quarta-feira, 16 de julho de 2014

O EQUILÍBRIO DA DOUTRINA SANTIFICADORA - ( 10 )

   145. O SALVO PRATICA A VIRTUDE PARA SER SALVO.


   Finalmente aparecem os protestantes com esta sutil distinção: o homem não pratica a virtude, não pratica as boas obras PARA SER SALVO. Mas sim, PORQUE JÁ ESTÁ SALVO, pratica a virtude e as boas obras. As boas obras são uma consequência da salvação.

   - Não vemos oposição entre uma coisa e outra: O homem pratica a virtude e as boas obras PORQUE ESTÁ SALVO;  e também pratica a virtude e as boas obras PARA SER SALVO.

   -  Não estou entendendo nada, dirá o leitor. Não parece haver aí uma contradição?

   - Contradição nenhuma.

   Como já tivemos ocasião de explicar (nº 88), a Bíblia toma a palavra SALVO em dois sentidos. Às vezes se chama SALVO aquele que ESTÁ NO CAMINHO DA SALVAÇÃO,  porque está com a graça santificante. A criatura que tem a felicidade de se encontrar em estado de graça, a qualquer instante em que falecer permanecendo nesta situação, está com a salvação garantida.

   Enquanto estamos aqui na terra, esta situação do homem SALVO, ou seja, HERDEIRO DO CÉU, ainda pode perder-se pelo pecado mortal, por uma razão muito simples: a alma é livre e sendo tentada, ainda pode pecar gravemente. E o pecado, quando tiver sido consumado, gera A MORTE (Tiago I-15).

   Mas aquele que morreu em estado de graça, este está SALVO definitivamente, não pode mais perder este estado de salvação. E é neste sentido que diz a Escritura: Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse é que SERÁ SALVO (Mateus X-22).

   Assim ambas as proposições são verdadeiras. O homem pratica a virtude e as boas obras, porque ESTÁ SALVO, isto é, porque está na graça santificante, está na amizade de Deus e por isto tem a caridade, o amor de Deus e do próximo em seu coração, e eis a fonte para todas as boas obras. Além disto, já tivemos ocasião de explicar (nº 25 e 33) que as nossas obras só TÊM VALOR para o Céu, só são merecedoras da recompensa, na visão beatífica, se forem feitas em estado de graça, ou em outras palavras, se forem feitas quando estamos SALVOS.

   O homem pratica a virtude e as boas obras para SER SALVO, porque ele sabe muito bem que só conquistará o Céu, se morrer neste estado de graça. Por isto continua sempre a praticar a virtude, a fazer as boas obras para se manter neste feliz estado. Sabe que pode morrer a qualquer momento e quer comparecer diante do Juiz Supremo, no dia de sua morte, com a veste nupcial da graça, para que possa ter o direito de ser admitido no banquete celeste.

   O protestante toma a palavra SALVO somente no sentido de SALVO DEFINITIVAMENTE, de herdeiro do Céu que não pode mais por consideração alguma perder o direito à divina herança. Apresenta também o cristão felicíssimo, convencidíssimo já nesta vida de que TERÁ O CÉU COM TODA CERTEZA. E nos vem dizer que só porque o homem já está salvo, já está com a herança no bolso é que pratica a virtude e as boas obras.

   Mas isto não convence a ninguém: a ideia de que já está salva com toda certeza, sem perigo nenhum de perder-se, não seria para pessoa alguma um incentivo às renúncias e aos sacrifícios exigidos pela virtude e pelas boas obras. Muito pelo contrário... porque nós conhecemos muito bem como é a nossa pobre natureza humana. 

   

Nenhum comentário:

Postar um comentário