quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A QUESTÃO DOS JUDAIZANTES (continuação)

   1º. - NA EPÍSTOLA AOS GÁLATAS


   Acontecia, porém, que para os judeus nascidos e criados entre aqueles costumes da lei mosaica, embora a lei já estivesse morta, para eles não se considerava grande mal que a cumprissem, enterrando-a com honras. Cumpriam uma coisa que não lhes era imposta, não porque se considerassem obrigados a isto, mas por uma questão de hábito ou por um motivo qualquer de conveniência. Isto fez o próprio São Paulo, o qual vimos, há pouco, dizer: E me fiz para os judeus, como judeu, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se eu estivera debaixo da lei (não me achando eu debaixo da lei) por ganhar aqueles que estavam debaixo da lei (1ª Coríntios IX-20 e 21). Assim procedeu São Paulo, por exemplo, no caso de Timóteo, como vem narrado nos Atos XVI-1 a 3). Paulo sabia muito bem que a circuncisão não era mais obrigatória, mas querendo utilizar em prol da Igreja os bons serviços de Timóteo, que era filho de pai gentio com mãe judia, tomando os discípulo, o circuncidou por causa dos judeus que havia naqueles lugares (Atos XVI-3); assim Timóteo teria mais prestígio para conquistar os judeus ao reino de Cristo, porque podiam os judeus não lhe dar muita autoridade, sendo um incircunciso a serviço do Evangelho. Outro caso, em que São Paulo obedece a prescrições da lei mosaica, mesmo sabendo-se não sujeito a ela, se lê nos Atos, XXI. São Paulo chega a Jerusalém. Os anciãos o advertem: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus são os que têm crido e todos são zeladores da lei. E têm ouvido de ti que ensinas aos judeus que estão entre os gentios que deixem a Moisés, dizendo que eles não devem circuncidar a seus filhos, nem andar segundo o seu rito (Atos XXI-20 e 21). Com o pensamento de conquistar as graças dos judeus, São Paulo concorda em entrar no templo de Jerusalém, juntamente com quatro varões que têm voto sobre si (Atos XXI-23) e submeter-se com eles a uma cerimônia judaica, embora sabendo que a lei de Moisés não estava mais em vigor: Então Paulo, depois de tomar consigo aqueles varões, purificado com eles, no seguinte dia entrou no templo, fazendo saber o cumprimento dos dias da purificação, até que se fizesse a oferenda por cada um deles (Atos XXI-26).

   Apesar do que foi decidido no Concílio de Jerusalém, obstinam-se alguns judeus convertidos na sua tarefa de induzir os gentios a professar o judaísmo juntamente com a Religião Cristã, ensinando que eles não podiam salvar-se sem a observância da lei mosaica. 

  A questão vai tomando assim um aspecto mais grave. Que os judeus já acostumados a observar a lei mosaica, embora estivessem agora livres da lei, continuassem temporariamente a observá-la, para sepultar com honras esta lei que já estava morta, não era tão grande mal. Mas querer obrigar os gentios, que a esta lei nunca estiveram sujeitos, que não eram da raça judaica, a se circuncidarem, a fazerem profissão de judaísmo juntamente com a de Cristianismo, era um erro muito grave. Equivalia a ensinar que o homem não pode justificar-se diante de Deus sem as obras da lei mosaica, quando a Religião Cristã ensinava que o judaísmo está abolido e não se deve admitir outra religião, a não ser a fé cristã. Assim, se a lei para os judeus estava morta, para os gentios ia tornar-se mortífera. Querer obrigar os gentios à observância da lei, como condição para salvar-se, era o erro dos HEREGES JUDAIZANTES. 

   E o pior é que invocavam a autoridade dos Apóstolos que, que, uma vez ou outra, obedeciam à lei de Moisés, embora soubessem não ser obrigados a isto. Os Apóstolos estavam assim num dilema. Se se mostravam muito intransigentes com os judeus, que já estavam tão habituados a observar a lei mosaica, ofendiam os judeus e os afastavam de si. Se condescendiam com eles, davam margem a que os judaizantes apontassem o seu exemplo para ensinar que a observância da lei mosaica era necessária para a salvação e a prova é que os Apóstolos também a observavam. Foi isto que deu origem em Antioquia ao incidente entre São Paulo e São Pedro. (Extraído do Livro "LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA", autor: Lúcio Navarro). 
                                    É o que veremos no próximo post, se Deus quiser. 

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