sábado, 14 de maio de 2011

DA MODÉSTIA QUANTO AO ORNATO EXTERIOR

   Artigo extraído de Santo Tomá de Aquino, Suma Teológica, 2-2 q. 169. a. 1 e 2.
   Artigo primeiro: Parece que não há nenhum vício nem nenhuma virtude em matéria de ornato exterior... Mas, pelo contrário: a honestidade supõe a virtude. Não faltar nada do que exige a honestidade ou a necessidade, sem se cair no exagero. Logo, pode haver virtude e vício em matéria de vestuário.
SOLUÇÃO: As coisas exteriores, em si mesmas, de que o homem usa não são matéria de nenhum vício, que só existe em quem as emprega imoderadamente. Ora, esta imoderação pode dár-se de dois modos.- Primeiro, relativamente ao costume daqueles com quem convivemos. Citando Santo Agostinho, Santo Tomás diz que devemos seguir os costumes locais ou do país. Segundo, pode haver imoderação, no uso das referidas coisas, pelo afeto desordenado de quem usa delas; donde vem que às vezes, p. ex., usamos dos ornatos exteriores com sensualidade, quer estejamos de acôrdo ou não com os costumes daqueles com quem convivemos. Ora, por esse afeto desordenado se pode pecar por excesso, de três modos: 1- quando as nossas vestes e coisas semelhantes são acompanhadas de ornatos excessivos afim de granjear a glória dos homens. 2- quando nos preocupamos excessivamente com o nosso vestuário, em vista do prazer. No caso as vestes estariam sendo usadas como um culto do corpo. 3- quando simplesmente nos preocupamos excessivamente com a roupagem externa, mesmo se não há nenhum fim desordenado.[ Foi Jesus quem condenou esta preocupação excessiva com o vestuário.]
   Como há três vicios neste ponto, há, também três virtudes: humildade, fugindo de toda vanglória; honesta suficiência, fugindo do prazer e contentando-se com o necessário; simplicidade que é o hábito pelo qual nos contentamos com o que nos acontece. Em outras palavras: conformámo-nos com a nossa posição social.
   Mas o afeto pode ser também desordenado por defeito, e de dois modos: 1- desleixo, falta de cuidado e negligência em nos vestirmos como devemos; falta de asseio. 2 - Seria o vício de usar estas dificiências todas para buscar a vanglória: querer apresentar-se com o afeto desordenado, pretendendo com estes desleixos, parecer humilde e penitente.   
 Artigo segundo: Parece que os ornatos femininos constituem pecado mortal.
   Assim, faz-se a seguinte objeção: Assim como não convém à mulher usar de roupas masculinas, assim também não deve usar de ornatos desordenados. Ora, o primeiro procedimento é pecado, segundo diz a Sagrada Escritura em Deuteronômio, capítulo 22, versículo 5: "A mulher não se vestirá de homem nem o homem se vestirá de mulher, porque aquele que tal faz é abominável diante de Deus". Donde se conclui, que o ornato exagerado das mulheres é pecado mortal.        
   Mas, em contrário, devemos dizer que os ornatos femininos em si mesmos, não constituem pecado mortal. Porque, se assim fosse, haveríamos de concluir que os artífices fabricadores destes ornatos também pecariam mortalmente. Então apresentamos a SOLUÇÃO: Em relação ao ornato das mulheres, devemos levar em conta os mesmos elementos que consideramos já acima, em geral, relativamente ao vestuário exterior; e, além disso, mais em especial, devemos notar que os ornatos femininos provocam mais os homens à lascívia, isto é, à sensualidade, segundo à Escritura: "E eis que uma mulher lhe sai ao encontro, ornada à moda das prostitutas, prevenida para caçar as almas" (Prov. VII, 10). Pode contudo a mulher aplicar-se licitamente em agradar ao seu marido, afim de que ele, por desprêzo, não venha a cair em adultério. Por isso diz o Apóstolo: "As mulheres casadas cuida das coisas que são do mundo, de como agradar ao marido" (1 Cor, VII, 34). Por onde, se a mulher casada se ornar para agradar ao marido, pode fazê-lo sem pecado. Mas, as mulheres, que não têm marido, nem os querem ter, e vivem em estado de não os poderem ter, não podem sem pecado querer agradar aos olhos dos homens, para o fim da concupiscência, pois, seria dar-lhes o incentivo de pecar. Se, pois, se ornarem com a intenção de despertar nos outros a concupiscência, pecam mortalmente. Se o fizerem, porém, sem esta má intenção, mas só por leviandade ou por uma certa vaidade fundada na jactância (se pretender apenas ser admirada e elogiada), nem sempre comete pecado mortal, mas, às vezes, venial. [Nem seria venial, se o fizer sem pensar em nada, mas pura e simplesmente por leviandade]. E o mesmo se dá, neste ponto, com os homens. 
