domingo, 28 de fevereiro de 2016

MISSA: Perguntas e respostas.

LEITURA MEDITADA - Dia 28 de fevereiro


2ª PERGUNTA: POR QUE A MISSA É CELEBRADA DIARIMENTE, SEMPRE?
   RESPOSTA: Os protestantes fizeram da eucaristia um simples lanche. Come-se pão e bebe-se suco de uva. E assim se comemora a Paixão do Salvador! 
   No entanto, as palavras da Bíblia são claríssimas. Dão à Eucaristia uma significação muito mais profunda.  
   Jesus realizou na Cruz , dando a sua vida por nós, um Sacrifício Único que não se repete, porque a Sua Morte, a Sua imolação real e sangrenta, só se deu UMA VEZ;  no entanto, o que para nós parecia impossível, Jesus na sua sabedoria e bondade infinitas, realizou-o: o Sacrifício da Cruz se renova todos os dias, a cada instante (dado o fuso horário), numa representação viva de Sua Paixão, numa imolação mística, de modo que todos nós podemos assistir ao seu Sacrifício da Cruz, como se estivéssimos presentes no Calvário. 
   Não era costume entre os judeus que o povo comesse as carnes das vítimas oferecidas em EXPIAÇÃO. Nosso Senhor Jesus Cristo, no entanto, revova representativamente o seu sacrifício expiatório da Cruz, para que ele se desdobre num imenso banquete, em que podemos comungar, participar realmente, para nosso alimento espiritual, do própria Vítima que se ofereceu na Cruz, Vítima que o seu poder infinito nos traz outra vez realmente presente sobre os nossos altares. 
 Portanto o Seu Sacrifício Único, oferecido na última Ceia e completado no Calvário, renova-se todos os dias no altar pelo ministério dos sacerdotes, PARA QUE OS SEUS FRUTOS ( que são infinitos) POSSAM SER APLICADOS A CADA UM DE NÓS. 
   Na verdade, a nossa Redenção foi completa no Calvário; mas com esta Redenção adquirimos riquezas que na Missa Ele vem distribuir.
   Na Cruz Jesus fez A SUA PARTE na obra redentora; não contente com isso ("Tendo amado os seus, amou-os até o fim), na Missa nos vem ajudar a fazermos a NOSSA PARTE, implorando para os vivos a graça do arrependimento, mesmo quando depois de tanto abuso dos divinos favores, dela nos tornamos indignos, e para os mortos um alívio e refrigério nas penas que ainda têm que sofrer perante a JUSTIÇA DIVINA.
   Jesus subiu aos Céus para voltar no fim do mundo; e entretanto ficou entre nós oculto sob os véus sacramentais, visível apenas aos olhos da nossa fé, esta fé que é a base de todo Cristianismo e que atinge o seu ponto máximo na humildade e cega submissão com que aceitamos os mistério eucarístico. Jesus já quando prometeu, já quando realizou a eucaristia, fez tudo de modo a ser um místério de fé por excelência. 
   Outra razão por que se celebra sempre a santa Missa é: só Jesus é que podia OFERECER-SE para remir a Humanidade, e no entanto dá-nos, depois da redenção, o privilégio de nos oferecermos a Deus juntamente com Ele, apresentando-Lhe as nossas lágrimas, as nossas dores, os nossos sacrifícios, a nossa vida, em união com aquele Corpo e Sangue Preciosíssimo que foram oferecidos na Cruz. E assim "desde o nascer do sol até o poente... em todo lugar sobe aos Céus uma oblação pura, tornando o nome de Deus grande entre as gentes" (Malaquias, I, 11).  
 

sábado, 27 de fevereiro de 2016

A SANTA MISSA - Pergunta e Resposta

  LEITURA MEDITADA - Dia 27 de fevereiro


PERGUNTA: NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS, X, 26 SÃO PAULO DIZ: "Se nós pecamos voluntariamente depois de ter recebido o conhecimento da verdade, JÁ NÃO RESTA MAIS HÓSTIA PELOS PECADOS". Assim sendo a Santa Missa não pode ser Sacrifício Propiciatório.

   RESPOSTA: Primeiramente, ninguém se desespere antes de ler a resposta. Esta é uma objeção bem à protestante, isto é, fazer uma objeção retirando a frase de seu respectivo contexto. Por isso para responder esta objeção temos que fazer o certo: colocá-la no seu respectivo contexto. Pois bem!
    São Paulo que é um hebreu, falando na sua Epístola também AOS HEBREUS, se refere àqueles que abraçam o Cristianismo  e depois caem na apostasia voltando ao judaísmo. Ele exorta os cristãos a permanecerem fiéis à sua fé NÃO ABANDONANDO A NOSSA CONGREGAÇÃO COMO É COSTUME DE ALGUNS (Hebr. X, 25), porque se assim procedem de caso pensado, de propósito, deliberadamente, só poderão esperar a condenação, uma vez que no judaísmo não encontrarão mais a remissão dos pecados. Antigamente, isto é, antes de Jesus Cristo morrer na Cruz, havia na Religião Judaica os sacrifícios que se ofereciam pelos pecados e estes sacrifícios vêm descritos no Livro do Levítico, capítulos IV a VII. Tais sacrifícios ordenados por Deus serviam de fato para remissão dos pecados, não pelo seu valor em si, mas porque prefiguravam  o sacrifício redentor de Cristo e dele tiravam a sua eficácia. Agora, porém, após a morte de Jesus Cristo, tudo isto passou, porque já não é mais o tempo das figuras e sim o da realidade; esses sacrifícios judaicos não vigoram mais; não resta mais HÓSTIA pelos pecados. Para os que rejeitam a Cristo, ABANDONANDO A NOSSA CONGREGAÇÃO, ISTO É, A SUA VERDADEIRA IGREJA, não existe propiciação, mas sim, conforme continua São Paulo, uma esperança terrível  do juízo e o ardor do fogo que há de devorar os adversários. Se alguém violar a lei de Moisés, sob a deposição de duas ou três testemunhas, morre sem remissão alguma; imaginai vós quantos maiores tormentos merecerá o que tiver considerado como profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e tiver ultrajado o Espirito da graça? (Hebreus, X, 27 a 29).
   Isto acontece com os que se afastam do Salvador, afastando-se por culpa própria (não de boa fé ou por ignorância) de sua Verdadeira Igreja. Mas para os que estão unidos a Cristo pela fé legítima, ainda existe a Vítima, a Hóstia de Propiciação pelos nossos pecados: é Jesus Cristo, o qual não morre porque é eterno, vivendo sempre para interceder por nós (Hebreus VII, 25). E, como já provamos, o Sacrifício da Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A MISSA: Perguntas e Respostas

LEITURA MEDITADA - Dia 26 de fevereiro



PERGUNTAS: Fizeram-me mais duas perguntas sobre a Missa: 1ª - Em que momento se realiza o Calvário?
2ª - Em que momento da Missa tem início a Paixão de Jesus?
Pelo que pude entender, a primeira pergunta seria para saber qual a essência da Missa, ou melhor, em que parte da Missa estaria apresentado de novo o Sacrifício do Calvário?
Resposta: A Missa é, por natureza, uma representação real e viva do Sacrifício do Calvário. A teologia ensina que é a Consagração que representa a oblação de Cristo na Cruz, pelo fato de tornar sacramentalmente presente a Nosso Senhor Jesus Cristo e em estado de Vítima. Assim sendo, a essência do Sacrifício da Missa consiste pois em que o ato da Consagração  REPRESENTA SACRAMENTALMENTE o sacrifício sangrento da Cruz. Com efeito, a fórmula da Consagração separa sacramentalmente o Corpo do Sangue, e por isso representa, sacramentalmente, a morte do Senhor.
   Resposta à segunda pergunta: Primeiramente devemos estar lembrados que a Missa propriamente se inicia com o Ofertório que é uma preparação para o Sacrifício que vai se realizar na Consagração. A parte que vai das orações ao pé do altar até o Credo é chamada em latim "ante Missam" que quer dizer: "antes da Missa". Portanto não é ainda a Missa; é uma parte de orações e instruções como preparação para a Missa propriamente dita, que é chamada Missa dos Fiéis, enquanto a ante-missa é chamada missa dos catecúmenos. Agora na Missa propriamente dita, há as várias cerimônias para lembrar a Paixão de Jesus. Diz Santo Tomás, que, assim como a Paixão de Jesus se efetuou em várias etapas assim também os sinais da cruz que são feitos representam estas etapas da Paixão. Isto já foi explicado na postagem em que Santo Tomás explica as cerimônias da Missa. A Paixão de Jesus é consumada com a Sua morte na Cruz, e é representada sacramentalmente, como vimos acima, pela consagração, em separado, do pão e do vinho.
   Devemos estar lembrados que a Santa Missa tem mais uma parte que lhe é integrante: a Comunhão. O que não houve no Calvário. Não há Missa sem comunhão, ao menos da parte do sacerdote. Pela Comunhão nos unimos á própria Vítima e por ela ao próprio Deus. O fim que Nosso Senhor se propôs ao instituir a Eucaristia é incorporar-nos n'Ele, para que COM ELE, POR ELE E n'ELE possamos glorificar a Deus e unir-nos às três Pessoas Divinas.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A VOLTA DO FILHO PRÓDIGO

LEITURA MEDITADA - Dia 25 de fevereiro



"Aproximam-se d'Ele os publicanos e os pecadores para O ouvir. Os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe os pecadores e come com eles" (S. Lucas XV, 1 e 2).

Nosso Senhor Jesus Cristo mostra com três parábolas, a da ovelha tresmalhada, a da dracma perdida e a do filho pródigo, que assim agia porque a misericórdia de Deus é infinita. E Deus é infinitamente misericordioso porque conhece a fundo a nossa miséria. Como a meditação destas parábolas é confortadora para os pecadores arrependidos!!!

 O  Nosso Pai do céu espera o pecador com paciência, busca-o com solicitude e recebe-o quando arrependido, com grande alegria.  

É bom ler todas estas três parábolas. Encontram-se no Evangelho de São Lucas XV,  1-32. Quanto a parábola do filho pródigo há três partes distintas: a partida, os desmandos e a volta do filho pródigo. Vamos meditar aqui apenas a terceira parte.

