"Vinde a mim, vós todos, que estais oprimidos, e eu vos
aliviarei" (S Mateus XI, 28).
20. Estes poucos ensinamentos a propósito de um assunto tão
vasto serão, não duvidamos, fecundos em frutos de salvação para o povo cristão
se, por vossos cuidados, Veneráveis Irmãos, forem em tempo oportuno expostos e
recomendados. Mas esse sacramento é tão grande e tão abundante em toda sorte de
virtudes, que ninguém poderá jamais nem lhe celebrar assaz eloquentemente os
louvores, nem por suas adorações honrá-lo como ele o merece. Quer o meditemos
com piedade, quer o adoremos nas cerimônias oficiais da Igreja, quer sobretudo
o recebamos, com a pureza e a santidade requeridas, deve ele ser considerado
como o centro de uma vida cristão tão completa como pode sê-lo; todas as outras
modalidades de piedade, quaisquer que sejam, conduzem e vão ter, em última
análise, à Eucaristia. Mas é principalmente neste mistério que se realiza e se
cumpre cada dia o benévolo convite e a promessa, mais benévola ainda, de
Cristo:
Vinde a mim, vós todos, que
estais onerados, e eu vos aliviarei (S. Mat. XI< 28).
Procissão de Corpus Christi - 1ª bênção do Santíssimo
Carmelo de Nossa Senhora do Carmo - Varre-Sai, RJ.
21. Esse mistério, finalmente, é como que a alma da Igreja;
é para ele que se eleva a própria plenitude da graça sacerdotal pelos diversos
graus das Ordens. É nele, ainda, que a Igreja haure e possui toda a sua virtude
e toda a sua glória, todos os tesouros das graças divinas e todos os bens: por
isso ela consagra os maiores desvelos a dispor e a trazer os espíritos dos
fiéis a uma íntima união com Cristo por meio do sacramento de seu Corpo e de
seu Sangue; é pelo mesmo motivo que ela procura fazê-lo venerar ainda mais pelo
esplendor das suas cerimônias mais santas. A perpétua solicitude desenvolvida a
este respeito pela Igreja, nossa Mãe, é magnificamente salientada por uma
exortação publicada no santo Concílio de Trento, a qual respira uma caridade e
uma piedade admiráveis e merece verdadeiramente que a transmitamos integralmente
ao povo cristão: "O Santo Concílio adverte com afeto paternal, exorta,
pede e conjura, pelas entranhas da misericórdia de nosso Deus, todos e cada um dos que trazem o nome de cristãos,
a se unirem enfim e viverem em boa harmonia nesse sinal da unidade, nesse
vínculo da caridade, nesse símbolo de concórdia; a se lembrarem da tão grande
majestade e do tão admirável amor de Jesus Cristo Nosso Senhor, que deu sua alma
bem-amada como preço da nossa salvação, e que nos deixou seu corpo como
alimento; a crerem e a venerarem esses mistérios sagrados do corpo e do sangue
de Cristo com uma fé tão constante e tão firme, com uma devoção, uma piedade e
um respeito tais, que possam frequentemente receber esse pão supersubstancial,
que este seja deveras a vida das suas almas e a saúde perpétua dos seus
corações, e que, fortificados por esse alimento, possam, ao sair desta
miserável vida, chegar à pátria celeste, onde se nutrirão sem velame desse Pão
dos anjos que agora só lhes é distribuído sob os véus sagrados" (Sess.
XIII, De Echar., X, c. VIII).
22. Também a história nos atesta que a vida cristã foi
especialmente florescente no povo nas épocas em que a Eucaristia era recebida
mais frequentemente. Em compensação, e fato é este não menos certo, as pessoas
se habituaram a ver o vigor da fé cristã enfraquecer-se sensivelmente à medida
que os homens negligenciavam o pão celestial e, por assim dizer, lhe perdiam o
gosto. Para que essa fé não desaparecesse completamente, no Concílio de Latrão
Inocêncio III tomou uma medida oportuníssima, fazendo para todo cristão uma
obrigação gravíssima de não se abster da comunhão do Corpo do Senhor ao menos
por ocasião das solenidades pascais. Evidente é, porém, que esse preceito foi
dado com pesar e como remédio extremo: porque a Igreja sempre desejou que em
cada sacrifício os fiéis pudessem participar desse banquete divino. "O
Santo Concílio desejaria que em cada missa os fiéis presentes não fizessem
apenas a comunhão espiritual, mas, também que viessem receber sacramentalmente
a Eucaristia; assim os frutos desse Santíssimo Sacrifício manariam mais
abundantes sobre eles" (Conc. Trid. sess. XXII, c. VI).
(Excerto da Encíclica
"MIRAE CARITATIS" de Leão XIII
sobre a Santíssima Eucaristia, escrita em 1902).
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