sexta-feira, 4 de outubro de 2019

S. FRANCISCO DE ASSIS E A EUCARISTIA

Nesta crise tão grande por que passa a Igreja, a fé que já era tão diminuta nos corações, corre o risco de se extinguir, e sobretudo atinente à Santíssima Eucaristia, sacramento e sacrifício que são mistérios de fé, "mysterium fidei". Mister se faz aplicar antídotos e, um deles é meditar no que os santos pensavam  e como agiam a respeito. Assim, hoje, festa de São Francisco de Assis, postamos alguns excertos de seus escritos sobre a Eucaristia, como Sacrifício e como Sacramento.

 "Rogo-vos pois, a vós todos, meus irmãos, beijando-vos os pés, e com toda a caridade de que sou capaz, que manifesteis toda reverência e toda honra que puderdes ao santíssimo Corpo e ao Santíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, no qual foram purificadas todas as coisas, assim as da terra como as do céu, e reconciliadas com o Deus onipotente (Col. I, 20). Peço ainda no Senhor a todos os meus irmãos sacerdotes, os que são, vierem a ser ou desejarem ser sacerdotes do Altíssimo, que, ao celebrar a missa, ofereçam o verdadeiro sacrifício do santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, pessoalmente puros, com disposição sincera, com reverência e com santa e pura intenção, jamais levados por qualquer interesse terreno nem por temor ou consideração de qualquer pessoa 'como quem procura agradar aos homens' (Col. III, 22). Seja antes todo vosso querer , na medida que vos ajudar a graça do Onipotente, ordenado para Deus, desejando assim agradar unicamente a Ele, o supremo Senhor, porque só Ele opera ali como for do seu agrado. Pois - como Ele mesmo diz: 'Fazei isto em memória de mim' (Lc XXII, 19)  -  quem proceder de outra maneira tornar-se-á outro Judas traidor e faz-se réu do Corpo e Sangue do Senhor (1 Cor. XI, 27).

Lembrai-vos, irmãos meus sacerdotes, que está escrito sobre a lei de Moisés que quem a transgredia nem que fosse só em coisas exteriores morria sem dó por sentença do Senhor. "Quanto maior e mais terrível castigo merece padecer aquele que pisa aos pés o Filho de Deus e tem em conta de profano o sangue do testamento pelo qual foi santificado, insulta a graça do Espírito" (Heb. X, 28 e 29)! Pois, o homem, segundo diz o Apóstolo, não discernindo nem distinguindo de outros alimentos e obras o santo pão de Cristo, o come indignamente ou, sendo indigno, o come sem o reto espírito e em atitude inconveniente, profana a calca aos pés o Cordeiro de Deus. Porquanto diz o Senhor pelo profeta: "Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor (Jer. XLVIII, 10. E condena na verdade os sacerdotes que não quiserem tomar isto a peito, dizendo: "Quero amaldiçoar as vossas bênçãos!" (Mal. II, 2). Escutai, irmãos meus: Se honramos tanto a Bem-aventurada Virgem Maria, como convém, por haver trazido em seu santíssimo seio o Filho de Deus; se o bem-aventurado (João) Batista estremeceu e não ousou tocar o vértice de Deus; se se presta culta ao sepulcro onde ele repousou por algum tempo  -  que santidade, que justiça, que dignidade não deve ter aquele que toca com as mãos, recebe na boca e no coração e distribui aos outros o Senhor que já não  - como outrora  -  vem para morrer, mas há de viver na glória por toda a eternidade, e "a quem os anjos desejam contemplar" (1 Ped. I, 12)!

Considerai a vossa dignidade, irmãos sacerdotes, e "sede santos porque ele é santo" (Lev. XI, 44)! E assim como o Senhor Deus vos honrou acima de todos, amai-O, reverenciai-O, honrai-O! É uma grande desgraça e uma lamentável fraqueza se vós, tendo-o assim presente, ainda vos preocupais com qualquer outra coisa no mundo inteiro. Pasme o homem todo, estremeça a terra inteira, rejubile o céu em altas vozes quando, sobre o altar, estiver nas mãos do sacerdote o Cristo, Filho de Deus vivo! Ó grandeza maravilhosa, ó admirável condescendência! Ó humildade sublime, ó humilde sublimidade! O Senhor do universo, Deus e filho de Deus, se humilha a ponto de se esconder, para nosso bem, na modesta aparência do pão! Vede, irmãos, que humildade a de Deus! Derramai ante Ele os vossos corações (Sl 61,9)! Humilhai-vos para que Ele vos exalte (1 Ped, V, 6)! Portanto nada de vós retenhais para vós mesmos, para que totalmente vos receba quem totalmente se vos dá! (Excertos da CARTA AO CAPÍTULO DOS FRADES MENORES).

