantes, guardemos no coração os seus sábios ensinamentos, meditando-os intimamente e procurando depois praticá-los com fidelidade:

"Nada te turbe, nada te espante; todo se pasa, Dios no se muda. La paciencia todo lo alcanza; quien a Dios tiene nada le falta. Sólo Dios basta". Em português: "Nada te perturbe, nada te espante; tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança; Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta."

"Ou sofrer, ou morrer!
  "Quando considero a glória que tendes preparada, meu Deus, para os que perseveram em fazer a Vossa vontade, quando medito nos trabalhos e dores com que a ganhou o Vosso Filho e quão mal a tínhamos merecido, e quando penso no muito que Ele merece que não se desagradeça a grandeza de amor que tão custosamente nos ensinou a amar, aflige-se a minha alma. Como é possível, Senhor, que se esqueça tudo isto e que tão olvidados estejam de Vós os homens, quando Vos ofendem? Ó Redentor meu, como é possível que assim se esqueçam de si mesmos? Oh! Como é grande a Vossa bondade se apesar disso Vos lembrais de nós! E, tendo nós caído, por Vos ferirmos com um golpe mortal, Vós esquecido disto nos tornais a dar a mão e nos despertais de frenesi tão incurável para que Vos procuremos e Vos peçamos saúde" Bendito seja tal Senhor! Bendita tão grande misericórdia! Ó alma minha! bendiz para sempre a tão grande Deus! Como é possível voltarmo-nos contra Ele?"
   "Ó Senhor, como são suaves os Vossos caminhos! Mas quem caminhará sem temor? Temo estar sem Vos servir e quando Vos vou a servir não encontro coisa que me satisfaça para pagar algo do muito que Vos devo. Parece que me quisera empregar toda nisto mas, quando bem considero a minha miséria, vejo que não posso fazer nada que seja bom, se Vós não mo concedeis".
   "´E claro que a suma perfeição não está nos regalos interiores nem nos grandes arroubamentos, nem visões, nem no espírito de profecia, mas sim em ter a nossa vontade tão conforme com a de Deus, que não entendemos Ele querer alguma coisa sem que a queiramos com toda a nossa vontade e tomemos tão alegremente o saboroso como o amargo". "Agora, ó meu Deus, livremente Vos dou a minha vontade... Cumpra-se em mim, Senhor, a Vossa vontade sempre e como quiserdes. Se me quereis com trabalhos dai-me força e que venham! Se me quereis entre perseguições e enfermidades, desonras e necessidades, não voltarei as costas, ó meu Pai!"
   "Quanto mais as verdades da fé ultrapassam a ordem natural tanto mais firmemente creio nelas e me dão maior devoção. Todas, todas as grandezas que Vós fizerdes ficam explicadas para mim por serdes todo-poderoso; neste ponto jamais tive dúvidas".
 
Transverberação de Santa Teresa d'Ávila (Escultura
de Bernini).  Um anjo transpassou seu coração com
uma seta de amor.  Morreu não de doença, mas de
amor de Deus.  Seu coração não aguentou o ardor
do amor de Deus que a consumia. 
  "Como poderei ter um amor digno de Vós, meu Deus, se Vós não o reforçais com o amor que Vós mesmo me tendes? Só o amor dá valor a todas as coisas e o mais necessário é que seja tão grande que nada o estorve para amar. Mas eu não tenho senão palavras, pois não valho para mais. Valham-me meus desejos, meu Deus, perante o Vosso divino acatamento e não olheis meu pouco merecer. Que mereçamos todos amar-Vos, Senhor! Já que se há de viver, viva-se para Vós, acabem-se os nossos desejos, e interesses. Que maior coisa pode haver do que merecer contentar-Vos? ... Eu desejo, Senhor, contentar-Vos. Mas o meu contentamento, bem o sei, não está em nenhum dos mortais. Sendo assim, não me culpareis o meu desejo. Vedes-me aqui, Senhor! Se é necessário sofrer para Vos prestar algum serviço, não recuso quantos trabalhos me possam vir na terra... Mas que farei para poder contentar-Vos, ó minha alegria e meu Deus! Já que não Vos sirvo em nada, com alguma coisa tenho de me consolar, pois se, nas grandes coisas, Vos servira, não faria caso das ninharias, Bem-aventurados aqueles que Vos servem com obras grandes! Se o desejo e a inveja que lhes tenho me fossem tomados por conta, não ficaria muito atrás em contentar-Vos; mas não valho nada, Senhor meu! Ponde Vós em mim o valor pois tanto me amais!"

   "Quando penso em Cristo devo sempre lembrar-me... do Vosso grande amor, ó Pai, que em Jesus quisestes dar-nos um penhor de tal amor. Amor gera amor: ainda que esteja muito no princípio e eu muito ruim, procuro ter bem presente esta verdade e despertar-me para amar. Quando Vós, ó Senhor, me fizerdes a mercê de me imprimirdes no coração este amor, tudo se me tornará fácil e poderei em breve passar às obras sem nenhum trabalho. Meu Deus dai-me este amor - pois sabeis o muito que me convém - pelo amor que nos tivestes e pelo Vosso glorioso Filho que, tão à Sua custa, no-lo mostrou".