   Por tudo que acabamos de explicar, vamos responder a objeção que foi feita no início deste segundo artigo, objeção esta baseada na Bíblia Sagrada: Deut. XXII, 5. 
   RESPOSTA À OBJEÇÃO: Como dissemos (no artigo 1º), o vestuário  exterior deve corresponder à condição da pessoa, de conformidade com o uso comum. Por isso e considerado em si mesmo, é repreensível e vicioso uma mulher trazer trajes de homem e vice-versa. E sobretudo porque pode ser uma causa de sensualidade. Mas, se a Bíblia diz que isto é abominável, e, portanto, coisa grave, é por uma circunstância à parte. No caso, é porque os pagãos usavam deste travestimento na prática dos seus cultos idolátricos.[Sabemos pela História que os pagãos cometiam as maiores abominações diante de seus ídolos; e, para tanto, as mulheres se vestiam de homem e os homens de mulher.] [ E Santo Tomás continua dentro desta lógica]: Pode-se, porém, proceder deste modo ( isto é, a mulher usar roupa masculina ...) e sem pecado, se o exigir a necessidade:  quer para ocultar-se dos inimigos, quer por falta de outras roupagens, quer por outro qualquer motivo semelhante. [Geralmente se dá o exemplo de Santa Joana d'Arc].
   Ainda falando dos ornatos femininos, Santo Tomás cita o Apótolo São Paulo e tira as conclusões: Donde o dizer o apóstolo: "Orem também as mulheres em trajes honestos, ataviando-se com modéstia e sobriedade, e não com cabelos frisados, nem com ouro, nem pérolas ou vestidos custosos, mas sim como convém a mulheres que fazem profissão de piedade" (1 Tim. II, 9 e 10). Pelo que, continua Santo Tomás, dá a entender, que o ornato sóbrio e moderado não é proíbido às mulheres, senão só o supérfluo, o vergonhoso e o impudico. [Falando sobre pintura, Santo Tomás diz: Nem sempre a pintura constitui pecado mortal, mas só quando feita por lascívia ou por desprêzo de Deus, casos a que se refere (S.) Cipriano. Saibamos, porém, que uma coisa é fingir uma beleza que não se tem, e outra, ocultar um defeito proveniente de alguma causa, como p. ex., uma doença ou qualquer outra. O que é lícito; pois, segundo o Apóstolo, "os que temos pelos mais vis membros do corpo a esses cobrimos com mais decoro" (1 Cor. XII, 23).
   Até aqui: Santo Tomás de Aquino. Só o que está entre colchetes, que é meu. 
 Antes de terninar, porém, gostaria de fazer algumas observações.
OBSERVAÇÕES: 1ª - Santo Tomás não fala em calças compridas para as mulheres. Por um motivo por demais óbvio: não havia e certamente ninguém da Idade Média podia imaginar que um dia houvesse. Começaram a aparecer em 1911. E esta moda só pegou mesmo em 1920. E no Brasil só mais tarde. 
                               2ª - Muito menos a Sagrada Escritura fala em calças compridas femininas.                        
                                         3ª -  Se a calça comprida feminina não é como a dos homens porque é de feitios diferentes e também por ser só uma parte do vestuário, mesmo assim  é condenável precisamente por provocar a sensualidade, mostrando as formas do corpo. D. Antônio de Castro Mayer deu-me a seguinte orientação: As mulheres, moças e meninas que, por algum motivo, eram obrigadas a usarem calças compridas, não as usassem justas e além disso, em alguns lugares como p. ex., nos hospitais como enfermeiras, usassem um jaleco mais comprido E estas pessoas deviam vestir-se assim só em caso de necessidade. Mas só por isso, não deviam ser afastadas dos sacramentos. Vamos falar mais sobre isso, se Deus quiser, na próxima postagem que terá como título: AS VESTES À LUZ DA BÍBLIA SAGRADA. A Sagrada Escritura, como é a palavra de Deus, oferece-nos os princípios gerais pelos quais se resolvem todos os casos particulares.
                               4ª- Antigamente não havia este despudor provocante que há hoje em todo lugar. Mesmo as pessoas sem prática da religião tinham vergonha de se apresentarem em público sumariamente vestidas. O pudor foi-se perdendo aos poucos. Por isso antigamente os padres até os santos como o Santo Cura d'Ars, Sao Barnardino de Sena e muitos outros cujos sermões chegaram até nós, falam contra o excesso de vaidade. e contra a má intenção de provocar a lascívia. Mas, a fortiori, teriam combatido e com muito zelo, a imoralidade das modas.

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