A primeira operação da graça na conversão do pecador, é pôr-lhe à vista os seus pecados. Ela descobre-lhe o profundo abismo em que caiu, e inspira-lhe o desejo de sair dele. O filho pródigo entra em si. Faz, digamos assim, um exame de consciência. Ai! andava fora de si, havia muito tempo; até onde o tinham arrastado as suas paixões! Entra em si. Uma luz viva lhe dissipa as trevas; a ilusão cessa. Vê as coisas como são; já não exagera o valor dos gozos criminosos que tanto desejou. "Onde estou, diz ele consigo mesmo, e que fiz eu? Que significam estes vestidos esfarrapados, esta ocupação, esta fome? Que foi feito das minhas riquezas, da minha liberdade, da minha consciência, da minha honra? Casa paterna, não te tornarei a ver jamais? Quão longe estão de mim esses belos dias, em que, nada tendo a exprobrar-me, nada tinha a temer! Agora, a minha companhia são animais imundos; a mais dura escravidão, eis o meu estado; viver na miséria, eis a minha triste sorte. Quanto invejo a vossa sorte, ó servos de meu pai! A sua bondade previne os vossos pedidos, tendes em sua casa a abundância e eu, seu filho, morro aqui de fome.

A graça prepara assim a conversão de uma alma extraviada; esclarece-a, ilumina-a. Ao pecador diz o Espírito Santo: "Pobre filho, onde estás", como Deus perguntou a Adão logo que este pecou e procurou se esconder envergonhado: "Adão, onde estás, que fizeste?" Deus derrama uma luz penetrante na sua alma; força-o a lembrar-se do estado de graça, do dia feliz da primeira comunhão. Então ele era tão feliz! Que doce paraíso estar com Jesus! Ah! que mudança terrível! Dantes, vencedor do demônio; hoje, seu mais desgraçado escravo. Antes alimentava-se com a própria Carne de Jesus pela comunhão.  O pecador, cheio de amargura, atormentado pelos remorsos, pode dizer como o filho pródigo: "Quantos diaristas há na casa de meu pai, que têm pão em abundância e eu aqui morro de fome!" Quantos conhecidos e parentes têm a consciência em paz, gozam santamente com as práticas religiosas, principalmente com a sagrada comunhão, nada lhes falta na casa de Deus; e eu, pereço de fome!

Para fazermos estas reflexões, tínhamos deixado o filho pródigo sentado debaixo de uma árvore, cabeça baixa, derramando lágrimas, na companhia imunda dos porcos. Agora, voltemos a ele novamente. Envergonhado do passado, receoso do futuro, enche-se de generosidade, e decide-se reparar seus erros. Seu coração está contrito e humilhado! Diz: "Levantar-me-ei, irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. trata-me como um dos teus diaristas".  E não perdeu tempo! Foi generoso! "E levantando-se foi para seu pai".

Aqui façamos também algumas reflexões: Eis o modelo do pecador penitente. Em vez de se entregar a um louco desalento, tem confiança; mas a sua confiança em nada diminui a sua humildade. "Levantar-me-ei". Se é vergonhoso cair, é honroso levantar-se. Mas aonde ireis, pobre rapaz? Quem quererá interessar-se pela vossa sorte?  - "Irei para meu pai"; enquanto me restar um pai, cuja ternura me é conhecida, resta-me um recurso seguro. É verdade que levei muito longe a minha ingratidão para com ele; mas se eu fui um filho desnaturado, ele é sempre bom pai. - E que lhe direis vós? - "Dir-lhe-ei: Pai, esta só palavra comoverá seu coração. Se os soluços me impedirem de falar, as minhas lágrimas lhe falarão por mim; mas, se eu puder dominar a minha emoção confessar-lhe-ei todos os meus crimes. Dir-lhe-ei: Pequei contra o Céu, testemunha das minhas desordens; mas pequei também contra vós, o melhor dos pais!

"Já não sou digno de ser chamado teu filho". O filho fez justiça à bondade de seu pai, esperando que lhe perdoasse; e faz justiça a si mesmo, humilhando-se. Não reclama as prerrogativas de filho, é indigno delas; basta-lhe ser admitido no número dos criados: 'Trata-me como a um dos teus diaristas". Finalmente não se limita a vãos desejos: o que resolveu, executa-o, e sem demora. Disse: Levantar-me-ei e já está em pé; irei buscar a meu pai, e já deixou o vil rebanho, e se dirige para a casa paterna.

Quem esqueceu o seu destino eterno como filho de Deus, imite este modelo. Humilhe-se primeiramente; a humildade aproximá-lo-á de Deus, quanto a soberba o afastou d'Ele. A verdadeira penitência gera o desprezo de si. Deus não resiste aos seus atrativos: Deus se inclina para o homem humilde. Se o pecador se humilhar na sua presença, deve contar com a misericórdia divina. Quanto mais indigno for de tão bom pai, tanto mais excitará a sua compaixão. Perdoará o seu pecado, precisamente porque é grande: "Por causa de teu nome, Senhor, me hás de perdoar o meu pecado, porque é grande" (Salmo XXIV, 11).

Caríssimos, Deus, Nosso Senhor e Pai, quis mostrar-nos o seu próprio coração na terceira parte desta parábola, assim como nas duas primeiras nos mostrou o nosso. Teria o bom pai esquecido o seu filho? Não absolutamente! Pelo contrário, pensava nele incessantemente. Como o reconheceu logo, quando o viu no triste estado, a que o haviam reduzido o crime e a miséria? Como não se indignou ao dar com os olhos nele? Como pôde esquecer tão depressa todas as suas desordens, para só se lembrar da sua desgraça? São segredos do amor paternal. "Quando ele ainda estava longe, seu pai viu-o, ficou movido de misericórdia". Oh! que belo espetáculo tenho aqui para contemplar! O pai não espera por seu filho: corre para ele, abraça-o, beija-o, cobre-o de carícias. Este acolhimento tão terno e tão pouco merecido aumenta o arrependimento do culpado. Quer fazer a humilde confissão do seu pecado; mas o pai interrompe-o, e diz aos criados: "Ide buscar o melhor vestido para meu filho; metei-lhe um anel no dedo, e sapatos nos pés; preparai um festim, regalemo-nos; e todos os que me querem bem, tomem parte na minha alegria: meu filho estava morto, e reviveu; tinha-o perdido, e achei-o".
Pecador arrependido, não temas as exprobrações de Deus, que desejava tanto a tua conversão; restituir-te-á a sua amizade, e com ela todos os vossos direitos, todos os bens que tínheis perdido, ofendendo-O.


O filho mais velho, voltando do campo, queixa-se, e indigna-se. Não, ó vós sempre fiéis pela graça, não sejais invejosos. Ninguém vos tira o que tendes: os vossos direitos, os vossos merecimentos, o amor do vosso Deus. Vosso irmão, de escravo torna-se rei, mas sem vos destronar a vós; enriquece-se, mas vós nada perdeis. Convinha que houvesse alegria, porque o vosso irmão era morto, e reviveu. A conversão de um pecador é motivo de alegria até para os Anjos do Céu! Amém!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O ESTILO DA BÍBLIA E O TEOR DAS DIVINAS PROMESSAS - ( 4 )

   82.  A EFICÁCIA DA ORAÇÃO (a).

   Vejamos agora outro exemplo.

   Nosso Senhor disse: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede recebe, e o que busca acha, e ao que bate se lhe abrirá (Lucas XI-9 e 10).

São palavras bem claras, enunciando a PROMESSA que faz Deus de atender a todas as nossas orações.

   Ora, a experiência de cada dia nos mostra evidentemente que há muitas coisas que se pedem a Deus e não se alcançam. Quando adoece o pai ou a mãe, ou qualquer outro membro de uma família, nada mais natural do que a família inteira pôr-se em oração e pedir a Deus que cure aquela pessoa, e que livre a todos daquele golpe. É o que frequentemente acontece. E no entanto muitas e muitas vezes esta prece não é atendida. Quantos pedidos sobem aos Céus (uma moça quer casar-se, um homem quer conseguir um melhor emprego, outro quer meios para fazer uma viagem, o encarcerado quer livrar-se da prisão etc, etc,) e não são satisfeitos!

   Que significa isto? Que Deus falta com a sua promessa? Não; a palavra de Deus é infalível. Quer dizer que num texto vem a PROMESSA; NOUTROS vêm explicadas AS CONDIÇÕES  sob as quais ESTA PROMESSA SE REALIZA. 

   Está visto que uma destas condições é que aquilo que nós pedimos seja realmente bom e conveniente para nós. Se um pai diz a seus filhinhos: darei tudo quanto Vocês pedirem - aí logo se subentende que dará só o que for bom e útil para eles. Um quer uma peixeira bem amolada para brincar de vendelhão com seus irmãozinhos; o outro quer uma motocicleta para sumir-se no meio das ruas movimentadas com risco da sua própria vida; a outra quer a liberdade de passear com certas companheiras que não se recomendam. Que faz o pai extremoso? Nega-lhes inapelavelmente o que lhe pedem, embora esperneiem e se zanguem, porque quer somente o bem de seus filhos e reserva alguma coisa melhor, de outro gênero, para coroar de qualquer maneira, o seu pedido. Somos diante de Deus como crianças inexperientes; não sabemos o que havemos de pedir, como convém (Romanos VIII-26); é o que nos diz São Paulo. A família toda se reúne para rezar pela saúde do pai ou da mãe ou de qualquer outro membro que se acha enfermo; mas se, por exemplo, aquele  é o momento propício para a salvação daquela criatura que se acha contrita e, se ficar boa, pode, quem sabe? perder-se mais tarde; não é o caso de Deus negar o pedido, porque a salvação daquela alma está acima de tudo? O emprego melhor remunerado ou o casamento, a viagem ou o livramento do cárcere podem ser contrários aos desígnios altíssimos de Deus, segundo os quais a salvação se poderá tornar muito mais fácil na pobreza, na renúncia e na penitência. E assim por diante. 

   Por isto Jesus mesmo se encarrega de esclarecer que a promessa da eficácia da oração subentende que Deus dará coisas boas, não coisas que nos são nocivas ou que não nos aproveitam. Se vós outros, sendo maus, sabeis dar BOAS DÁDIVAS  a vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos Céus, dará BENS aos que lhos pedirem! (Mateus VII-11). São Paulo nos diz que pediu a Deus que o livrasse de certas angústias e aflições no seu corpo, mas Deus não o atendeu, porque queria elevá-lo a uma maior perfeição da virtude: Permitiu Deus que eu sentisse na minha carne um estímulo que é o anjo de Satanás para me esbofetear. Por cuja causa roguei ao Senhor três vezes que ele se apartasse de mim. E então me disse: Basta-te a minha graça; porque a virtude se aperfeiçoa na enfermidade (2ª Coríntios XII-7 a 9). E São Jerônimo diz que sobre este fato: "Bom é o Senhor que muitas vezes não nos concede o que queremos, para nos conceder o que preferiríamos". 