  

O ideal apostólico de Santa Teresa d'Ávila

   Santa Teresa nascera em 1515 e tinha dois anos quando Lutero começou sua revolta contra a Santa Igreja. Morreu ela no ano de 1582, portanto, com 67 anos. Assim sendo teve a grande tristeza de tomar conhecimento dos estragos que Lutero e seus sequazes iam perpetrando em vários países. Eis o que ela diz no primeiro capítulo do seu livro "CAMINHO DE PERFEIÇÃO": "Nesta ocasião, tive notícias dos prejuízos e estragos que faziam os luteranos na França, e o quanto ia crescendo esta desventurada seita. Deu-me grande aflição, e, como se pudesse ou valesse alguma coisa, chorava com o Senhor, suplicando-lhe para remediar tanto mal. Parecia-me que mil vidas daria eu para salvação de uma só alma das muitas que ali se perdiam. Sendo mulher e ruim, senti-me incapaz de trabalhar como desejava para a glória de Deus. Tendo o Senhor tantos inimigos e tão poucos amigos, toda a minha ânsia era, e ainda é, que ao menos estes fossem bons. Determinei-me então a fazer este pouquinho a meu alcance, que é seguir os conselhos evangélicos com toda a perfeição possível e procurar que estas poucas irmãs aqui enclausuradas fizessem o mesmo".
"Deus te perdoe, frei João, me pintaste feia e
remelosa".
   A crise da Igreja na época era realmente muito grande e penetrara até nos Carmelos. Santa Teresa, vendo ser impossível reformar o Carmelo da Encarnação, onde era Carmelita, construiu um outro Carmelo em Ávila, o Carmelo de São José. Seu intento era seguir a  Regra Primitiva de Santo Alberto de Jerusalém. Fundou 17 Carmelos. Reformou, com ajuda de São João da Cruz, não só os Carmelos femininos, mas também os masculinos. São  chamados Carmelitas descalços(as). Pois bem, continuemos a ler Santa Teresa:
"Confiava na grande bondade de Deus, que nunca falta a quem por Ele se decide a tudo deixar. Sendo elas(as irmãs do novo Carmelo de São José) tais como eu as pintava em meus desejos, entre suas virtudes, desapareceriam minhas faltas, e assim poderia de algum modo contentar ao Senhor. E, ocupadas todas em orações pelos defensores da Igreja, pregadores e letrados que a sustentam, ajudaríamos, no que estivesse ao nosso alcance, a este meu Senhor, tão atribulado por aqueles a quem fizera tanto bem. Até parece que esses traidores pretendem crucificá-Lo de novo, deixando-O sem ter onde reclinar a cabeça. Ó meu Redentor, impossível meu coração não se afligir muito! O que se passa agora com os cristãos? Serão sempre aqueles que mais Vos devem, os que mais Vos fazem sofrer? Aqueles a quem maiores benefícios fazeis, que escolheis para amigos, aqueles entre os quais andais e com os quais Vos comunicais pelos sacramentos? Não lhes bastaram os tormentos que por eles padecestes? Certamente, Senhor meu, nada faz quem agora se aparta do mundo! Se nele Vos tratam com tão pouca lealdade, que podemos nós esperar? Merecemos, porventura, que nos correspondam melhor? Acaso lhes fizemos maiores benefícios para que nos tenham amizade? Que é isto? Que esperamos ainda, nós que pela bondade do Senhor não estamos contaminados por esta sarna contagiosa? Quanto a eles(os luteranos), pertencem ao demônio. Bom castigo  já ganharam por suas próprias mãos. Mereceram com seus deleites o fogo eterno. Lá se avenham! (Ao digitar estas palavras de Santa Teresa, me veio a mente o seguinte: Que teria sentido Santa Teresa, se naquela época o Papa elogiasse Lutero? Penso que, com certeza, ela morreria de dor). "Não deixa de partir-me o coração ao ver como se perdem tantas almas. Quisera eu não ver mais perdas cada dia e, ao menos, impedir em parte o mal. Ó minhas irmãs em Cristo! ajudai-me a suplicar isto ao Senhor, já que para este fim vos reuniu aqui.(no Carmelo de São José). Esta é a vossa vocação. Estes hão de ser vossos negócios. Estes, vossos desejos. Aqui se empreguem vossas lágrimas. Sejam estes os vossos pedidos e não, irmãs, súplicas por negócios do mundo. Rio-me e até me aflijo de ver certas coisas que nos encarregam de pedir a Deus. Querem que alcancemos de Sua Majestade rendas e dinheiro - e não raro são pessoas que, a meu ver, deveriam antes implorar a Deus graça para calcar tudo aos pés. São bem intencionadas, e condescendemos por ver sua confiança. Mas estou convencida de que nestas matérias nunca me ouve o Senhor."
   "O mundo está pegando fogo. Querem, por assim dizer, de novo sentenciar a Cristo, levantam-Lhe mil testemunhos falsos. Pretendem lançar por terra a Sua Igreja.(Aí está a verdade sobre Lutero). E havemos de gastar o tempo em pedidos que, se fossem ouvidos por Deus, teríamos talvez uma alma de menos no céu? Não, irmãs, não é tempo de tratar com Deus assuntos de pouca importância! Por certo, se não fora em atenção à fraqueza humana, tão amiga de ser ajudada em tudo - e justo é fazê-lo, quando está em nossas mãos - gostaria que se entendesse: não são essas as coisas que se hão de pedir a Deus com tanto empenho".

Carmelo da Encarnação em Ávila onde Teresa tomou
o hábito de Carmelita (1536-1563).
   Quero acrescentar aqui as belíssimas palavras do grande D. Chautard no seu extraordinário Livro "A ALMA DE TODO APOSTOLADO":
   "Ordinariamente uma oração curta, mas fervorosa, contribui muito mais para apressar uma conversão do que longas discussões e excelentes discursos. Aquele que ora, trata com a CAUSA PRIMEIRA. Opera diretamente sobre ela. Tem, desta sorte, em mãos todas as causas segundas, visto como estas somente desse princípio superior recebem sua eficácia. Por isso o efeito desejado é então obtido com maior segurança e rapidez. Dez mil hereges, no dizer de uma revelação respeitável, foram convertidos por uma só oração inflamada da seráfica Santa Teresa, cuja alma ardendo em amor de Cristo não podia compreender uma vida contemplativa, uma vida interior que se desinteressasse das solicitudes apaixonadas do Salvador pela redenção das almas. "Aceitaria o purgatório, diz ela, até ao juízo final, para livrar uma só dessas almas. E que me importaria a duração dos meus sofrimentos, se assim pudesse livrar uma só alma e sobretudo muitas para maior glória de Deus". E, dirigindo-se às suas religiosas: "Dirigi para este fim inteiramente apostólico, minhas filhas, vossas orações, vossas disciplinas, vossos jejuns, vossos desejos".

