quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

S. JOÃO BOSCO

  A CONQUISTA DA JUVENTUDE


                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*

No século XIX, um menino pobre, órfão de pai aos dois anos, que recebeu uma forte educação humana e cristã de sua mãe, Margarida, mulher simples, sem estudos, mas de muita fé, tornou-se o maior educador daquele século e modelo de todos os educadores. Estamos falando do grande São João Bosco, cuja festa celebraremos dia 31, com os seus filhos salesianos.
            Estamos em Turim, Itália, na época do começo da industrialização, com o problema decorrente da imigração juvenil. Inundada de jovens procurando emprego, que nem sempre conseguiam, essa cidade oferecia ocasião para muitas desordens e perigos para essa juventude. É nesse contexto que entra em ação o Padre João Bosco, Dom Bosco, como se chamam os padres na Itália, como hábil organizador de iniciativas, implantando um fantástico sistema educacional que mais tarde se chamaria “sistema preventivo”, fundado na razão, na religião e na amabilidade. E assim ele conquistou a juventude.
            Seu sistema de educação consistia em prevenir as quedas, em tirar os jovens das ocasiões de pecado. Vigilância, palavrinha de conselho ao ouvido de cada um, compreensão, amabilidade e amor no trato com os jovens, vida pessoal de oração e uso dos sacramentos da Igreja, eram os seus instrumentos didáticos e pedagógicos. E todos o amavam e procuravam imitar. Não seria esse o melhor método para educar a nossa juventude tão desnorteada hoje?!
            Enfrentando ataques violentos dos anticlericais, ele implantou o oratório festivo de Valdocco, enriqueceu-o de laboratórios artesanais e profissionais, com escolas de artes e ofícios para jovens trabalhadores e com escolas humanísticas para os jovens encaminhados ao sacerdócio. Em pouco tempo, já havia oitocentos jovens, provenientes das camadas populares da Itália. E sua obra se espalhou por todo o mundo.
            Para assegurar o futuro de sua obra, fundou a Pia Sociedade de São Francisco de Sales, os Salesianos, e, com a ajuda da Irmã Maria Mazzarello, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, das quais temos ilustres representantes em nossa cidade, dedicados à educação dos jovens. A eles e a elas a nossa homenagem e imensa gratidão.
            São João Bosco foi considerado o novo São Vicente de Paulo, pela sua dedicação aos mais carentes. Foi grande escritor de livros populares, sobretudo para os jovens.
            Esse grande apóstolo da juventude, exemplo para todos os educadores, faleceu santamente em 31 de janeiro de 1888. Foi proclamado pelo Papa João Paulo II “pai e mestre dos jovens”. Que São João Bosco proteja a nossa juventude!