   

O ESTILO DA BÍBLIA E O TEOR DAS DIVINAS PROMESSAS - ( 5 )

   82. A EFICÁCIA DA ORAÇÃO (b).

   [Vimos no post anterior a primeira condição para que nossa oração seja ouvida por Deus: que aquilo que nós pedimos seja realmente bom e conveniente para nós. Vejamos agora as outras condições].

   Outra das condições é que a oração seja feita com fé e confiança: Todas as coisas que pedirdes, FAZENDO ORAÇÃO com FÉ, haveis de conseguir (Mateus XXI-22). Todas as coisas que vós pedirdes orando, CREDE que as haveis de haver e que assim vos sucederão (Marcos XI-24). Cheguemo-nos, pois, CONFIADAMENTE,  ao trono da graça, afim de alcançar misericórdia e de achar graça para sermos socorridos em tempo oportuno (Hebreus IV-16). Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus que a todos dá liberalmente e não impropera, e ser-lhe-á dada. MAS PEÇA-A com FÉ, SEM HESITAÇÃO ALGUMA; porque aquele que duvida é semelhante à onda do mar que é agitada e levada duma parte para a outra pela violência do vento; NÃO CUIDE, pois, este tal, QUE ALCANÇARÁ DO SENHOR ALGUMA COISA (Tiago I-5 a 7). 

   A oração deve ser humilde, como mostra Nosso Senhor com a parábola do fariseu e do publicano (Lucas XVIII-9 a 14), a qual termina assim: Todo o que se exalta, será humilhado e todo o que se humilha será exaltado (Lucas XVIII-14). Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no tempo da sua visita, remetendo para Ele todas as vossas inquietações, porque Ele tem cuidado de vós (1ª Pedro V-6 e 7). Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça ao humildes (Tiago IV-6; 1ª Pedro V-5). 

   Finalmente a oração precisa ser também perseverante, como mostra Jesus com a parábola do homem, a quem um amigo, à meia-noite, vem pedir três pães emprestados: E se o outro perseverar em bater; digo-vos que no caso que ele se não levantar a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães houver mister (Lucas XI-8). Como também, com a parábola do juiz iníquo e da viúva suplicante, a quem o juiz atende somente pela importunação desta: por último disse lá consigo: Ainda que eu não temo a Deus nem respeito os homens, todavia, como esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, para que por fim não suceda que, vindo ela muitas vezes me carregue de afrontas. Então disse o Senhor: Ouvi o que diz este juiz iníquo. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos que estão clamando a Ele de dia e de noite? (Lucas XVIII-4 a 7).

   Por tudo isto se vê que há um versículo que nos assegura a eficácia da oração: é a PROMESSA. Mas é preciso folhear várias partes do Novo Testamento para ver EM QUE CONDIÇÕES ESTA PROMESSA SE REALIZA. 

TIBIEZA



LEITURA MEDITADA - Dia 24 de fevereiro

"...Não és nem frio nem quente; oxalá foras frio ou quente; mas, porque és morno, nem frio nem quente, começar-te-ei a vomitar da minha boca..." (Apocalipse III, 15 e 16).

A nossa vida espiritual deve ser fervorosa. O nosso amor a Deus deve ser acima de tudo. Donde, qualquer apego às criaturas não só impede o nosso progresso espiritual, mas além disto, por causa do hábito de pecados veniais, as luzes e forças da alma tendem a diminuir. O pecado venial deliberado e não combatido, embora não destrua a caridade, opõe-se-lhe, diminuindo o seu vigor, e impedindo o seu desenvolvimento. Quando estes pecados veniais se cometem habitualmente, diminuem a tendência da alma para Deus aumentando, pelo contrário, a tendência para a satisfação egoísta de si própria, para as criaturas. Assim a alma perde, pouco a pouco a sensibilidade quanto à ofensa de Deus e chega a um estado de alma que se chama TIBIEZA.

Tibieza é, portanto, uma espécie de sonolência, em que a alma quer evitar o que é pecado mortal, mas não o que é ou parece pecado venial. É um relaxamento espiritual que amortece as energias da vontade, inspira horror ao esforço e conduz assim ao afrouxamento da vida cristã. A tibieza tira o seu nome de um fenômeno que todos conhecemos: quando se tira do fogo a água que ferve, esta perde aos poucos o calor, e, quando já não está mais quente e ainda não está fria, então está morna, tépida, tíbia. Esta palavra aplica-se perfeitamente à alma. Enquanto está bem unida a Deus por um amor forte, ardente, então, a alma é quente, fervorosa, mas à medida que se afasta de Deus e se orienta para as criaturas, perde o calor. Se ainda não chegou ao estado de frieza do pecado mortal, já está morna, tíbia, em via de se tornar fria.

Pela citação supra do Apocalipse, pode surgir uma dúvida: O pecado mortal é o mal absoluto, máximo. A alma fria, é a que tenha cometido pecado mortal. Ora, Deus diz :"oxalá foras frio". É óbvio, que Deus assim fala no sentido em que a alma fervorosa que, de repente, se torna fria, ou seja, comete um pecado mortal, leva um susto como alguém que cai de uma altura maior e logo procura se levantar. É o caso do pecado de São Pedro. Mas quando a alma chega ao pecado mortal paulatinamente, isto é, cometendo habitualmente pecados veniais, chega ao fundo do poço como que se escorregando por uma rampa. Não se assusta e pode até não querer se convencer que já está no fundo, ou seja no pecado mortal. Como dissemos acima, pelo hábito dos pecados veniais, a pobre alma vai perdendo as luzes e forças do divino Espírito Santo, e aí fica, além de fraca, cega. E neste estado de alma tem mais dificuldade em se arrepender e se converter. Podemos dar o exemplo de Judas Iscariotes: certamente ele não caiu imediatamente no pecado mortal. Foi caindo aos poucos, não combateu a avareza no seu início, e esta se tornou um hábito e um vício capital.

Pelas palavras do próprio Deus, vemos o cuidado que devemos ter em não cair na tibieza; e se alguém constatou que está tíbio, deve procurar logo os remédios para se curar desta tuberculose espiritual. E quais são os sintomas de tibieza? 1º - Omitir ou fazer negligentemente os exercícios de piedade; 2º - Sentir um certo constrangimento  na presença de Deus, no pensamento de que não está satisfeito conosco. A pessoa não gosta de fazer visitas ao Santíssimo Sacramento e, quando a faz, parece que tem pressa em sair da presença de Jesus. 3º - A alma perde o desejo de se esforçar sempre para progredir, ou seja, contenta-se com a mediocridade. 5º - Desprezar as coisas pequenas, os pequenos atos de virtude, os pequenos deveres. 5º - Pensar mais no bem que se fez do que naquele que se deveria fazer. 6º - Comparar-se com os que procedem mal e assim achar que tudo vai bem. 7º - Quanto às práticas espirituais, a primeira que abandona é a leitura espiritual. 8º - Por tudo o que já dissemos, vemos que o principal sinal de tibieza é o pecado venial, deliberado e habitual. E geralmente são estes os pecados provenientes da liberdade da língua para criticar os outros; pelo grande desejo de descanso e repouso e daí pecados de falta de zelo.
A alma fervorosa tem facilidade em se recolher e gosta de se ocupar nas coisas de Deus. A alma tíbia, pelo contrário, gosta de dar-se as ocupações exteriores, em ocupar-se de bagatelas e isto talvez como meio de afastar o tédio.


O melhor remédio para a tibieza é o Santo Retiro. E enquanto não puder fazê-lo procurar se esforçar para em fazer os exercícios de piedade. Fazer frequentemente orações jaculatórias pedindo a Deus a graça de progredir sempre na vida espiritual, no amor de Deus e do próximo. Amém!

domingo, 21 de fevereiro de 2016

O ESCÂNDALO DADO PELO SACERDOTE - PECADO ENORME POR SUA NATUREZA

O ESCÂNDALO DADO PELO SACERDOTE.
PECADO ENORME POR SUA NATUREZA

LEITURA MEDITADA - Dia 21 de fevereiro
                                             
 REFLEXÕES SOBRE TEMA DA SAGRADA ESCRITURA

"O que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurassem ao pescoço a mó dum moinho, e que o lançassem no fundo do mar" (S. Mateus XVIII, 6)
"É inevitável que venham escândalos, mas ai daquele homem pelo qual vem o escândalo" (S. Mateus  XVIII, 7).

1 - O Sacerdote escandaloso é o grande inimigo de Deus. - Ofende à Santíssima Trindade, persegue-A, se assim posso exprimir-me, com uma impiedade que horroriza.

O Eterno Pai elegera-o, para fazer conhecer e honrar o seu nome, para publicar e fazer observar a sua lei, para trazer à sua obediência as almas desgarradas, e confirmar no seu amor as almas inconstantes, para lhe preparar um povo de escolhidos, fazendo-o reinar sobre os corações; para isto o prevenira com as bênçãos da sua graça, o enchera de seus benefícios. Este Sacerdote tinha aceitado tão nobre missão, e prometido solenemente consagrar-lhe toda  a sua existência; ora, se chega a escandalizar, que faz ele? Combate contra a causa de Deus que prometeu defender. Longe de submeter ao Senhor os súditos fiéis; longe de induzir os homens a respeitar o seu nome,  leva-os a blasfemá-lo; em lugar de o fazer reinar sobre os corações, expulsa-o deles; em lugar de lhe preparar escolhidos, é para o inferno que os recruta!

Deus Filho, Redentor das almas, confiava no Sacerdote, para lhes aplicar os merecimentos da sua morte e do seu sangue. Para isto o revestira de inefáveis poderes, e lhe pusera nas mãos todos os tesouros da sua misericórdia; pois a essas almas, remidas por tão alto preço, não só as deixa perder, mas ainda, à vista do seu Salvador, as fere, mata e precipita na eterna condenação; aniquila para elas a obra da Redenção!

