quinta-feira, 19 de maio de 2011

FAZ DEZ ANOS DO INÍCIO DAS OBRAS DO CARMELO - AGRADECIMENTO

   Em maio de 2001 iniciávam-se o desatêrro e a terraplenagem para início das obras do Carmelo, no Sítio Santa Cruz II, Município de Varre-Sai, RJ, Brasil.
   Sinto-me muitíssimo feliz em poder agradecer, do fundo do coração, atravé da Internet, as ajudas espirituais e materiais que venho recebendo de meus caríssimos atuais fiéis, e de ex-paroquianos em quase toda Diocese de Campos,RJ, e de outros lugares do Brasil, especialmente de Santa Maria, RS., nestes dez anos que venho construíndo este Carmelo de Nossa Senhora do Carmo.
   Que Deus, Nosso Senhor, os recompense centuplicadamente com muitas bênçãos,  graças escolhidas e saúde na alma e no corpo. E em minhas Santas Missas, sempre peço pelos meus irmãos e parentes, pelos benfeitores vivos e falecidos. No "Memento dos mortos" lembro-me sempre de pedir o suflágio das almas da Irmã Fátima e das grandes benfeitoras do Carmelo: D. Santa e Arlete (Varre-Sai) e D. Hermínia (Santa Maria, RS ) e muitos outros, como por exemplo, o Sr. Enzzo.
   Sem esta generosa caridade dos fiéis e amigos, eu não teria condição de chegar aonde cheguei, muito menos, de continuar as obras até o fim.
   Deus lhes pague! Minha imorredoura gratidão! Muito obrigado!
                                                                                                     Padre Elcio Murucci    

