terça-feira, 31 de maio de 2016

MARIA E O SAGRADO CORAÇÃO


Pelo Servo de Deus Padre Mateo Crawley-Boevey   SS. CC.

"Verão aquele a quem trespassaram" (Zacarias XII, 10;  S. João XIX, 37).

Quero apenas acrescentar este tema  da Sagrada Escritura, e observar que a primeira a ver e adorar o Coração trespassado de Jesus Cristo na Cruz, foi Sua Mãe Santíssima , a sempre Virgem Maria. Agora, demos a palavra ao grande Missionário do Sagrado Coração de Jesus, Pe. Mateo Crawley-Boevey:

   "Jesus todo inteiro pertence a Maria, mas há algo em Jesus que é mais especialmente de sua Mãe: seu Coração.

O que São Francisco de Assis, Santa Gertrudes ou Santa Margarida Maria conheceram desse Coração adorável, é apenas um átomo do sol radiante que foi o conhecimento íntimo com que a Virgem Maria penetrou nesse abismo de amor e de misericórdia.

Daí a semelhança prodigiosa, muito mais ainda que no físico, no moral, entre o Coração de Jesus e o de Maria. Porque, se na fisionomia de Jesus estavam seguramente muito marcados os traços de rara formosura da Virgem, que diremos das outras semelhanças, as dessas duas almas e dos seus sentimentos interiores? A este Filho-Deus, esta Mãe única!

Por isso os dois títulos que para nós têm um significado e importância e sabor especialíssimos: "Mãe do Belo Amor" e Mãe de Misericórdia".

Mãe d'Aquele que é o Amor dos amores, d'Aquele que se define como Caridade e Amor. E foi Ele mesmo quem criou à sua imagem e semelhança a sua própria Mãe, a mais amante e  amorosa de todas as criaturas, por se a que mais perfeitamente reproduz em seu Coração Imaculado o atributo por excelência do Senhor: a Caridade.

Toda a grandeza, toda a formosura, todo o poder e toda a fecundidade desta Filha e Mãe do Rei está no seu amor. E por isso Deus colocou n'Ela todas as suas complacências e depositou em seu Coração todos os seus tesouros, porque como nenhum outro ser criado, nenhum serafim ou santo, dilexit multum, "amou muito".  

Devia ser Imaculada por ser Mãe d'Aquele que é a Santidade substancial, e também porque devia amar com capacidade de amor que nenhum coração manchado pôde jamais ter ao dar-se a Deus. Amou, portanto, com plenitude de amor, porque pôde amar e amou com um Coração Imaculado.

Amou como criatura, a única perfeita, com amor perfeito; amou como Esposa, a eleita entre milhares, e como Virgem cuja integridade, realçada pelo milagre da fecundidade divina, centuplicara em Maria a potência de amor pelo seu Criador, convertido em Esposo divino e em Filho seu. Maria amou a Deus como Mãe, pois que o Verbo foi na realidade seu Filho, envolto nos panos da carne mortal. Que de incêndios não comunicaria o Filho à Mãe, pagando seus desvelos, seus beijos e ternuras com chamas de caridade abrasadora, infinita!

Daí seguiu-se para esse Coração virginal e materno, feito brasa viva de amor divino, aquela suavidade e doçura, piedade e misericórdia da Rainha: Mater misericordiae.

Chega o Senhor à terra, trazendo-nos na forma encantadora de Irmão nosso a benignidade do Pai celestial, o seu perdão.

Mas chegou até nós nos braços de uma criatura incomparável, mulher como nossas mães, mil vezes mais terna ainda que todas elas. Do berço do seu regaço, apoiado no Coração da Rainha, sorriu à terra, olhou-a com piedade infinita. Dos seus braços maternais, Jesus deu a primeira bênção ao mundo culpado, chorando já, nesse altar que era Maria, e oferecendo-se nele ao Pai, como Salvador de infinita misericórdia.

Ah! Como a Hóstia de misericórdia, Jesus, assim também trono e ara de misericórdia, Maria!
Quem jamais reproduziu como a Virgem a infinita compaixão do Coração de Jesus? Quem jamais melhor que Ela pregou e prodigalizou toda a doutrina do Amor misericordioso de Deus, encarnado não para julgar, mas para salvar?

Como deve ter dilacerado o Coração de Maria o grito de pânico e de gelo lançado pelo jansenismo! Como deve ter protestado com lágrimas de sangue, em união com a Igreja católica, quando se esforçavam por fechar a ferida do lado, ou ao menos ocultá-la à caravana de almas débeis e pecadoras que a buscavam com afã, para asilo e farol, manancial e porto!

Ela, que sabia por que chorava o Menino, ainda tão pequeno, nos seus braços; Ela que sabia o motivo pelo qual sofreu o desterro do Egito; Ela, que sabia o porquê misterioso daqueles trinta anos de solidão, de humilhações e silêncio em Nazaré; Ela que, como ninguém, sabia o último porquê do prodígio de amor da Quinta-Feira Santa e de todas as ignomínias e dores da Sexta-Feira Santa; Ela que recebeu o Coração do Salvador e o da Igreja, ambos arcas de salvação e não tribunais de condenação... Ah! como deve ter desviado os olhos e fechado os seus ouvidos quando algum filho degenerado, de sobrolhos carregados, gesto inclemente e palavras destituídas de misericórdia, desfigurou ao seu Jesus!

Bebei, devotos do Divino Coração, bebei a sorvos largos, no Coração de Maria, a doutrina suave e forte do amor, a doutrina sólida, autêntica e tão consoladora da misericórdia. Aprendei na escola de Maria que ser bom com as almas, ser compassivo, ser misericordioso não é   oh!, não!  -  nenhuma debilidade, nenhuma condescendência ridícula e indevida, mas o mais substancial, o mais forte e puro da farinha com a qual se engendra e forma a Jesus nas almas.

Em vossos momentos de filial intimidade com a Mãe do Belo Amor, suplicai-Lhe que infunda em vós, como fez a S. João Eudes, o verdadeiro espírito do amor e do apostolado do Coração de Jesus, aquele espírito que não se aprende nem se adquire em toda a sua pureza senão nessa escola do Puríssimo Coração de Maria.

Por isso encontrareis sempre nos grandes servidores da Rainha, como São Grignon de Montfort e o S. Antônio Claret, aliada à santa intransigência de princípios, aquela unção, aquela ternura apostólica, aquela imensa compaixão e indulgência que aprenderam sem dúvida, dos lábios de Maria. Por isso comoveram o mundo das almas, por isso foram os mensageiros vitoriosos do Evangelho e os renovadores providenciais, na sua época, do verdadeiro espírito cristão." (...)


Caríssimos, sede filhos amantes da Mãe do Belo Amor, da Mãe de Misericórdia! Amém!

domingo, 29 de maio de 2016

Jesus pregando Retiro aos seus sacerdotes ( III )