Santa Teresa d'Ávila: Alguns pensamentos de fé e confiança em Deus

Teresa de Ahumada e Cepeda nasceu em Ávila, Espanha
em 1715 e morreu em Alba de Tormes em 1582.  Entrou
para o Carmelo da Encarnação em Ávila no ano de 1536;
tomou o nome de Irmã Teresa de Jesus.
Em 1563 sai definitivamente do Carmelo da Encarnação
e passa a residir no Carmelo de São José, por ela fundado
para  aí seguir a Regra Primitiva do Carmelo. Juntamente
com São João da Cruz ela é a reformadora do Carmelo. 
     "Ó Senhor, bem longe de me espantar diante das Vossas obras, elas são para mim mais um motivo para Vos louvar. Quanto mais estas obras são dificultosas de entender, mais devoção me inspiram e tanto mais quanto mais dificultosas são... Assim, quanto mais as verdades da fé ultrapassam a ordem natural tanto mais firmemente creio nelas e me dão maior devoção. Todas, todas as grandezas que Vós fizerdes ficam explicadas para mim por serdes todo-poderoso; neste ponto jamais tive dúvidas".

     "Ó grande Deus, como é fraca a nossa fé!... Porque segundo a nossa maneira de ser, se não nos dão o que queremos - com este livre arbítrio que temos - não admitiremos o que Vós nos dais, ainda que seja melhor... Não, meu Deus, não; não quero ter mais confiança em coisa que eu possa querer para mim! Escolhei Vós para mim o que quiserdes, que isso quero eu, pois todo o meu bem está em Vos contentar. E se Vós, Deus meu, me quisésseis contentar a mim, cumprindo tudo o que pede o meu desejo, vejo que iria perdida".

     "Ó Senhor e Deus meu, em nós está tão morta a fé que acreditamos mais no que vemos do que no que ela nos diz; e na verdade não vemos senão desventuras naqueles que vão atrás destas coisas sensíveis!...Se aparecem grandes dificuldades, que não fará o demônio para nos acobardar? Pelo menos, enfraquece a fé e leva-nos a não acreditar que Vós sois poderoso para fazer obras superiores ao nosso entendimento; é um grande dano!
     "Bendito sejais, meu Deus! Confesso o Vosso grande poder. Sim, bem sei que sois poderoso e que há de impossível a quem tudo pode? Embora miserável, creio firmemente que podeis o que quereis e quantas maiores maravilhas ouço dizer de Vós, e considero que podeis fazer ainda maiores, mais se fortifica a minha fé e com maior determinação creio que o fareis. E por que admirar-nos do que faz o Todo-Poderoso?"

     "Senhor meu, como sois um amigo verdadeiro e poderoso que podeis quanto quereis e nunca deixais de amar a quem Vos ama! Louvem-Vos todas as criaturas, Senhor do mundo! Quem desse vozes para dizer quão fiel sois a Vossos amigos! Todas as coisas faltam, Vós, Senhor de todas elas, nunca faltais. Pouco é o que deixais padecer a quem Vos ama. Que delicada, doce e saborosamente os sabeis tratar! Oh! Quem nunca se tivesse detido a amar ninguém senão a Vós! Parece, Senhor, que se provais com rigor a quem Vos ama é para que, no extremo do trabalho se entenda o maior extremo do Vosso amor. Deus meu, quem tivesse entendimento e letras e novas palavras para encarecer Vossas obras como as entende a minha alma! Falte-me tudo, Senhor meu, mas se Vós não me desamparais, eu não Vos faltarei a Vós! Levantem-se contra mim todos os letrados, persigam-me todas as coisas criadas, atormentem-me os demônios, não me falteis Vós, Senhor, que eu já tenho experiência do lucro com que deixais a quem só em Vós confia!"

O Espírito Apostólico das três Teresas Carmelitas

   Refiro-me às três santas carmelitas: Teresa d'Ávila, Teresa de Lisieux, Teresa dos Andes.

Teresa menina, pintada como carmelita.

   SANTA TERESA D'ÁVILA:
   "Tende compaixão de mim, meu Deus, ordenai de modo a que eu possa cumprir em algo os meus desejos, para Vossa honra e glória. Não Vos recordeis do pouco que mereço e da baixeza da minha natureza! Não fostes Vós, Senhor, poderoso para fazer que o grande mar se retirasse, e o grande Jordão deixasse passar os filhos de Israel? Alargai, Senhor, o Vosso poderoso braço; resplandeça a Vossa grandeza em coisa tão baixa, para que entendendo o mundo que nada posso, Vos louvem a Vós. Custe-me o que custar, pois isso quero, e daria mil vidas, se tantas tivera, para que uma só alma Vos lembrasse um pouco mais. Dá-las-ia por bem empregadas e entendo com toda a verdade que nem mereço padecer por Vós um trabalho muito pequeno, quanto mais morrer. Mas vede, Senhor, já que sois Deus de misericórdia, tende-a desta indigna pecadora, deste miserável verme que assim se atreve conVosco! Vede, Deus meu, os desejos e as lágrimas com que isto Vos suplico e olvidai os meus pecados por quem sois, e tende lástima de tantas almas que se perdem e favorecei a Vossa Igreja. Não permitais, Senhor, mais danos na cristandade; dai luz a tantas trevas!"
Santa Teresinha do Menino Jesus.
No claustro do Carmelo de Lisieux.
  