"Peço-vos ainda com mais insistência do que se pedisse por mim mesmo, supliques humildemente aos clérigos, todas as vezes que o julgueis oportuno e útil, que prestem a mais profunda reverência ao santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (...) Os cálices e corporais que usam, os ornamentos do altar, enfim tudo quanto se relaciona ao sacrifício, sejam de execução preciosa. E se em alguma parte o Corpo do Senhor estiver sendo conservado muito pobremente, reponham-no em lugar ricamente adornado e ali O guardem cuidadosamente encerrado segundo as determinações da Igreja, levem-no sempre com grande respeito e ministrem-no com muita discrição. Em todas as pregações que fizerdes, exortai o povo à penitência e dizei-lhe que ninguém poderá salvar-se se não receber o santíssimo Corpo e Sangue do Senhor. E quando o sacerdote O oferecer em sacrifício sobre o altar, e aonde quer que o leve, todo o povo dobre os joelhos e renda louvor, de modo que a toda hora, ao dobre dos sinos, o povo todo, no mundo inteiro, renda sempre graças e louvores ao Deus onipotente" (Excertos da CARTA A TODOS OS CUSTÓDIOS DOS FRADES MENORES).

"Todos devemos confessar os nossos pecados ao sacerdote e é dele que recebemos o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois quem não comer a sua Carne e não beber o seu Sangue não pode entrar no reino de Deus (cf. Jo VI, 54). É preciso no entanto que se coma e beba dignamente, porquanto, quem receber indignamente, "come e bebe a sua própria condenação porque não discerne o corpo do Senhor" (1 Cor XI, 29). ... Visitemos também frequentemente as igrejas e honremos e respeitemos os clérigos, não tanto por sua pessoa  -  se forem pecadores  -  mas sobretudo por causa do seu ministério em que nos administram o santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo que sacrificam sobre o altar, recebem e repartem aos outros. E estejamos todos firmemente convencidos de que ninguém pode salvar-se e não ser pelas santas palavras e pelo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os clérigos pronunciam e anunciam essas palavras e ministram o sacramento. E só eles estão autorizados a exercer esse ministérios e mais ninguém" (Excertos da CARTA AO FIÉIS).

"Os meus abençoados irmãos, clérigos e leigos, confessem seus pecados aos sacerdotes da nossa Ordem. Se não for possível, confessem-se a outros sacerdotes prudente e católicos. E saibam claramente e considerem que, tendo recebido de qualquer dos sacerdotes católicos penitência e absolvição, estão absolvidos, sem dúvida alguma, daqueles pecados, se procurarem humilde e fielmente cumprir a penitência imposta. (...) E assim contritos e confessados recebem o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, com grande humildade e respeito, recordando que o próprio Senhor disse: "Quem come a minha carne e bebe o  meus sangue possui a vida eterna" (Jo VI, 55); e: "Fazei isto em memória de mim" (Lc XXiI, 19).

"Mas também o Filho, em sendo igual ao Pai, não pode ser visto por alguém de modo diferente que o Pai e o Espírito Santo. Por isso são réprobos todos aqueles que viram o Senhor Jesus Cristo em sua humanidade sem enxergá-Lo segundo o espírito e a divindade e sem crer que Ele é o verdadeiro Filho de Deus. De igual modo são hoje em dia réprobos todos aqueles que  -  embora vendo o sacramento do Corpo de Cristo que, pelas palavras do Senhor, se torna santamente presente sobre o altar, sob as espécies de pão e vinho, nas mãos do sacerdote  -  não olham segundo o espírito e a divindade nem crêem que se trata verdadeiramente do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Atesta-o pessoalmente o Altíssimo quando diz: "Este é o meu Corpo e o Sangue de nova Aliança" (cf. Mc XIV, 22); e: "Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna" (cf. Jo VI, 55). Por isso é o espírito do Senhor que habita nos seus fiéis quem recebe o santíssimo Corpo e Sangue do Senhor (cf Jo VI, 62). Todos aqueles que não participam desse espírito e no entanto ousam comungar, "comem e bebem a sua condenação" (1 Cor XI, 29).