Deus Espírito Santo tomara-o para seu instrumento. Queria servir-se dele, para combater o pecado, purificar as almas, e fazer delas outros tantos templos onde morasse com o Eterno Pai e com o Filho:  "Viremos a ele e nele faremos morada" (S. João XIV, 23); e o  Sacerdote escandaloso, em vez de auxiliar estes misericordiosos desígnios, destrói-os; em vez de arruinar o império do pecado, estende-o e consolida-o; em vez de purificar as almas, mancha-as; e fecha para Deus esses templos espirituais de que era guarda, e abre-os para o demônio! Não é isto fazer à Santíssima Trindade uma guerra cruel e pérfida?

2- O Sacerdote escandaloso é inimigo das almas. - Constituindo-nos seus ministros, Deus queria que cooperássemos para as salvar. Temos rigorosa obrigação; de guiá-los e ampará-los; de levantá-los, se caem; e de empregar na sua santificação todos os meios que foram postos à nossa disposição. Como cumpre o Sacerdote escandaloso esta obrigação? Nós só temos acesso junto das almas, pela confiança que lhes inspiramos; que confiança pode inspirar aquele que prega uma moral, e pratica outra? Entre as palavras que dizem: "Não façais o que eu  faço", e as ações que clamam: "Não acrediteis o que eu digo", advinha-se o que impressionará mais fortemente os espíritos, talvez já mal dispostos. Os corações corrompidos autorizam-se em suas desordens com o exemplo daquele que devia reprimi-las. E as almas simples não temerão perder-se, seguindo os maus exemplos do guia que Deus lhes deu. E neste caso, onde parará a licença de costumes?

Quando à tendência que leva o homem a imitar tudo o que vê, vem juntar-se o impulso das paixões: o mau exemplo é uma torrente, que rompe todos os diques. Mas, se esta corrente se precipita dos mais altos montes, o seu curso será ainda mais impetuoso, e os estragos mais extensos; a alteza da nossa dignidade é a medida do mal causado com os nossos escândalos. O arbusto, ao cair, a nada causa dano; mas o carvalho frondoso esmaga, na sua queda, tudo o que encontra debaixo de si. Assim, o sal da terra tornou-se um princípio de corrupção, para os que ele devia conservar na inocência; a luz do mundo, que devia dirigir  as almas nos caminhos da virtude, mete-as nas alfurjas do vício; o Pastor de almas que devia defender o seu rebanho, faz nele uma horrível carnificina.

3- O Sacerdote escandaloso é o maior inimigo da Igreja. - Uma só queda no Santuário pode ter consequências incalculáveis. O mundo, tão indulgente para si, é inexorável para os ministros do Senhor. Ao mesmo tempo que desculpa os seus próprios crimes, não perdoa aos Sacerdotes uma fraqueza. E muito longe de encobrir, com o seu silêncio, os escândalos que neles vê, publica-os aos quatro ventos. Fá-los correr de paróquia em paróquia, de diocese em diocese. Perpetua-os, e dá-lhes uma espécie de imortalidade, bem lamentável. O mundo quereria que durasse cem anos, e talvez até ao fim dos séculos, muitas almas pequem, se pervertam e se condenem, em consequência de um pecado cometido por um sacerdote escandaloso. A censura que faz cair sobre o seu mau proceder, recai indiretamente sobre todos os membros do Clero. Imputa os mesmos vícios aos que exercem as mesmas funções. Chega até a tratar como fábulas, as verdades mais sagradas, só porque é testemunha da sua oposição com os costumes daquele que as ensina. Se este Sacerdote, dizem, cresse o que prega, portar-se-ia assim? Eis, pois, a honra do Clero manchada, o zelo dos bons Sacerdotes paralisado, a piedade destruída, os sacramentos abandonados ou profanados, a fé quase extinta em vastas regiões, milhares de almas perdidas em consequência dos escândalos dados por um Sacerdote e um Pastor de almas. (...) "Vae homini illi!" Ai daquele homem por quem vier o escândalo! Se, ó Deus, todo-poderoso, castigais de um modo tão terrível o escândalo dado a um só dos vossos filhos, que suplício reservais àquele que tiver escandalizado as multidões, e os povos?

E  o escândalo pode ser dado de de três maneiras diferentes: 1-  De intenção e perversidade; 2- De tibieza e de negligência; 3- De leviandade e de imprudência.

1º) Escândalo de intenção e de perversidade. - O homem do Santuário, que leva o esquecimento dos seus deveres até espalhar em volta de si um cheiro de morte, justifica de sobra a máxima: Corruptio optimi pessima = a corrupção do ótimo é péssima. Todavia, quando falamos do escândalo de intenção, não afirmamos que alguém perca as almas, pelo gosto de as perder. Este escândalo que é propriamente o de Satanás, só seria possível em um sacerdote que atingisse o último grau de perversidade. Mas, sem chegarmos a este ponto, sabe-se que certa palavra, certa ação, certo procedimento são capazes de ferir a consciência do próximo; vêem-se as consequências funestas, que de certo pecado podem resultar para a honra do Sacerdócio, e não se recua, comete-se. Este desgraçado Sacerdote ilude-se a si, para pecar livremente; abusa até da autoridade, do ascendente que lhe dá o seu estado, para abalar uma virtude, de que ele devia ser o amparo. (...)

2º) Escândalo de tibieza e negligência. - Este inspira menos horror que o primeiro; mas as consequências podem ser também deploráveis. Ai! e quão comum é ele! Se os costumes de um sacerdote não são um modelo, tornam-se um perigo; se não ensina a piedade com sua vida, inspira, autoriza, multiplica o vício. A vida do Sacerdote deve ser a censura não só das desordens públicas, mas ainda das falsas virtudes, que o mundo desejaria substituir às virtudes evangélicas. A sua separação de tudo o que é profano; sua modéstia, sua santidade devem recordar incessantemente aos seculares: que os verdadeiros cristãos são homens mortos para si mesmos, cuja vida está escondida com Jesus Cristo em Deus. Já conhecemos as exigências do mundo em matéria de santidade sacerdotal. Quer que o ministro de Deus seja um Anjo, isento de todo o defeito, adornado de todas as virtudes; se vê qualquer coisa de menos, admira-se, escandaliza-se. Se há exageração nas suas ideias neste ponto, esclareçamos os juízos do mundo, mas não os desprezemos. Relações com os seculares, funções desprezadas ou mal exercidas. Oh! quão numerosas são as ocasiões de escândalo, para um homem do Santuário, par um pastor de almas!


3º) Escândalo de leviandade e de imprudência.  É uma grande vitória para o inimigo das almas, se pode servir-se, para as perder, daqueles mesmos que Deus elegera para as salvar. Pouco lhe importa o modo como o auxiliam os ministros do Senhor; a leviandade e a imprudência servem-lhe quase tão eficazmente como o crime. Na realidade, a falta de prudência e de circunspeção nunca é inocente em um homem encarregado de interesses tão graves, e obrigado, por tantas leis, a uma vida que deve ser a mais séria e refletida. A um Sacerdote não se lhe admite, tão facilmente como a qualquer pessoa, a desculpa de que não pensava nisso; pois ninguém, tanto como ele, deve considerar atentamente o que diz e faz, quando, e em presença de quem o diz e o faz. Não basta que seja santo, é necessário que o mostre, e o mostre em tudo. Uma pergunta, uma palavra indiscreta, um gracejo, uma leviandade, em passo inconsiderado, têm sido muitas vezes semente de escândalo, desgraçadamente muito fecunda. Quantos eclesiásticos, em seu trato com o mundo, em suas viagens, mesmo no interior de sua casa, no meio das crianças e sobretudo no meio de pessoas de outro sexo etc. porque desprezam precauções que a malignidade tornou indispensáveis dão lugar a suspeitas, que ofendem a honra do Clero, e vêm a ser ocasião de ruína para as almas.  (O artigo são excertos das "MEDITAÇÕES SACERDOTAIS" de autoria do R. P. Chaignon, S J.). 

sábado, 20 de fevereiro de 2016

O ABUSO DAS GRAÇAS

LEITURA MEDITADA - Dia 20 de fevereiro


É algo terrível, crime geralmente castigado por Deus. Já tivemos oportunidade de fazer uma postagem sobre a parábola da figueira estéril. Abusar das graças significa desprezar a Deus até nos seus dons, na sua misericórdia. Consiste, pois, em inutilizar tudo quanto fez e padeceu Jesus Cristo pela nossa salvação.  Se Deus me fala como Senhor, o meu dever é obedecer-Lhe; mas, se me busca como Pai, para me oferecer os seus benefícios, não posso repeli-lo com desdém, sem O ofender vivamente. É um monstruoso crime porque significa que Deus estende-me bondosamente a mão, e eu não me digno nem sequer olhar pare Ele, meu Pai bondoso, e fecho os ouvidos ao seu convite, para me voltar para as criaturas, e só escutar a minha paixão. Que odiosa preferência! Que desprezo da sua bondade!. Caríssimos, abusando da graça,  eu destruo , com relação a mim, a magnífica obra da redenção. É o Sangue de Jesus Cristo que eu rejeito. Na verdade o que eu inutilizo é uma redenção comprada por tão alto preço. Como diz São Paulo: "Logo cessou o escândalo da cruz!" (Gál. V, 11).

Vemos pelas Sagradas Escrituras que já na vida presente, Deus subtrai a sua graça para castigar o abuso dela: castigo justo e terrível. Nada é mais claramente anunciado, mais vezes repetido nos nossos livros santos. "O meu povo não ouviu a minha voz: Israel não atendeu à minha palavra". Eis a graça desprezada. Ouvi agora o castigo: "Eu os abandonei, segundo os desejos de seu coração, e eles irão caminhando atrás das inclinações perversas" (Salmo 80, 12, 13). - "Andai, em quanto tendes luz, para que vos não alcancem as trevas" (S. João XII, 35. "Deus obcecou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração" (S. João XII, 40; citando Isaías, para que olhando, vejam e não reparem, e ouvindo, ouçam e não atendam, de sorte que não se convertam nem lhes sejam perdoados os pecados" (S. Marcos IV, 120. - "Declaro-vos que vos será tirado o reino de Deus (essas graças que deviam estabelecê-lo em vós, se lhe fôsseis fiéis), e será dado a um povo que o faça frutificar" (S. Mateus XXI, 43).  - "Vós rejeitais o dom celeste, diz S. Paulo aos judeus obstinados, nós vamos levá-lo aos gentios" (Atos XIII, 46).