   SANTA TERESA DE LISIEUX:
   "Ser Vossa esposa, ó Jesus... ser, pela união conVosco a mãe das almas, já me devia bastar... Contudo sinto em mim outras vocações, sinto a vocação de guerreiro, de sacerdote, de apóstolo, de doutor, de mártir; enfim, sinto a necessidade, o desejo de realizar por Vós, Jesus, todas as obras mais heroicas... Sinto na alma a coragem de um Cruzado, quereria morrer num campo de batalha em defesa da Igreja... Quereria iluminar as almas como os Profetas, os Doutores... Quereria percorrer a terra, pregar o Vosso nome e plantar no solo infiel a Vossa Cruz gloriosa... Mas acima de tudo, ó meu Bem Amado Salvador, quereria derramar o sangue por Vós até à última gota... O martírio, eis o sonho da minha juventude! Mais uma vez, sinto que o sonho é irrealizável, pois não poderia limitar-me a desejar um só gênero de martírio... Para me satisfazer precisaria de todos... Ó meu Jesus! que respondereis a todas as minhas loucuras?... Existirá acaso alma mais pequenina, mais impotente do que a minha?! Contudo exatamente por causa da minha fraqueza, tivestes por bem, Senhor, satisfazer as minhas aspiraçõezinhas infantis, e quereis agora, satisfazer outras aspirações mais vastas do que o universo... Compreendo que só o Amor fazia agir os membros da Igreja, que se o amor viesse a extinguir-se, os Apóstolos deixariam de anunciar o Evangelho, os Mártires se recusariam a derramar o sangue... Compreendi que o Amor englobava todas as vocações, que o Amor era tudo, que se estendia a todos os tempos e a todos os lugares... numa palavra, que era Eterno!... Ó Jesus, meu Amor... a minha vocação... encontrei-a finalmente, a minha vocação é o Amor! Sim, encontrei o meu lugar na Igreja e este lugar, ó meu Deus, fostes Vós quem mo deu... no coração da Igreja, minha mãe, serei o Amor... Assim serei tudo, assim será realizado o meu sonho".

Juanita Fernández Solar, estudante.
   SANTA TERESA DOS ANDES: ( Extraído de sua composição literária: "Demolidores e Criadores):
   "Há um poder sempre reinante, uma dinastia que não conhece ocaso, uma luz que jamais se extingue, e esse poder foi sempre combatido, essa dinastia, sem cessar, perseguida, essa luz esteve continuamente circundada de trevas. Eis aqui a eterna história do poder da Igreja, da dinastia do Papado, da luz, da verdade. Enquanto tudo passa e fenece a seus pés, a Igreja se mantém erguida, porque está sustentada pelo poder do alto.
   Corramos o pano de fundo do cenário dos povos modernos e veremos que, em cada século, os filhos da Igreja têm de levar a seus lábios a trombeta guerreira. Essa luta não terminará, porque é eterno o antagonismo entre a sombra e a luz. Enquanto os filhos da sombra destroem, os filhos da luz recriam. Daí o título que adotamos: "Demolidores e criadores".
I


   "O que se passa no século XVI? Os países da Europa se incendeiam no fogo de guerra fratricida. Na Alemanha um astro sinistro se interpõe entre as almas e o sol da verdade. Lutero e seus sequazes dão o grito de guerra. O alvo de seus ataques é a autoridade da Igreja. Crede o que quiserdes!... Qual é o fruto desta rebelião? A destruição da comunhão de idéias. As nações se vêem inundadas de sangue, as almas envoltas nas trevas do erro, e a heresia, como rio a transbordar, arrasta as massas populares, a nobreza, os tronos e até os ministros do altar. Os canais por onde Deus derrama as graças sobre as almas estão, pois, envenenados.
   Mas será possível que o mundo pereça? Não. Um novo astro surge no horizonte: é o ferido de Pamplona, Inácio de Loyola, que cai como soldado de um rei terreno e se levanta como guerreiro do Rei do céu. Vede-o alistar uma Companhia que não há de manejar o canhão nem empunhar a espada. Quereis conhecer suas armas? O crucifixo! Sua divisa? A maior glória de Deus! Seus soldados se espalham por toda a parte e, portadores da luz da verdade, vão deixando atrás de si um rastro luminoso: derramam luz na Europa, na controvérsia, na pregação, no ensino; derramam luz nas Índias com Francisco Xavier, que regenera nas águas do batismo milhões de almas; derramam luz os soldados do nova milícia aonde quer que dirijam seus passos.

Santa Teresa dos Andes, Carmelita.
II
   "Passemos a página do século XVI e veremos no século seguinte o mesmo espetáculo de sombra e luz, de demolidores e criadores. No século XVII vemos destacar-se entre as sombras uma figura de aspecto rígido e severo: Jansênio, que lança o gelo e a sombra por onde passa. A chama do amor vacila e acaba por extinguir-se com um grito ímpio: Cristo não morreu por todos! Já não apresenta o Crucifixo com os braços estendidos para receber a todos, a todos sem exceção, mas com os braços entreabertos para receber alguns e rejeitar os demais. "Fugi do Deus Sacramento, pois podeis afastar sua vontade por causa de vossa indignidade. Fugi, fugi!", clamam os demolidores do século XVII. E as almas, aterradas, fogem... e se esfriam e se perdem...
   Deus estava ferido no mais delicado de seu amor... O Verbo pronuncia uma vez mais a palavra criadora que vai fazer brilhar a luz no meio das trevas. Em Paray-Le-Monial se levanta um sol esplendoroso e vivificante: Jesus Cristo mostra a uma humilde visitandina seu Coração aberto, abrasado em chamas de amor; queixa-se do esquecimento dos homens e os chama todos com insistência. A legião jansenista grita: "Fugi, fugi!"... A voz de Paray-Le-Monial clama entretanto: "Vinde, vinde!" A negra bandeira do terror cederá diante do belo estandarte do amor. Isto é tudo? Não. Ali está o grande apóstolo da caridade, São Vicente de Paulo, que, à imitação do divino Mestre, chama o pobre, o enfermo, a criança. Para todos há lugar em seu coração. Sua bela legião de Irmãs da Caridade arranca ao inferno milhares de almas no instante supremo. O amor desterrado reanima as almas. A luz tira os espíritos das sombras. O coração divino de Jesus e o coração deificado de Vicente de Paulo falam de amor: de amor infinito, um; e de compaixão até o heroísmo, o outro".