Portanto, "ó filhos dos homens, até quando tereis duro o coração?" (Sl 4, 3). Por que não reconheceis a verdade "nem credes no Filho de Deus". (Jo IX, 35? Eis que Ele se humilha todos os dias (Fil II, 8); tal como na hora em que, "descendo do seu trono real" (Sab. XVIII, 5) para o seio da Virgem, vem diariamente a nós sob aparência humilde; todos os dias desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote. E como apareceu aos santos apóstolos em verdadeira carne, também a nós se nos mostra hoje no pão sagrado. E do mesmo modo que eles, enxergando sua carne, não viam senão sua carne, contemplando-o contudo com seus olhos espirituais creram nele como no seu Senhor e Deus (cf. Jo XX, 28), assim também nós, vendo o pão e o vinho com os nossos olhos corporais, olhemos e creiamos firmemente que está presente o santíssimo Corpo e Sangue vivo e verdadeiro. E desse modo o Senhor está sempre com os seus fiéis, conforme Ele mesmo diz: "Eis que estou convosco até a consumação dos séculos" (Mt XXVII, 20) (Excertos de: PALAVRAS DE EXORTAÇÃO A TODOS OS IRMÃOS).

"Mas todos aqueles que não vivem em espírito de penitência, nem recebem o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que praticam vícios e cometem pecados, e que vivem segundo suas más concupiscências e desejos perversos, e que não cumprem o que prometeram e com o seu corpo servem ao mundo, porque se deixaram ludibriar por suas concupiscências carnais, pelos cuidados e solicitudes deste mundo, pelo demônio, cujos filhos são e cujas obras praticam: cegos são eles, porque não são capazes de enxergar a verdadeira luz, Nosso Senhor Jesus Cristo. A sabedoria espiritual não na possuem porque não trazem dentro de si o Filho de Deus, que é a verdadeira sabedoria do Pai. E é deles que se diz: "Sua sabedoria foi devorada" (Sl 106, 27). Só enxergam, conhecem, sabem e praticam o mal e perdem deliberadamente suas almas. Reparai, ó cegos, iludidos por nossos inimigos, isto é,  -   pela carne, pelo mundo e pelo demônio  -  que é agradável ao corpo praticar o pecado, e amargo servir a Deus, porque todos os vícios e pecados procedem do coração do homem, como diz o Evangelho (Mt XV, 19). E nada tendes de vós, nem neste mundo nem no futuro. Julgais gozar por longo tempo as vaidades deste mundo, mas estais logrados, porque virá o dia e a hora na qual não pensais e que de todo desconheceis" (Excertos da CARTA AOS FIÉIS).

Carta a Todos os Clérigos: "Consideremos todos nós clérigos o grande pecado e ignorância que alguns manifestam com relação ao santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu santíssimo nome e palavras escritas que tornam santamente presente o Corpo (de Cristo). Sabemos que o Corpo não pode restar presente se antes não for tornado presente pela palavra. Pois nada temos nem vemos corporalmente dele, do próprio Altíssimo, neste mundo, senão o Corpo e Sangue, os nomes e as palavras pelas quais fomos criados e remidos da morte para a vida. Logo, todos aqueles que administram tão sacrossantos mistérios e especialmente aqueles que os ministram sem a reta discrição, considerem no seu íntimo como são vulgares os cálices, corporais e panos de linho sobre as quais é oferecido em sacrifício o Corpo e Sangue de Nosso Senhor. E muitos O guardam em lugares bem comuns e O levam de modo lamentável (pela rua) e O recebem indignamente e O ministram indiscriminadamente. ... Não excitam porventura tais fatos a nossa piedade e devoção por esse bom Senhor quando se digna de vir colocar-se ele próprio em nossas mãos e nós O tocamos e O recebemos todos os dias em nossa boca? Ou ignoramos que um dia havemos de cair em suas mãos?

Emendemo-nos depressa e firmemente dessas e de outras faltas. Onde quer que o santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo for conservado de modo inconveniente ou simplesmente deixado em alguma parte, que O tirem dali para colocá-Lo e encerrá-Lo num lugar ricamente adornado. Sabemos perfeitamente que estamos estritamente obrigados a observar tudo isto, em virtude dos mandamentos do Senhor e dos preceitos da santa Mãe Igreja; e os que o não fazem saibam bem que deverão prestar contas perante Nosso Senhor Jesus Cristo no dia do Juízo" (Excertos da CARTA A TODOS OS CLÉRIGOS).


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