A Bíblia Sagrada refere exemplos que mostram o castigo de Deus por causa do abuso das graças divinas. Heli, Saul, Judas Iscariotes, um pontífice que só parece culpado de uma excessiva condescendência para com seus filhos, um rei eleito pelo Senhor, um Apóstolo chamado por Jesus Cristo: são rejeitados, perdem a graça, porque eles mesmo a rejeitaram! Na verdade, é um castigo cheio de justiça. Jesus Cristo haveria de recompensar o insulto que lhe faz o homem infiel, continuando a oferecer-lhe sempre graças que ele rejeita sempre? Tira-se o reino; mas a quem? àquele que se torna indigno da coroa, e que a rejeita com desdém; não é isto o que pede a equidade e a razão?

Mas é um castigo terrível! A graça que se retira, é a luz, é a força que me abandona, é toda a virtude que desaparece. Como é terrível a censura que Santo Estevão faz aos judeus: "Vós resistis sempre ao Espírito Santo; assim como foram vossos pais. Mataram até os que prediziam a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas, vós, que recebestes a lei por ministério dos anjos e não a guardastes" (Atos VII, 51-53).

Caríssimos, terminemos com palavras do Divino Mestre que mostram o quão terrível é o desprezo das graças, inclusive com um castigo maior no dia do Juízo: "Então começou a exprobrar às cidades em que tinham sido operados muitos  dos seus milagres, o não terem feito penitência. Ai de ti Corozain! Ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidônia tivessem sido feitos os milagres que se realizaram em vós, há muito tempo que elas teriam feito penitência em cilício e em cinza. Por isso vos digo que haverá menor rigor para tiro e Sidônia no dia do Juízo, que para vós. E tu, Cafarnaum, "elevar-te-ás porventura até o céu? Não, há de ser abatida até o interior da terra". Se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que se fizeram em ti, ainda hoje existiria. Por isso vos digo que no dia do Juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma que para ti" (S. Mateus XI, 20-23).


Compreendo agora com que atenção devo doravante estudar os momentos favoráveis da graça, seguir todos os seus movimentos, receber todas a suas impressões com reconhecimento, e produzir frutos com fidelidade. Ó meu Deus, com a vossa graça, assim sinto resolvido a fazê-lo. Amém!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A PERDA DO TEMPO

LEITURA MEDITADA -  Dia 19 de fevereiro

O preço do tempo mede-se pelo que ele custou e pelos bens que pode alcançar. Perguntemos ao Calvário o que valem os dias e as horas, cuja perda tantas pessoas se não lembram de lamentar. O tempo não somente é uma graça; é a primeira , a mais necessária de todas as graças; é o fundamento em que assentam todas as graças. Por conseguinte, se não recebemos nenhuma graça que não nos represente um opróbrio de Jesus Cristo e uma  gota do seu Sangue, quanto não devemos estimar o tempo, se cada momento seu nos traz uma graça? Enquanto é tempo (e não entrei ainda na eternidade), tenho a graça da oração, e com ela posso obter todas as outras. Enquanto tenho vida, isto é, tempo, posso fazer uma confissão bem feita e recuperar o tempo perdido no pecado. Se perco os momentos da misericórdia perdendo tempo, máxime, se no pecado, estarei pisando o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo ao invés de me banhar nele. A misericórdia é fruto da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo; mas só é distribuída no tempo. Depois da morte serei julgado pela Justiça divina e darei contas a Deus até por uma palavra inútil, por ser perda de tempo, e, por conseguinte, desprezo da misericórdia.

A glória de Deus e a salvação, são os dois frutos do tempo bem empregado. E sob o ponto de vista da salvação, o tempo não é apreciado senão no Céu e no inferno. Qual é esse bem, que pode alcançar-me o bem supremo, e cuja perda traz a irreparável desgraça da condenação?

O vício capital da preguiça é uma das causas da perda de tempo. É a ociosidade, ou seja, o não fazer nada. Dizia um santo que, enquanto tem um demônio tentando uma pessoa ocupada em algum trabalho honesto tem muitos tentando uma pessoa desocupada. Assim, se perco o tempo, sem escrúpulos. entrego-me a todas as tentações, e a minha vida não é mais que uma desordem contínua. Diz a Sagrada Escritura: "A ociosidade ensina todos os vícios(=toda malícia) (Ecli. 33, 29). O demônio já não tem quase nada que fazer, para lançar nas mais vergonhosas desordens, àquele que está enervado pela moleza, e cuja alma está aberta a todas as más impressões. Davi, Salomão, Sansão foram homens santos enquanto estiveram ocupados e caíram quando estiveram ociosos. A água do regato é pura, enquanto corre ligeiramente pelo declive da colina; chegando à planície, apenas se detém estagnada, de límpida, torna-se paludosa, impura. Se remexeis, vereis inúmeros vermes. Assim acontece com o coração do ocioso.

Uma boa ocupação, podemos dizer, é o escudo do coração  e a ociosidade é uma cantina de vícios. A vigilância e o fervor são, no entanto, meios de reparar o tempo perdido, tanto quanto pode ser reparado.

Infelizmente é muito comum a perda de tempo. Perde-se tempo de quatro maneiras como veremos a seguir: 1 -  Já falamos um pouco sobre a ociosidade. É o doce (diria, amargo), não fazer nada! E veja que só isto já é suficiente para perder uma pessoa. Se me conservo inerte deixo de cumprir com o fim da minha existência, que é glorificar a Deus, servindo-O; torno-me servo inútil que é condenado, figueira estéril que é cortada e lançada ao fogo. De que me servirá não ser condenado pelo mal que fiz, se o sou pelo bem que devia fazer?

2 - Perde-se o tempo praticando o mal, pecando. Quando peco, converto os dons de Deus em armas contra Ele, empregando em ofendê-Lo o que devia empregar em servi-Lo. Caríssimos, eis um ponto de mui séria reflexão! Dado o último suspiro, acabado o último segundo de tempo, entrarei na eternidade, estarei diante do Juiz Supremo. Dir-me-á dá conta de tua administração. Que responderei, quando me recordar tantos momentos que trouxeram a possibilidade de tantos benefícios, e só retribui com ingratidão.

3 - Perde-se o tempo, não fazendo o que se deve fazer: Na verdade, todo o tempo que não empregamos no serviço de Deus, é tempo perdido, façamos seja o que for. Deus quer que façamos a Sua vontade, cumprindo os mandamentos e também os deveres de estado. Pode acontecer até que alguém esteja perdendo o tempo e, portanto desagradando a Deus, ao estar fazendo uma coisa boa, mas com prejuízo do dever de estado.  Por ex. uma mulher decide passar a manhã toda rezando na Igreja e deixa de cuidar de seus filhos e de fazer o almaço para seu esposo.

4 - Perde-se o tempo ainda, fazendo o que Deus quer, mas não se faz como Ele quer. Manda-nos o Senhor fazer o bem, e fazê-lo bem. A tibieza e a falta de reta intenção podem contaminar as obras mais excelentes em si mesmas.

Portanto, caríssimos, procuremos regular o tempo. Esse ponto é importante.  E recordemos sempre que a nossa vida é breve. O momento presente é o único que possuímos. "A lembrança do passado, dizia Saint-Beuve, rouba-nos metade do presente, e o cuidado do futuro rouba-nos a outra metade. Devemos ter muito cuidado em viver na graça de Deus, ou seja sem pecado mortal, e em purificar e aperfeiçoar nossas intenções. Fazer a oferta generosa de todo o nosso ser, logo de manhã, e um exame de consciência no fim do dia.

Quem tempo não espere tempo;
É forçoso do meu tempo já dar conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para ter minha conta feita a tempo,
Dado me foi tanto tempo, e não fiz conta.
Não quis, sobrando o tempo, fazer conta;
Quero hoje fazer conta e falta tempo.

Ah! vós, que tendes tempo, sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta.
Mas ah! se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta,
Não choravam como eu, em não ter tempo.

                                                                           Ignotus....

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A GULA

A GULA

LEITURA MEDITADA - Dia 18 de fevereiro

A gula é o gosto desordenado pelos prazeres no comer e no beber. Para a conservação da vida Deus mesmo quis que um prazer legítimo acompanhasse o comer e o beber. A desordem consiste em procurar o prazer do alimento, em si mesmo, considerando-o explícita ou implicitamente como um fim. Como diz São Paulo, os gulosos fazem do seu ventre um deus: "Quorum Deus venter est" (Filipenses, III, 19). Também caracteriza gula quem procura o alimento com excesso, sem respeitar as regras que dita a sobriedade, algumas vezes até com prejuízo da saúde. Quem é dominado por este vício capital, parece que não come para viver, mas, ao contrário, vive para comer.

Vamos detalhar mais esta questão para se precaver melhor contra este defeito muito mais danoso do que se pensa, e tanto para a salvação como para a saúde. De quatro maneiras  pode alguém pecar de gula: 1 - comer antes de sentir necessidade, fora das horas marcadas para as refeições, e isto sem motivo legítimo, mas só para sentir o prazer;  2 - buscar iguarias especiais ou preparadas com demasiado apuro, para gozar dela mais; 3 - ultrapassar os limites do apetite ou da necessidade, ou seja comer ou beber demais, prejudicando, além da alma, também a saúde do corpo. 4 - comer com avidez, com sofreguidão, como fazem certos animais. Ensina a medicina que se deve comer de vagar, mastigando de 20 a 30 vezes cada bocado.

Assim não é difícil averiguar como a gula escraviza a alma ao corpo; materializa o homem, enfraquece a sua vida intelectual e moral. Conduz ao prazer da volúpia, ou luxúria.

O piedoso autor do Livro da Imitação de Cristo diz: "Prouvera a Deus que fôssemos isentos dessas necessidades, e que não tivéssemos que pensar senão no alimento espiritual que, infelizmente, raras vezes saboreamos".

Ouçamos a Santo Agostinho: "Enquanto espero, ó meu Deus, que destruais os alimentos e o estômago que os consome, e que acalmeis o fome que me devora, saciando-me de Vós mesmo, e revestindo de perpétua incorruptibilidade este corpo corruptível: sinto-me obrigado a reparar dia a dia os estragos, por meio da bebida e da comida... Porque é forçoso que esta necessidade se haja de converter em prazer? Tenho o cuidado de o combater, para me não deixar dominar; mas, por mais que empregue o jejum, para reduzir o corpo à escravidão: o incômodo do jejum não acaba senão pelo prazer da refeição" ... "Vós mesmo, Senhor, é que me ensinastes a usar dos alimentos apenas como remédios. Mas, no espaço de tempo que emprego em passar do estado de fome àquele que a mitiga, arma-me a concupiscência nessa passagem uma cilada: porque essa mesma passagem é uma prazer; e eu não posso chegar por outro caminho àquele alívio que a necessidade me impõe... Nem chegamos a saber, muitas vezes, se é a necessidade do corpo que nos obriga a comer, ou se é o prazer que nos seduz; e a nossa alma é tão infeliz, que até gosta desta incerteza que é para ela uma desculpa sempre à mão: pois ela sente-se bem, por não saber onde estão os limites do que requer a saúde, afim de ter pretexto de satisfazer o seu prazer" (Livro das CONFISSÕES, L. X, c. XXXI).