III

   "A luta não terminou. O inimigo espreita sempre a Igreja. A tempestade é mais terrível que nunca no século XVIII. Os corifeus da maldade - Voltaire e Rousseau - se mostram, o primeiro com o sorriso zombeteiro nos lábios e a blasfêmia na pena; o segundo, com o sofisma e a confusão nas idéias; e ambos com a corrupção no coração. Os pretensos filósofos querem explicar tudo racionalmente, e proclamam diante do mundo que não há Deus, e arrancam Cristo do coração de nobres e plebeus, e ainda se atrevem a arrancá-lo do coração da criança. Detende-vos, infames! Está bem cheia vossa medida. Esse santuário de inocência não pode ser traspassado. Estas crianças pertencem a Jesus Cristo! Um apóstolo se levanta em nome do Deus da infância. João Batista de La Salle funda as escolas cristãs, encerrando no coração das crianças desvalidas a chama da fé que se extingue por toda a parte.
   Guerra ao Papa! É o grito da falange mortífera. E, em seu frenético entusiasmo, diz que já não haverá quem suceda ao mártir da impiedade, Pio VI. Mas não griteis tão alto. Deus disse que as portas do inferno não prevalecerão e escarnecerá de vossos desígnios. Vede sentado e estabelecido no trono um novo Papa. Lançastes a vossa nobre nação sobre o patrimônio de São Pedro, e eis que os cismáticos cumprem, inconscientemente, sua missão: eles arrojam o invasor e, sob a segurança de suas armas vencedoras, a Igreja nomeia um novo piloto: é Pio VII.

   CONCLUSÃO

   "Oh! Igreja, teu poder jamais será destruído! As trevas cobriram a face do universo na aurora dos tempos, e ao Fiat lux, fugiram vencidas. Mais tarde, as sombras da idolatria cobriram o mundo antigo. Veio o Verbo e dissipou as trevas, porque o Verbo era a Luz. Hoje as sombras cobrem de novo o orbe cristão. Mas aí está a palavra de Cristo, Verdade eterna: "Aquele que me segue e cumpre minha palavra não anda nas trevas". Oh! Palavra de vida! A Ti amor eterno, a Ti eterna fidelidade!"

sábado, 12 de outubro de 2019

Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil


 "Mariae, de qua natus est Jesus, qui vocatur Christus" 
"Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo" (S. Mateus, I, 16).

  Em 1954 Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, Cardeal e Arcebispo Metropolitano de São Paulo, escreveu uma Carta Pastoral, verdadeira exaltação a Maria Santíssima. Dela daremos aqui aos caríssimos leitores apenas alguns trechos:
   "Os filhos bem-nascidos e espiritualmente bem formados exultam sempre em conhecer a vida da criatura abençoada que lhes deu o ser e o materno leite e amor de mãe. Se assim é na ordem natural, mormente na ordem sobrenatural ou na ordem da vida da graça.
   "Aquela que é Mater Divinae Gratiae tem todo o direito ao mais sublime amor e ao mais acendrado culto por parte de todos os verdadeiros cristãos, regenerados pelo divino sangue do Salvador dos homens. Pois este sangue redentor, Cristo o recebeu do seio imaculado e sempre virgem de Maria: Mariae, de qua natus est Jesus, qui vocatur Christus.
   A salvação moral e espiritual da cristandade descansará perenemente na proteção superna de Nossa Mãe do Céu, tal qual em seus braços maternais descansava o próprio Salvador, Jesus, o Cristo Filho de Deus Vivo.
   A devoção a Nossa Senhora é a salvaguarda da fidelidade religiosa do nosso povo; e, para cada um de nós, o penhor da conquista do Paraíso.
   Para sermos verdadeiros e bons brasileiros, havemos de ser fiéis devotos da Mãe de Deus e Nossa. 
   Em seus braços veio Jesus para nós; em seus braços iremos nós para Jesus.
   "Foi no meado do Mês do Rosário, outubro de 1717, que, no Vale Mariano do Rio Paraíba, nas águas do porto de Itaguaçu, da paróquia de Guaratinguetá, deu-se o evento milagroso da Imagem Aparecida de Nossa Senhora da Conceição.
   "O então vigário de Guaratinguetá, Padre José Alves de Vilela, deixou registrado no Livro de Tombo dessa sua privilegiada paróquia, um interessantíssimo relato de como a Imagem fora colhida pelas redes abençoadas do feliz pescador João Alves, que tinha por companheiros Domingos Martins Garcia e Filipe Pedroso. 
   É de justiça ressaltar a benemerência desse sacerdote virtuoso e culto que, durante os primeiros trinta anos, cuidou zelosamente da devoção a Nossa Senhora Aparecida.
   "Por iniciativa sua, com outros devotos, erigiu primitiva ermida, por ele mesmo, posteriormente transplantada e transformada em capela digna deste nome, cito no próprio local em que, cem anos mais tarde, construir-se-ia a majestosa igreja que é agora Basílica Nacional. (a antiga). 
  "Era em Itaguaçu que em todos os sábados, reunia-se a gente da vizinhança a cantar o terço, o ofício litúrgico popular e outros louvores a Nossa Senhora. Oxalá que tão belo exemplo de piedade de nossos antepassados não seja nunca jamais esquecido na tradição das famílias católicas de nossa Pátria! 
   Falando do PRIMEIRO CONGRESSO DA PADROEIRA diz Dom Mota:
   "É o Brasil católico ajoelhado aos pés da Imaculada Conceição, é a alma brasileira que, em protestos de fé, cimenta e consolida os sentimentos que trouxemos do berço da nossa Pátria. Quer em romarias, mais ou menos organizadas, quer em grupos de famílias ou em visitas isoladas, sempre características do filial amor que devotamos à Mãe Santíssima, quantos saem daqui levando para a vida novas energias; quantos se regeneram no batismo da penitência; quantos abençoam a feliz inspiração que os trouxe um dia aos pés de Maria Santíssima!
   "A Aparecida é no Brasil a terra predileta de Nossa Senhora. É o Santuário em que ela se compraz de derramar as suas bênçãos, consolando e acariciando, a uns fortalecendo-lhes a fé e a coragem cristã, a outros inspirando nobres e salutares resoluções, quantas vezes restituindo-lhes a saúde do corpo, sempre a saúde da alma aos bem intencionados e sinceramente arrependidos".
   "Ainda as almas simples, as desse povo religioso e bom, que não sabe falar, mas sabe rezar, sentiam, como por instinto, que a Senhora Aparecida quer e deve reinar nos corações, nos lares, na família e na sociedade, em todos os recantos da Pátria estremecida, como Senhora absoluta de tudo quanto somos e de tudo quanto é nosso.
   "Este Santuário é água que satisfaz ao paladar do humilde e pequenino, e ao dos sábios; tanto atrai a devoção do caboclo do sertão, como a do gênio de Tomás de Aquino. Aqui na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, reza-se pela paz do Brasil grandioso e unido.
   "Que Nossa Senhora Aparecida, doravante, e para sempre, Rainha incontestada, e Soberana do Brasil, conserve-nos a todos a unidade da fé na unidade inquebrantável da Pátria!"
   "Aquiescendo paternalmente à patriótica e piedosa súplica do colendo Episcopado Nacional, houve por bem Sua Santidade, o Papa Pio XI, por MOTU PROPRIO de 16 de julho de 1930, oficialmente proclamar a Beatíssima e Imaculada Virgem Maria, sob o título de APARECIDA - PRECÍPUA PADROEIRA DE TODO O BRASIL, junto de Deus.
   "Eis as formais palavras da referida proclamação: (traduzindo do latim):
   "Por "motu próprio" e por conhecimento certo e madura reflexão Nossa, na plenitude de Nosso poder apostólico, pelo teor das presentes letras, constituímos e declaramos a Beatíssima Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de APARECIDA PADROEIRA PRINCIPAL DE TODO O BRASIL diante de Deus. Concedemos isto para promover o bem espiritual dos fiéis no Brasil e para aumentar cada vez mais a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus".