                                                                  *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

SÃO SEBASTIÃO

      SÃO SEBASTIÃO

                                                                                                                                        Dom Fernando Arêas Rifan*
            No próximo dia 20, celebraremos a solenidade do glorioso mártir São Sebastião, padroeiro da Cidade maravilhosa e do nosso Estado do Rio de Janeiro.
          Segundo nos explica Dom Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, ele nasceu em Narbona, uma cidade ao Sul da França, no século III. Era filho de uma família ilustre. Ficou órfão do pai ainda menino, e então, foi levado para Milão por sua mãe, onde passou os primeiros anos da infância e juventude.
          A mãe educou-o com esmero e muito zelo. Ele ingressou no exército imperial, e, por sua cultura e grande capacidade atingiu os mais altos graus da hierarquia militar, chegando a ocupar o posto de Comandante do Primeiro Tribunal da Guarda Pretoriana durante o reinado de Diocleciano, um dos mais severos imperadores romanos, perseguidor dos cristãos.
          Foi denunciado ao Imperador como sendo cristão. Mesmo sendo um bom soldado romano, suas atitudes demonstravam sua fé cristã, e, diante de todos, confessou bravamente sua convicção. Foi acusado, então, de traição. Na época, o imperador tinha abolido os direitos civis dos cristãos. Por não aceitar renunciar a Cristo, São Sebastião foi condenado à morte, sendo amarrado a um tronco de árvore e flechado. Porém, não morreu ali. Foi encontrado vivo por uma mulher cristã piedosa que tinha vindo buscar o seu corpo. Diante do ocorrido, recuperada a saúde, apresentou-se diante do Imperador e reafirmou sua convicção cristã. E nova sentença de morte veio sobre ele: foi condenado ao martírio no Circo. Sebastião foi executado, então, com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte e jogado nos esgotos perto do Arco de Constantino. Era 20 de janeiro.
          Seu corpo foi resgatado e levado para as catacumbas romanas com grande honra e piedade. Sua fama se espalhou rapidamente. Suas relíquias repousam sobre a Basílica de São Sebastião, na via Apia, em Roma. O Papa Caio escolheu-o como defensor da Igreja e da fé.
          Nesses tempos de grande negação da fé e de valores espirituais e religiosos, humanos e sociais, São Sebastião torna-se um grande modelo de ajuda para nós hoje, principalmente aos jovens, envoltos em grande confusão moral e espiritual. Ele é um sinal de fidelidade a Cristo mesmo com as pressões contrárias. Dessa forma, ele continua anunciando Jesus Cristo, por quem viveu, até os dias de hoje. Ele nos ensina a não desanimarmos com as flechadas que recebemos e a continuarmos firmes na fé.
          Um mártir não deve ser um estranho para nós. Ainda em pleno século XXI encontramos irmãos e irmãs nossas que são mortos em tantos países, outros têm ainda seus direitos civis cassados por serem cristãos, outros são condenados à prisão ou à morte por aderirem ao Cristianismo, e ainda são expulsos de suas cidades e suas igrejas queimadas. Além disso, muitos são martirizados em sua fama, em sua honra e tantas outras maneiras modernas de “matar” pessoas por causa da fé ou de suas convicções cristãs.



                                                             *Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
                                                                                      http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

NOSSOS PADROEIROS

NOSSOS PADROEIROS


                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*

            Neste mês de janeiro, celebramos vários santos padroeiros, que, ao mesmo tempo que nossos intercessores junto de Deus, são exemplo de vida cristã e heroicidade nas virtudes.
Dia 15, celebramos Santo Amaro, cuja devoção é muito cultivada aqui em nossa região, explicada pela presença dos monges beneditinos que foram os valorosos missionários da zona rural de Campos dos Goytacazes, em cujo município se situa o célebre Mosteiro de São Bento, em Mussurepe.
Santo Amaro, ou São Mauro, foi monge e abade beneditino, ou seja, da Ordem de São Bento. Nascido em Roma, de família senatorial, Amaro, quando tinha apenas doze anos, foi entregue no mosteiro por seu pai, Egrico, homem ilustre pela virtude e pela nobreza do nascimento, confiando-o aos cuidados de São Bento, em 522.
Correspondeu tão bem à afeição e à solicitude do mestre, que foi em breve proposto como modelo aos outros religiosos. São Gregório exaltou-o por se ter distinguido no amor da oração e do silêncio. Sempre se lhe notou profunda humildade e admirável simplicidade de coração. Mas nele sobressaía a virtude da obediência, sendo por isso recompensado por Deus, com um milagre, quando, para obedecer, foi salvar um irmão que estava se afogando e caminhou sobre as águas.
Possa o exemplo de Santo Amaro levar os filhos a serem mais obedientes aos seus pais, os alunos aos seus mestres, os cidadãos às leis e superiores civis, os católicos aos seus superiores hierárquicos. “Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5, 21).
Dia 20, festejaremos São Sebastião, padroeiro da Cidade maravilhosa e, por ser o patrono da capital, é também protetor do nosso Estado do Rio de Janeiro.
Foi soldado do exército imperial, chegando a ocupar o posto de Comandante do Primeiro Tribunal da Guarda Pretoriana durante o reinado de Diocleciano, um dos mais severos imperadores romanos, perseguidor dos cristãos.
Mesmo sendo bom soldado romano, suas atitudes demonstravam sua fé cristã, e, sendo interrogado, confessou bravamente sua convicção. Por não aceitar renunciar a Cristo, São Sebastião foi condenado à morte, sendo amarrado a um tronco de árvore e flechado. Porém, não morreu ali. Foi encontrado vivo por uma mulher cristã piedosa que tinha vindo buscar o seu corpo. Recuperada a saúde, apresentou-se diante do Imperador e reafirmou sua convicção cristã. E nova sentença de morte veio sobre ele: foi condenado ao martírio no Circo. Sebastião foi executado, então, com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte e jogado nos esgotos perto do Arco de Constantino. Era 20 de janeiro.
            E dia 25, celebraremos a conversão de São Paulo, que, de perseguidor ferrenho dos cristãos, tornou-se o grande Apóstolo, que trabalhou na conversão dos pagãos, tornando-se, como São Pedro, uma das colunas da Igreja. É o padroeiro da cidade e do Estado de São Paulo.