O sacerdote deve ser santo

   Meu Padre, tu vives desde sempre no pensamento de Deus, associado a Mim, o Santo dos santos, e à minha Mãe Imaculada. Oh!, como esta nobreza divina te obriga a ser santo!
   Durante a Missa vês-me estendido diante de ti sobre o altar, revestido de humildes aparências e inteiramente ao teu dispor.
   Não deves tu ser santo e inocente para te inclinares sobre a mesma Santidade e Inocência?
   Os teus olhos não devem ser puros e singelos como os da pomba para poderes suportar o olhar da infinita Pureza?
   Não devem as tuas mãos ser sem mancha para ousares tocar e oferecer o Cordeiro imaculado?
   Considera a que grau de inocência eu elevei minha Mãe para lhe permitir satisfazer as obrigações do seu augusto ofício, para a fazer digna de me albergar no seu seio e levar-me em seus braços. 
   Mas pensa ao mesmo tempo em ti próprio, tão semelhante a Ela na dignidade e no poder, destinado igualmente a dar-me a existência no altar e a fazer-me nascer nas almas.
   Como o humilde José, foste associado à divina Família. Eu quis que ele fosse santo e puro porque em suas mãos havia de por a guarda da minha Mãe e de mim mesmo.
   Mas quanto mais santo ainda que o justo José não deverias ser tu! A ti confiei também a honra da minha Mãe, a ti me entreguei eu próprio como criancinha sem defesa; a ti deixei o cuidado de me procurares almas, nas quais eu possa nascer como outrora na gruta de Belém.
   Quando celebras, milhares de anjos enchem o meu santuário, abismados na adoração e nos louvores. Eles são meus servidores, mas tu és meu sacerdote. Tu sobes ao altar com plenos direitos; mandas-me descer dos céus e nascer em tuas mãos.
   Oh, como eu te preferi aos anjos e como a tua santidade deveria eclipsar a deles!
   Tu és mediador comigo entre Deus e os homens. É-lo pela tua ordenação, e para sempre.
   Deves apresentar a meu Pai as homenagens de adoração e de reconhecimento das criaturas. Mas, como as aceitaria meu Pai, se as tuas mãos estivessem manchadas?
   Estás encarregado de abrandar a cólera do Juiz justamente irritado, e de pedir perdão pelos inumeráveis crimes dos homens. Mas, como aplacarás se tu mesmo és pecador?
   Estás na obrigação de alcançar para os teus semelhantes as graças de que estão necessitados. Mas, como te ouvirá Deus, se és seu inimigo?
   Eu ti confiei o cuidado das almas resgatadas com o meu sangue, o dever de proteger a inocência daqueles que me pertencem. Mas tem cautela! Se não és um anjo de pureza, o teu hálito fanará a candura destas almas.
   Eu vim para lançar fogo à terra, e tu és o facho flamejante que o ateará nas almas. Mas, como atearás tu este fogo nos outros, se o teu próprio coração é de gelo?
   Tu foste escolhido para ires à procura das ovelhas desgarradas, carregá-las sobre os teus ombros e trazê-las ao redil. Mas, se tu não és o bom Pastor, as ovelhas fugirão de ti; não conhecem a voz do estranho. E assim eu perderei essas almas queridas pelas quais derramei o meu sangue, e será por tua culpa.
   Tu és a luz do mundo. Coloquei-te nas alturas como farol luminoso para que os teus bons exemplos lancem ao longe o seu fulgor. Mas, como iluminarás se está apagado o teu brilho? Não me obrigarás a arrancar do seu lugar o candelabro?
   Oh, não te aflijas, meu filho, à vista de tantas responsabilidades! Não percas a coragem, considerando a tua fraqueza!
   Bem sei que confiei a minha graça a um vaso frágil. Bem sei que és pó e que a tua natureza te inclina para o mal desde a juventude. Eu conheço o número dos teus inimigos e as ciladas que te armam, precisamente porque és meu sacerdote.
   Reza. Recorre a mim sem cessar e obterás o triunfo. Não és sozinho a pedir. A Virgem, minha Mãe, pede contigo. O meu divino Espírito marcou-te com o seu selo e pede dentro de ti com gemidos inenarráveis.
   Que tens a temer? Todos os meus bens são teus e os teus interesses são meus. A minha própria glória vai unida ao teu triunfo. 
   Podia eu confiar-te tanto poder sem te dar a graça de o exerceres dignamente? Quereria impor sobre ti uma obrigação e depois recusar-te a graça para a cumprires?
   Não percas a coragem à vista da tua miséria. O inferno nada pode contra mim, nem contra aqueles que põem em mim o seu apoio.
   Eu sou o Senhor dos senhores, o Deus dos exércitos. Todos os meus inimigos e os teus são menos que a gota de água que brilha num copo.
   Se queres ser santo, podes sê-lo com a minha ajuda. Recomenda-te sem cessar à minha Mãe. Eu a constituí teu Perpétuo Socorro. 
   Ninguém pode arrancar das minhas mãos as almas que me amam e invocam o meu nome. 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

NA CHINA - O VIÁTICO DA MÁRTIR

   O inspetor escolar, acompanhado de quatro policiais armados até aos dentes, entra na escola paroquial clandestina do Padre Fransen. Em pé diante dos alunos, manda arrancar o crucifixo da parede: "As imagens religiosas são antipatrióticas...". Depois ordena às crianças: "Adiantem-se em fila, e entreguem todas as imagens". A maioria obedece. A única rebelde é uma menina de treze anos. Segura entre as mãos uma imagem já deteriorada. O inspetor, furibundo, tenta constrangê-la. Em vão. Esbofeteia-a no rosto. Mas a menina aperta sempre mais a imagem com as mãos. "Prendam o pai dessa rebelde e conduzam-no à minha presença!"
   Os soldados reúnem todos os habitantes da aldeia dentro da igreja. A menina com  o pai, está à mesa da comunhão. Tem as mãos agrilhoadas atrás das costas. O inspetor sobe o degrau do altar. Vira as costas para o tabernáculo e pronuncia violento discurso contra o Santíssimo Sacramento. Ordena depois aos policiais de arrombar o tabernáculo, abrir a âmbula e espalhar por terra as partículas consagradas. O Padre Fransen, é fechado num quarto contíguo à igreja, de onde assiste tudo impotente.
   O povo, por fim, abandona a igreja. O padre é arrastado ao cárcere. A menina apóia-se quase sem vida a uma coluna. Depois, uma mulher amiga leva-a consigo.
   Certa manhã, bem cedo, de sua cela de prisioneiro, o Pe. Fransen, vê a menina entrar na igreja vazia. Ajoelha-se, reza, toma com os lábios uma hóstia do chão. Reza breve ação de graças e retira-se. Assim repetiu por muitos dias. Certa manhã, porém, o Padre Fransen vê um soldado entrar na igreja. A menina está na igreja ajoelhada, preparando-se para comungar. Mas o soldado tira o revólver, aponta. Uma descarga. A menina cai. Tenta reerguer-se. Arrasta-se até a hóstia mais vizinha, toma-A com os lábios e cai morta...
   Os comunistas permitiram ao Padre Fransen de sepultar esta heroica mártir da Eucaristia. Ao sair do cemitério, já esperava-o um carro. A polícia secreta transportou-o até as fronteiras, lá para as bandas de Hong Kong. 
        ( Relato de Alfredo Barth).

terça-feira, 24 de maio de 2016

CASTIDADE: O celibato eclesiástico



"Disseram-lhe os discípulos: Se tal é a condição do homem a respeito da sua mulher[não poder se  separar dela senão em caso de adultério e mesmo assim, se o fizer, não poder se casar com outra], não convém casar. Ele disse-lhes: Nem todos compreendem esta palavra, mas somente aqueles a quem foi concedido. Porque há eunucos que nasceram assim do ventre da sua mãe, há eunucos a quem os homens fizeram tais e há eunucos que a si mesmos se fizeram [no sentido espiritual] eunucos por amor do reino dos céus. Quem pode compreender compreenda" (S. Mateus XIX, 10-12).

O Papa Pio XI em 20 de dezembro de 1935 escreveu a Encíclica "AD CATHOLICI SACERDOTII", Sobre o Sacerdócio Católico.

Transcreverei apenas o que expôs o Papa sobre o celibato eclesiástico, nos números 65-73:

65.  Intimamente relacionado com a piedade anda outro ornamento gloriosíssimo do Sacerdócio católico, a castidade, cuja observância integral e perfeita é uma obrigação tão grave para os clérigos da Igreja Latina, constituídos  em Ordens maiores que, se a ela faltarem, serão por isso mesmo réus de sacrilégio (Cod. Jur. Can., c. 132, § 1). E, se esta lei não obriga em todo o seu rigor aos clérigos da Igreja Oriental, ainda entre eles é tido em honra o celibato eclesiástico; e em certos casos, - particularmente, tratando dos supremos graus da Hierarquia - é um requisito necessário e obrigatório.
66. Que esta virtude convém ao ministério sacerdotal, basta a simples luz da razão humana para o demonstrar, pois: "sendo Deus espírito" (Jo 4, 24), parece de toda a conveniência que quem se consagra ao divino serviço, em certo modo "se despoje do corpo". Já os antigos Romanos tinham visto esta conveniência: porquanto, citando o maior dos seus oradores esta lei antiquíssima: "Dos deuses aproximai-vos castamente", comenta-a com estas palavras: "Manda a lei aproximar-se dos deuses castamente, isto é, com a alma casta, da qual tudo depende; não exclui, porém, a castidade do corpo; mas isto deve entender-se assim: sendo a alma muito superior ao corpo, se se deve conservar a pureza dos corpos, muito mais se deve guardar a das almas" (M. T. Cícero, De leg. lib., II, c. 8 e 10). E no Antigo Testamento, a Aarão e a seus filhos fora ordenado por Moisés em nome de Deus que durante a semana em que se realizasse a sua consagração, não saíssem do Tabernáculo, e portanto guardassem continência durante aqueles dias (Cf. Lev. 8, 33-35).

67. Ora ao Sacerdote na Nova Lei, tão superior ao da Antiga, sem dúvida que se exige maior pureza e castidade. Os primeiros traços do celibato eclesiástico são-nos descritos na cânon 33 do Concílio de Elvira (Com Eliberit., cân. 33; Mansi, t. II, col. 11), celebrado nos princípios do século IV, quando ainda ardia o fogo da perseguição do nome cristão; o que certamente prova que esta prática já há muito estava em uso. E esta prescrição da lei não faz mais, por assim dizer, do que dar força de obrigação a um como postulado que se deriva do Evangelho e da pregação apostólica.