O demônio empregou esta arma com tão bom êxito no Paraíso terrestre contra o primeiro Adão, que julgou devia começar por ela o combate que ousou travar com o novo Adão no deserto: "Aproximando-se dele o tentador, disse-Lhe: Se és o Filho de Deus, dize a estas pedras que se convertam em pães" (S. Mateus, IV, 3). É por meio desta  tentação ainda, que ele ataca as almas mais elevadas, e que as  faz cometer inumeráveis pecados veniais. São Paulo recomendava a sobriedade, ao mesmo discípulo cuja temperança tinha censurado em outra epístola, como excessiva. Trata-se do Bispo Timóteo: "É necessário que o bispo seja sóbrio...  (1 Tim. III, 2) e "Sê sóbrio" (2 Tim. IV, 5);  "Não continues a beber água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades".  Como se trata da Palavra de Deus, vê-se, que neste caso, ou seja, em pouca quantidade e como benefício à saúde, não só não é pecado, mas recomendável pelo Espírito Santo.

Caríssimos, na guerra que devemos fazer aos nossos vícios e principalmente ao da gula, recomenda-se-nos, antes de tudo, uma contínua vigilância. Se chegamos ao combate, sem o ter previsto, seremos fracos. Os sentidos dominaram a primeira parte da nossa vida, pois a infância por eles se rege em quase tudo; ficam por isso sempre prontos para recobrar o seu império. Enquanto o homem sensual sucumbe aos prazeres  do apetite e do gosto, o homem mortificado modera-se, espera antes de começar a comer. Vai para a mesa como o soldado para o combate, e começa a sua refeição com uma vitória, alcançada contra a sofreguidão. Na verdade, nas refeições devemos estar sempre alegres pensando na bondade de Nosso Pai do Céu. Abençoai, Senhor, a mesa deste lar, e na Mesa do céu, reservai-nos um lugar.

Devemos atender a saúde: sabendo por experiência e melhor ainda por indicação médica, que certo alimento é bom para a minha saúde, eu o tomo mesmo se não me é gostoso. E, se ao contrário, se me é muito gostoso, mas para a minha saúde não é bom, não o tomo. Duplo benefício, se oferecer isto como penitência por amor a Jesus.

Um bom conselho: No momento da tentação, oponhamos ao prazer que ela promete, o gozo que brevemente sentiremos de a ter vencido, a pena e as consequências que nos viriam da nossa fraqueza. Para avaliar a importância deste combate, lembremo-nos que não se trata somente de um ato passageiro, da iguaria que se come ou do copo que se bebe, mas de uma multidão de atos semelhantes, sobre os quais ele influirá. Se agora cedo, terei mais tarde menos energia para resistir; ao contrário, se venço, esta vitória me facilitará um grande número de outras. De uma abstinência ou de uma fraqueza passageira, pode depender uma larga série de bens ou de males, a liberdade ou a escravidão da minha alma.


Terminemos com São Vicente Ferrer: "Se por amor a Jesus Cristo, vos privais de tudo o que na comida serve só para agradar ao paladar, sem ser útil à saúde, não duvido que ele vos preparará a doçura das suas consolações, e que vos parecerão saborosos os alimentos frugais com que vos contentais, para lhe agradar". Amém!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A Baronesa Erikke Rosnoern-Lehn narra sua conversão (Inícios da 1ª década de 1900)


LEITURA MEDITADA - Dia 17 de fevereiro


NB: A narração mais extensa de sua conversão encontramos em seu livro: "MEU LIVRO DE PEREGRINAÇÕES".  Esta baronesa é da Dinamarca.

   "Nasci e me criei numa família protestante, sendo das 6 irmãs a caçula. Minha mãe, muito piedosa, ensinava religião aos filhos e deitou profundamente em minha alma o germe da religiosidade. Filha de diplomata, mamãe viveu em sua infância em Francfort sobre o Meno, sofrendo, inconscientemente, profunda influência das crianças suas companheiras de folguedos, entre as quais figurava o conde Carlos Loewestein, falecido, mais tarde na Ordem Dominicana com o nome de Frei Raimundo. Mamãe manteve correspondência com ele até à morte. Gravaram-se-lhe na memória, inesquecivelmente, as cerimônias do culto católico. Mas a vida separou-a completamente de todo catolicismo.
   Minha mãe só começou a leitura de livros católicos, quando uma de suas filhas casadas e o marido dela se converteram ao catolicismo. O bispo de Genebra, posteriormente cardeal Mermillod, administrou-lhes o batismo.
   Mamãe teve muito tempo para estudos na solidão rural do castelo Hvidkilde. O resultado de seus estudos foi ter reconhecido a Igreja católica como a igreja verdadeira de Jesus Cristo. Papai não contrariava propriamente o desejo de ela se tornar católica, mas estabeleceu a condição de ela esperar até que eu, menina de 10 anos, fosse confirmada. Subtraíram-me à influência religiosa da mamãe e me confiaram, antes da minha confirmação, aos cuidados de um pregador protestante, homem deveras bom e realmente piedoso. Ele e todos os amigos que conheciam as simpatias católicas de mamãe, faziam tudo para me fortificar na doutrina protestante. Não melhorou esta atmosfera quando, após a minha confirmação, na idade de 15 anos, mamãe e 2 irmãs minhas, mais velhas, se converteram ao catolicismo. Acreditando firmemente em todas as mentiras espalhadas contra essa Igreja, chorei a perda da mãe e das irmãs que, ao meu ver, se consagraram à idolatria e a todos os males possíveis. Assim sofremos ambas as partes, durante 10 anos. Nós nos amávamos uns aos outros; mas, apesar de tudo, estávamos separadas espiritualmente. Por fim, não suportando já o ambiente, deixei a pátria na primavera de 1898, com 26 anos. Procurei a Inglaterra para iniciar os estudos de antiguidade clássica.
   Comovia-me profundamente assistindo ao culto religioso da igreja anglicana. Impressionava-me também o fato de, na Inglaterra, ninguém temer os santos da Igreja Católica. Abalou-se, ao mesmo tempo, minha fé nos "santos" protestantes: Martinho Lutero e Adolfo da Suécia. Abria-me mais e mais ao pensamento de haver apenas uma Igreja, dedução que tirei de estudos históricos, principalmente dos livros do professor anglicano de Oxford, sr. Leighton Pullan, e da leitura das "Confissões de Santo Agostinho e das "Fioretti de São Francisco de Assis. Cedia, pouco a pouco, minha oposição à Igreja Católica, mas continuava acreditando que existia uma Igreja com diversas ramificações. Declarava-me anglicana e achava possível pertencer a uma igreja nacional, cuja nação não era a minha.
    Na qualidade de estudante da escola britânica de antiguidade passei o inverno de 1901-02 em Atenas. Participou dessa viagem à Grécia a fiel companheira de todas as minhas peregrinações, Sofia Holten, uma artista de grandes recursos. Partilhávamos nossa sorte de estudantes e também nossa evolução religiosa. Foi ela que me propôs mandar celebrar uma santa missa por minha mãe na Igreja Católica. Mas quando o amável sacerdote que eu tinha interpelado, me falou da sua intenção de rezar pela conversão da Dinamarca, senti-me ofendida e pensei: "Que petulância a desses católicos!"
   Visitando, porém, alguns meses mais tarde, o túmulo de São Nicolau em Barri, entreguei ao sacerdote uma moeda de ouro pedindo suas orações.
   Nossa etapa seguinte levou-nos a Áquila, onde fica o santuário de São Bernardino de Sena. Considerava este santo, na minha infância, um protestante de, pelo menos, 50 %, porque venerava e anunciava o nome de Jesus. Com grande interesse vi, na municipalidade, sua bela máscara mortuária com expressão bondosa e sublime. Pelo fim daquele dia visitei seu túmulo. Sofia Holten acompanhou o franciscano, que nos mostrava a igreja, para ver e apreciar melhor algumas obras de arte. Sozinha, ajoelhei junto do túmulo e pedi com grande unção que o bondoso Deus me fizesse santa como fez santo a "São Bernardino". Senti no mesmo instante e, à meia voz, o proferi: "Isso será um trabalho imenso!" Mas logo me envergonhei e, chorando, pedi perdão a Deus por minha preguiça.
   Rezei a noite toda a fim de me preparar dignamente para a visita ao túmulo de São Francisco de Assis. A metamorfose de nossas almas  que se realizou em Assis foi um milhagre da graça de tal grandiosidade que a eternidade não bastará para agradecer ao bondoso Deus e a São Francisco.
   De todos os fatos extraordinários, que me prendiam qual cadeia espiritual ou rede abençoada, devo mencionar ao menos um: a pobreza evangélica e o amor franciscano ao próximo!
   Apressadamente tive que voltar para casa em princípios de setembro por ter adoecido meu pai. Quando cheguei, após ter partido de países católicos, às regiôes protestantes da Alemanha, senti repentinamente a frieza e a desolação das igrejas espalhadas pela paisagem: nelas não havia sacramento! De regresso à pátria, pude, como nunca, trocar idéias com mamãe contando-lhe tudo quanto sucedeu em Assis; certamente ela adivinhou minhas simpatias pela Igreja Católica. Eu, no entanto, ainda não estava ciente disso. Os franciscanos rezavam durante a minha ausência no túmulo de São Francisco por mim, No dia da vigília da festa de São Francisco cheguei, novamente, à hora das solenes vésperas, a Assis. Foi uma volta ao lar no mais verídico sentido da palavra. Reconheci na manhã seguinte, enquanto cantavam na igreja do sepulcro do seráfico santo  a Missa Solene, toda a estupenda plenitude e a esplendorosa verdade da fé nas palavras do Credo: "Et unam , sanctam, catholicam e apostolicam Ecclesiam".
   O Pe. Custódio, Frei Francisco dall'Ollio, analisara comigo, durante o verão passado, em longas conversações, assuntos da fé católica. Faltava-me, porém, o derradeiro impulso da graça. Eis que chegara a hora.
   Era mais difícil para Sofia Holten tomar a resolução definitiva, sendo filha de um pastor protestante que, por sua vez, se filiava a uma grande geração de pregadores. O converter-se ao catolicismo se lhe afigurava uma quase condenação de sua família. Mas todas as dúvidas acabaram vencidas por sua convicção religiosa.
   Ambas fomos recebidas no seio da Igreja, junto ao túmulo de São Francisco de Assis, no dia 19 de novembro, festa de Santa Isabel, dia onomástico de minha mãe e aniversário de meu batismo.
   Graças a Deus por Sua bondade, eternamente!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A INVEJA

A INVEJA

"Por inveja do demônio entrou no mundo a morte, e experimentam-na os que são do partido dele" (Sab. II, 24 e 25)


O que é? É uma espécie de tristeza profunda que se experimenta à vista do bem que se observa nos outros. É filha do orgulho, porque quando um está convencido da própria superioridade, entristece-se, ao ver que outros são tão bem ou melhor dotados que ele, ou que ao menos alcançam maiores triunfos. O invejoso não gosta de ouvir louvar os outros; e então procura-se atenuar esses elogios, criticando os que são louvados.