sábado, 14 de maio de 2011

DA MODÉSTIA QUANTO AO ORNATO EXTERIOR

   Artigo extraído de Santo Tomá de Aquino, Suma Teológica, 2-2 q. 169. a. 1 e 2.
   Artigo primeiro: Parece que não há nenhum vício nem nenhuma virtude em matéria de ornato exterior... Mas, pelo contrário: a honestidade supõe a virtude. Não faltar nada do que exige a honestidade ou a necessidade, sem se cair no exagero. Logo, pode haver virtude e vício em matéria de vestuário.
SOLUÇÃO: As coisas exteriores, em si mesmas, de que o homem usa não são matéria de nenhum vício, que só existe em quem as emprega imoderadamente. Ora, esta imoderação pode dár-se de dois modos.- Primeiro, relativamente ao costume daqueles com quem convivemos. Citando Santo Agostinho, Santo Tomás diz que devemos seguir os costumes locais ou do país. Segundo, pode haver imoderação, no uso das referidas coisas, pelo afeto desordenado de quem usa delas; donde vem que às vezes, p. ex., usamos dos ornatos exteriores com sensualidade, quer estejamos de acôrdo ou não com os costumes daqueles com quem convivemos. Ora, por esse afeto desordenado se pode pecar por excesso, de três modos: 1- quando as nossas vestes e coisas semelhantes são acompanhadas de ornatos excessivos afim de granjear a glória dos homens. 2- quando nos preocupamos excessivamente com o nosso vestuário, em vista do prazer. No caso as vestes estariam sendo usadas como um culto do corpo. 3- quando simplesmente nos preocupamos excessivamente com a roupagem externa, mesmo se não há nenhum fim desordenado.[ Foi Jesus quem condenou esta preocupação excessiva com o vestuário.]
   Como há três vicios neste ponto, há, também três virtudes: humildade, fugindo de toda vanglória; honesta suficiência, fugindo do prazer e contentando-se com o necessário; simplicidade que é o hábito pelo qual nos contentamos com o que nos acontece. Em outras palavras: conformámo-nos com a nossa posição social.
   Mas o afeto pode ser também desordenado por defeito, e de dois modos: 1- desleixo, falta de cuidado e negligência em nos vestirmos como devemos; falta de asseio. 2 - Seria o vício de usar estas dificiências todas para buscar a vanglória: querer apresentar-se com o afeto desordenado, pretendendo com estes desleixos, parecer humilde e penitente.   
 Artigo segundo: Parece que os ornatos femininos constituem pecado mortal.
   Assim, faz-se a seguinte objeção: Assim como não convém à mulher usar de roupas masculinas, assim também não deve usar de ornatos desordenados. Ora, o primeiro procedimento é pecado, segundo diz a Sagrada Escritura em Deuteronômio, capítulo 22, versículo 5: "A mulher não se vestirá de homem nem o homem se vestirá de mulher, porque aquele que tal faz é abominável diante de Deus". Donde se conclui, que o ornato exagerado das mulheres é pecado mortal.        
   Mas, em contrário, devemos dizer que os ornatos femininos em si mesmos, não constituem pecado mortal. Porque, se assim fosse, haveríamos de concluir que os artífices fabricadores destes ornatos também pecariam mortalmente. Então apresentamos a SOLUÇÃO: Em relação ao ornato das mulheres, devemos levar em conta os mesmos elementos que consideramos já acima, em geral, relativamente ao vestuário exterior; e, além disso, mais em especial, devemos notar que os ornatos femininos provocam mais os homens à lascívia, isto é, à sensualidade, segundo à Escritura: "E eis que uma mulher lhe sai ao encontro, ornada à moda das prostitutas, prevenida para caçar as almas" (Prov. VII, 10). Pode contudo a mulher aplicar-se licitamente em agradar ao seu marido, afim de que ele, por desprêzo, não venha a cair em adultério. Por isso diz o Apóstolo: "As mulheres casadas cuida das coisas que são do mundo, de como agradar ao marido" (1 Cor, VII, 34). Por onde, se a mulher casada se ornar para agradar ao marido, pode fazê-lo sem pecado. Mas, as mulheres, que não têm marido, nem os querem ter, e vivem em estado de não os poderem ter, não podem sem pecado querer agradar aos olhos dos homens, para o fim da concupiscência, pois, seria dar-lhes o incentivo de pecar. Se, pois, se ornarem com a intenção de despertar nos outros a concupiscência, pecam mortalmente. Se o fizerem, porém, sem esta má intenção, mas só por leviandade ou por uma certa vaidade fundada na jactância (se pretender apenas ser admirada e elogiada), nem sempre comete pecado mortal, mas, às vezes, venial. [Nem seria venial, se o fizer sem pensar em nada, mas pura e simplesmente por leviandade]. E o mesmo se dá, neste ponto, com os homens. 