68. O ter o Divino Mestre, a quem chamamos num hino "flor da Virgem Mãe" (Cf. Brev. Rom. Hymn. ad Laudes in festo SS. Nom. Jesu), mostrado tão grande estima do dom da castidade, que o exaltou como coisa superior à virtude comum dos homens (Cf. Mt 19, 11); o ter querido ser educado desde os mais tenros anos na casa de Nazaré com Maria e José, ambos eles virgens; o ter amado com especial predileção as almas puras e virginais de João Batista e João Evangelista; o ouvir enfim o Apóstolo das gentes, aquele fiel intérprete da lei evangélica e da doutrina de Cristo, apregoar as excelências inestimáveis da virgindade, em ordem sobretudo ao serviço de Deus mais cuidadoso: "Quem está sem mulher, está solícito das coisas que são do Senhor, de como há de agradar a Deus" (1 Cor 7, 32): tudo isto, Veneráveis Irmãos, não podia deixar de dar em resultado que os sacerdotes da Nova Aliança não somente sentissem a atração celestial desta virtude tão privilegiada, mas se esforçassem por ser contados em o número daqueles "a quem foi dado compreender esta palavra" (Cf. Mt 19, 11), e se impusessem espontaneamente a si mesmos a observância desta continência sacerdotal, o que em seguida foi sancionado, em toda a Igreja Latina, por gravíssimo preceito da autoridade eclesiástica. Porquanto, já ao fim do século quarto, faz esta exortação o Concílio de Cartago: "a fim de que também nós guardemos o que os Apóstolos ensinaram e toda a antiguidade observou" (Conc. Carthag., can. 2; cf. Mansi, Collet. Conc., t. III, col, 191).

69. Não faltam testemunhos, nem sequer dos mais ilustres Padres orientais, que exaltam a excelência do celibato eclesiástico e atestam que ainda neste ponto havia então acordo entre a Igreja Latina e a Oriental naquelas regiões onde estava em vigor disciplina mais rigorosa. E assim,  -  para aduzirmos os exemplos mais ilustres   -  S. Epifânio, ao fim do mesmo quarto século, afirma que o celibato se estendia já aos subdiáconos: "Aquele que vive ainda ao matrimônio e tem que atender a seus filhos, posto que seja marido duma só mulher, de forma alguma o admite [a Igreja] à ordem de diácono, presbítero, bispo ou subdiácono, mas tão somente aquele que se houver separado da sua única consorte, ou for viúvo; disciplina esta que sobretudo se guarda nos lugares onde se observam com exatidão os cânones eclesiásticos" (S. Epifânio, Adversus haeres, 59, 4; Migne, P G, XLI, col. 1024).
70. Mas nesta matéria sobre todos parece eloquente S. Efrém Sírio, Diácono de Edessa e Doutor da Igreja universal, "chamado com razão cítara do Espírito Santo" (Brev. Rom., d. 18 de jun. lect 6). Dirigindo-se a Abraão, Bispo amigo seu, assim lhe diz nestes versos: "Bem acreditais o nome que tens, Abraão, porque também tu foste feito pai de muitos; mas, porque tu não tens esposa, como Abraão teve Sara, eis que a tua grei é a tua esposa. Educa os seus filhos na tua verdade, sejam para ti filhos do espírito e filhos da promessa, a fim de que venham a ser herdeiros no Éden. Ó fruto formoso da castidade, em que se compraz o Sacerdócio!... A âmbula transbordante do óleo sagrado ungiu-te, a mão sacerdotal pousou sobre ti e escolheu-te, a Igreja desejou-te e amou-te" (Carmina Nisibaena, carm. 19). E noutro lugar: "Não basta ao Sacerdote e ao seu bom nome, enquanto oferece o corpo vivo [de Cristo], purificar a alma e a língua, lavar as mãos e conservar limpo todo o corpo, mas deve ser completamente puro em todo o tempo, porque está posto como mediador entre Deus e o gênero humano. Seja louvado Aquele que purificou os seus ministros" (Ibid., carm. 18). Igualmente afirma S. Crisóstomo que "o que exerce o sacerdócio deve ser tão puro, como se estivesse colocado nos céus entre as Potestades" (De sacerd., I, III, c. 4; Migne, PG, XLVIII, 642).

71. Demais, a mesma sublimidade do Sacerdócio cristão e, para empregar a expressão de S. Epifânio, a sua "inacreditável honra e dignidade", que acima sumária e concisamente acenamos, demonstra a suma beleza do celibato e a oportunidade da lei que o impõe aos ministros sagrados do altar: quem desempenha um ofício superior, em certo modo, ao dos espíritos celestiais "que estão na presença do Senhor" (Cf. Tob 12, 49; 1 Cor 7, 32), não é razão que leve, quanto possível, uma vida celestial? Quem tem obrigação de estar inteiramente "nas coisas que são do Senhor" (Cf. Lc 2, 49; 1 Cor 7, 32), não é justo que viva separado das coisas terrenas e tenha "a sua conversação nos céus"? (Cf. Filip 3, 20). Quem há de tão solicita e constantemente andar empregado na salvação eterna das almas que continue por sua parte a obra divina do Redentor, não é conveniente que tenha a alma livre e desembaraçada dos cuidados duma família própria, que absorveriam grande parte da sua atividade?

72. Grande, na verdade, e digno da mais comovida admiração é o espetáculo, que tão frequentemente se repete na Igreja Católica: ver os jovens levitas, que, antes de receberem a ordem do Subdiaconato, isto é, antes de se consagrarem absolutamente ao serviço e ao culto de Deus, espontânea e jubilosamente prometem renunciar aos gozos e satisfações que em outro gênero de vida honestamente se poderiam permitir. Espontânea e jubilosamente, dizemos; portanto, se, depois de recebida a Ordem sacra, já lhes não é permitido contrair núpcias terrenas, para a ordenação contudo avançam sem a menor coação de qualquer lei ou pessoa, mas sim movidos por sua própria vontade (Cf. Cod. Jur, Can., Can. 971).


73. Não obstante o que até aqui levamos dito em favor do celibato eclesiástico, não queremos que seja interpretado, como se tivéssemos intenção de desaprovar e censurar em certo modo a disciplina diversa, que legitimamente foi introduzida na Igreja Oriental: de fato, a nossa única intenção é exaltar aquela verdade, que não somente consideramos como uma das glórias mais preclaras do Sacerdócio católico, mas também nos parece corresponder mais digna e convenientemente aos desígnios e desejos do Sacratíssimo Coração de Jesus acerca das almas sacerdotais". 

sábado, 21 de maio de 2016

OS SACERDOTES DE CRISTO

   Quis o Divino Redentor que a vida sacerdotal, iniciada por Ele no seu corpo mortal com as suas orações e o Seu Sacrifício, se não interrompesse, no decorrer dos séculos, no seu Corpo Místico, que é a Igreja; e, portanto, instituiu um sacerdócio visível para oferecer em toda parte a oblação pura (Malaquias, I, 11), para que, do Oriente ao Ocidente, os homens libertos do pecado servissem a Deus por dever de consciência, espontâneamente e de boa vontade. 
   Contra os erros protestantes definiu o Concílio de Trento: "se alguém disser que com estas palavras: "Fazei isto em memória de mim", Jesus Cristo não instituíu seus Apóstolos sacerdotes e não ordenou que eles, como os demais sacerdotes, ofercessem seu Corpo e Seu Sangrue - seja anátema. Portanto, segundo a fé católica, somente o que foi  ungido com o Sacramento da Ordem consagra a eucaristia. Este sacerdócio não se transmite nem por herança, nem por descendência carnal, não provém de comunidade cristã, nem da delegação popular. Vem de Deus e é pois, sobrenatural. É conferido pelo sacramento da Ordem. Quando o homem chamado por Deus foi ungido sacerdote, disse-lhe o Bispo: "Recebe o poder de oferecer o Sacrifício a Deus e de celebrar a Missa, tanto para os vivos como para os defuntos, em nome do Senhor".
   Ministro da Igreja, o sacerdote recolhe as homenagens de adoração, ação de graças, desagravo e prece do Corpo Místico. Ao Sacrifício do Esposo une o Sacrifício da Esposa. E, por isso que consagra na pessoa de Cristo e oferece em nome da Igreja, a sua ação nunca privada, e malgrado a sua indignidade pessoal, a Missa conserva pleno valor.
   A mediação única de Jesus Cristo se prolonga na terra, através dos tempos, justamente pelo ministério dos sacerdotes. O padre oferece a Deus em nome dos fiéis, sobre o altar, o sacrifício eucarístico; do altar distribui ao povo a Vítima sagrada, o pão da vida, e, com ele, todos os dons e todas as graças.
   O Altar é, na terra, o centro da religião de Jesus, como o Calvário é o remate e a culminação da Sua vida. Todos os mistérios da existência terrestre de Jesus convergem para a imolação da Cruz; todos os estados de Sua  vida  gloriosa aí vão haurir o seu esplendor.
   É por isso que a Igreja não comemora nem celebra mistério algum de Jesus sem oferecer o Santo Sacrifício da Missa. Afinal, todo culto público organizado pela Igreja gravita em torno do altar. Seja, pois, qual for o mistério de Jesus que celebremos, não podemos participar nele de modo mais perfeito nem prepararmos melhor para dele colhermos os frutos, do que participando com fé e amor do Sacrifício da Missa, e unindo-nos, pela Comunhão, à Vítima Divina por nós imolada sobre o altar.