Muitas vezes confunde-se a inveja com o ciúme. Mas há uma diferença, porque o ciúme é um amor excessivo do seu próprio bem, acompanhado do temor de que nos seja arrebatado por outros. Numa palavra podemos dizer: Tem-se inveja do bem de outrem; e tem-se ciúme do seu próprio bem.

Agora, existe uma coisa que parece inveja, mas não o é; até pode ser uma coisa boa e agradável a Deus: é o que chamamos de EMULAÇÃO. É ela um sentimento louvável que nos leva a imitar, igualar, e, até se possível for, a sobrepujar as qualidades dos outros, mas por meios leais, e, até apoiando-se na graça de Deus, leva-nos também a  igualar e até a sobrepujar as virtudes do próximo. Mas para ser uma coisa boa, ou seja uma emulação cristã, deve ser honesta no seu objeto, isto é, ter por objeto não os triunfos, senão as virtudes dos outros, para as imitar; deve ser nobre na sua intenção, não procurando triunfar dos outros, humilhá-los, dominá-los senão tornar-se melhor, se é possível, para que Deus seja mais honrado e a Igreja mais respeitada; deve ser também leal nos seus meios de ação, utilizando, para chegar a seus fins, não a intriga, a astúcia, ou qualquer outro processo ilícito, senão o esforço, o trabalho, o bom uso dos dons divinos.

Vejamos algumas passagens da Sagrada Escritura em que o Espírito Santo fala da inveja: "Por inveja do demônio entrou no mundo a morte, e experimentam-na os que são do partido dele" (Sab. II, 24 e 25). Por isso Jesus Cristo disse que: " O diabo é invejoso e homicida desde o início" ; "Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, dissimulações, invejas e toda sorte de detrações" (1 Pedro II, 1); "Não nos façamos ávidos da vanglória, provocando-nos uns aos outros e tendo inveja uns dos outros" (Gál. V, 26). "A caridade... não é invejosa" (1 Cor. XIII, 4).

Assim podemos apontar alguns frutos diretos da inveja: ódio, detrações, discórdias, murmurações, traições e embargos a obras de zelo.

Há na inveja uma baixa e louca malícia, que não se encontra nas outras paixões. Estas defendem-se com seus pretextos; têm em vista algum bem, ao menos aparente: o ambicioso quer honras, o avarento riquezas, o voluptuoso prazeres; tudo coisas que só são desordenadas pelo desregramento da vontade que as busca. Só a inveja não oferece nenhuma vantagem nem mesmo aparente; tudo nela é vergonha, sofrimento e perversidade.

Quem tem sentimentos elevados, o espírito reto, e principalmente um pouco de caridade, desejaria que todos os homens fossem felizes; aflige-se com os que o não são; alegra-se, quando sabe que as obras de Deus prosperam  através de outros.  Infelizmente, até entre aqueles que normalmente deveriam estar isentos da peste da inveja, são por ela contaminados. Vede os discípulos de João Batista: Vão ter com ele, e dizem-lhe: "Mestre, aquele de quem vós destes testemunho, também batiza, e todos vêm a ele!" E, caríssimos, eis o espírito reto e santo do Precursor: ... "Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante d'Ele".. "Convém que Ele cresça e que eu diminua" (S. João, III, 26, 28 e 30). Eis a maldade da inveja: VÃO TODOS TER COM ELE! Mas, que mal vedes nisto? Dizem-vos acaso que é um falso profeta, que a sua doutrina é perigosa, que a sua direção é capaz de transviar. Não, antes pelo contrário.  

São João Crisóstomo julga que os escravos desta paixão são piores que os mesmos demônios; porque, diz o santo, perseguindo aos homens encarniçadamente, esses espíritos malfazejos poupam os outros demônios; ao passo que o homem invejoso se lança contra os seus semelhantes, e contra os que ele mais deveria amar.

O próprio Espírito Santo na Sagrada Escritura mostra exemplos dos estragos desta paixão: Ela matou Abel; os irmãos de José (do Egito), pela inveja,  desejam matá-lo, e  vendem-no  aos estrangeiros; a inveja lançou o profeta Daniel na cova dos leões; e foi também a inveja que crucificou a Nosso Senhor Jesus Cristo. É este vício que tem causado a maior parte dos cismas e das heresias. Simão Mago inveja aos Apóstolos o dom de comunicar o Espírito Santo; Tertuliano não pode tolerar que outrem lhe seja preferido, para o episcopado; Novaciano não é elevado à sede de Roma, como ele esperava; Lutero não é eleito para pregar as indulgências: e daí  que resultou? Todos o sabem.

Muito tempo antes destes terríveis triunfos da inveja, tinha ela transformado Anjos em demônios. Ela tinha introduzido a morte no mundo, introduzindo nele o pecado. Que lágrimas tem feito derramar à Igreja, dividindo entre si os seus ministros, que deviam proteger-se uns aos outros, e que algumas vezes se têm despedaçado mutuamente, com grande escândalo das almas, e proveito do inferno!

E, no entanto, vício tão terrível, tão horroroso, tão maligno e diabólico é muito comum. Ninguém se admirará muito por descobrir o seu germe em tantos corações, se se considerar que não há paixão mais universal que a soberba, e que a primeira filha da soberba, é a vanglória, da qual nasce logo a inveja. Vejam como isto, infelizmente é verdade: Até depois da descida do Espírito Santo, num Clero tão puro e tão fervoroso, São Paulo acha invejosos: "É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja..." (Fil. I, 15). Ah! caríssimos, se esta miserável paixão ousou manifestar-se num tempo em que o martírio era a recompensa ordinária do ministério sacerdotal; quem se admirará de que ela se haja introduzido até entre nós, clérigos e leigos?


Caríssimos, quando formos comungar, isto é, receber o Deus de toda misericórdia, de toda humildade, supliquemos-Lhe que preserve a nossa alma de um paixão tão diabólica. Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dê um espírito de paz, de caridade de união para unidos procurarmos sempre e unicamente a maior glória de Deus. Amém!

A INVEJA

A INVEJA

LEITURA MEDITADA - Dia 17 de fevereiro


A inveja é, ao mesmo tempo, paixão e pecado capital. Vamos, aqui , falar dela mais como paixão.

O que é? É uma espécie de tristeza profunda que se experimenta à vista do bem que se observa nos outros. É filha do orgulho, porque quando um está convencido da própria superioridade, entristece-se, ao ver que outros são tão bem ou melhor dotados que ele, ou que ao menos alcançam maiores triunfos. O invejoso não gosta de ouvir louvar os outros; e então procura-se atenuar esses elogios, criticando os que são louvados.

Muitas vezes confunde-se a inveja com o ciúme. Mas há uma diferença, porque o ciúme é um amor excessivo do seu próprio bem, acompanhado do temor de que nos seja arrebatado por outros. Numa palavra podemos dizer: Tem-se inveja do bem de outrem; e tem-se ciúme do seu próprio bem.

Agora, existe uma coisa que parece inveja, mas não o é; até pode ser uma coisa boa e agradável a Deus: é o que chamamos de EMULAÇÃO. É ela um sentimento louvável que nos leva a imitar, igualar, e, até se possível for, a sobrepujar as qualidades dos outros, mas por meios leais, e, até apoiando-se na graça de Deus, leva-nos também a  igualar e até a sobrepujar as virtudes do próximo. Mas para ser uma coisa boa, ou seja uma emulação cristã, deve ser honesta no seu objeto, isto é, ter por objeto não os triunfos, senão as virtudes dos outros, para as imitar; deve ser nobre na sua intenção, não procurando triunfar dos outros, humilhá-los, dominá-los senão tornar-se melhor, se é possível, para que Deus seja mais honrado e a Igreja mais respeitada; deve ser também leal nos seus meios de ação, utilizando, para chegar a seus fins, não a intriga, a astúcia, ou qualquer outro processo ilícito, senão o esforço, o trabalho, o bom uso dos dons divinos.

Vejamos algumas passagens da Sagrada Escritura em que o Espírito Santo fala da inveja: "Por inveja do demônio entrou no mundo a morte, e experimentam-na os que são do partido dele" (Sab. II, 24 e 25). Por isso Jesus Cristo disse que: " O diabo é invejoso e homicida desde o início"; "Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, dissimulações, invejas e toda sorte de detrações" (1 Pedro II, 1); "Não nos façamos ávidos da vanglória, provocando-nos uns aos outros e tendo inveja uns dos outros" (Gál. V, 26). "A caridade... não é invejosa" (1 Cor. XIII, 4).

Assim podemos apontar alguns frutos diretos da inveja: ódio, detrações, discórdias, murmurações, traições e embargos a obras de zelo.

Há na inveja uma baixa e louca malícia, que não se encontra nas outras paixões. Estas defendem-se com seus pretextos; têm em vista algum bem, ao menos aparente: o ambicioso quer honras, o avarento riquezas, o voluptuoso prazeres; tudo coisas que só são desordenadas pelo desregramento da vontade que as busca. só a inveja não oferece nenhuma vantagem nem mesmo aparente; tudo nela é vergonha, sofrimento e perversidade.

