terça-feira, 2 de agosto de 2016

A QUESTÃO DOS JUDAIZANTES (continuação)

1º. - NA EPÍSTOLA AOS GÁLATAS


   Mas aconteceu que vindo alguns da Judeia, ensinavam assim aos irmãos: Pois se vos não circuncidais segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos. E tendo-os movido uma disputa não mui pequena de Paulo e Barnabé contra eles, sem os convencer, resolveram que fossem Paulo e Barnabé e alguns dos outros, aos Apóstolos e aos presbíteros de Jerusalém, sobre esta questão (Atos XVI-1 e 2).

   Reunidos os Apóstolos e presbíteros no Concílio de Jerusalém, quando está mais acesa a discussão sobre o assunto, depois de se fazer sobre ele um grande exame (Atos XV-7), Pedro levanta-se e mata a questão. Deus não fez diferença alguma entre os judeus e os gentios, dando também a estes últimos o Espírito Santo. E com a palavra decisiva de Pedro, acabou-se a discussão: ENTÃO TODA A ASSEMBLEIA SE CALOU (Atos XV-12). Falam Paulo e Barnabé contando quão grandes milagres e prodígios fizera Deus por intervenção deles nos gentios (Atos XV-12).

   Levanta-se por fim São Tiago, para mostrar como a decisão de São Pedro concordava com o que tinham anunciado os profetas e para fazer também uma proposta; proposta que é aprovada, porque pareceu bem aos Apóstolos e aos presbíteros, com toda a Igreja (Atos XV-22).

   A proposta de Tiago é a seguinte:

   1º Que se mande aos cristãos que se abstenham de comer das carnes sacrificadas aos ídolos.

   Era costume entre os gentios separar para os sacerdotes uma parte dos animais que foram sacrificados aos ídolos. Esta carne era vendida nos mercados e às vezes com elas se faziam banquetes. Aos cristãos convertidos do gentilismo se manda que se abstenham de tais banquetes, afim de não escandalizarem os judeus, para quem tais carnes eram abominação e também pelo perigo de recaírem na idolatria ou de parecerem aos idólatras como coniventes com o seu culto. 

   2º Mande-se que se abstenham da fornicação, porque os gentios pensavam erradamente que a simples fornicação (sem adultério) não era pecado, e parece até que juntavam a fornicação a esses banquetes feitos com carnes dos sacrifícios; é, pelo menos, o que se insinua em Números XXV-1 e 2: Neste tempo estava Israel em Selim, e o povo caiu em fornicação com as filhas de Moab, as quais os chamaram para os seus sacrifícios; e eles comeram e adoraram os deuses delas. É claro que a fornicação é proibida de qualquer maneira na lei cristã. 

   3º Mande-se que não comam nem o sangue, nem os animais sufocados.
   
   Os antigos, mesmo os gentios, tinham horror a este ato de comer o sangue; parecia-lhes isto uma demonstração de selvageria, à imitação dos cães que lambem o sangue dos animais.

   Depois, com o tempo, feita a verdadeira fusão entre os judeus e os gentios no seio da Igreja, desparecidas aquelas ideias antigas, esta proibição caiu em desuso, uma vez que cessava o motivo pelo qual havia sido feita, isto é, evitar a aversão mútua entre gentios e judeus. É interessante notar neste ponto como os protestantes, que só admitem aquilo que está na Bíblia, deveriam ainda hoje obedecer a esta lei e no entanto comem a carne dos animais sufocados, como é a carne de boi que se vende nos nossos açougues, e comem o sangue dos animais. Deveriam fazer como fazem ainda hoje os judeus: matar as galinhas por um processo todo especial e deixar escorrer todo o seu sangue; pois a Bíblia não fala na revogação desta lei, revogação que foi feita depois pela autoridade da Igreja, pelos sucessores dos Apóstolos, quando esta lei não foi mais julgada necessária. 

   Fora as restrições propostas por São Tiago, ficou de pé o princípio de que a lei de Moisés não obrigava mais: os cristãos não estavam mais obrigados a circuncidar-se, nem àquelas purificações e cerimônias da Lei Antiga, nem a abster-se de todos aqueles alimentos considerados imundos na legislação mosaica, como a carne de porco, etc. 

Continua no próximo post.

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