..."E então, de suas dadivosas mãos, a Virgem Imaculada - onipotência suplicante como é - fará jorrar sobre nós caudais de bênçãos; bênçãos que sejam luz para o nosso espírito em trevas de sobressaltos, que sejam força para a nossa vontade trepidante e quase a capitular, que sejam tranqüilidade para a nossa consciência em desassossego, e que sejam vibrações de sadio entusiasmo para o nosso coração abafado e desiludido.
   "Sensibilizados e ternissimamente agradecidos, podemos e devemos afirmar que, assim como a França foi o histórico cenário escolhido pela Virgem Imaculada para sua aparição a Catarina Labouré, a 27 de novembro de 1830, exigindo a cunhagem da Medalha, por antonomásia a MEDALHA MILAGROSA, assim como foi a Itália o palco majestoso da visão de Afonso Ratisbonne, a 20 de janeiro de 1842, na igreja de Santo André delle Fratte, em Roma, triunfando a Virgem da Medalha sobre o seu espírito de judeu acérrimo; assim também, e muito antes, fora o Brasil, em águas do Paraíba, o recesso tranqüilo e humilde, eleito por Nossa Senhora da Conceição, para o miraculoso aparecimento de sua Imagem a 17 de outubro de 1717. Imagem tão pequena em sua dimensão, quão grande, na veneração e no amor dos brasileiros.
   ..."Porque Maria Santíssima havia de ser Mãe de Deus por isso foi Imaculada em sua Conceição. E, depois, porque era a Mãe de Deus e Imaculada, por isso foi ressuscitada e assunta ao Céu, na integridade de sua pessoa. Em Maria, o Sol da graça infinita e da infinita justiça, refulgiu no seu zênite no mistério augusto e inefável da Maternidade Divina. Mas, na Imaculada Conceição, na gloriosa Ressurreição e na excelsa Assunção, rebrilhou o mesmo Solstício. Maria obteve vitória total sobre o pecado, pela plenitude da graça de Imaculada e Mãe de Deus: bem como obteve vitória total sobre a morte, pela plenitude da vida ressurreta e imortalizada na Glória do Paraíso.
   "Pois essa Criatura super-privilegiada, OBRA PRIMA  do Criador onipotente, onisciente e onibondoso, é a PRINCIPAL E CELESTIAL PADROEIRA DE TODO BRASIL, JUNTO DE DEUS. É a nossa Mãe do Céu! Que Nossa Senhora Aparecida console os que choram, conforte os que sofrem, encaminhe os transviados, reconcilie os inimigos, consolide as famílias, harmonize as sociedades, salve o Brasil! E assim como foi sua milagrosa Imagem recolhida nas redes dos pescadores, assim também se digne a querida Mãe e Padroeira recolher-nos a todos nas redes de sua bondade  e de seu poder, levando-nos para o Céu, levando-nos para Jesus: AD JESUM PER MARIAM!"

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

S. FRANCISCO DE ASSIS E A EUCARISTIA

Nesta crise tão grande por que passa a Igreja, a fé que já era tão diminuta nos corações, corre o risco de se extinguir, e sobretudo atinente à Santíssima Eucaristia, sacramento e sacrifício que são mistérios de fé, "mysterium fidei". Mister se faz aplicar antídotos e, um deles é meditar no que os santos pensavam  e como agiam a respeito. Assim, hoje, festa de São Francisco de Assis, postamos alguns excertos de seus escritos sobre a Eucaristia, como Sacrifício e como Sacramento.