   Por tudo que acabamos de explicar, vamos responder a objeção que foi feita no início deste segundo artigo, objeção esta baseada na Bíblia Sagrada: Deut. XXII, 5. 
   RESPOSTA À OBJEÇÃO: Como dissemos (no artigo 1º), o vestuário  exterior deve corresponder à condição da pessoa, de conformidade com o uso comum. Por isso e considerado em si mesmo, é repreensível e vicioso uma mulher trazer trajes de homem e vice-versa. E sobretudo porque pode ser uma causa de sensualidade. Mas, se a Bíblia diz que isto é abominável, e, portanto, coisa grave, é por uma circunstância à parte. No caso, é porque os pagãos usavam deste travestimento na prática dos seus cultos idolátricos.[Sabemos pela História que os pagãos cometiam as maiores abominações diante de seus ídolos; e, para tanto, as mulheres se vestiam de homem e os homens de mulher.] [ E Santo Tomás continua dentro desta lógica]: Pode-se, porém, proceder deste modo ( isto é, a mulher usar roupa masculina ...) e sem pecado, se o exigir a necessidade:  quer para ocultar-se dos inimigos, quer por falta de outras roupagens, quer por outro qualquer motivo semelhante. [Geralmente se dá o exemplo de Santa Joana d'Arc].
   Ainda falando dos ornatos femininos, Santo Tomás cita o Apótolo São Paulo e tira as conclusões: Donde o dizer o apóstolo: "Orem também as mulheres em trajes honestos, ataviando-se com modéstia e sobriedade, e não com cabelos frisados, nem com ouro, nem pérolas ou vestidos custosos, mas sim como convém a mulheres que fazem profissão de piedade" (1 Tim. II, 9 e 10). Pelo que, continua Santo Tomás, dá a entender, que o ornato sóbrio e moderado não é proíbido às mulheres, senão só o supérfluo, o vergonhoso e o impudico. [Falando sobre pintura, Santo Tomás diz: Nem sempre a pintura constitui pecado mortal, mas só quando feita por lascívia ou por desprêzo de Deus, casos a que se refere (S.) Cipriano. Saibamos, porém, que uma coisa é fingir uma beleza que não se tem, e outra, ocultar um defeito proveniente de alguma causa, como p. ex., uma doença ou qualquer outra. O que é lícito; pois, segundo o Apóstolo, "os que temos pelos mais vis membros do corpo a esses cobrimos com mais decoro" (1 Cor. XII, 23).
   Até aqui: Santo Tomás de Aquino. Só o que está entre colchetes, que é meu. 
 Antes de terninar, porém, gostaria de fazer algumas observações.
OBSERVAÇÕES: 1ª - Santo Tomás não fala em calças compridas para as mulheres. Por um motivo por demais óbvio: não havia e certamente ninguém da Idade Média podia imaginar que um dia houvesse. Começaram a aparecer em 1911. E esta moda só pegou mesmo em 1920. E no Brasil só mais tarde. 
                               2ª - Muito menos a Sagrada Escritura fala em calças compridas femininas.                        
                                         3ª -  Se a calça comprida feminina não é como a dos homens porque é de feitios diferentes e também por ser só uma parte do vestuário, mesmo assim  é condenável precisamente por provocar a sensualidade, mostrando as formas do corpo. D. Antônio de Castro Mayer deu-me a seguinte orientação: As mulheres, moças e meninas que, por algum motivo, eram obrigadas a usarem calças compridas, não as usassem justas e além disso, em alguns lugares como p. ex., nos hospitais como enfermeiras, usassem um jaleco mais comprido E estas pessoas deviam vestir-se assim só em caso de necessidade. Mas só por isso, não deviam ser afastadas dos sacramentos. Vamos falar mais sobre isso, se Deus quiser, na próxima postagem que terá como título: AS VESTES À LUZ DA BÍBLIA SAGRADA. A Sagrada Escritura, como é a palavra de Deus, oferece-nos os princípios gerais pelos quais se resolvem todos os casos particulares.
                               4ª- Antigamente não havia este despudor provocante que há hoje em todo lugar. Mesmo as pessoas sem prática da religião tinham vergonha de se apresentarem em público sumariamente vestidas. O pudor foi-se perdendo aos poucos. Por isso antigamente os padres até os santos como o Santo Cura d'Ars, Sao Barnardino de Sena e muitos outros cujos sermões chegaram até nós, falam contra o excesso de vaidade. e contra a má intenção de provocar a lascívia. Mas, a fortiori, teriam combatido e com muito zelo, a imoralidade das modas.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O NOSSO ORGANISMO SOBRENATURAL