                                                                  *Bispo da Administração Apostólica Pessoal
                                                                         São João Maria Vianney

                                                                       http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

domingo, 12 de janeiro de 2020

VIRTUDES PARA UMA FAMÍLIA CRISTÃ


LEITURA MEDITADA 

"Irmãos: revesti-vos como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, benignidade, humildade, modéstia e paciência, suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver queixas contra o outro; assim como o Senhor vos perdoou, perdoai-vos também. Mas sobre tudo isto: tende a caridade que é o vínculo da perfeição; e reine em vossos corações a paz de Cristo, para a qual fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite em vós abundantemente a palavra de Cristo, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando em vossos corações, com a ação da  graça, louvores a Deus. E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obra, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando graças por Ele a Deus Pai. Mulheres, estai sujeitas a vossos maridos, como convém ao Senhor. Maridos, amai vossas mulheres, e não sejais ásperos para com elas. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor. Pais, não provoqueis à indignação os vossos filhos, para que se não tornem pusilânimes" (Colossenses, III, 12-21).

Nestas exortações de S. Paulo temos os elementos indispensáveis para a felicidade das nossas famílias. Assim, o Apóstolo,  às opiniões do modernismo, destruidor dos mais sagrados vínculos, opõe os preceitos e virtudes criadores de uma felicidade e de uma paz ainda possível neste mundo. Aí está o segredo da paz familiar. Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que os filhos das trevas são mais prudentes nos seus negócios que os filhos da luz nos seus. Só para dar dois exemplos: O comerciante, aos clientes oferece prontamente suas mercadorias, ocultando a sua irritação quando as desprezam e sem ofender-se quando as recusam. Que "misericórdia"; que "paciência"; que "benignidade"; que 'humildade"; que "perdão das ofensas"; que "que sorrisos de amabilidade!". O político, a todos acolhe com amabilidade, tolerante com quem o importuna e prestimoso com quem lhe pede auxílio.  O comerciante faz tudo isto como se fosse um santo, mas não: é só para ganhar dinheiro. (Não quero com isto negar que há comerciante santo também). O político parece praticar virtudes heróicas, mas, na verdade, pensa só em conseguir votos, e consequentemente: honra e sobretudo, dinheiro. (Também aqui não pretendo negar que possa existir político santo: é difícil, mas para Deus nada é impossível).
Mas, caríssimos, qual destes motivos compara-se ao grande bem na paz familiar? Dádiva do céu, ela transforma o lar em um vestíbulo do paraíso, as agruras da vida em oásis de bênçãos. A paciência, a humildade, a benignidade, a misericórdia, ensinam aos cônjuges  a arte de se suportarem uns aos outros. Sigam os cônjuges os conselhos de São Paulo supracitados, e as divergências que pareciam separá-los virão a soldar ainda mais o vínculo matrimonial. Saibam os cônjuges perdoar-se mutuamente. Enquanto um momento de silêncio restituirá a bonança; um revide protrairá a tempestade por longos dias e semanas inteiras. Tal como Jesus generosamente perdoou nossos graves crimes, perdoem-se os esposos, com igual generosidade, as discrepâncias de temperamento e de caráter.

A caridade é o liame destinado a unir os fiéis entre si e com Deus. Nesta união consiste toda a perfeição cristã. O amor da paz deveria inspirar todos os sentimentos dos esposos como convém a membros de um só corpo. O lar verdadeiramente cristão deveria estar sempre agradecido a Deus pelos favores d'Ele recebidos. Os ensinamentos e máximas de Nosso Senhor Jesus deveriam ser a bússola em toda a sua conduta e empreendimentos. De um lar cristão são banidas e execradas as máximas do mundo.  "Exortai-vos uns aos outros por meio de salmos, hinos e cânticos espirituais", insiste o Apóstolo, assim apontando-nos na oração a maior garantia de paz para o lar. A oração é a fonte de onde haurimos as energias necessárias para os momentos trágicos que não faltam na existência de cada indivíduo, como não faltam na vida de toda família. Repudiando os maus conselhos de um mundo colocado no Maligno, busquem os esposos na Santa Religião e no seu Deus o conforto que anima, e da prece fervorosa de um coração que sofre sairá a arma vitoriosa que tudo suporta. "Onde quer que dois ou três se acharem reunidos em meu nome - diz Jesus Cristo - estarei eu no meio deles" (S. Mateus XVIII, 20). Na verdade, nunca um lar se sente mais unido como quando todos os componentes se voltam para Deus repetindo todos a mesma prece divina: "Pai Nosso que estais no céu". O lar, porém, que ignora a oração encaminha-se para o desmoronamento, enquanto o lar que ora, que reza todos dias o Santo Terço, sela com o nome de Deus e a intercessão de Sua Mãe Santíssima, a sua união e garante a sua felicidade. Seguindo, pois, os conselhos do Apóstolo São Paulo, não será difícil aos nossos lares realizar aquela felicidade que fará das famílias cristãs outros tantos vestíbulos do céu.

Para terminar, lembremos algo sobre a MISERICÓRDIA. O Rei Davi era um homem santo. A própria Bíblia mostra-o para os outros reis, como um modelo de fidelidade a Deus. Mas, num momento de ociosidade e fraqueza cometeu o gravíssimo pecado de adultério e, em consequência o homicídio, outro pecado muito grave. Deus, através do profeta Natan, abriu-lhe os olhos e tocado de sincero arrependimento exclamou: "Pequei".  Davi chorou a vida toda estes seus graves pecados. Não perdia oportunidade de fazer penitência e escreveu o Salmo 50, Miserere. Eis apenas alguns versículos deste belíssimo salmo de penitência: "Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua misericórdia; segundo a multidão das tuas clemências, apaga a minha iniquidade" (vers. 1-3); "O meu sacrifício, ó Deus, é um espírito contrito, não desprezarás, ó Deus, um coração contrito e humilhado" (vers. 19).


A FAMÍLIA



   Vemos com tristeza, como a sociedade está moralmente enferma, totalmente invadida e convulsionada pelo paganismo e a imoralidade. Mas não bastam lamentações. Mister se faz atacar o mal pela raiz. Ora, as famílias são as raízes que elaboram o alimento moral da sociedade. É a célula da sociedade; pois esta se forma de indivíduos e estes por sua vez se formam na família.

   Temos, então, que dedicarmos todos os nossos cuidados à família, para termos realmente uma sociedade sadia. A família é obra da mão de Deus. É inútil querer corrigir a crise da sociedade, se não se põe o primeiro cuidado em conservar a família. Os filhos das trevas, como disse Jesus Cristo, são muito espertos e nós vemos com tristeza, como as ideias comunistas estão se espalhando pelo mundo como um gás sumamente venenoso e que destrói em primeiro lugar as famílias, Pela imoralidade, imodéstia nas vestes, televisão, pornografia na Internet, divórcio, maus exemplos, principalmente nos colégios que vão se tornando focos de imoralidade e heresias, em cátedras de pestilências comunistas etc, etc. a indissolubilidade do matrimônio católico está em risco de dissolução quase total.  E, por outro lado, o sal na Igreja está perdendo sua força, deixando a corrupção reinar soberana. As paixões têm campo livre, os vícios, campeiam como chamas num canavial. 

   E não bastassem os comunistas por fora, há-os internos. E, horribile dictu, o próprio Sumo Pontífice reconhece que as últimas mudanças que ele fez nos processos matrimoniais quanto à declaração de nulidade podem colocar em risco a indissolubilidade do matrimônio. Muitos casamentos se dissolveram não porque nulos, mas por causa da ausência total, ou quase, das virtudes cristãs, e, por outro lado pelo reinado desenfreado das paixões as mais nefandas. Para estes não só a "a misericórdia" do divórcio mas a possibilidade de se casarem novamente e até comungarem. 

   Deus fez bem todas as coisas e se existe o mal no mundo, sua causa deve ser procurada na malícia humana que perverte a harmonia do Criador. A formação da família, poderia parecer algo profano, ao passo que, na realidade, ela tanto tem de santo como de sublime. O casamento não é um mal (como muitos hereges pensaram), pelo contrário, é um bem. Foi Deus quem o fez desde o Paraíso Terrestre. É bem verdade que devido o pecado original, o casamento decaiu de sua primitiva dignidade. Mas o Filho de Deus, que veio ao mundo para remir a humanidade e iluminá-la, restituiu o casamento à sua primitiva santidade elevando-o à dignidade de sacramento.

   Jesus Cristo, quis assistir em companhia de sua Mãe Santíssima a uma festa de casamento em Caná da Galileia, aprovando e santificando com sua divina presença. o vínculo conjugal, operando também nesta ocasião o seu primeiro milagre.

   Um dia os fariseus interrogaram a Jesus: "É lícito ao homem repudiar sua mulher? Ele, porém, lhes respondeu: Desde o princípio, Deus criou o homem e a mulher, logo o homem deixará seu pai e sua mãe e viverá com sua mulher. Não separe, portanto, o homem o que Deus uniu".

   Ter esta firme e inabalável convicção sobre a divina instituição do matrimônio, sempre foi de extrema necessidade, mas, hoje, ademais, tornou-se muito urgente. Pois são tantos os homens que ignoram de todo a grande santidade do matrimônio cristão. São inúmeros os que a negam e calcam aos pés. 

   Lacordaire, o grande conferencista francês, queria que seus amigos Ozonam e Luis Veuillot o imitassem e renunciassem o casamento. Mas Veuillot, com todo direito achou por bem se casar. E quando Lacordaire soube, exclamou: "Mais um que ficou na armadilha". Relataram ao papa a frase de Lacordaire e sorrindo comentou o Santo Padre: "Eu não sabia que Nosso Senhor havia instituído 6 sacramentos e 1 armadilha". 

   Outro exemplo bem diferente deste: São Francisco de Sales hospedava em sua casa um amigo. E o santo bispo, com aquela sua grande caridade, tratava o seu amigo com as maiores finezas, inclusive todas as noites ia acompanhá-lo até ao seu quarto. E o hóspede, confundido por tanta delicadeza, disse a São Francisco de Sales que não era digno de ser tratado assim por um bispo, ele que era um simples leigo. Mas o santo bispo perguntou-lhe: "Então o meu amigo não é casado?" - Ainda não, respondeu o amigo.  -  "Ah! , retrucou São Francisco de Sales, então tem razão de protestar: de hoje em diante tratá-lo-ei com mais confidência e com menores finezas". É que o Santo da mansidão pensava que uma pessoa casada devia ser cercada de uma veneração maior, pela dignidade do sacramento do matrimônio que confere aos esposos uma graça que os torna capazes de se amarem sobrenaturalmente, de educarem os seus filhos e de suportarem com serenidade os pesos da vida. 

   O matrimônio é portanto um sacramento, fonte de bênçãos, rico em simbolismos, expressivo no seu programa que é a comunhão da vida toda até a morte com todas as suas manifestações: Comunhão de vida natural: "serão os dois uma úncia carne", disse Deus. Comunhão de interesses: e portanto os bens materiais e as perdas andam em conjunto. Os afetos também se entrelaçam. E é por isso que São Paulo manda que o homem ame a sua esposa como a si próprio. Comunhão de fidelidades e deveres: ambos geram o corpo da criança e ambos concorrem para a geração moral, isto é, para a educação da mesma. Por isso é que Nosso Senhor impôs aos filhos o preceito de honrar "pai e mãe". Comunhão de trabalhos: juntos devem cultivar o mesmo campo e nos mesmos espinhos sangram as mãos e ferem os corações. Comunhão de lutas e vitórias: em todas as fases da vida, e até a morte. 

   Assim é que deveria ser compreendido e sobretudo vivido o matrimônio. Como são belos os componentes de uma família verdadeiramente cristã! A família cristã tem Jesus que a consola e nunca será desolada. Diz o próprio Divino Espírito Santo na Bíblia: "Ditoso o homem que tem uma virtuosa mulher". "A mulher virtuosa é o prêmio dos que temem a Deus, e será dada ao homem em recompensa pelas suas boas obras".  "Cooperadora da Providência e complemento do homem, a mãe gera, nutre, educa, dá forma, brilho e esmalte à existência. É autora maravilhosa e destra escultora dos seres" (Palavras de um poeta castelhano). 

   Uma mãe verdadeiramente cristã, não é mais uma simples mulher, é uma santa!
"Me deem mães verdadeiramente cristãs, e eu salvarei este mundo decadente" (S. Pio X). 

   Outro dom tão precioso na família são os filhos: Frederico Ozonam, o grande literato católico, fundador das conferências de São Vicente de Paulo escrevia estas linhas junto ao berço de sua primeira filhinha:  "Ah! que momento aquele em que ouvi o primeiro vagido de minha filha e vi a criatura imortal que Deus confiava ao meu cuidado, e que tantas doçuras e obrigações era portadora para mim! Não consigo mirar esses olhos que destilam suavidade e pureza, sem descobrir neles, menos apagado que em nós, o retrato sagrado do Criador". Na verdade, os filhos são um dom de Deus.

   Como é belo também o homem virtuoso na família, como a cabeça, o chefe, com a sua autoridade suave, com a sua proteção, como São José na Sagrada Família.  Vêm-nos à mente as palavras de Santa Terezinha: "Deus deu-me pais mais dignos do céu que da terra". Pai e mãe santos! Que graça!

   Não esqueçamos nunca que toda esta beleza e sublimidade da família estão na observância da lei de Deus. Por isso é que São Paulo diz que "o casamento é santo, mas no Senhor". Quantos casamentos, hoje embora válidos, são sacrílegos. Quantos pecados, quantos crimes! Uma coisa tão sublime, tão santa e, no entanto, tratada hoje com tanta leviandade, feita sem nenhuma preparação, . Pior: toda santidade, toda bênção são afastados por tantos pecados cometidos antes e depois do casamento. 

   Não consigo terminar este artigo, embora já longo, sem relatar pelos menos algumas palavras do Papa Pio XII: "Aqueles, pois, que nas igrejas exercem funções diretivas ou de magistério, exortem assiduamente os fiéis a que constituam e mantenham famílias segundo a norma da sabedoria do Evangelho - buscando assim com assíduo cuidado preparar para o Senhor um povo perfeito. Pelo mesmo motivo, cumpre também sumamente atender a que o dogma, que por direito divino afirma a unidade e indissolubilidade do matrimônio, seja compreendido em sua importância religiosa e santamente respeitado por todos os que contraem núpcias. Que tão capital ponto da doutrina católica tenha validíssima eficácia para a sólida estrutura da família, para o bem-estar crescente da sociedade civil, para a saúde do povo e para uma civilização cuja luz não seja falsa..." (Pio XII, "Sertum laetitiae).