 "Rogo-vos pois, a vós todos, meus irmãos, beijando-vos os pés, e com toda a caridade de que sou capaz, que manifesteis toda reverência e toda honra que puderdes ao santíssimo Corpo e ao Santíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, no qual foram purificadas todas as coisas, assim as da terra como as do céu, e reconciliadas com o Deus onipotente (Col. I, 20). Peço ainda no Senhor a todos os meus irmãos sacerdotes, os que são, vierem a ser ou desejarem ser sacerdotes do Altíssimo, que, ao celebrar a missa, ofereçam o verdadeiro sacrifício do santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, pessoalmente puros, com disposição sincera, com reverência e com santa e pura intenção, jamais levados por qualquer interesse terreno nem por temor ou consideração de qualquer pessoa 'como quem procura agradar aos homens' (Col. III, 22). Seja antes todo vosso querer , na medida que vos ajudar a graça do Onipotente, ordenado para Deus, desejando assim agradar unicamente a Ele, o supremo Senhor, porque só Ele opera ali como for do seu agrado. Pois - como Ele mesmo diz: 'Fazei isto em memória de mim' (Lc XXII, 19)  -  quem proceder de outra maneira tornar-se-á outro Judas traidor e faz-se réu do Corpo e Sangue do Senhor (1 Cor. XI, 27).

Lembrai-vos, irmãos meus sacerdotes, que está escrito sobre a lei de Moisés que quem a transgredia nem que fosse só em coisas exteriores morria sem dó por sentença do Senhor. "Quanto maior e mais terrível castigo merece padecer aquele que pisa aos pés o Filho de Deus e tem em conta de profano o sangue do testamento pelo qual foi santificado, insulta a graça do Espírito" (Heb. X, 28 e 29)! Pois, o homem, segundo diz o Apóstolo, não discernindo nem distinguindo de outros alimentos e obras o santo pão de Cristo, o come indignamente ou, sendo indigno, o come sem o reto espírito e em atitude inconveniente, profana a calca aos pés o Cordeiro de Deus. Porquanto diz o Senhor pelo profeta: "Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor (Jer. XLVIII, 10. E condena na verdade os sacerdotes que não quiserem tomar isto a peito, dizendo: "Quero amaldiçoar as vossas bênçãos!" (Mal. II, 2). Escutai, irmãos meus: Se honramos tanto a Bem-aventurada Virgem Maria, como convém, por haver trazido em seu santíssimo seio o Filho de Deus; se o bem-aventurado (João) Batista estremeceu e não ousou tocar o vértice de Deus; se se presta culta ao sepulcro onde ele repousou por algum tempo  -  que santidade, que justiça, que dignidade não deve ter aquele que toca com as mãos, recebe na boca e no coração e distribui aos outros o Senhor que já não  - como outrora  -  vem para morrer, mas há de viver na glória por toda a eternidade, e "a quem os anjos desejam contemplar" (1 Ped. I, 12)!

Considerai a vossa dignidade, irmãos sacerdotes, e "sede santos porque ele é santo" (Lev. XI, 44)! E assim como o Senhor Deus vos honrou acima de todos, amai-O, reverenciai-O, honrai-O! É uma grande desgraça e uma lamentável fraqueza se vós, tendo-o assim presente, ainda vos preocupais com qualquer outra coisa no mundo inteiro. Pasme o homem todo, estremeça a terra inteira, rejubile o céu em altas vozes quando, sobre o altar, estiver nas mãos do sacerdote o Cristo, Filho de Deus vivo! Ó grandeza maravilhosa, ó admirável condescendência! Ó humildade sublime, ó humilde sublimidade! O Senhor do universo, Deus e filho de Deus, se humilha a ponto de se esconder, para nosso bem, na modesta aparência do pão! Vede, irmãos, que humildade a de Deus! Derramai ante Ele os vossos corações (Sl 61,9)! Humilhai-vos para que Ele vos exalte (1 Ped, V, 6)! Portanto nada de vós retenhais para vós mesmos, para que totalmente vos receba quem totalmente se vos dá! (Excertos da CARTA AO CAPÍTULO DOS FRADES MENORES).

"Peço-vos ainda com mais insistência do que se pedisse por mim mesmo, supliques humildemente aos clérigos, todas as vezes que o julgueis oportuno e útil, que prestem a mais profunda reverência ao santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (...) Os cálices e corporais que usam, os ornamentos do altar, enfim tudo quanto se relaciona ao sacrifício, sejam de execução preciosa. E se em alguma parte o Corpo do Senhor estiver sendo conservado muito pobremente, reponham-no em lugar ricamente adornado e ali O guardem cuidadosamente encerrado segundo as determinações da Igreja, levem-no sempre com grande respeito e ministrem-no com muita discrição. Em todas as pregações que fizerdes, exortai o povo à penitência e dizei-lhe que ninguém poderá salvar-se se não receber o santíssimo Corpo e Sangue do Senhor. E quando o sacerdote O oferecer em sacrifício sobre o altar, e aonde quer que o leve, todo o povo dobre os joelhos e renda louvor, de modo que a toda hora, ao dobre dos sinos, o povo todo, no mundo inteiro, renda sempre graças e louvores ao Deus onipotente" (Excertos da CARTA A TODOS OS CUSTÓDIOS DOS FRADES MENORES).

"Todos devemos confessar os nossos pecados ao sacerdote e é dele que recebemos o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois quem não comer a sua Carne e não beber o seu Sangue não pode entrar no reino de Deus (cf. Jo VI, 54). É preciso no entanto que se coma e beba dignamente, porquanto, quem receber indignamente, "come e bebe a sua própria condenação porque não discerne o corpo do Senhor" (1 Cor XI, 29). ... Visitemos também frequentemente as igrejas e honremos e respeitemos os clérigos, não tanto por sua pessoa  -  se forem pecadores  -  mas sobretudo por causa do seu ministério em que nos administram o santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo que sacrificam sobre o altar, recebem e repartem aos outros. E estejamos todos firmemente convencidos de que ninguém pode salvar-se e não ser pelas santas palavras e pelo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os clérigos pronunciam e anunciam essas palavras e ministram o sacramento. E só eles estão autorizados a exercer esse ministérios e mais ninguém" (Excertos da CARTA AO FIÉIS).

