Fugir da vã esperança, da soberba e da demasiada familiaridade
Do Livro da Imitação de Cristo
Insensato é o que põe sua esperança nos homens ou nas criaturas. Não confies em ti mesmo, mas põe em Deus a tua vontade. Não confies na tua ciência, nem na astúcia de nenhum vivente, mas só na graça de Deus, que ajuda os humildes e rejeita os soberbos. Se tens riquezas, não te glories nelas, nem nos amigos, ainda que sejam poderosos, mas em Deus que dá tudo, e sobretudo deseja dar-se a si mesmo. Deus Pai deu-nos o seu próprio Filho e, com Ele, nos deu tudo. E Jesus se entregou como vítima a ser oferecida pela nossa salvação eterna.
Não te desvaneças na galhardia, na força ou na formosura do corpo, que com pequena enfermidade se corrompe e afeia. Não tenhas também complacência em tua habilidade ou no teu engenho, para que não desagrades a Deus, de quem é todo o bem que temos. Como poderemos cometer a loucura de nos gloriarmos de uma coisa como nossa, se, na verdade, tudo o que temos de bom recebemo-lo de Deus, Nosso Pai, Criador e Redentor!
O humilde goza de contínua paz; mas o coração do soberbo está cheio de invejas e iras.
Nas coisas de Deus o demasiado trato com a criatura divide a alma e a enfraquece. Na verdade, nossa alma não foi criada por Deus para a terra, senão para viver em mais alta morada: "Nossa conversação, diz São Paulo, é no céu". Enquanto, porém, vivemos com os homens, o melhor é ter geral afabilidade para com todos, e com ninguém particular familiaridade.
Considerando a fraqueza do homem, a fragilidade da vida, os sofrimentos que de toda a parte o cercam, as trevas de sua razão, as incertezas de sua vontade sempre propensa ao mal, é para admirar que um só movimento de soberba possa elevar-se numa criatura tão miserável; e todavia a soberba é o mesmo fundo da nossa natureza corrompida. "A soberba, diz Santo Agostinho, separa-nos da sabedoria, faz com que queiramos ser nós mesmos nosso bem, como Deus é seu próprio bem; a tanto chega a loucura do crime!"
Busca-se então o homem a si mesmo, e admira-se em tudo que o distingue dos outros e o engrandece a seus próprios olhos, nas vantagens do corpo, do espírito, do nascimento, da riqueza e até da graça, abusando assim ao mesmo tempo dos dons do Criador e dos benefícios do Redentor.
Ó! quanto devemos temer em nós o menor assomo de vaidade e o louco desejo de nos preferirmos a um de nossos irmãos! Não vamos seguir o fariseu do Evangelho, que desprezava o publicano, e digamos com este: "Meu Deus, tende compaixão de mim que sou um pobre pecador"!
Não esqueçamos nunca o conselho do Divino Mestre: "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração!"
Como ramalhete espiritual colhido no jardim desta leitura meditada, conservarei na mente e no coração, durante todo o dia esta jaculatória: "Jesus manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso!"
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