terça-feira, 3 de setembro de 2019

DISCURSO DO PAPA PIO XII NA BEATIFICAÇÃO DO VENERÁVEL PAPA PIO X ( III )

Respondendo à uma objeção. ( continuação ).
   16- Será porventura verdade, como alguns afirmaram ou insinuaram, que no caráter do Bem-aventurado Pontífice a fortaleza muitas vezes prevaleceu sobre a prudência? Tal pôde ser a opinião de adversários, cuja maior parte eram também inimigos da Igreja. Na medida, porém, em que essa opinião foi partilhada por outros, ainda que admiradores do zelo apostólico de Pio X, essa apreciação é desmentida pelos fatos, quando se observa a sua solicitude pastoral pela liberdade da Igreja, pela pureza da doutrina, pela defesa do rebanho de Cristo dos perigos iminentes, que nem sempre encontrava em alguns toda aquela compreensão e íntima adesão, que deveria esperar-se deles. Agora que o mais minucioso exame perscrutou a fundo todos os atos e vicissitudes do seu Pontificado, agora que se conhece a sequência daquelas vicissitudes, nenhuma hesitação, nenhuma reserva é já possível e deve reconhecer-se que, ainda nos períodos mais difíceis, mais ásperos, mais graves e de mais responsabilidade, Pio X, assistido pela grande alma do seu fidelíssimo Secretário de Estado, o Cardeal Merry del Val, deu prova daquela iluminada prudência, que nunca falta nos santos, ainda que nas suas aplicações se encontre em contraste, doloroso mas inevitável, com os falazes postulados da prudência humana e puramente terrena.
   17- Com o seu olhar de águia mais perspicaz e mais seguro que a vista curta dos míopes raciocinadores, via o mundo tal qual era, via a missão da Igreja no mundo, via com olhos de santo Pastor qual era o seu dever no seio de uma sociedade descristianizada, de uma cristandade contaminada ou, pelo menos, assediada pelos erros do tempo e pela perversidade do século.
   18- Iluminado pelo resplendor da verdade eterna, guiado por uma consciência delicada, lúcida, de rígida retidão, ele tinha muitas vezes, sobre o dever de momento e sobre as resoluções a tomar, intuições cuja perfeita retidão desconcertava muitos que não eram dotados das mesmas luzes.
   19- Por natureza, ninguém mais doce, mais amável do que ele, ninguém mais amigo da paz, ninguém mais paternal. Porém, quando nele falava a voz da sua consciência pastoral, não tinha em conta senão o sentimento do dever: este impunha silêncio a todas as considerações da fragilidade humana; cortava cerce todas as tergiversações; decretava as disposições mais enérgicas, ainda que penosas ao seu coração.
   20- O humilde "cura de aldeia", como algumas vezes se quis chamar - e não é desdouro nenhum para si - em face dos atentados contra os direitos imprescindíveis da liberdade e da dignidade humana, contra os sagrados direitos de Deus e da Igreja, sabia erguer-se como um gigante com toda a majestade da sua autoridade soberana. Então o seu "non possumus" fazia tremer e às vezes retroceder os poderosos da terra, animando ao mesmo tempo os hesitantes e galvanizando os tímidos.
   21- A esta força diamantina do seu caráter e da sua conduta, manifestada logo desde os primeiros dias do seu Pontificado, se deve atribuir, primeiro a estupefação e depois a aversão daqueles que quiseram fazer dele o "signum cui contradicetur", revelando assim o fundo escuro das suas próprias almas.
   22- Não há, pois, excessivo predomínio da fortaleza sobre a prudência. Ao contrário, estas duas virtudes, que dão como que o crisma àqueles a quem Deus predestina para governar, foram em Pio X equilibradas a tal ponto que, examinados objetivamente os fatos, ele se mostrou tão eminente numa, quanto excelso na outra. Não é porventura esta harmonia de virtudes, nas altas regiões do heroísmo, o selo da santidade perfeita?
   

2 comentários:

  1. Reverendíssimo Pe. Élcio,

    Muito bom dia e

    Vossa Benção.

    Atendo por Alexandre, resido em São Paulo/SP, sou Católico, Apostólico e Romano e recentemente li um comentário do senhor no sítio FIU(http://fratresinunum.com/2015/09/04/visoes-heterodoxas-e-outras-florescem-na-igreja-catolica/).

    Lendo atentamente o que está lá escrito, creio ter entendido o alcance de vossas palavras que, se se tornarem concretas, lançar-nos-iam em em terreno de grandiosíssimas provações; assim, gostaria de lhe perguntar, como um filho a seu Pai:

    Quais seriam as consequências do que o senhor mesmo coloca, aponta e previne ( “Questões de fé e moral, quais são as do Sínodo dos bispos em outubro próximo, estão dentro do campo da infalibilidade pontifícia na hipótese de o Sumo Pontífice agir como doutor universal impondo para toda a Igreja, entrando em jogo inclusive, a salvação eterna das almas. . A infalibilidade pontifícia nestes casos é dogma de fé. Logo… se o papa Francisco aprovar (o que nem de longe acredito) algo contra a fé e/ou os costumes (o que Deus não permita) ele não seria Papa”.), caso essas mesmas possibilidades se concretizem?

    Entenda-me: por minha vez, sou Pai de família e procuro orientações para os de minha casa.

    Caso o senhor não ache conveniente a resposta aqui neste espaço, fique à vontade para escrever diretamente em meu e-mail: alepaideia@gmail.com



    Desde já agradeço e

    Salve Maria Puríssima, sem pecado concebida!

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    1. Caríssimo Sr.Alexandre, Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Salve Maria!
      O Papa Francisco já deu alguns indicações que nos levam a pensar na segunda hipótese: favorecer a heresia por imprudência, negligência ou ambiguidades. como fez Honório I frente ao Monofisismo. Já publiquei artigo sobre o Papa Honório e S. Máximo. Uma medida sobre o matrimônio, o Papa já anunciou. Modificar o CDC para facilitar as declarações de nulidade. Acho prudente a gente esperar. Mas já há um número super elevado destas declarações. Imagine havendo maior facilidade?
      De coração, envio-lhe minha bênção sacerdotal
      Padre Elcio Murucci

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