   Vamos terminar o nosso estudo sobre a graça.
   Deus, que habita na nossa alma, não permanece nela apenas para receber as nossas adorações e homenagens; quer também dar-se a nós e levar-nos até Ele para termos a felicidade perfeita.
   Deus é vida e fonte de vida: "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens". (S.João, I,4). Ora, para nos levar até Ele, Deus quis comunicar-nos uma participação da sua vida divina. Mas, fracas criaturas  que somos, como poderemos nós receber esta participação da vida de Deus? Só se aprouver à bondade divina completar e aperfeiçoar a nossa alma, dotando-a de um organismo sobrenatural, muito superior ao que podem exigir as criaturas mais perfeitas. Ora é precisamente o que Ele faz, vindo habitar em nós.
   Como homens, todos temos, por natureza, uma vida intelectual que nos permite conhecer a verdade e amá-la. Mas ela não pode proporcionar-nos mais que um conhecimento imperfeito, adquirido ao preço de muitos trabalhos, pela reflexão, pela análise, pelo reciocínio, por uma longa série de induções e deduções, em que estamos sujeitos a enganar-nos. É esta vida que Deus vai trnsformar: sem nada tirar do que há de bom em nós, insere na nossa alma um organismo sobrenatural completo.
   Já vimos, ao tratar do graça santificante, que Deus espalha, digamos assim, na própria substância da nossa alma, a graça habitual, que desempenha em nós o papel de princípio vital sobrenatural, fazendo-os semelhantes, mas mão iguais, a Deus, e preparando-nos, embora de uma maneira remota, para conhecer a Deus como Ele se conhece e para o amar como Ele se ama. Desta graça santificante dimanam as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo, que sobrenaturalizam as nossas faculdades naturais, e nos dão o poder imediato de praticar atos meritórios de vida eterna.
   Para pôr em movimento estas faculdades, concede-nos graças atuais, que nos iluminam a inteligência, fortificam a vontade, dão-nos energias que superam de longe as nossas forças e ajudam-nos a praticar ações a que podemos chamar deiformes; com efeito, trata-se não de atos meramente humanos, mas de atos que, embora sendo nossos, são também de Deus, pois Ele quer ser nosso colaborador e operar em nós o querer e o agir (Fil. II, 13). Como já vimos, a graça penetra totalmente o nossa vida natural e eleva-a tornando-a semelhante à vida de Deus. A vida própria de Deus é ver-se a si mesmo diretamente e amar-se infinitamente, visto ser infinitamente amável. Ora, nenhuma criatura por mais perfeita que a imaginemos, pode por si mesma contemplar a essência divina, que habita numa luz inacessível a toda criatura (1Tim. VI, 16). Mas Deus, por um privilégio inteiramente gratuito, chama o homem a contemplá-lo face a face no céu, com Ele se contempla a si mesmo, não certamente no mesmo grau, pois o homem é um ser limitado, mas do mesmo modo, diretamente, sem raciocínio, sem intermidiário. Tal é o sentido desta frase de São Paulo: "Nós agora vemos como por um espelho (i.é, por um intermidiário), obscuramente, mas depois vê-lo-emos face a face; agora conheço-o em parte, mas depois hei de conhecê-lo como sou conhecido" (1Cor. XIII, 12 13). É também este o pensamento de São João quando diz: "Agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que seremos um dia. Sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos como é" (1 S. João, III, 2). É participarmos de uma maneira finita, mas real, da própria vida de Deus; é conhecê-lo como Ele se conhece, amá-lo como Ele se ama.
   No céu veremos a Deus; na terra, comungamos já do seu pensamento pela fé. que é a luz de Deus. É, pois, bem verdade que pela fé  e pela caridade começamos a conhecer a Deus como ele se conhece e a amá-lo como Ele se ama, embora num grau muito inferior, e que começamos a participar da Sua vida.
   A liberalidade divina outorga-nos generosamente, no próprio momento em que recebemos a graça habitual, um conjunto de virtudes e de dons sobrenaturais. As virtudes sob a direção da prudência, nos permitem operar sobrenaturalmente com o concurso da graça atual. Os dons nos tornam tão dóceis à ação do Espírito Santo que, guiados por uma espécie de instinto divino, somos, por assim dizer, movidos e dirigidos por este divino Espírito. Devemos advertir, porém, que estes dons não se exercem de modo frequente e intenso senão nas almas mortificadas.
   No exercício das virtudes, a graça deixa-nos ativos, sob o influxo da prudência. No uso dos dons, quaando estes atingiram pleno desenvolvimento, exige de nós mais maleabilidade do que atividade. Façamos uma comparação: Quando a mãe ensina o filhinho a andar, umas vezes, contenta-se de lhe guiar os passos, impendindo-o de cair; outras vezes, toma-o nos braços, para o ajudar a vencer um obstáculo  ou lhe dar um pouco de descanço. No primeiro caso, é a graça cooperante das virtudes; no segundo caso, é a graça operante dos dons.
   Além de tudo isso, o Nosso Pai celestial concede-nos GRAÇAS ATUAIS.
   A graça atual é um auxílio sobrenatural e transitório que Deus nos dá para nos iluminar a inteligência e fortalecer a vontade na produção dos atos sobrenaturais.