Quem tem sentimentos elevados, o espírito reto, e principalmente um pouco de caridade, desejaria que todos os homens fossem felizes; aflige-se com os que o não são; alegra-se, quando sabe que as obras de Deus prosperam  através de outros.  Infelizmente, até entre aqueles que normalmente deveriam estar isentos da peste da inveja, são por ela contaminados. Vede os discípulos de João Batista: Vão ter com ele, e dizem-lhe: "Mestre, aquele de quem vós destes testemunho, também batiza, e todos vêm a ele!" E, caríssimos, eis o espírito reto e santo do Precursor: ... "Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante d'Ele".. "Convém que Ele cresça e que eu diminua" (S. João, III, 26, 28 e 30). Eis a maldade da inveja: VÃO TODOS TER COM ELE! Mas, que mal vedes nisto? Dizem-vos acaso que é um falso profeta, que a sua doutrina é perigosa, que a sua direção é capaz de transviar. Não, antes pelo contrário.  

São João Crisóstomo julga que os escravos desta paixão são piores que os mesmos demônios; porque, diz o santo, perseguindo aos homens encarniçadamente, esses espíritos malfazejos poupam os outros demônios; ao passo que o homem invejoso se lança contra os seus semelhantes, e contra os que ele mais deveria amar.

O próprio Espírito Santo na Sagrada Escritura mostra exemplos dos estragos desta paixão: Ela matou Abel; os irmãos de José (do Egito), pela inveja,  desejam matá-lo, e  vendem-no  aos estrangeiros; a inveja lançou o profeta Daniel na cova dos leões; e a inveja também crucificou a Nosso Senhor Jesus Cristo. É este vício que tem causado a maior parte dos cismas e das heresias. Simão Mago inveja aos Apóstolos o dom de comunicar o Espírito Santo; Tertuliano não pode tolerar que outrem lhe seja preferido, para o episcopado; Novaciano não é elevado à sede de Roma, como ele esperava; Lutero não é eleito para pregar as indulgências: e daí  que resultou? Todos o sabem.

Muito tempo antes destes terríveis triunfos da inveja, tinha ela transformado Anjos em demônios. Ela tinha introduzido a morte no mundo, introduzindo nele o pecado. Que lágrimas tem feito derramar à Igreja, dividindo entre si os seus ministros, que deviam proteger-se uns aos outros, e que algumas vezes se têm despedaçado mutuamente, com grande escândalo das almas, e proveito do inferno!

E, no entanto, vício tão terrível, tão horroroso, tão maligno e diabólico é muito comum. Ninguém se admirará muito por descobrir o seu germe em tantos corações, se se considerar que não há paixão mais universal que a soberba, e que a primeira filha da soberba, é a vanglória, da qual nasce logo a inveja. Vejam como isto, infelizmente é verdade: Até depois da descida do Espírito Santo, num Clero tão puro e tão fervoroso, São Paulo acha invejosos: "É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja..." (Fil. I, 15). Ah! caríssimos, se esta miserável paixão ousou manifestar-se num tempo em que o martírio era a recompensa ordinária do ministério sacerdotal; quem se admirará de que ela se haja introduzido até entre nós, clérigos e leigos?


Caríssimos, quando formos comungar, isto é, receber o Deus de toda misericórdia, de toda humildade, supliquemos-Lhe que preserve a nossa alma de um paixão tão diabólica. Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dê um espírito de paz, de caridade de união para unidos procurarmos sempre e unicamente a maior glória de Deus. Amém!

domingo, 14 de fevereiro de 2016

A SOBERBA

Leitura medita - Dia 14 de fevereiro

Diz a Sagrada Escritura: "A soberba é o princípio de todo pecado" (Eclesiástico X, 15) e no versículo 7 diz também o Espírito Santo: "A soberba é aborrecida por Deus e pelos homens". Santo Agostinho dá esta razão: Este vício ataca a Deus mais direta e audazmente que qualquer outro. Este vício capital é a negação dos atributos mais essenciais da divindade. Como já tivemos ocasião de meditar, o pecado é uma rebelião contra Deus: "Não servirei". Pois bem, esta rebelião vem da soberba. Na verdade o homem peca levado por duas coisas: evitar algum desgosto, ou buscar algum prazer. E, então, o pecador sempre se prefere a Deus. Para o soberbo Deus não é já o Princípio e o Fim como diz o Espírito Santo no Apocalipse I, 17. Para o pecador dominado pela soberba, Deus não é já o supremo Senhor de todas as coisas. Com efeito ele se gloria de suas vantagens reais ou fictícias, como se a si só as devesse. Debalde ouve São Paulo dizer: "Que tens tu que , que não recebestes? E, se recebestes, porque te glorias , como  se não o tiveras recebido? (1 Cor. IV, 7). Um soberbo, longe de referir a Deus e à honra de Deus o que é, o que diz e o que faz: refere tudo à sua própria glória, e só quer louvor para si; e por isso Deus  não é já para ele o fim último, a que tudo deve referi-se.

Um soberbo afeta independência, olha como próprios os bens de que é apenas o depositário; e assim Deus não é já, para ele, o Senhor dos senhores, a quem tudo pertence.

Grandíssimos são os males que nos causa o vício da soberba, e, assim, temos razões particulares para a aborrecermos:

 1 - PRIVAÇÃO DE GRAÇAS: "Deus dá sua graça aos humildes e rejeito os soberbos" (1 Pedr. V, 5) . A oração é o canal ordinário por onde as graças nos vêm. Deus é rico, mas para aqueles que o invocam. Um soberbo ora pouco, e, pior, ora mal; como há de ele poder participar abundantemente dos dons divinos?

O soberbo ora pouco porque nem sente necessidade de orar. Enfatuado com o que é, ou com o que julga ser: que há de ele pedir? Além disto, orar é confessar a sua miséria, é reconhecer a sua dependência, a sua fraqueza, o seu nada diante de Deus, é humilhar-se; e não há coisa mais contrária às inclinações do soberbo.

O soberbo ora mal porque o recolhimento de espírito é indispensável para a boa oração;; mas, qual o meio de o obter, se a alma não está tranquila? Buscar a tranquilidade em um coração soberbo, é buscar o sossego no meio da tempestade.

2 - MERECIMENTOS PERDIDOS:  Que fruto tirará o soberbo, por exemplo, das orações e ações mais santas, como jejuns, esmolas, etc. se  o orgulho é o seu motivo determinante. Os fariseus faziam longas orações e rigorosos jejuns, pagavam o dízimo com regularidade e levavam até ao escrúpulo a observância da lei; e todavia, Jesus Cristo amaldiçoa-os. O soberbo lida e trabalha muito, e, no entanto, diante de Deus é um servo inútil!

3 - RUÍNA DE TODAS AS VIRTUDES: A fé é o fundamento delas; mas é na humildade que a fé se firma. Quererá um espírito presunçoso respeitar a venerável obscuridade dos nossos mistérios? Bem sabemos como "se desvaneceram em seus pensamentos" (Rom. I, 21). Ao menos, sem humildade, ninguém terá jamais aquela fé viva, e aqueles dons do conselho e da sabedoria. Na verdade, nenhuma virtude é possível com a soberba: nem a paciência, nem a mansidão, nem a abnegação , nem a boa harmonia com os próximos. Se a caridade é um vínculo que une, a soberba é o mais ativo de todos os dissolventes. É o que diz o Espírito Santo: "Entre os soberbos há sempre contendas" (Prov. XIII, 10). A própria castidade não tem inimigo mais temível: a soberba da carne quase sempre vai atrás da soberba do espírito. A paixão da vanglória, é o fogo onde se acendem todas as paixões.

4 -  CASTIGOS E DESGRAÇAS: Deus diz: "Eu não darei a outro a minha glória" (Isaías 42, 8). É por isso que Deus RESISTE aos soberbos, porque estes procuram roubar a glória de Deus. Vejam, Deus não diz eu lhes retiro a minha graça e proteção; muito mais do que isto: resiste-lhes,isto é, combate-os. E, como entra no plano divino, que pelas coisas em que alguém peca, por essas seja também atormentado, como diz o próprio Espírito Santo: "Para que soubessem que cada um é punido com o instrumento do seu próprio pecado" (Sab. XI, 17): quanto mais ávido de glória é o soberbo, mais oprimido será de humilhações. Quer ser exaltado, será humilhado. Sempre algum Mardoqueu se encontra na passagem de um Aman, a transformar o seu triunfo em desesperação.

Mas para estes casos ainda há misericórdia. Mais terríveis são os castigos eternos. São Gregório tem uma frase que nos faz tremer: "A soberba é o sinal mais evidente de reprovação". É óbvio também que esta afirmação só é verdadeira para aqueles que são dominados por este vício, e não querem e nem se esforçam por combatê-lo até o fim da vida.

Vício tão perigoso este, e no entanto, quão sujeitos estamos a ele! Trazemos o seu germe ao nascer. Nenhum outro vício sabe melhor dissimular-se, tomar até as aparências da virtude.

Esta paixão acha por toda a parte o seu alimento; fortifica-se muitas vezes com aquilo que enfraquece as outras. Por exemplo: a mortificação refreia a sensualidade; piedosos donativos destroem a avareza; um trabalho regular doma a preguiça; mas tudo isto, se não houver cautela, pode tornar-se em proveito da soberba. Ela até das suas próprias derrotas sabe tirar partido. Por exemplo, tendes alcançado sobre ela alguma vitória? Vem felicitar-vos por isto, e talvez tirar-vos os frutos dessa vitória.

A soberba ataca de preferência o que há de mais elevado na ordem da graça e da santidade. Se adiantais na virtude, diz S. Euquério, é uma razão para vos precatardes da vaidade. Por isso, que não fez o Salvador para preservar deste vício até os seus Apóstolos e os seus ministros?

Mas, então, como devemos combater a soberba? Tudo é falso neste vício; daí oponhamos-lhe a verdade. Reine a verdade nos nossos pensamentos e afetos, e a vaidade não entrará no nosso espírito e coração. Conheçamos a Deus, conheçamo-nos a nós mesmos; daremos a honra a quem é devida, e desprezaremos o que é digno de desprezo. Estudemos o nosso corpo, o que ele é, e o que será brevemente; a nossa inteligência e as suas trevas, a nossa imaginação e os seus extravios, a nossa vontade e as suas más inclinações. Consultemos a nossa consciência, as nossas quedas e os nossos perigos. Meditemos nos opróbrios de Jesus Cristo, a loucura da nossa soberba, e, principalmente, oremos.


 JESUS, MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO! FAZEI O MEU CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO!