sexta-feira, 28 de novembro de 2014

JESUS, O SACERDOTE POR EXCELÊNCIA OU O SOBERANO SACERDOTE

INTRODUÇÃO: Esta matéria é extraída da Summa Theológica de Santo Tomás de Aquino e também do célebre teólogo Tanquerey. A Teologia prova esta tese baseada sobretudo na Epístola de São Paulo aos Hebreus. Faremos, se Deus quiser, várias postagens sobre este assunto importantíssimo: 1ª - As condições requeridas para o sacerdócio; 2ª - As condições essenciais para o sacerdócio são perfeitamente satisfeitas por Cristo; 3ª - Jesus, Sacrificador e Vítima; 4ª - Jesus se oferece como Vítima; 5ª - Jesus se imola como Vítima; 6ª - Comunhão, consumação do sacrifício.  

1- AS CONDIÇÕES REQUERIDAS PARA O SACERDÓCIO

    Diz São Paulo na Epístola aos Hebreus, V, 1: "Todo o pontífice tomado de entre os homens, é constituído a favor dos homens naquelas coisas que se referem a Deus, a fim de oferecer dons e sacrifícios pelos pecados". Temos aí a definição do sacerdote. Mas o Apóstolo acrescenta: "Ninguém se arrogue esta dignidade, mas só aquele que é chamado como Araão" (Heb. V, 4). Destas palavras de São Paulo concluímos que são três as condições necessárias para alguém ser sacerdote: 1ª) ser HOMEM e este escolhido por Deus; 2ª) ser CONSAGRADO ao culto divino para exercer oficialmente o papel de mediador entre o céu e a terra; 3ª) oferecer a Deus um SACRIFÍCIO, que é o mais perfeito ato da adoração e expiação.
   Uma rápida análise destes três pontos: ser homem, ser consagrado, oferecer sacrifício.

   A) O sacerdote deve ser homem, ou seja, não poderia ser um anjo, que é puro espírito. São Paulo mostra o porquê desta condição: "O qual se possa condoer daqueles que pecam por ignorância e por erro, pois que também ele está cercado de enfermidades" (Heb. V, 2). Realmente se o sacerdote fosse um anjo, um puro espírito, como poderia ele compreender as tentações corporais? Como poderia compadecer-se e mostrar-se misericordioso a nosso respeito? E como poderíamos confiar-lhe as fraquezas que dimanam da enfermidade da nossa carne?
    Mas,  tem que ser um homem escolhido por Deus. Caso não fosse, como ousaria apresentar-se diante de sua Majestade, ele que tem necessidade de se purificar das suas faltas antes de aparecer diante do Deus de toda santidade?
 
   B) O sacerdote deve ser consagrado, isto é, separado das coisas profanas, votado exclusivamente aos serviço de Deus e de seus irmãos. É o que diz São Paulo em Hebreus, V, 1: "É tomado de entre os homens, é constituído a favor dos homens em tudo o que se refere ao culto de Deus". Criado à imagem e semelhança de Deus, participante da sua vida, o homem deve viver em perpétua adoração diante do seu Criador. "D'Ele, por Ele e n'Ele existem todas as coisas: glória a Ele por todos os séculos!... Pois que, se vivemos, é pelo Senhor que vivemos; se morremos, é pelo Senhor que morremos..." (Rom. XI, 26; XIV, 7 e 8). E acrescenta o mesmo Apostolo: "Glorificai a Deus em vosso corpo" (1 Cor. IV, 20). Infelizmente, a maioria dos homens, absorvidos pelos seus negócios e pelo prazer, pouco tempo consagram à adoração. Daí a necessidade de pessoas especialmente delegadas por Deus, que pudessem, não apenas em seu nome, mas no de toda a sociedade, tributar a Deus os deveres da religião a que Ele tem direito. É exatamente o papel do sacerdote católico: escolhido por Deus, de entre os homens, ele é como que o mediador da religião entre o céu e a terra, a ele cabe glorificar a Deus e levar-lhe as homenagens dos seus irmãos.
   É mediador também para obter da misericórdia de Deus os auxílios que são necessários aos homens para vencerem as tentações, conservarem e aumentarem em si a vida da graça. Que grande dignidade e também responsabilidade a dos sacerdotes!.

   C) O sacerdote deve oferecer a Deus o sacrifício. Para adorar a Deus e obter novas graças, o ato por excelência é o sacrifício. Que é o sacrifício? Trata-se de um ato exterior e social, pelo qual o sacerdote oferece a Deus, em nome da grande família humana, uma vítima imolada, para reconhecer o seu domínio soberano, reparar as ofensas feitas à sua majestade, pedir-Lhe graças e entrar em comunhão com Ele. O sacrifício, instituído por Deus desde a criação do homem e mais tarde regulamentado pela lei moisaica, foi sempre o principal ato de culto entre os judeus. No Antigo Testamento havia quatro sacrifícios sangrentos: o holocausto, em que a vítima era inteiramente queimada para melhor exprimir a profundo sentimento de adoração e o reconhecimento do supremo domínio de Deus; o sacrifício pelo pecado, no qual uma parte da vítima era queimada e a outra reservada aos sacerdotes em expiação das faltas cometidas; o sacrifício pelo delito, quer este fosse contra as leis do culto, quer contra o direito de propriedade; o sacrifício pacífico, em que a vítima era dividida em três partes: uma era queimada, as outras duas consumidas pelos sacerdotes e pelos que ofereciam o sacrifício. Tinha por fim agradecer a Deus os benefícios passados e obter novos favores.

O QUE DEVEMOS CRER - ( 5 )

   70.  A CASTIDADE.

   Outro ponto em que Jesus, o novo Legislador, exige maior perfeição do que entre os antigos, e não está apenas aconselhando, mas exigindo mortificação e sacrifício, sob pena de condenação eterna, é o sério problema da castidade. É uma interpretação cristã mais rigorosa do 6º mandamento: Ouvistes que foi dito aos antigos: Não adulterarás. Eu, porém, digo-vos que todo  o que olhar para uma mulher cobiçando-a, já no seu coração adulterou com ela. E, se o teu olho direito te serve de escândalo, arranca-o e lança-o fora de ti; porque melhor te é que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no inferno (Mateus V-27 a 29).

   Ninguém, é claro, vai interpretar isto no sentido material de que havemos de cegar os nossos olhos, para não ficarmos mais sujeitos às tentações da carne; mas Jesus quer mostrar que, como essas amizades pecaminosas  tanto prendem e escravizam o coração da criatura, nestas ocasiões é preciso fazer a renúncia,  o sacrifício, mesmo que seja este tão doloroso para a alma, como seria cruel para o corpo a extirpação do próprio olho. Porque, como diz São Paulo: Os que são de Cristo crucificaram a sua própria carne com os seus vícios e concupiscência (Gálatas V-24). 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A CONVERSÃO DE AFONSO RATISBONNE - ( II )

   Era o ano de 1842. Afonso Ratisbonne achava-se em Roma,  a cidade eterna, da qual cada pedra é uma lembrança sagrada e tem uma voz para celebrar as grandezas da fé cristã. Ali Ratisbonne encontrou seu companheiro de infância Gustavo Bussíère, irmão do barão Teodoro de Busssière.
   Teodoro de Bussière era íntimo amigo do Padre Teodoro Ratisbonne. O Barão abandonara o protestantismo para fazer-se católico e por esta razão inspirava a Afonso Ratisbonne uma profunda antipatia. Gustavo Bussière mantinha-se protestante e, em companhia de Afonso Ratisbonne, metia freqüentemente a rídiculo a Igreja Católica.
   A 15 de Janeiro, nove dias apenas depois de sua chegada, resolveu Afonso deixar Roma e se viu na dura contingência de ir apresentar suas despedidas ao indesejável barão Teodoro de Bussière. O distinto e piedoso barão  suportou pacientemente, durante uma hora, uma saraivada de sarcasmos proferidos pelo jovem Afonso contra o catolicismo, procurando evidentemente atingir os dois Teodoros convertidos: o seu irmão Ratisbonne convertido do judaísmo; e o irmão de Gustavo Bussière, convertido do protestantismo.
   "Então, - refere o barão - apresentou-se à minha mente uma idéia maravilhosa, uma idéia celeste, que os sábios do mundo teriam julgado rematada loucura: "Já que sois um espírito tão forte e seguro de vós mesmo, lhe disse, não recusareis trazer o que estou para dar-vos".
   - De que se trata? perguntou secamente Afonso. - "Respondi-lhe  mansamente - disse Bussière, trata-se simplesmente desta medalha". Era a medalha milagrosa de Nossa Senhora das Graças. Recusou-a Afonso com um misto de indignação e de espanto.
   "Mas - acrescentou o barão Bussière friamente - segundo o vosso modo de ver, isto vos deve ser absolutamente indiferente, ao passo que para mim trará um grandíssimo prazer". - "Oh! - exclamou Afonso rindo a bom rir, a bandeiras despregadas - "então a trarei por mera complacência para mostrar-vos que é sem razão que acusam os judeus de obstinação e de invencível teimosia. Além disso me fornecereis um belíssimo capítulo para as minhas notas e impressões de viagem".
   "E, prossegue  o barão, "Ratisbonne continuava com motejos que me ralavam o coração... Entretanto, passei-lhe ao pescoço uma fita à qual minhas netinhas tinham pregado uma medalha. Mas restava-me ainda uma coisa mais difícil de obter: queria que ele recitasse a piedosa invocação de São Bernardo: "Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria..." Revoltou-se ao ouvir este segundo pedido. "Mas uma força interior impelia-me, prossegue B. de Bussuère, a lutar contra as suas reiteradas recusas com uma espécie de obstinação. Apresentei-lhe a oração suplicando-lhe que a trouxesse consigo e que tivesse a bondade de copiá-la porque eu não dispunha de outro exemplar". Então, com um movimento de impaciência e ironia, para se ver livre das minhas importunações, disse ele: "Bem! eu escreverei; dar-vos-ei a minha cópia e conservarei a vossa". E retirou-se visivelmente contrariado.
   Afonso cumpriu a palavra; copiou a oração, leu-a e releu-a tantas vezes que já a sabia de cor. As palavras de "Memorare" não lhe saíam da memória.
   No dia 20 de Janeiro, festa de São Sebastião, Afonso ainda se achava em Roma, onde o retinha uma força misteriosa. Ao meio dia conversou num café com dois amigos. "Se neste momento - diz ele - um terceiro interlocutor  se tivesse aproximado de mim e me tivesse dito: "Afonso, dentro de um quarto de hora adorarás Jesus Cristo, teu Deus e teu Salvador... e renunciarás ao mundo, a suas pompas, a seus prazeres, a tua fortuna, a tuas esperanças, a teu futuro, e se for necessário renunciarás ainda a tua noiva, à afeição da tua família... Digo que se algum profeta me tivesse feito semelhante predição, só a um homem eu julgaria mais insensato que ele, e seria aquele que tivesse dado crédito à possibilidade de tal loucura".
   (Continua no próximo post. Por gentileza continue lendo. Obrigado!

A CONVERSÃO DE AFONSO RATISBONNE - ( III )

   Era 20 de Janeiro de 1842. Ratisbonne acha-se ainda em Roma. Saindo de um Café onde acabara de conversar com dois amigos, encontra uma carruagem: é do Barão de Bussière que o convida para dar um passeio. Afonso, sem muito entusiasmo, mais para não fazer uma descortesia àquele do qual pouco antes tinha sido hóspede, aceita o convite. Acharam-se logo diante da igreja de Santo André delle Fratte. O piedoso conde de Laferronays devia receber as honras fúnebres e o Barão de Bussière fora encarregado de reservar uma tribuna para a família do defunto.
   "Será coisa de dois minutos, diz ele a Afonso que, durante este tempo resolve visitar a igreja. Esperava-o nesta igreja a misericórdia de Maria Santíssima. Soara a hora da graça que desde a conversa no café, já trabalhava suavemente em sua alma. A Mãe de Deus se deixara comover pelas orações do barão de Bussière , do conde de Laferronays que morrera repentinamente depois de ter dito à sua esposa: "Repeti hoje mais de cem vezes o Lembrai-vos", e sobretudo pelas orações e lágrimas ardentes que em seu Santuário derramava seu diletíssimo servo o Padre Teodoro, irmão de Afonso Ratisbonne.
   Tenta Afonso descrever o que então se passou em sua alma: "Esta igreja é pobre e deserta; creio que nela me achei mais ou menos só... Nenhum objeto de arte atraiu a minha atenção... Subitamente nada mais vejo... ou antes, ó meu Deus, vejo uma só coisa! Como seria possível falar do que vi? Oh! não, a palavra humana não deve tentar exprimir o que se não pode exprimir; toda descrição, por sublime que seja, não seria mais que uma profanação da inefável realidade..."
   Tornando à igreja, Barão de Bussière não encontra Afonso onde o havia deixado, mas ajoelhado diante da capela de São Miguel Arcanjo e de São Rafael, submergido em profundo recolhimento.
   "A esta vista, pressentindo um milagre, depõe o barão, apoderou-se de mim um frêmito religioso. Dirijo-me a ele, agito-o várias vezes sem que ele dê conta da minha presença. Afinal, voltando para mim seu rosto banhado de lágrimas, junta as mãos e me diz: "Oh! como este senhor rezou por mim!"
   Compreendi logo que se tratava do falecido Conde de Laferronays. Amparado, quase levado por mim, sobe à carruagem. Onde quereis ir? pergunto-lhe eu.
    _ "Levai-me para onde quiserdes. Depois do que vi, obedeço".
   Declara-me em seguida que só falará com o consentimento de um padre, porque o que eu vi - acrescenta ele - só o posso dizer de joelhos".
   Conduzido à igreja do Jesú, dos padres jesuítas, ao lado do padre Villefort que o convida a explicar-se, tira Afonso a medalha, abraça-a, mostra-a e exclama: "Eu a vi! Eu a vi!... Havia uns instantes que eu estava na igreja, quando repentinamente me senti dominado por uma turbação enexprimível. Ergui os olhos; todo o edifício desparecera à minha vista; só uma capela tinha, por assim dizer, concentrado toda a luz; e, no meio desta irradiação, apareceu, em pé sobre o altar, grande, brilhante, cheia de majestade de doçura a Virgem Maria, tal qual está em minha medalha; uma força irresistível atraiu-me para ela. A Virgem com a mão me fez sinal para que me ajoelhasse. Pareceu dizer-me: "Está bem! Não me falou nada, mas eu compreendi tudo".
   Mais tarde dirigiu-se Afonso à Basílica de Santa Maria Maior a fim de agradecer a sua celeste benfeitora o grande benefício recebido.
   Ao entrar na capela de Nossa Senhora, exclamou: "Oh! como estou bem aqui! Gostaria de ficar aqui para sempre: parece-me que já não estou na terra!"
   Ao fazer a visita ao Santíssimo Sacramento, por pouco não desfaleceu. Apavorado, exclamou: "que coisa horrível estar na presença do Deus vivo sem ser batizado!"
   Afirma o Padre Roothan, geral da Companhia de Jesus, que "depois da sua conversão o senso da fé nele se manifestava de modo tão intenso que lhe fazia sentir, penetrar e reter tudo o que lhe era proposto, tanto que em pouco tempo o julgaram suficientemente instruído para receber o santo Batismo".
   Ratisbonne recebeu sem dúvida uma assistência toda especial de Deus e da Santíssima Virgem.
   A 31 de Janeiro, 11 dias após a aparição, Afonso Ratisbonne abjura solenemente a maçonaria e recebe o batismo na igreja do Gesú das mãos do cardeal Patrizzi. O vasto e suntuoso templo estava repleto. Ali se encontrava o escol da sociedade romana e estrangeira. Acompanhado pelo Padre Villefort e por seu padrinho, o barão de Bussière, Afonso foi levado à porta da igreja. Vestido de uma longa túnica de damasco branco, trazia o têrço e a medalha de Nossa Senhora nas mãos.
   - Que pedes à Igreja de Deus? pergunta-lhe o oficiante.
   - A fé!
   Ah! diz uma testemunha ocular dessa cena majestosa, já tinha a fé católica aquele a quem a estrela da manhã iluminara com os seus raios.
   Afonso beija a terra e fica prostrado até ao fim dos exorcismos.
   Levanta-se e, guiado pelo pontífice, encaminha-se para o altar entre as bênçãos de uma imensa multidão que respeitosamente se abre à sua passagem.
   Perguntam-lhe qual é o seu nome.
   - Maria! responde num arrebatamento de amor e de gratidão.
   - Que desejas?
   - O batismo.
   - Crês em Jesus Cristo?
   - Creio!
   - Queres ser batizado?
   - Quero!
   Com um sorriso de celeste beatitude levantou sua cabeça ainda umedecida da água batismal. Acabava de transpor um abismo: era cristão.
   Afonso, cheio de Deus, radicalmente transformado pela graça, deixa o mundo e entra na Companhia de Jesus. Nela viveu dez anos vida exemplar e só a deixou, desfeito em lágrimas, para fazer a vontade de Deus que o queria ao lado do seu irmão, o Padre Teodoro, para com ele trabalhar numa obra tão grata ao mesmo Deus e de tanta relevância, qual é a da conversão dos judeus.
   O piedoso Padre Maria Afonso Ratisbonne nunca se esqueceu de sua Mãe amantíssima que o arrancou das trevas da incredulidade para os esplendores da verdadeira fé.
   Inclinava-se profundamente sempre que ouvia no canto das ladainhas a invocação: "Refúgio dos pecadores, rogai por nós!"
   Os que o ouviam falar da sua Mãe Celeste adivinhavam o que se passava no seu coração; seu olhar fulgurante parecia que ainda contemplava a mais bela e a mais pura das virgens.
   A medalha milagrosa, que exercera papel preponderante em sua conversão, era o seu mais caro tesouro. Julgou um dia que a havia perdido; sua aflição foi extrema; parecia-lhe que fora abandonado pela Virgem misericordiosíssima. Suas lágrimas não cessaram de correr até que a encontrou.
   Maria Santíssima foi a sua consolação em todas as penas e seu grande motivo de esperança em todas as provações. Dizia que Maria Santíssima não é outra coisa que uma mão de Deus, não a mão que castiga, mas a mão das misericórdias.
    Dizem os historiadores que quando o Padre Ratisbonne pregava sobre Nossa Senhora, todos os ouvintes se comoviam, muitos pecadores se convertiam. Leiam por gentileza o próximo post deste blog e verão a conversão mais importante que o Padre Maria Afonso obteve por intercessão de Maria Santíssima.
   Caríssimos leitores, possa esse episódio tão comovente, que acabais de ler, reavivar em vossos corações a chama da devoção a Santíssima Virgem Maria.
   Se quisermos assegurar o único bem desejável que é a eterna salvação de nossa alma, vivamos, como bons filhos, no Coração maternal de Maria Santíssima.
   Os que a ela recorrem não deixam de ser ouvidos; os que choram em seu regaço materno não deixam de ser consolados e os que nela depositam inteira confiança e evitam tudo o que possa magoar-lhe o coração, nada têm que temer nem na vida nem na morte.
   A devoção sincera a Maria Santíssima é penhor seguro de salvação. Deus quis que por ela tivéssemos Jesus. E Jesus é a nossa salvação. Por isso o pedido que nos faz a Nossa Mãezinha do Céu é este: "Não ofendam mais o meu Filho!!!"

NB: As três postagens que fiz sobre a Conversão de Afonso Ratisbonne foram quase integralmente extraídas do livro: "O caminho que leva para Deus" do Pe. Arlindo Vieira, S. J.
                                                                                                          

domingo, 16 de novembro de 2014

A PERFEIÇÃO CRISTÃ

   Eis aqui, caríssimos, a encantadora resposta que São Francisco de Sales deu a algumas religiosas que, tendo jejuado todo o ano três vezes por semana, julgavam, para a perfeição, dever jejuar quatro vezes no ano que começava.: "Se, respondeu o santo diretor, para chegar à perfeição, deveis jejuar quatro vezes este ano, pela mesma razão no ano seguinte deveis jejuar cinco, depois seis, depois sete, por consequência toda a semana. Em virtude deste mesmo princípio, para avançar na perfeição pelo aumento dos jejuns, será preciso jejuar progressivamente, duas vezes por dia, depois três, depois quatro e cinco vezes, e aquelas cuja vida for longa deverão jejuar sessenta, setenta, oitenta vezes por dia. O que se diz do jejum pode aplicar-se a todos os outros atos de piedade".

   Caríssimos, em vez de multiplicar as práticas de piedade que, o mais das vezes, fatigam o espírito em vez de lhe darem repouso, aplicai-vos antes a aperfeiçoar as vossas práticas de todos os dias, desempenhando-as com mais tranquilidade de alma, fervor e pureza de intenção. E até, quando não puderdes desempenhar comodamente todas as vossas piedosas práticas de cada dia, abreviai-as, suprimi-as suficientemente , afim de que sejam feitas com tranquilidade. O espírito de perfeição, segundo São Bernardo, não consiste em fazer muitas coisas, nem coisas grandes: mas em fazer coisas comuns e diárias, corriqueiras, em fazê-las, contudo, dum modo não comum.  Aplicai-vos, caríssimos, sobretudo a aperfeiçoar os deveres de vosso estado.

   O fim da perfeição é unicamente o amor de Deus; mas para lá chegar há caminhos diversos. Os próprios santos seguem caminhos diferentes. São Bernardo proibia aos seus monges que consultassem os homens da arte e aceitassem os seus socorros, enquanto que Santo Inácio obedecia com exatidão ao seu médico. Lemos na vida de São Bento que nunca ninguém o viu rir, enquanto que São Francisco de Sales ria com toda a gente, e mostrava um espírito de jovialidade e de santa alegria. Santo Hilarião olhava como uma delicadeza mudar de cilício, e Santa Catarina de Sena, pelo contrário, costumava dizer que a limpeza exterior é o símbolo da pureza da alma. Se consultais São Jerônimo, parecer-vos-á que não fala senão de rigores; se vos dirigis a Santo Agostinho, só ouvis a linguagem do amor. Caríssimos, na verdade, a graça de Deus aperfeiçoa gradualmente, mas não destrói a natureza. Diz o Salmo: "Que todo espírito louve o Senhor". Assim, não devemos nem condenar as diversas práticas dos santos nem segui-las em tudo. 

   Caríssimos, outra coisa que deveis observar: não julgueis estar fora do caminho da perfeição, porque caís em algumas faltas e tendes certos defeitos. Tiveram-nas até os grandes santos; por isso podiam eles, segundo Santo Agostinho, repetir com o Apóstolo São João (1 João I, 8): "Se dizemos que não há pecados em nós, enganamo-nos, e a verdade não está em nós".

   O que não podemos é amar as nossas faltas; se caímos, é por mera fraqueza. Caríssimos, devemos tirar proveito destas faltas, que não é dado à nossa natureza evitar. Deus permite, muitas vezes, nas almas avançadas já na perfeição, os defeitos das principiantes, afim de que elas se aperfeiçoem no conhecimento de si mesmas e na confiança n"Ele. Vede. caríssimos, que palavras consoladoras estas de Santo Agostinho: "O Senhor achou mais conforme à sua infinita sabedoria tirar o bem do mal, do que impedir o próprio mal". Portanto, quando tirais das vossas faltas a humildade, correspondeis ao fim tão alto da inefável sabedoria de Nosso Pai do Céu. Tudo que favorece à humildade, é lucro. 

   Convém que nos apliquemos à perfeição com paz e confiança em Deus. Teremos sempre bastante cedo o que desejamos, quando o tivermos na hora em que aprouver a Deus no-lo conceder. Filhinhos de Deus, coloquemo-nos nos braços de Nosso Pai do Céu e fiquemos tranquilos, desde que façamos também a parte que Ele pede de nós. Amém!

sábado, 15 de novembro de 2014

A MISSA, ORAÇÃO OFICIAL DA IGREJA

   O Sacrifício da Cruz precisa prolongar-se no Sacrifício da Missa. Morrendo por nós e dando-nos o seu próprio Sangue, Jesus mereceu para nós A GRAÇA: a graça habitual ou santificante e também todas as graças atuais. De modo que TODAS AS GRAÇAS, recebidas por TODOS OS HOMENS, desde o princípio do mundo, após o pecado de Adão, foram, são e serão concedidas em virtude dos merecimentos infinitos de Jesus Cristo, na Sua Morte Redentora na Cruz. Podemos fazer uma comparação: Há no Sacrifício da Cruz UM MAR IMENSO DE GRAÇAS para a Humanidade,  ( aliás mais do que todos os oceanos, pois Seus merecimentos são sem limites, são infinitos). Mas para nos banharmos neste mar, temos que ir até ele através dos sacramentos. Estes são os canais da graça. Assim quando não possuímos a graça santificante, o meio estabelicido por Cristo para adquiri-la, para recebê-la são os sacramentos do batismo e da Penitência; é aí que recebemos o banho purificador no oceano imenso de graças merecidas por Jesus no Calvário. Os outros sacramentos servem para aumentar em nós esta graça. A Eucaristia, porém, diferentemente dos outros sacramentos, é um sacramento que pode ser recebido até todos os dias. A Santa Missa está continuamente renovando-o no Altar.
   O Sacrifício do Calvário não só é fonte da graça santificante, mas também de GRAÇAS ATUAIS. Mas pelo fato de Jesus ter morrido na Cruz, não quer dizer que nós recebemos infalivelmente todas as graças atuais. Temos que fazer a nossa parte. Temos por exemplo, que fazer oração, e não só para pedir graças, mas para adorar a Deus, para pedir perdão e para agradecer as graças recebidas.
   O que acontecia na Antiga Lei? Alguém podia muito bem orar a Deus, adorá-LO, agradecer-Lhe, pedir favores, tudo isto sem que fosse preciso oferecer-Lhe um SACRFÍCIO. Sacrifício, naquele tempo, de animais e frutos da terra. Mas, quando se oferecia o sacrifício, então já era a ORAÇÃO OFICIAL DO POVO DE DEUS,  que aos sentimentos de adoração, ação de graças, contrição ou aos seus pedidos acrescentava um PRESENTE, uma OBLAÇÃO, uma OFERTA feita a Deus para melhor granjear a divina benevolência. Oferecia-se a Deus, então, um SACRIFÍCIO, que era de valor bem limitado, porque de animais e frutos da terra.
   Jesus, instituíndo o Santo Sacrifício da Missa, quis dar também ao povo cristão esta possibilidade de fazer uma oferta, uma oblação a Deus, juntando esta oferta a suas orações e sentimentos, de modo que a Missa passou a ser A ORAÇÃO PÚBLICA E OFICIAL DO POVO CRISTÃO, que é o povo de Deus na Nova Lei. Só que agora, A OFERTA A DEUS, não é de animais ou frutos da terra, não se trata mais de uma oferta de valor limitado. Não! Agora basta-nos um pouco de pão e de vinho e graças ao maravilhoso poder de Jesus Cristo, temos sobre os nossos altares o PRÓPRIO CORPO E O PRÓPRIO SANGUE DO SALVADOR QUE FORAM OFERICIDOS NA CRUZ. Daí este PRESENTE que ofertamos a Deus é de valor infinito. Esta VÍTIMA  que oferecemos a Deus é, ela mesma inteligente, consciente , livre, e de merecimento infinito; faz, ela mesma, no altar A MELHOR DE TODAS AS ADORAÇÕES, DE TODAS AS SÚPLICAS, DE TODAS AS AÇÕES DE GRAÇAS,  e aí nós ajuntamos, como a gota d'água no vinho, dentro da nossa tão grande insuficiência, os  nossos próprios sentimentos. Só depende de nós tirarmos o maior fruto possível, porque de si a Missa é de valor infinito.
   Mas avivemos a nossa fé. Porque Jesus é A CABEÇA DO CORPO DA IGREJA (Col. I, 18). Formamos com Jesus um todo inseparável. Na Missa Ele não só se oferece a si mesmo, mas dá também à Igreja o gosto, a satisfação, o privilégio de oferecê-Lo ao Eterno Pai, bem como de oferecer-se a si mesma juntamente com Ele. A nossa adoração sobe aos céus unida com a adoração infinitamente perfeita de Jesus; o nosso reconhecimento, unido a Sua perfeitíssima ação de graças; a nossa contrição juntamente com o poder expiador do seu Sangue; a nossa contrição juntamente com o poder eficaz do nosso Divino Redentor.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O SACRIFÍCIO DE CRISTO FOI ÚNICO: POR QUE HÁ O SACRIFÍCIO DA MISSA?

PERGUNTA: O sacrifício de Jesus Cristo foi SACRIFÍCIO ÚNICO; portanto não há dois sacrifícios: o Sacrifício da Cruz e o Sacrifício da Missa. Só haveria, então, o sacrifício da Cruz.
RESPOSTA: O Sacrifício da Missa e o Sacrifício da Cruz não são dois sacrifícios mas são um ÚNICO E MESMO SACRIFÍCIO, porque a Vítima é UMA SÓ: NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. O Sacerdote  também é o mesmo: NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Pois o supremo sacerdote da Nova Lei, e na realidade o único sacerdote, é Jesus Cristo. O homem que celebra a santa Missa, o sacerdote católico, é um ministro de Cristo, que age apenas em nome de Cristo: "Os homens devem-nos considerar como  UNS MINISTROS DE CRISTO E COMO UNS DISPENSADORES dos minstérios de Deus" (1 Cor. IV, 1). "Nós fazemos o ofício de EMBAIXADORES em nome de Cristo" ( 2Cor. V, 20).
   Façamos algumas comparações: Quando o patrão manda o servo levar um presente a alguém, quem é que está dando o presente? É claro que é o patrão. Quando alguém escreve um discurso e manda outro ler, quem é o AUTOR do discurso? Quem o escreveu. Quando o rei manda um embaixador assinar um tratado de paz, quem o está assinando; é o embaixador em seu nome particular ou é o próprio rei? É claro que é o rei.
   Os ministros de Cristo receberam esta ordem: "FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM" (São Lucas, XXII, 19).
   Quando o sacerdote celebra a santa Missa, não diz: Isto é o Corpo de Cristo ou Isto é o cálice do Sangue de Cristo - mas diz: Isto é o MEU CORPO, Isto é o cálice DO MEU SANGUE, porque ele está agindo apenas em nome de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote. Jesus é que quis ligar a sua presença no altar à vontade e à ação de um homem. Na verdade, o sacerdote só é sacerdote sob a dependência de Cristo e só age como Seu representante, Na Missa o sacerdote faz as vezes de Jesus emprestando suas mãos e seus lábios a Jesus. E depois da Consagração Jesus está presente no altar, oferecendo-se a si mesmo ao Pai. É Cristo que se oferece na Missa; os sacerdotes só se oferecem com Ele, por Ele e nEle. O sacerdote, portanto, é mero instrumento de Cristo e por vontade de Cristo. Já os sacerdotes da Antiga Lei eram independentes uns dos outros.
   Concluindo: Não são dois sacrifícios mas um só. Porque a diferença está só no modo ao passo que a identidade está no fundamento, isto é, num e noutro são os mesmos o sacerdote e a vítima. No altar temos o mesmo Cristo e com as mesmas disposições que no Calvário, ou seja, no altar como na Cruz, Jesus é o adorador do Pai, confessando como homem a sua total dependência do Pai, pedindo perdão pelos pecados dos outros e disposto a ser obediente até à morte. E como já dissemos, o principal aos olhos de Deus Pai são estes sentimentos de Jesus, é o Seu oferecimento como Hóstia (=vítima). 
   Fixemos esta idéis para nos recordarmos dela a seu tempo. Talvez nos sintamos tentados a comportar-nos em face da Hóstia que o sacerdote levanta depois da Consagração como se ela fosse insensível, morta. Mas é um grande erro nosso! Pois Jesus está presente, vivo, glorioso e o seu estdo de espírito é o mesmo que quando foi levantado na Cruz pelos algozes. Por isso se a nossa fé for fraca não tiramos frutos da Santa Missa.  
UMA PARÁBOLA
    Em certo reino houve durante muito tempo, um problema: uma doença considerada incurável e muito propagada. Vários sábios procuraram uma solução; publicaram muitas obras sobre o assunto, porém inultilmente. Porque não davam a chave da solução do problema.
   Apareceu, afinal, um GRANDE SÁBIO, que resolveu a questão para sempre: fez uma exposição diante do rei, demonstrando as causas da doença, estudando profundamente o asunto e mostrando o meio certo e seguro de combatê-la e evitá-la.
   Suas palavras foram apanhadas pelos taquígrafos, depois publicadas em livro e se foram tirando muitas e muitas edições. Cada vez que sai uma nova edição é  A MESMA OBRA porque é o mesmo autor e são as mesmas idéias, apesar dos tipos e capas serem diferentes. Já o mesmo não se dá com aquelas outras obras publicadas antes de se resolver o problema: eram obras diversas, de diversos autores e nenhuma encontrou A SOLUÇÃO DEFINITIVA.
    APLICAÇÃO DA PARÁBOLA: é o que se deu com os sacrifícios da Antiga Lei: vítimas diversas, sacerdotes diversos. Ao passo que a Santa Missa é apenas a renovação do Sacrifício do Calvário, sendo a mesma vítima e o mesmo sacerdote. De modo que o padre que celebra não passa no caso, de um humilde tipógrafo que vai reeditar a grande OBRA DE CRISTO; não vai resolver um problema que por Cristo já foi resolvido. 

sábado, 8 de novembro de 2014

"UNIDOS EM DEFESA DA FÉ" ( VI )

   Logo nos primeiros meses do pastoreio de D. Navarro ficou bem claro que seu objetivo era introduzir o "Novo Ordo Missae" e com ele e através dele, introduzir o "PORGRESSISMO" na Diocese de Campos. Com a Missa Nova foram aceitas as vestes indecorosas nos templos sagrados, e até para a recepção dos sacramentos; logo apareceram os ministros e as ministras da Eucaristia; a comunhão de pé, as mulheres sem véu; e a comunhão na mão; as músicas modernas e prostestantizadas com violão, acordeon, pandeiro etc. Não vou relatar aqui os escândalos dos quais o povo logo tomou conhecimento e com grande tristeza.
    Pois bem, os 25 padres que ficaram fiéis, mesmos os expulsos (porque o Bispo foi expulsando aos poucos: um por um) fizeram de tudo,  com grande amor a Santa Igreja e as almas, para neutralizar a ação nefasta do progressismo que, como o fogo nos canaviais de Campos, foi rapidamente se alastrando.
   Empregando a grande inteligência que Deus lhe deu, o grande lutador contra esta avalanche de males, foi, sem dúvida o nosso caríssimo colega o Revmo. Sr. Padre Fernando Arêas Rifan. Foi ele que escreveu o folheto com 60 razões contra a Missa Nova. Foi ele que escreveu, logo no início da gloriosa batalha em defesa da fé, um folheto respondendo as objeções que D. Navarro e os seus seguidores faziam para defender a Missa Nova. Esclareceu totalmente os fiéis que pudessem ainda conservar alguma dúvida, naquela triste conjuntura. 
   Logo no início se não me engano, escreveu um folheto intitulado "Missa Nova ou Missa Tradicional. Eis, na íntegra, o folheto:


MISSA NOVA OU MISSA TRADICIONAL
Esclarecendo dúvidas

   Há muitos católicos, aliás no mundo inteiro, que dizem não poder, em consciência, aceitar a Missa Nova.
   Contra eles, costuma-se dar três objeções:
   - 1ª) A Missa Nova, na verdade é a mesma Missa de sempre. Não há portanto razão para recusá-la.
  - 2ª) O Papa mandou explicitamente a Missa Nova. Ora os fiéis devem obedecer ao Papa, mesmo quando não fale "ex-cathedra".
   - 3ª) O Papa, apesar de não usar neste caso a sua infalibilidade, não poderia errar em matéria tão grave.

RESPOSTAS
   1ª OBJEÇÃO: A Missa Nova é a mesma missa de sempre.
   É melhor deixar responder a isto o próprio Mons. Aníbal Bugnini, então secretário da Congregação do Culto Divino, o grande mentor da Missa Nova: "Não se trata apenas de retoques numa obra de grande valor, mas às vezes é preciso dar estruturas novas a ritos inteiros. Trata-se de uma  restauração fundamental, eu diria quase uma mudança total e, para certos pontos, de uma verdadeira nova criação" (Doc. Cat. nº 1493, 7-5-67). Por estas palavras se vê que a Missa Nova já não é a mesma Missa Tradicional.
   Aliás, se é a mesma coisa, então por que criticar e até perseguir os que querem ser fiéis à Missa Tradicional?

   -2ª OBJEÇÃO: O Papa mandou explicitamente a Missa Nova.
   Antes de responder, gostaria de fazer quatro perguntas a quem fizesse essa objeção:
   a) Um Papa pode entrar em desacordo com a Tradição?
   b) Se um Papa estiver em descordo com a Tradição, a quem devemos seguir, ao Papa ou à Tradição?
   c) Um Papa pode terminar favorecendo uma heresia?
   d) Se o Papa favorece a heresia, neste caso o que se deve fazer: obedecer ao Papa e favorecer a heresia ou conservar a Fé intacta?

   Existem graves razões de Fé para não se aceitar a Missa Nova.
   A Igreja condenou os erros protestantes. Definiu, com infalibilidade, dogmas de Fé sobre a PRESENÇA REAL  de Jesus Cristo na SSma. Eucaristia, sobre o SACERDÓCIO HIERÁRQUICO distinto do dos simples fiéis, sobre o SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA.
  
    A Igreja condenou aqueles que dizem que a Missa deve ser celebrada só em venáculo (em português) (Conc. de Trento).

   A Igreja reprovou os que querem que a Consagração seja em voz alta (Conc. de Trento e Pio VI).

   A Igreja reprovou o altar em forma de mesa (Pio XII).

   Ora, na Missa nova, os erros que a Igreja me ensinou a reprovar agora são tidos como certos e aprovados. E mais. Os dogmas de fé acima citados, não são mais tão explícitos como o eram na Missa Tradicional, e isso é tão evidente que os Protestantes, que jamais toleraram a Missa Tradicional (Lutero a chama de abominável), afirmaram que, com a Missa Nova, teologicamente é possível que eles celebrem a sua ceia com as mesmas orações da liturgia reformada da Igreja Católica. (cf. Max Thurian, La Croix, 30-05-1969). Não é sintomático?!

   Pode uma autoridade, por suprema que seja, nos impor algo que é contra a nossa Fé e que é ofensivo a Deus, Nosso Senhor?

   Eis o dilema para todo bom católico: ou sacrificar a Fé e a Tradição em nome da obediência, ou manter-se firme na Fé e na Tradição, obedecendo ao que foi sempre ensinado pela Santa Igreja, e por isso ser taxado de rebelde e de desobediente!.

   São Paulo já nos advertiu:  "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do Céu vos anuncie um Evangelho diferente daquele que vos tenho anunciado, seja anátema". (Gál. 1,8).

   Não se trata de desobediência ou de rebeldia. Trata-se de fidelidade e lealdade à fé do nosso Batismo, e, portanto, à cátedra de Pedro e à Santa Igreja.

   Pode-se cair em heresia ou favorecer a ela por palavras ou por atos. E os hereges sempre procuraram manifestar na liturgia os seus erros. Assim, por exemplo, no tempo da heresia monofisita, que negava as duas naturezas em Jesus Cristo, os hereges, quando celebravam a Missa, não colocavam a gotinha de água no vinho no ofertório, porque isto significa também a natureza humana de Cristo unida à natureza divina. Se um padre, naquela época, celebrasse a Missa assim, estaria fazendo, por este simples gesto, uma profissão de fé herética, terrivelmente ofensiva a Deus. E nenhuma autoridade poderia obrigá-lo a tal, porque era uma questão de fé.

   O Papa Leão XIII afirmou na encíclica "Satis Cognitum": "Nada poderia ser mais perigoso que estes hereges que, conservando em tudo o mais a integridade da doutrina, por uma só palavra, como por uma só gota de veneno, corrompem a pureza e a simplicidade da Fé que nós recebemos da Tradição de Nosso Senhor e, depois, dos Apóstolos."

   A obediência é uma virtude moral, inferior à Fé, que é uma virtude teologal. A obediência está condicionada à Fé. A Fé não tem limites. A obediência os tem. Obedecer é fazer a vontade de Deus, expressa na vontade dos superiores, representantes de Deus. Mas se a ordem dos superiores se revela em contradição com a vontade de Deus, então vale aplicar a frase de São Pedro: "É preciso obedecer a Deus antes que aos homens". (Atos, 5,29). Assim, o 4º Mandamento manda ao filho obedecer aos pais. Mas se o pai lhe manda algo contra a vontade de Deus, o filho não deve fazer o que o pai lhe ordena, e e peca se o fizer. 

   - 3ª OBJEÇÃO: O Papa, apesar de não empenhar neste caso a sua infalibilidade, não poderia errar em matéria tão grave.

   Os que afirmam que o Papa, fora do campo da infalibilidade, não pode errar, apesar de ser matéria muito grave, estão afirmando mais do que o Concílio Vaticano I afirmou, mais do que Pio IX definiu. Estão querendo, segundo disse alguém (ndr: este alguém era D. Navarro) saber mais do que o Papa, ser mais católicos que o Papa. Pois se o Concílio definiu os contornos dentro dos quais não há possibilidade de erro, querer ampliar por conta própria estes contornos é querer saber mais do que o Papa e a Igreja.
   Aliás, isso seria contraditório com a História da Igreja. Por exemplo, o Papa Honório I, em matéria muito grave e que interessava à Igreja toda, pois era uma decisão em assunto de heresia, ao dar uma ordem, falhou e foi antematizado por um Papa posterior porque favoreceu a heresia.

   Portanto, nas coisas em que o Papa não é infalível, ele normalmente não erra, mas pode errar. Qual é o critério que nos ilumina sempre: a Tradição. O que for de acordo com a Tradição da Igreja é certo. O que não for é falso. Foi por esta razão que o Papa Honório foi anatematizado. Eis as palavras de São Leão II, Papa: "Anatematizamos Honório, que não ilustrou esta Igreja Apostólica, mas permitiu, por uma traição sacrílega que fosse maculada a Fé imaculada ("...") da TRADIÇÃO apostólica, que recebera de seus predecessores". "... Não extinguiu, com convinha à sua Autoridade Apostólica, a chama incipiente da heresia, mas a fomentou por sua negligência" (Denz. Sch. 563 e 561). Do mesmo modo o VI Concílio Ecumênico rejeitou de modo absoluto e execrou como nocivas às almas (sic) as cartas do Papa Honório, por ter "verificado estarem elas em inteiro desacordo" com a Tradição.

   Eis porque o Concílio Vaticano I definiu: "O Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de São Pedro para que estes, sob a revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para que, com sua assistência CONSERVASSEM SANTAMENTE e expusessem fielmente o depósito da Fé, ou seja, a revelação herdada dos Apóstolos". (D. 3070)

     Virgem Mãe de Deus Maria,
      que sozinha destruistes todas as heresias no mundo inteiro,
      rogai pelo povo, intercedei pelo clero.

                     Pe. Fernando Arêas Rifan
                      ex-Diretor Diocesano do Ensino Religioso
                            Campos - RJ.