sábado, 7 de maio de 2011

OS NOSSOS DEVERES PARA COM O HÓSPEDE DIVINO

   Primeiro dever: PENSAR MUITAS VEZES neste Deus que vive em nós e fazer-lhe companhia. Quando uma pessoa notável nos dá a honra de nos visitar, nós apressamo-nos a dispensar-lhe o melhor do nosso tempo e a tornar-lhe a estadia junto de nós tão agradável quanto possível. Não será precisamente isso o que devemos fazer em relação ao nosso hóspede divino, que nos dá a honra de nos visitar e de estabelecer em nós a sua morada? A Ele que se ocupa incessantemente dos interesses da nossa alma, havíamos de esquecer? Santa Teresa d'Ávila censurava-se por ter vivido tanto tempo sem pesnsar frequentemente na Santíssima Trindade. "Compreendia bem, escrevia ela, que tinha uma alma, mas a estima que essa alma merecia, a dignidade do hóspede que nela habitava - isso não o compreendia bem, porque as vaidades da existência eram como uma cortina diante de meus olhos. Se tivesse compreendido como agora, que era grande o Rei que habitava o pequeno palácio de minha alma, parece-me que não o teria deixado só tantas vezes" (Cf. Caminho de Perfeição, cap. XXVIII). Muitos leitores hão de censurar-se da mesma maneira e esforçar-se doravante por fazer companhia ao hóspede divino desde a manhã até à noite.
   Os meios são simples: 1º - Recolhermo-nos no começo dos nossos trabalhos, dizendo: Deus vive em mim, e consagrarmos às três pessoas divinas o ato que vamos realizar. É para isto que fazermos o sinal da cruz no início dos nossos trabalhos.
                                          2º - Sabendo que o hóspede divino é para o homem uma fonte de luz, de força, de consolação, as alma interiores voltam repetidamente para Ele, no decurso dos seus atos, os olhos do espírito e do coração.
                                          3º - Nas orações, as almas interiores nunca esquecem as palavras de Jesus: "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e, tendo fechado a porta, ora a teu Pai, que está presente, em segredo" (Mat. VI, 6). O quarto onde se recolhem é a cela do coração. É aí que encontram a Santíssima Trindade, é aí que, unidas, incorporadas no Verbo Encarnado, adoram e suplicam em silêncio. 
   Segundo dever: ADORAÇÃO. Como não glorificar e louvar este hóspede divino, que, sendo Deus, transforma a nossa alma num verdadeiro santuário? E com que amor se deve repetir a doxologia dos primeiros cristãos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, que não é uma fórmula vaga, porque exprime todos os sentimentos de adoração, de louvor e de amor. Sobretudo quando assiste a Santa Missa, a alma interior gosta de orar pausadamente, de saborear, digamos assim, todas as preces em honra da Santíssima Trindade: o Kyrie eleison, o Gloria in excelsis Deo, o Sanctus, o Pater-Noster; e, quando no fim da missa, o sacerdote se inclina sobre o altar para suplicar à Santíssima Trindade que se digne aceitar o sacrifício que acaba de oferecer, a alma piedosa acrescenta a oferenda do seu próprio coração e sente-se confortada para todo o dia.
   Terceiro dever: O AMOR. E o nosso amor não há de manifestar-se apenas em sentimentos piedosos, mas em obras e sacrifícios: 1º - Será um amor penitente, que se propõe expiar as infidelidades. 2º - Será  um amor reconhecido, que agradece todos os dons a este insigne benfeitor, a este consolador dedicado que opera em nós e conosco com tanto zelo e constância. 3º - Será um amor de amizade, que nos levará a corresponder às ambilidades divinas com uma santa alegria e a conversar afetuosamente com o mais fiel e o mais generoso dos amigos; que nos levará sobretudo a aceitar todos os seus interesses, a procurar a sua glória, a louvar e a fazer louvar o seu santo nome. 4º - Será enfim um amor generoso, que vai até o sacrifício, ao esquecimento de sì, à aceitação cordial de todas as provações que lhe aprouver enviar-nos. Como Santa Teresinha do Menino Jesus, diremos sinceramente: "Não sou egoísta: é a Deus que eu amo e não a mim... A minha alma está sempre na escuridão; mas eu sou feliz, sim, muito feliz, por não ter qualquer consolação... Teresa ama a Jesus só por Ele".
   Quarto dever: A IMITAÇÃO. O amor generoso conduz à imitação. O homem deseja assemelhar-se o mais possível àquele a quem ama. Mas como imitar a Trindade, cuja santidade é infinita? De duas maneiras: evitando cuidadosamente tudo o que pode toldar a pureza da alma, e adornando-a de todas as virtudes. Templo vivo da Santíssima Trindade, o cristão deve conservar com cuidado extremo a pureza do corpo e da alma. Digamos com santa energia: "Antes morrer, ó meu Deus, do que manchar o vosso santuário; antes morrer do que expulsar-vos do meu coração, introduzindo nele o pecado e o demônio".
   "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito" (Mat. V, 48). Para facilitar esta tarefa o Filho de Deus fez-se homem como nós, viveu a nossa vida, abraçou as nossas misérias e as nossas fraquezas, exceto o pecado, e tornou-se, assim, o caminho que devemos trilhar para subir até ao Pai.
   Há, no entanto, uma virtude cuja prática Nosso Senhor nos recomenda, para imitarmos a unidade perfeita que reina entre as três pessoas divinas: a caridade fraterna. "Que todos sejam um, como tu, meu Pai, o és em mim e eu em ti, para que eles sejam um em nós" (S.João, XVII, 21). Nos primeiros séculos, os pagãos se convertiam vendo este bom exemplo dos cristãos e diziam: "Vede como eles se amam!"