EXEMPLO
   Nos primeiros decênios do século XV, piratas de terra e de mar haviam invadido a Groelândia, passando a fio de espada uma parte da população cristã, reduzindo o resto à escravidão. Todas as igrejas tinham sido arrasadas até ao solo, e todos os sacerdotes mortos.
   Muitas vezes os pobres Groelandeses tinham recorrido a Roma, onde era Papa Inocêncio VIII, mas inutilmente. O mar em toda a volta da sua inóspita praia gelara, de modo que, havia oitenta anos, nehuma nau estrangeira ali tinha podido aproar. Privados de bispos e de sacerdotes, muitos já haviam esquecido a fé de seus pais, retornando aos vícios do paganismo.
   Só poucos tinham sabido conservar-se fiéis à religião. Esses tinham achado um corporal, aquele sobre o qual repousara o Corpo do Senhor na última Missa celebrada pelo último padre groelandês. Todo ano eles o expunham à veneração pública: em torno dele os velhos, tremendo e chorando, rezavam; em torno dele as mães conduziam seus filhos para aprenderem a conhecer a Jesus. Em torne dele todos se comprimiam como famintos en torno de uma branca mesa sobre a qual não tinha ficado mais do que o perfume da comida. E exclamavam: "Senhor! envia-nos depressa o sacerdote que consagre, dá-nos ainda, uma vez ao menos, a Tua Carne a comer e Teu Sangue a beber, do contrário também nós perderemos a fé e morreremos como pagãos". (L. PASTOR, História dos Papas, vol. III, págs. 448 e 449).

sexta-feira, 20 de maio de 2016

HANS-KUNG QUER MODIFICAR O DOGMA DA INFALIBILIDADE

A - A HISTÓRIA DO CONCÍLIO VATICANO I

   Ano 1869 - 1870 inacabado. É o vigésimo Concílio Ecumênico da Igreja. Concílio Ecumênico é a reunião de todos, ou de uma grande parte dos Bispos da Igreja Católica, aos quais convoca e preside pessoalmente ou por delegação, o mesmo Sumo Pontífice. Ecumênico aqui quer dizer: de toda a Igreja.
   Quem convocou este Concílio foi o Papa Pio IX, hoje beato. (1846-1878). Chamava-se João Maria Mastai Ferretti. Foi um homem totalmente extraordinário. Não só foi extraordinária a duração de seu pontificado - trinta e um anos - mas também as consequências que este teve para a História da Igreja. Nunca houve um papa que fora tão querido dos católicos do mundo inteiro e tão respeitado pelos não católicos. É o papa da época de São João Bosco. Morreu dez anos antes de São João Bosco. E eis o que diz dele este grande santo: "Pela firmeza de sua fé, por sua caridade, por sua benevolência, por seus conselhos e por sua mansidão, tinha-se tornado a delícia do mundo inteiro e dos corações. Os próprios não católicos o consideravam qual amigo, pai, irmão e benfeitor... "Prova disto, continua São João Bosco, "a 6 de julho de 1871 completava-se o 25º aniversário de seu pontificado. Comoveu-se o mundo e todas as partes se prepararam de mil e diferentes modos para atestar ao Pontífice sua alegria e sua veneração... Deste a mais humilde aldeia até a mais ilustre cidade, os próprios protestantes, hereges e o Grão Sultão, todos compartilharam daquele grande dia. Os transportes de alegria dos católicos pela ocorrência do 25º ano de seu pontificado renovaram-se ao festejarem o 50º ano da celebração de sua primeira missa. O do seu jubileu episcopal, porém, excedeu a todos os demais acontecimentos da História Eclesiástica, e a tudo o que é possível legar à posteridade. Basta dizer que no ano de 1877, fiéis cristãos de toda idade e condições, partiam das mais longínquas regiões da terra para irem venerar ao chefe da Igreja e levar a seus pés quanto possuíam de mais precioso em trabalho da arte, em ouro, em prata ou em trabalhos científicos" (Hist. Ecl. de S. João Bosco). Foi um papa sobretudo missionário. "As Missões estrangeiras, diz São João Bosco, formaram um dos maiores objetos de seu paternal zelo".
   Pio IX foi ainda o papa que condenou os erros do Naturalismo e do Liberalismo com a Encíclica Dogmática "Quanta Cura" e o célebre "Syllabus" que, segundo vários abalizados teólogos, também é um documento dogmático. Foi Pio IX que definiu o dogma da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus. É o papa, como já foi dito, que convocou e presidiu o Concílio Vaticano I e nele definiu o dogma da Infalibilidade Pontifícia. Depois destes parênteses para falarmos um pouco sobre o papa Pio IX, vamos agora fazer um resumo da história do Concílio Vaticano I.
   A História deste Concílio está intimamente ligada com a história do século XIX e de seus erros. Na Constituição "DEI FILIUS" deste Concílio Vaticano I, caíram feridos de morte os erros do Racionalismo e do Ateísmo. Na Contituição "PASTOR AETERNUS" ficaram sepultadas as idéias galicanas. (Depois vamos ver o que significa GALICANISMO).

OS ANTECEDENTES DO CONCÍLIO VATICANO I

   Quatro anos antes do Concílio (em 1865) o papa Pio IX já nomeara cinco comissões de cardeais de sua maior confiança para preparar o Concílio. Enviou a trinta e cinco cardeais dos mais conspícuos e sábios da Igreja latina seu desejo de que expusessem sua opinião sobre os temas que no Concílio se haviam de ventilar e pediu que enviassem suas respostas às comissões dos cardeais. Fez o mesmo com os bispos do rito oriental. E, por prudência, os trabalhos foram feitos em segredo.
   Pio IX, aproveitando da estima que gozava até junto aos não católicos (hereges = os protestantes e os ortodoxos cismáticos) com espírito missionário e não por falso ecumenismo, convidou-os para estarem presentes no Concílio. Declarou que seria um tempo de graças e de bênçãos para eles. Tanto os protestantes como os ortodoxos cismáticos não aceitam a Infalibilidade Pontifícia. Por isso eu disse "não por falso ecumenismo," porque o próprio Pio IX  em julho de 1871 vai dizer aos Peregrinos de Nevers "... sem dúvida, deve-se praticar a caridade, fazer o possível para atrair os extraviados; entretanto, não é necessário por causa disto compartilhar com suas opiniões".
   Quando, se Deus quiser, escrevermos sobre o Concílio Vaticano II, veremos, também baseados nas palavras do papa (no caso Paulo VI), que foi bem diferente o espírito com que foram convidados os protestantes para estarem no Concílio Vaticano II e na Comissão para elaboração do "Novus Ordo Missae".
   Diz o célebre historiador eclesiástico Llorca: "O convite do papa Pio IX aos protestantes e ortodoxos cismáticos caiu no vazio", isto é, ninguém aceitou, ninguém compareceu. Se soubessem (como aconteceu no Concílio Vaticano II e na Comissão do Novus Ordo Missae) que lá ouviriam e leriam coisas ambíquas que poderiam interpretar a seu favor, certamente teriam ido, e depois teriam aceito uma foto ao lado de Pio IX, com sorrisos de satisfação e teriam elogiado os trabalhos do Concilio e de sua Comissão talvez mais do que o fizeram os próprios católicos. É preciso que todos saibam que foram os próprios protestantes que iniciaram o movimento ecumênico no começo do século passado.
   Bom! Depois de mais estes parênteses, continuemos. Diz Llorca que certo dia, um dos familiares de Pio IX se queixava das dificuldades contra a celebração do Concílio. O Papa tranqüilo respondeu: "Todos os concílios passam por três fases: a do diabo, a dos homens e a de Deus; agora estamos na fase do diabo; não são de se estranhar as dificuldades". Efetivamente a fase do demônio no furor dos inimigos da Igreja antes do concílio e mesmo durante o concílio; a fase dos homens nas disputas demasiado acres dos teólogos e "Padres" no Concílio e fora dele. A fase de Deus resplandece em suas definições dogmáticas e na aceitação pacífica delas".
   Como já dissemos anteriormente, o Concílio Vaticano I condenou os erros do Racionalismo, do ateísmo e as idéias galicanas. Na ordem política, Pio IX sofreu a perseguição brutal de um tal Bismark na Alemanha e um tal Cavour na Itália. Pio IX foi perseguido pelas armas por Garibaldi que invadiu os Estados Pontifícios, e o Santo Padre teve que fugir para Gaeta.
   Na ordem social: o Socialismo de Luis Blanc e o Anarquismo de Proudhon (este dizia: "A propriedade é um roubo").
   Na ordem intelectual religiosa, um homem fizera muito mal às almas: um tal de Renan que escreveu a "Vida de Jesus". (1863). Este homem, padre apóstata, foi o símbolo do racionalismo ímpio. Na época de Pio IX ( que nascera em 1792 e morreu em 1878; governou a Igreja de 1846 a 1878), os católicos estavam divididos em dois grupos: os ultramontanos que condenavam todas as tendências modernas da sociedade; e os católicos liberais (como Montalembert) que pretendiam acomodar-se às exigências modernas. E o Papa Pio IX com a Encíclica "Quanta Cura" e o "Syllabus" deu razão aos ultramontanos. Entre os ultramontanos se destacou um leigo de grande firmeza na fé e um jornalista vigoroso: chamava-se Louis Veuillot ( pronuncia-se Luí Veiô).
   Sobre a situação religiosa da época diz São João Bosco: "As doutrinas errôneas destes últimos tempos, os chamados filósofos modernos, as diferentes formas de sociedades secretas, a maçonaria, o socialismo, os livres-pensadores, os espiritistas e outras seitas semelhantes se apoderaram de tal sorte do coração e da mente dos homens que o romano Pontífice Pio IX julgou necessária a convocação de um Concílio Ecumênico.

