quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A Baronesa Erikke Rosnoern-Lehn narra sua conversão (Inícios da 1ª década de 1900)


LEITURA MEDITADA - Dia 17 de fevereiro


NB: A narração mais extensa de sua conversão encontramos em seu livro: "MEU LIVRO DE PEREGRINAÇÕES".  Esta baronesa é da Dinamarca.

   "Nasci e me criei numa família protestante, sendo das 6 irmãs a caçula. Minha mãe, muito piedosa, ensinava religião aos filhos e deitou profundamente em minha alma o germe da religiosidade. Filha de diplomata, mamãe viveu em sua infância em Francfort sobre o Meno, sofrendo, inconscientemente, profunda influência das crianças suas companheiras de folguedos, entre as quais figurava o conde Carlos Loewestein, falecido, mais tarde na Ordem Dominicana com o nome de Frei Raimundo. Mamãe manteve correspondência com ele até à morte. Gravaram-se-lhe na memória, inesquecivelmente, as cerimônias do culto católico. Mas a vida separou-a completamente de todo catolicismo.
   Minha mãe só começou a leitura de livros católicos, quando uma de suas filhas casadas e o marido dela se converteram ao catolicismo. O bispo de Genebra, posteriormente cardeal Mermillod, administrou-lhes o batismo.
   Mamãe teve muito tempo para estudos na solidão rural do castelo Hvidkilde. O resultado de seus estudos foi ter reconhecido a Igreja católica como a igreja verdadeira de Jesus Cristo. Papai não contrariava propriamente o desejo de ela se tornar católica, mas estabeleceu a condição de ela esperar até que eu, menina de 10 anos, fosse confirmada. Subtraíram-me à influência religiosa da mamãe e me confiaram, antes da minha confirmação, aos cuidados de um pregador protestante, homem deveras bom e realmente piedoso. Ele e todos os amigos que conheciam as simpatias católicas de mamãe, faziam tudo para me fortificar na doutrina protestante. Não melhorou esta atmosfera quando, após a minha confirmação, na idade de 15 anos, mamãe e 2 irmãs minhas, mais velhas, se converteram ao catolicismo. Acreditando firmemente em todas as mentiras espalhadas contra essa Igreja, chorei a perda da mãe e das irmãs que, ao meu ver, se consagraram à idolatria e a todos os males possíveis. Assim sofremos ambas as partes, durante 10 anos. Nós nos amávamos uns aos outros; mas, apesar de tudo, estávamos separadas espiritualmente. Por fim, não suportando já o ambiente, deixei a pátria na primavera de 1898, com 26 anos. Procurei a Inglaterra para iniciar os estudos de antiguidade clássica.
   Comovia-me profundamente assistindo ao culto religioso da igreja anglicana. Impressionava-me também o fato de, na Inglaterra, ninguém temer os santos da Igreja Católica. Abalou-se, ao mesmo tempo, minha fé nos "santos" protestantes: Martinho Lutero e Adolfo da Suécia. Abria-me mais e mais ao pensamento de haver apenas uma Igreja, dedução que tirei de estudos históricos, principalmente dos livros do professor anglicano de Oxford, sr. Leighton Pullan, e da leitura das "Confissões de Santo Agostinho e das "Fioretti de São Francisco de Assis. Cedia, pouco a pouco, minha oposição à Igreja Católica, mas continuava acreditando que existia uma Igreja com diversas ramificações. Declarava-me anglicana e achava possível pertencer a uma igreja nacional, cuja nação não era a minha.
    Na qualidade de estudante da escola britânica de antiguidade passei o inverno de 1901-02 em Atenas. Participou dessa viagem à Grécia a fiel companheira de todas as minhas peregrinações, Sofia Holten, uma artista de grandes recursos. Partilhávamos nossa sorte de estudantes e também nossa evolução religiosa. Foi ela que me propôs mandar celebrar uma santa missa por minha mãe na Igreja Católica. Mas quando o amável sacerdote que eu tinha interpelado, me falou da sua intenção de rezar pela conversão da Dinamarca, senti-me ofendida e pensei: "Que petulância a desses católicos!"
   Visitando, porém, alguns meses mais tarde, o túmulo de São Nicolau em Barri, entreguei ao sacerdote uma moeda de ouro pedindo suas orações.
   Nossa etapa seguinte levou-nos a Áquila, onde fica o santuário de São Bernardino de Sena. Considerava este santo, na minha infância, um protestante de, pelo menos, 50 %, porque venerava e anunciava o nome de Jesus. Com grande interesse vi, na municipalidade, sua bela máscara mortuária com expressão bondosa e sublime. Pelo fim daquele dia visitei seu túmulo. Sofia Holten acompanhou o franciscano, que nos mostrava a igreja, para ver e apreciar melhor algumas obras de arte. Sozinha, ajoelhei junto do túmulo e pedi com grande unção que o bondoso Deus me fizesse santa como fez santo a "São Bernardino". Senti no mesmo instante e, à meia voz, o proferi: "Isso será um trabalho imenso!" Mas logo me envergonhei e, chorando, pedi perdão a Deus por minha preguiça.
   Rezei a noite toda a fim de me preparar dignamente para a visita ao túmulo de São Francisco de Assis. A metamorfose de nossas almas  que se realizou em Assis foi um milhagre da graça de tal grandiosidade que a eternidade não bastará para agradecer ao bondoso Deus e a São Francisco.
   De todos os fatos extraordinários, que me prendiam qual cadeia espiritual ou rede abençoada, devo mencionar ao menos um: a pobreza evangélica e o amor franciscano ao próximo!
   Apressadamente tive que voltar para casa em princípios de setembro por ter adoecido meu pai. Quando cheguei, após ter partido de países católicos, às regiôes protestantes da Alemanha, senti repentinamente a frieza e a desolação das igrejas espalhadas pela paisagem: nelas não havia sacramento! De regresso à pátria, pude, como nunca, trocar idéias com mamãe contando-lhe tudo quanto sucedeu em Assis; certamente ela adivinhou minhas simpatias pela Igreja Católica. Eu, no entanto, ainda não estava ciente disso. Os franciscanos rezavam durante a minha ausência no túmulo de São Francisco por mim, No dia da vigília da festa de São Francisco cheguei, novamente, à hora das solenes vésperas, a Assis. Foi uma volta ao lar no mais verídico sentido da palavra. Reconheci na manhã seguinte, enquanto cantavam na igreja do sepulcro do seráfico santo  a Missa Solene, toda a estupenda plenitude e a esplendorosa verdade da fé nas palavras do Credo: "Et unam , sanctam, catholicam e apostolicam Ecclesiam".
   O Pe. Custódio, Frei Francisco dall'Ollio, analisara comigo, durante o verão passado, em longas conversações, assuntos da fé católica. Faltava-me, porém, o derradeiro impulso da graça. Eis que chegara a hora.
   Era mais difícil para Sofia Holten tomar a resolução definitiva, sendo filha de um pastor protestante que, por sua vez, se filiava a uma grande geração de pregadores. O converter-se ao catolicismo se lhe afigurava uma quase condenação de sua família. Mas todas as dúvidas acabaram vencidas por sua convicção religiosa.
   Ambas fomos recebidas no seio da Igreja, junto ao túmulo de São Francisco de Assis, no dia 19 de novembro, festa de Santa Isabel, dia onomástico de minha mãe e aniversário de meu batismo.
   Graças a Deus por Sua bondade, eternamente!

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