"Os meus abençoados irmãos, clérigos e leigos, confessem seus pecados aos sacerdotes da nossa Ordem. Se não for possível, confessem-se a outros sacerdotes prudente e católicos. E saibam claramente e considerem que, tendo recebido de qualquer dos sacerdotes católicos penitência e absolvição, estão absolvidos, sem dúvida alguma, daqueles pecados, se procurarem humilde e fielmente cumprir a penitência imposta. (...) E assim contritos e confessados recebem o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, com grande humildade e respeito, recordando que o próprio Senhor disse: "Quem come a minha carne e bebe o  meus sangue possui a vida eterna" (Jo VI, 55); e: "Fazei isto em memória de mim" (Lc XXiI, 19).

"Mas também o Filho, em sendo igual ao Pai, não pode ser visto por alguém de modo diferente que o Pai e o Espírito Santo. Por isso são réprobos todos aqueles que viram o Senhor Jesus Cristo em sua humanidade sem enxergá-Lo segundo o espírito e a divindade e sem crer que Ele é o verdadeiro Filho de Deus. De igual modo são hoje em dia réprobos todos aqueles que  -  embora vendo o sacramento do Corpo de Cristo que, pelas palavras do Senhor, se torna santamente presente sobre o altar, sob as espécies de pão e vinho, nas mãos do sacerdote  -  não olham segundo o espírito e a divindade nem crêem que se trata verdadeiramente do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Atesta-o pessoalmente o Altíssimo quando diz: "Este é o meu Corpo e o Sangue de nova Aliança" (cf. Mc XIV, 22); e: "Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna" (cf. Jo VI, 55). Por isso é o espírito do Senhor que habita nos seus fiéis quem recebe o santíssimo Corpo e Sangue do Senhor (cf Jo VI, 62). Todos aqueles que não participam desse espírito e no entanto ousam comungar, "comem e bebem a sua condenação" (1 Cor XI, 29).

Portanto, "ó filhos dos homens, até quando tereis duro o coração?" (Sl 4, 3). Por que não reconheceis a verdade "nem credes no Filho de Deus". (Jo IX, 35? Eis que Ele se humilha todos os dias (Fil II, 8); tal como na hora em que, "descendo do seu trono real" (Sab. XVIII, 5) para o seio da Virgem, vem diariamente a nós sob aparência humilde; todos os dias desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote. E como apareceu aos santos apóstolos em verdadeira carne, também a nós se nos mostra hoje no pão sagrado. E do mesmo modo que eles, enxergando sua carne, não viam senão sua carne, contemplando-o contudo com seus olhos espirituais creram nele como no seu Senhor e Deus (cf. Jo XX, 28), assim também nós, vendo o pão e o vinho com os nossos olhos corporais, olhemos e creiamos firmemente que está presente o santíssimo Corpo e Sangue vivo e verdadeiro. E desse modo o Senhor está sempre com os seus fiéis, conforme Ele mesmo diz: "Eis que estou convosco até a consumação dos séculos" (Mt XXVII, 20) (Excertos de: PALAVRAS DE EXORTAÇÃO A TODOS OS IRMÃOS).

"Mas todos aqueles que não vivem em espírito de penitência, nem recebem o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que praticam vícios e cometem pecados, e que vivem segundo suas más concupiscências e desejos perversos, e que não cumprem o que prometeram e com o seu corpo servem ao mundo, porque se deixaram ludibriar por suas concupiscências carnais, pelos cuidados e solicitudes deste mundo, pelo demônio, cujos filhos são e cujas obras praticam: cegos são eles, porque não são capazes de enxergar a verdadeira luz, Nosso Senhor Jesus Cristo. A sabedoria espiritual não na possuem porque não trazem dentro de si o Filho de Deus, que é a verdadeira sabedoria do Pai. E é deles que se diz: "Sua sabedoria foi devorada" (Sl 106, 27). Só enxergam, conhecem, sabem e praticam o mal e perdem deliberadamente suas almas. Reparai, ó cegos, iludidos por nossos inimigos, isto é,  -   pela carne, pelo mundo e pelo demônio  -  que é agradável ao corpo praticar o pecado, e amargo servir a Deus, porque todos os vícios e pecados procedem do coração do homem, como diz o Evangelho (Mt XV, 19). E nada tendes de vós, nem neste mundo nem no futuro. Julgais gozar por longo tempo as vaidades deste mundo, mas estais logrados, porque virá o dia e a hora na qual não pensais e que de todo desconheceis" (Excertos da CARTA AOS FIÉIS).

Carta a Todos os Clérigos: "Consideremos todos nós clérigos o grande pecado e ignorância que alguns manifestam com relação ao santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu santíssimo nome e palavras escritas que tornam santamente presente o Corpo (de Cristo). Sabemos que o Corpo não pode restar presente se antes não for tornado presente pela palavra. Pois nada temos nem vemos corporalmente dele, do próprio Altíssimo, neste mundo, senão o Corpo e Sangue, os nomes e as palavras pelas quais fomos criados e remidos da morte para a vida. Logo, todos aqueles que administram tão sacrossantos mistérios e especialmente aqueles que os ministram sem a reta discrição, considerem no seu íntimo como são vulgares os cálices, corporais e panos de linho sobre as quais é oferecido em sacrifício o Corpo e Sangue de Nosso Senhor. E muitos O guardam em lugares bem comuns e O levam de modo lamentável (pela rua) e O recebem indignamente e O ministram indiscriminadamente. ... Não excitam porventura tais fatos a nossa piedade e devoção por esse bom Senhor quando se digna de vir colocar-se ele próprio em nossas mãos e nós O tocamos e O recebemos todos os dias em nossa boca? Ou ignoramos que um dia havemos de cair em suas mãos?

Emendemo-nos depressa e firmemente dessas e de outras faltas. Onde quer que o santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo for conservado de modo inconveniente ou simplesmente deixado em alguma parte, que O tirem dali para colocá-Lo e encerrá-Lo num lugar ricamente adornado. Sabemos perfeitamente que estamos estritamente obrigados a observar tudo isto, em virtude dos mandamentos do Senhor e dos preceitos da santa Mãe Igreja; e os que o não fazem saibam bem que deverão prestar contas perante Nosso Senhor Jesus Cristo no dia do Juízo" (Excertos da CARTA A TODOS OS CLÉRIGOS).