  Já vimos que Pio IX começou a preparar o concílio há quatro anos antes, constituindo para isso uma comissão de cardeais de sua maior confiança. Por prudência foi tudo feito em segredo. Mas quando foi revelada a intenção do papa em convocar um Concílio Ecumênico e sobretudo quando ficou-se sabendo que neste concílio deveria ser definido solenemente o dogma da Infalibilidade do Sumo Pontífice, então começaram já as disputas. (Era a fase do demônio). Muita divisão! Mas Pio IX não desistiu e disse que confiava na proteção de Maria Santíssima. Apareceram três grupos: 1º - OS ANTI-INFALIBILISTAS, cujo chefe foi o padre Döllinger, sábio historiador da Igreja, teólogo e professor de História da Igreja. Infelizmente não se converteu, morreu herege e fundou a seita dos "Velhos Católicos".
   2º grupo: OS ANTI-OPORTUNISTAS: Admitiam a Infalibilidade do papa (a verdade) mas achavam que não era oportuno na época, defini-la como dogma. O chefe foi o bispo de Orléans Mons. Dupanloup e também Montalembert. Todos os anti-infalibilistas e os anti-oportunistas apresentavam como objeção os casos dos papas Libério e Honório I, sobretudo este último.
   3º grupo: OS INFALIBILISTAS: os que eram do lado do papa. Os chefes foram vários, mas vamos citar apenas alguns. Entre os bispos: D. Dechamps, bispo de Malinas; o cardeal Manning de Westminster. Entre os leigos sobressai o grande Louis Veuillot, que, como já dissemos, era um homem de fé viva e firme, de um amor ardente a Nosso Senhor Jesus Cristo e à Sua Santa Madre Igreja. Seu jornal chamava-se: "L'Universe", nele Veuillot combateu o célebre bispo de Orléans Mons. Dupanloup que era liberal e escrevia no jornal "Le Français". Louis Veuillot combateu também um dos chefes do "Catolicismo Liberal", o conde e Montalembert (+ 1870). Este escrevia no jornal "L'Avenir" juntamente com Lamennais (Este era padre, apostatou-se e morreu sem se retratar). Como defendia a "Liberdade Religiosa" e não se retratou, foi excomungado pelo Papa Gregório XVI. Um dos seus livros: "Ensaio sobre a indiferença em matéria de Religião". Vejam uma das suas frases: "Todos os amigos da Religião precisam compreender que ela necessita somente de uma coisa: da liberdade". 
   O bispo D. Dupanloup, uma vez definido o dogma da infalibilidade do papa, aceitou-o plenamente. Montalembert morreu antes da definição do dogma, mas deixou preparado um escrito em que declarava morrer como filho obediente de Igreja, admitindo desde já todas as suas definições. 

REALIZAÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO I

   Deveriam os bispos reunirem-se na Basílica de São Pedro do Vaticano e por isso chamou-se Primeiro Concílio do Vaticano ou Concílio Vaticano I. Inaugurou-se no dia 08 de dezembro de 1869 - Festa da Imaculada Conceição - achando-se presentes cerca de 770 pessoas entre bispos (como Santo Antônio Maria Claret), cardeais, abades (como D. Guerénger), gerais de Ordens Religiosas e insignes teólogos. Mais de três quartos dos que tinham direito a votos na Igreja. Neste Concílio só houve quatro sessões. O Concílio tinha 52 assuntos para serem tratados, mas não foi possível porque o papa foi obrigado a suspendê-lo por causa da guerra chamada franco-prussiana. E Roma também foi invadida. Portanto, este Concílio ficou inacabado. 
   NOTA: Acho necessário explicar alguns termos técnicos: "PADRES" do Concilio: Este termo é colocado entre aspas para significar os bispos, cardeais e outros que têm voz deliberativa, isto é, aqueles que podem votar. "PERITOS" do Concílio: são os teólogos que dão assistência aos "Padres". "OBSERVADORES"do Concilio: são os que não têm direito a voto e nem o direito de dar assistência aos "Padres". São geralmente autoridades católicas ( ou não, isto é, podem ser hereges: protestantes e ortodoxos cismáticos). Mas o termo "Observadores" também é técnico, ou seja, podem também falar apresentando suas sugestões. No Concílio Vaticano I, como vimos, não compareceram. Já no Concílio Vaticano II, não só compareceram, mas fizeram suas sugestões, como a História o comprova. Aliás, foram convidados justamente para falarem, já que a meta primordial do Concílio Vaticano II foi o diálogo ecumênico. Os Encontros de Assis são um prolongamento. (Fim da NOTA).
   A história da definição do dogma da Infalibilidade Pontifícia.
   Um esquema já retocado, foi apresentado a reunião ferial dos "Padres" do Concílio no dia 13 de julho de 1870. Dos 601 "Padres" votaram "SIM" (em latim= PLACET) 451; votaram "NÃO" (em latim ="NON PLACET) 88; e votaram "SIM" mas com correções (em latim= "PLACET JUXTA MODUM") 62 "Padres".
   Assim ficou preparado o decreto para a sessão pública solene, que seria no domingo seguinte; mas estourou a guerra franco-prussiana e os "Padres" anteciparam a sessão solene para o dia 18 de julho. Dos que se opunham, chefiados pelo bispo D. Dupanloup, 55 preferiram se retirar, do que votar "não" diante do papa. Como havia permissão para sair do Concílio por causa da guerra, aproveitaram e saíram.
   Então no dia 18 de julho de 1870 à 9 horas começou a sessão. No momento em que os "Padres" estavam dando os votos, estalou uma terrível tempestade, com trovões e relâmpagos, que durou duas horas e meia. Assistiam a sessão 535 "Padres". Só dois votaram "não" ou "non placet". Mas depois estes dois aceitaram docilmente.
   Ao sancionar Pio IX com sua suprema autoridade a constituição apostólica, contam que, passada a tempestade, um raio de sol penetrou pelas janelas e iluminou o rosto de Pio IX. No dia seguinte, por causa da guerra, o papa suspendeu o Concílio. O raio de sol penetrando na Basílica de São Pedro foi simbólico. Depois de tantas tempestades, de discussões apaixonadas, brilhou o sol da verdade e todos foram se acalmando. A definição tal como foi proclamada, dissipou muitas trevas, deu a chave da explicação de muitos fatos históricos (como dos papas Libério e Honório I) e houve por todas as partes o aplauso dos bispos e dos fiéis. Os que achavam que não era oportuna a definição do dogma da Infalibilidade - como D. Dupanloup, mais 54 bispos que saíram antes - se apressaram a escrever ao papa dando total adesão ao dogma e reconheceram que sua definição foi mais que oportuna, porque definindo os limites da Infalibilidade, resolveram-se as objeções sobretudo no caso do papa Honório I.
   Como já dissemos, o único caso triste foi do do Padre Döllinger ( que nem quis participar do Concílio) que não aceitou o dogma da Infalibilidade e portanto caiu na heresia e terminou fundando uma seita que se chamou "Os Velhos Católicos". Infelizmente este padre apóstata, herege e cismático morreu excomungado.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Rudolph Archibald Mndaweni relatou sua conversão

   NB: Rudolph A. Mndaweni era da África. Era escritor. Escreveu um livro excelente: "AS CARACTERÍSTICAS DA VERDADEIRA IGREJA". Foi professor e catequista, e, em poucos anos, converteu 160 protestantes. Seu grande argumento era: "Não igrejas, mas a Igreja". Narrando sua conversão, eis um excerto de seus escritos:
   "Embora não escreva uma autobiografia, há certos fatores em minha vida que não posso silenciar no relato de minha conversão.
   Nascido no protestantismo, correspondiam meus conhecimentos de Deus e seus mandamentos aos de um protestante. Antes de freqüentar, com 17 anos, o ginásio, ignorava até a existência de outras sociedades religiosas. Desejava, então, tornar-me pregador e não pouco orei nesta intenção.
   Já pedira matrícula num ginásio protestante quando mudei de ideia e passei a freqüentar um ginásio católico juntamente com um amigo meu que não se pudera matricular no protestante. Neste colégio, pela primeira vez entrei em contato com o catolicismo.
   Rejeitei, de antemão, a fé e os costumes católicos. Como todos os homens eivados de preconceitos, acusava os católicos de certas coisas completamente destituídas de base. Sim, devo confessar que, durante os primeiros anos de ginásio, minha atitude era propriamente anti-católica. Sem dúvida era isso, como observei mais tarde, conseqüência de minha ignorância.
   Pouco a pouco me familiarizei com os costumes relativos ao culto divino católico. Alarguei também, com o tempo, meus conhecimentos sobre a reforma e suas conseqüências lamentáveis. Não pouco me inquietava a pergunta: - "Por que tantas seitas se separam da Igreja católica?" Procurei de diversos modos, obter a elucidação deste problema. Por outro lado, consolava-me o pensamento de que as outras igrejas, embora separadas da primeira, podiam igualmente ser igrejas de Cristo. Mas em vez de me deixarem com este consolo, os demais estudantes, não raro, me diziam palavras desanimadoras acerca do protestantismo.
   À lembrança das numerosas Igrejas espalhadas pelo mundo que, todas, pretendiam ser a verdadeira Igreja de Cristo, fui dominado de uma tremenda confusão espiritual. Em conseqüência da minha convicção da prioridade da Igreja Católica começou a diminuir minha fé na Igreja protestante como instituição sobrenatural de salvação. Não me persuadia da necessidade de tamanha multiplicidade de Igrejas, - e isso me levou a estudar mais a fundo a doutrina católica, tanto que, em breve, era mais católico que protestante.
   Convenci-me inteiramente de que Jesus Cristo não queria ser venerado de modos tão diversos. Dizendo a São Pedro: - "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" - não falou de "Igrejas", e sim de uma Igreja.
   Comuniquei minha intenção de me tornar católico aos diretores do colégio, embora nutrisse dúvidas sobre se poderia prosseguir no caminho encetado, porquanto muita coisa ainda me parecia obscura. Fosse como fosse não podia continuar protestante. Após profundo estudo da fé católica cheguei mesmo a sentir aversão aos hábitos protestantes. Isso era tanto mais notável quanto, anteriormente, em discussões com estudantes católicos, quase passara a empregar violência quando meus argumentos resultavam falhos; talvez porque preferisse ser vencedor a vencido. Decorridos três anos, abandonei o ginásio, resolvido firmemente a me tornar católico.
   Entrei em contato com diversos protestantes persuadidos e talvez demasiadamente zelosos que me acossaram de todas as maneiras; mas passei pela prova e permaneci no meu propósito. Felizmente, meus pais deixaram-me toda liberdade. Diversos condiscípulos seguiram meu exemplo. Eu era o primeiro da grande missão protestante que se tornou católico. Sendo ainda catecúmeno, não me era nada fácil professar a fé católica em meio a adversários fortes e argutos; não obstante, fiz tudo para continuar fiel à minha nova religião. Durante todo este tempo rezei fervorosamente ao Senhor para que me mostrasse o caminho em que Lhe deveria servir e, caso fosse a Igreja Católica a verdadeira, que me desse coragem de suportar heroicamente os aborrecimentos que talvez seguissem à minha conversão, como de fato seguiram. Todo o mal que se dizia contra a minha nova religião, tornava-se-me um estímulo para defendê-la com ardor e bons resultados.
   Um ano depois de terminado o estudo consegui emprego como auxiliar de escritório num lugar distante três milhas da missão católica, emprego oportuno que me aproximava cada vez mais da possibilidade imediata de minha conversão. Não coube em mim de satisfação quando, antes de passar um ano, me veio a oferta de lecionar naquela missão, dos Padres Beneditinos. Novamente se confirmaram minhas convicções anteriores. Aprofundei-me no estudo e tomei aulas de religião.
   Para sempre me serão inesquecíveis os belos dias em que recebi os santos sacramentos da Igreja e Deus me desembaraçou do véu de minha ignorância. Confessei-me, pela primeira vez, em 16 de abril de 1927. Recebi a primeira comunhão a 24 de abril e a crisma a 5 de junho do mesmo ano. Impossível me é descrever a alegria experimentada naqueles dias singulares.
   Desde então sinto ter recebido, realmente, uma vida nova e superior. Entraram em minha alma tranqüilidade e contentamento. Recentemente convertido, era tamanho meu entusiasmo que nada de mais belo podia imaginar do que trabalhar, como católico, por Deus. O conhecimento da infalibilidade, legitimidade e santidade da Igreja confere à minha vida uma sagração superior, um sentido profundo para todo o resto da vida.
   Sou, agora, professor e catequista, cargo esse que já desempenho há bom número de anos. Aqui cheguei como pequeno pioneiro de Cristo e meus trabalhos foram bem sucedidos, graças a Deus. Cá, a princípio, não havia um só católico; entretanto, uma comunidade florescente já se formou justificando as melhores esperanças.

terça-feira, 17 de maio de 2016

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: O Sacramento da Penitência



Leitura espiritual meditada 





   31. A SEGUNDA TÁBUA DE SALVAÇÃO DEPOIS DO BATISMO.

Símbolo da alma na
Graça Santificante
Símbolo da alma no pecado
mortal
   O pior é que às vezes não só atrapalhamos a ação da graça com a nossa fraqueza, mas nos afastamos de Deus e pelo pecado mortal perdemos em nossa alma a graça santificante recebida no Batismo. E o Batismo só se recebe uma vez.
   Temos então o Sacramento da Penitência que foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, quando disse aos seus Apóstolos: Recebei o Espírito Santo; aos que vós perdoardes os pecados, ser-lhes-ão eles perdoados; e aos que vós os retiverdes, ser-lhes-ão eles retidos (João XX-22 e 23). Assim o dispôs Cristo, nosso Redentor. A absolvição sacramental, porém, só é válida, quando o penitente está verdadeiramente arrependido de seus pecados, com firme propósito de emenda.

   A impossibilidade de achar um sacerdote não acarreta impossibilidade de salvação, pois assim como o batismo de água pode ser suprido pelo batismo de desejo, assim também e em virtude do mesmo texto do Evangelho (João XX-23), a confissão sacramental pode ser suprida pelo Ato de Contrição Perfeita, ou seja, o arrependimento baseado não no temor da pena, mas no puro amor de Deus, a quem se ofendeu pelo pecado e com o voto de confessar os pecados quanto antes, submetendo-os assim ao poder das chaves. 

   32. PURIFICAÇÃO REAL E INTERNA.

   A remissão dos pecados sempre se verifica por meio de uma purificação real e interna. Se a Sagrada Escritura, referindo-se ao perdão que de Deus recebemos fala às vezes em não-imputação dos pecados : Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputou pecado (Salmo XXXI-2), é claro que os pecados não são imputados, simplesmente porque DESAPARECEM; SÃO DESTRUÍDOS: Eu sou, eu mesmo sou o que APAGO as tuas iniquidades por amor de mim (Isaías XLIII-25). Tem piedade de mim, ó Deus... e segundo as muitas mostras da tua clemência, APAGA  a minha maldade (Salmo L-3). Quanto dista o Oriente do Ocidente, tanto Ele tem APARTADO de nós as nossas maldades (Salmo CII-12). Cristo foi uma só vez imolado para ESGOTAR os pecados de muitos (Hebreus IX-28). Considerai-vos que estais certamente MORTOS ao pecado, porém vivos para Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo (Romanos VI-11).

   O desaparecimento dos pecados leva à santificação interior: E tais haveis sido alguns; mas haveis sido LAVADOS, mas haveis sido SANTIFICADOS, mas haveis sido JUSTIFICADOS em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus (1ª Coríntios VI-11). Noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor... Cristo amou a Igreja e por ela se entregou a si mesmo, para a SANTIFICAR, purificando-a no batismo da água pela palavra da vida, para a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, SEM MÁCULA NEM RUGA, nem outro algum defeito semelhante, mas SANTA E IMACULADA (Efésios V-8; 25 a 27). 

segunda-feira, 16 de maio de 2016

A VERDADE É IMUTÁVEL

LEITURA ESPIRITUAL


"Jesus Cristo é sempre o mesmo ontem e hoje; e ele o será também por todos os séculos. Não vos deixeis levar por doutrinas várias e estranhas" (Hebreus XIII, 8 e 9).

Passará o céu e a terra, mas a verdade do Senhor permanecerá eternamente (Mt XXIV, 35). As palavras dos Pitagóricos, disse-o o mestre, não era entre eles senão a expressão de uma idolatria insensata, pois não há homem que não se engane; mas aplicada a Nosso Senhor Jesus Cristo, deve ser um primeiro princípio, um axioma sagrado para todo católico.

Jesus Cristo é eterno. N'Ele creram os justos de todos os séculos passados; n'Ele creem os seus apóstolos; cremos também nós n'Ele e todos os fiéis que vivem nos dias de hoje e n'Ele crerão todos os séculos futuros até ao fim do mundo. Sendo Deus é eterno, é imutável. Ele é o único Messias e depois d'Ele não devemos esperar nenhum outro.

O Apóstolo, com as palavras acima enunciadas, quis estabelecer a eternidade do Verbo Divino. E o próprio São Paulo tira a conclusão lógica, ou seja, que nossa fé deve ser também imutável, e os verdadeiros cristãos não devem ir atrás daqueles que lhes prometem um outro Cristo, um outro Messias. Sendo Jesus o Filho de Deus Vivo, só Ele tem palavras de vida eterna. Sua doutrina é perfeita; sua Igreja é uma só, como uma só é a verdade.

São Paulo combate aqui as seitas, nascidas de homens pecadores, mortais, mutáveis. As doutrinas das seitas são várias e consequentemente estranhas à única verdadeira que é a de Jesus Cristo. "Deus é a única verdade, escreveu Luiz Veuillot, a Igreja Católica é a única Igreja de Deus".

Jesus Cristo é a Verdade absoluta como Verbo de Deus e é ainda para nós a Verdade revelada, a luz da fé. Ele é assim o nosso Mestre por excelência: "Vós só tendes um mestre que é Cristo" (Mt XXIII, 10). Que os outros escolham, se quiserem, "mestres que deleitam os ouvidos e se desviam da verdade para se entregarem a fábulas" (II Tim., IV, 3 e 4).  Quanto a nós, pela graça de Deus, iremos Àquele que tem palavras de vida eterna, aquele que veio a este mundo para dar testemunho da verdade. Iremos a Ele com toda a nossa alma, com a dupla luz da razão e da fé. Diz Lacordaire: "Movemo-nos em duas esferas: a da natureza e a da graça; mas tanto uma como outra têm o Verbo, Filho de Deus, por autor e por guia. Eis porque a Igreja, infalivelmente assistida pelo Espírito que a instituiu, nunca abdicou na defesa da razão; teve-a sempre como uma parte da sua herança..."

Jesus Cristo, o Filho de Deus, desceu do céu à terra para constituir uma sociedade que pudesse "aparecer diante d'Ele gloriosa, sem mancha nem ruga, santa e imaculada" (Ef. V, 27).  E o divino Mestre quer nos levar até a Jerusalém celeste e diz que Ele mesmo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Jesus Cristo é o Caminho que devemos seguir para  chegarmos ao Pai; a Verdade em que devemos acreditar, a Vida que almejamos conseguir. Aquele que estiver unido a Ele tem tudo: tem o Pai e vê o Pai, não com os olhos físicos, mas com os olhos do espírito. A união com o Pai é o próprio ser de Jesus; dela depende a sua vida humana; a sua doutrina é luz daquele foco; os seus milagres, manifestações do poder divino.

Segundo o pensamento do Beato Mons. Ollier, tenhamos habitualmente Jesus diante dos olhos, no coração e nas mãos.Tenhamos Jesus diante dos olhos: contemplando-O como o modelo mais completo de todas as virtudes que devemos praticar. Tenhamos Jesus no coração: quer dizer, supliquemos ao Espírito Santo, que animava a alma humana do Salvador e que é ainda hoje a alma do seu corpo místico, que venha até nós para nos tornar semelhantes a Jesus Cristo. Tenhamos Jesus nas mãos: isto é, roguemos-Lhe que faça com que a sua vontade se cumpra em nós, que, "como bons membros, devemos obedecer à cabeça, e cujos impulsos só devem vir de Jesus Cristo, o qual, enchendo a nossa alma do seu Espírito, da sua virtude e da sua força, deve operar em nós e por nós tudo quanto deseja".

Com São Paulo, digamos de todo o coração: "A minha vida é Jesus". Amém!

domingo, 8 de maio de 2016

MARIA, MÃE DO BELO AMOR

LEITURA ESPIRITUAL PARA O DIA DAS MÃES

"Ad Jesum per Mariam"
Pelo  servo de Deus Pe. Mateo Crawley-Boevey SS. CC.
"Maria, da qual nasceu Jesus" (Mt 1, 16 ). [Acrescentei este texto bíblico]

(...) Ab initio et ante saecula, desde toda a eternidade (Ecli 24, 17) já estava íntima e inseparavelmente unida a Rainha ao Verbo, no plano que este devia realizar como Salvador dos filhos decaídos. Com o Redentor, a Corredentora Imaculada! Respeitemos e adoremos os desígnios do Altíssimo. Conservemos perfeitamente unidos os Corações que Deus mesmo uniu, o de Jesus e o de Maria. A eles honra e glória!
Meu caminho para chegar ao Santo dos Santos, ao Coração mesmo de Jesus, até o mais íntimo desse santuário de justiça e de amor, tenho-o perfeitamente traçado: o caminho obrigatório e direto é Maria!
Assim como ninguém conhece o Pai senão aquele a quem o Filho o revelar (Mt 11, 27), assim também, em outro plano e relativamente falando, poderíamos dizer que não alcança o Rei senão aquele a quem se revelar a formosura da Rainha.
Por Maria chega do Pai até nós o Verbo. Teria podido tomar mil outros caminhos, ou nenhum, aparecendo e apresentando-se quando quisesse, uma vez que, sendo Deus, não necessitava de pontes e intermediários. Mas assim se manifesta patentemente a vontade de Deus: que Maria entre de cheio no plano divino. Assim como Deus vem aos homens por Maria, os homens resgatados devem alcançar a Deus por intermédio d'Ela. Porque o quis positivamente, Jesus fez de sua Mãe ponte indispensável.
Com efeito, nenhum cristão digno do nome pretenderá tomar um caminho que não seja Maria, o traçado por Aquele que chamou a si mesmo "o Caminho".
Seria pretender corrigir os planos de um Deus e emendar uma afirmação sua, feita por meio do prodígio assombroso da Encarnação, não querer passar pelos braços da Rainha Imaculada, ao ir em busca de Deus e ao encontro de seu Filho.
Observemos aqui, que Maria não é um desvio, por belo e sublime que fosse, na senda que nos traz a Deus ou que nos leva a Ele. quero dizer que, eliminando por um momento a Maria, não retificamos a linha, não encurtamos a distância. Suprimir a intermediária divina que é a Mãe de Jesus, não é o mesmo que num palácio fazer desaparecer a antecâmara do Rei. Oh, não !
Maria, desde 25 de março, foi de tal modo e por tal forma colocada entre Deus e os homens que, desde então, quem pretendesse iludir sua intervenção, quem quisesse eliminar ess "porta do céu", alongaria tanto o caminho e o faria tão fatigante e perigoso, que correria o risco de não chegar à meta final.
Mais que interessante é comovedor pensar que, em Belém, os pastorinhos, os Reis, o próprio José recebem das mãos de Maria o adorável Menino.
Ela toma o seu tesouro e, no seu direito de propriedade, depois de beijá-Lo e abraçá-Lo, "empresta-O" aos afortunados a quem uma vocação especial atraiu ao presépio. E, tendo acariciado e adorado o Menino, devolvem-no a Maria, consciente e amorosa arca de tão grande riqueza.
É indubitável que, durante largos anos, sendo embora, como hoje diríamos, maior de idade, Jesus não tenha feito nada de importante - ia dizer não se distanciou da casinha venturosa de Nazaré - sem pedir licença a sua Mãe, ainda que não fosse senão para dar-lhe sempre um prova a mais de ternura e amor filial.
Aquele "subditus illis" (Lc 2, 51) "era-Lhes submisso" é abismo insondável no qual se destaca com muito relevo Maria que manda, decide, ordena como Rainha, e Jesus que obedece.
Essa atitude de Nosso Senhor, a sua voluntária dependência de Maria, essa situação de Maria possuidora e dispenseira de Jesus, perdura ainda por vontade de Jesus; e perdura realçada e sublimada pelo estado de glória do Filho e da Mãe.
Quem chegou a Belém ou a Nazaré conhecendo já a Maria, ou acorreu confiante a ela solicitando o gozo e a glória de poder contemplar o Menino adormecido, ou dar-lhe um beijo, jamais se desapontou. Tanto mais hoje em dia, porque a Assunção de Maria e sua coroação no céu não empalideceram por certo - oh, não! - nenhum dos seus privilégios e ainda menos nenhum dos seus direitos. Ao contrário, o céu os ratificou todos. Uma outra observação: Maria é uma criatura, é a Nazarena, quase deusa por sua hierarquia, única entre todas as criaturas por sua maternidade divina, mas irmã nossa, da nossa carne e do nosso sangue.
No corte portanto da qual Ela é Rainha, rodeada de espíritos angélicos, somos os preferidos porque realmente congêneres e irmãos da Soberana. Quero dizer que, se admitindo o impossível, tivesse Ela que escolher, Ela, a Nazarena, entre confiar Jesus a um anjo ou a uma Santa Teresinha, não vacilaria, e Teresinha teria a melhor parte, por ser da raça e do sangue de Maria.
"Tu és, Rainha Imaculada, a ponte estendida por Deus mesmo entre o Paraíso que perdemos e o Paraíso que esperamos".
Venha Jesus a nós, das Tuas mãos! Carrega-nos sobre ela, Rainha e Mãe, até as profundezas do seu Coração Adorável!"
O primeiro Mestre do amor de Maria é Jesus.
A principal razão por que devo amá-la, sem medir a torrente das minhas ternuras para com Ela, é que o primeiro dos amores do Coração de Jesus, depois de seu Pai Celeste, foi Maria.
A primeira palavra que o Bebê divino balbuciou, quando apenas desatara sua língua, foi seguramente "Mãe... Maria". E a fibra mais delicada do seu Coração de Homem-Deus reservara-a para sua Mãe Imaculada. Amou com só Deus pode amar a criatura mais perfeita saída de suas mãos, a única santa. Tota pulchra, "toda formosa!" (Cânt. 4, 7).
Amou-a com só Deus poderia amar àquela de quem ia tomar a carne e o sangue humanos para ser, pela Paixão e Morte, já agora possíveis, o Salvador do mundo. Constituiu Maria, nesse mesmo momento, em colaboradora direta, em Corredentora.
Amou-a Jesus com gratidão de Deus, porque, com seu "Fiat", completara Ela o que faltava a Deus: a possibilidade de agonizar e morrer.
Amou-a Jesus com gratidão de Filho, dormiu tranqüilo em seu regaço materno. Seu Coração gozou as ternuras e desvelos, as carícias e as lágrimas amorosas que Maria, e só Maria, era capaz de prodigalizar ao Filho de Deus vivo, Filho seu!
Amou-a Jesus durante trinta anos de intimidade. Na mais estreita convivência, foram-se fundindo, mais e mais  - se fosse possível -  os Corações do Filho e da Mãe, naquele diálogo perpétuo das suas duas almas, naquela paixão e agonias secretas que os crucificava a ambos, já desde então, na mesma cruz.
Amou-a Jesus na Sexta-Feira Santa. Como lhe deu o seu Coração, durante a via dolorosa, para fortificá-la e consolá-la...! Quanto a amou ao cravar n'Ela os olhos moribundos, ao confiar-lhe, em João, todas as almas e a Igreja, ao despedir-se d'Ela que recebera o seu primeiro vagido e suas primeiras lágrimas em Belém! (...).
Em boa escola aprendemos nós, o amor a Maria. Nada menos que no Coração de Jesus! (...) Para não desviar, nem pouco, nem muito, quero amar o que Ele amou, e quanto possível, como Ele amou. (...) Dando-me, pois, a Maria, não só não subtraio nenhuma migalha a Jesus, mas, por imitá-Lo no amor à sua Mãe, torno-me mais unido ainda ao seu Sagrado Coração. (...)


