quinta-feira, 4 de agosto de 2016

INCIDENTE ENTRE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

1º - NA EPÍSTOLA AOS GÁLATAS


   São Pedro em Antioquia estava convivendo com os gentios, comendo de todos os alimentos que eles comiam, mesmo dos que tinham sido proibidos aos judeus, quando chegaram os judeus que tinham ido falar com São Tiago. Depois da chegada deles, São Pedro começou a retrair-se, a afastar-se dos gentios, temendo ofender aos que eram circuncidados (Gálatas II-12). No dilema em que se havia colocado, São Pedro achou que, tendo-se encarregado especialmente da pregação aos judeus, enquanto São Paulo o era da pregação entre os gentios, cabia-lhe em primeiro lugar evitar o desgosto da parte dos judeus. Não previu, porém, as consequências do seu retraimento. Sendo o chefe da Igreja, tendo tanta autoridade que o próprio Barnabé, apesar de companheiro de São Paulo, apesar de ser um dos campeões na luta contra os judaizantes (Atos XV-2), começou a seguir-lhe o exemplo, a sua atitude bem podia ser explorada pelos partidários da circuncisão obrigatória. São Paulo resolveu então adverti-lo do mal que estava fazendo com isto: eu lhe resisti em face, porque era repreensível (Gálatas II-11) e reclamar contra aquela simulação (Gálatas II-13). A verdade é que simulação maior do que esta fez o próprio São Paulo, entrando no templo de Jerusalém para submeter-se a uma purificação e apresentando-se como uma espécie de padrinho para os quatro nazarenos (Atos XXXI-26), o que, aliás, não deu resultado, porque os judeus findaram sempre revoltando-se contra ele; maior, porque a atitude de São Pedro foi apenas negativa; retraiu-se do convívio com os gentios. O que agravava a situação era a exploração que os judaizantes podiam fazer do caso, perigo este que foi previsto por São Paulo, antes que São Pedro o percebesse. 

   São Pedro recebeu humildemente a advertência de São Paulo, achou que ele tinha razão e encerrou-se o incidente. A respeito disto diz São Gregório Magno: "Calou-se Pedro, para que aquele que era o primeiro na culminância do apostolado, fosse também o primeiro na humildade" (Homilia 18 in Ezechielem). E Santo Agostinho assim comenta: "Pedro aceitou com santa e piedosa humildade a observação que utilmente lhe fizera Paulo, inspirado pela liberdade do amor, deixando assim aos pósteros o raro exemplo de não se dedignarem em ser corrigidos pelos inferiores, onde quer que se desviassem do reto caminho; exemplo mais raro e mais santo que o deixado por Paulo aos inferiores que, por defender a verdade evangélica, ousassem resistir confiadamente, salvando-se, porém, a verdade... Em Paulo louvemos a justa liberdade; em Pedro a santa humildade" (Epístola 19 ad Hieronymum). 

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