Extraído do livro "JESUS, REI DE AMOR".

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Amor de Cristo à sua Igreja segundo explicou diretamente à Santa Catarina de Sena

  Introdução: A Santa Madre Igreja é a Esposa de Cristo. Ela dispensa as graças e tem as chaves do Céu. Santa Catarina de Sena é uma apaixonada pela Santa Igreja. Vejamos alguns tópicos apenas.

   Inflamada pelo amor de Deus e desejando ardentemente a salvação das almas, Santa Catarina de Sena assim pergunta a Deus, Nosso Senhor: "Em que jardim poderei trabalhar assim? em que mesa satisfarei este desejo?"

   E o Senhor apareceu-lhe e disse: "Minha filha, é no jardim da minha Esposa e à mesa da minha Santa Cruz que tu podes fazê-lo, pelos teus sofrimentos, pela angústia do desejo, pelas vigílias, orações e por meio de esforços ativos e persistentes. Fica sabendo que nada podes desejar, para a salvação das almas, que não desejes para a Santa Igreja, visto que Ela é o corpo universal de todos aqueles que partilham da luz da Santa fé e ninguém pode ter a vida, se não estiver submetido à minha Esposa. Deves, pois, desejar ver o próximo, os cristãos, os infiéis e toda a criatura racional alimentar-se neste jardim sob o jugo da Santa Obediência... Mas agora digo-te, quero que experimentes um desejo e uma fome especiais e que estejas pronta, se for preciso, a dar a tua vida pelo corpo místico da Santa Igreja..."

   "Minha filha caríssima, continuava Nosso Senhor, que a tua aflição não tenha medida, à vista de tal cegueira e de semelhante miséria! Lembra-te de que esses infelizes foram, como tu, purificados no Sangue, que cresceram pela virtude do Sangue, que foram alimentados no Sangue no seio da Santa Igreja e hoje, ei-los! O medo fez deles revoltados! Sob pretexto de corrigir as faltas dos meus ministros, que declarei invioláveis, que lhes proibi de tocar, apartaram-se do seio de sua Mãe; qual não deve ser o teu terror e o dos meus servos, ao ouvir recordar esta miserável aliança! A tua língua não saberia dizer quanto ela é abominável a meus olhos. O pior é que, sob o manto das faltas dos meus ministros, eles procuram esconder as próprias iniquidades!"

   Ouçamos agora, Santa Catarina de Sena: "Mais uma vez, ó Pai Eterno, ofereço-Te a vida pela tua querida Esposa"... "O desejo crucificado, que eu havia recentemente concebido na presença de Deus, mergulhava-me numa dor angustiosa, porque a minha inteligência, fixando-se na Trindade, via neste abismo, ao mesmo tempo que a dignidade da criatura racional, a miséria em que o pecado mortal precipita o homem e as necessidades da Santa Igreja, que Deus me manifestava em seu seio. Mas, como ninguém pode sentir a beleza de Deus no abismo da Trindade senão por intermédio desta doce Esposa, visto que todos têm de passar pela porta de Cristo crucificado, porta que só na Igreja se encontra, eu via que esta Esposa distribui a vida; via que ela dá força e luz, que ninguém pode enfraquecê-la ou obscurecê-la, nela mesma, e que o fruto que ela deve dar, longe de vir a faltar, aumenta cada vez mais". 

   Então, o Senhor Deus Eterno dizia-lhe: "Toda esta dignidade, que a tua inteligência não  poderia compreender, procede de Mim. Repara, pois, com dor e amargura: ninguém se chega a esta Esposa senão pela roupagem externa, isto é, pelos seus bens temporais; ninguém procura nela a sua verdadeira essência, isto é, o fruto do Sangue. Quem não a adquirir com o preço da caridade, com verdadeira humildade à luz da santíssima fé esse terá parte no fruto do Sangue, não para a vida mas para a morte.  É ladrão que rouba o bem alheio, porque  o fruto do Sangue pertence aos que o compram com amor. A Igreja é amor e é por amor,  que Eu exijo aos meus servos que cada um traga o preço do amor, conforme o que cada um recebeu para administrar. Infelizmente, não encontro quem a sirva assim; parece até que ela está abandonada de todos. Mas Eu darei remédio ao mal". 

   Santa Catarina dizia, então, a Nosso Senhor: "Que posso eu fazer, ó Fogo incompreensível?"
  
   E  Nosso Senhor respondeu-lhe: "Oferece, novamente, a tua vida e não te entregues nunca ao descanso. Foi para esta missão que te destinei, a ti e a todos aqueles que te seguem e te seguirão. Esforçai-vos, pois, por nunca afrouxar, mas por intensificar os vossos desejos. A ternura do meu amor não se esquece de vos dar os meus socorros espirituais e temporais; para que as vossas almas fiquem livres de todas as preocupações, providenciarei às vossas necessidades... Consagra, pois, a tua vida, o teu coração e o teu amor, unicamente, a esta Esposa por amor de Mim sem pensar em ti". 

   Dois meses depois, morria Santa Catarina de Sena dizendo aos seus discípulos: "Filhos caríssimos, quero que não hesiteis um instante em dar a vida pelo Papa legítimo e pela Santa Igreja".