terça-feira, 27 de agosto de 2019

O PECADO VENIAL


LEITURA ESPIRITUAL, dia 27

""Abstende-vos de toda aparência do mal" (Tessal. V, 22)


Há um erro popular, e não é só de hoje, que consiste em persuadir-se falsamente de que o pecado venial é coisa de somenos importância, como se a palavra venial significasse bagatela, coisa de nada. Talvez este erro venha da palavra "leve" também empregada para designar pecado venial. Na verdade, "leve" aqui é um termo relativo, assim, por exemplo, comparando, quando a gente diz que a Terra é pequena em relação ao Sol. É claro que em si mesma a Terra não é pequena. Assim, fazendo a aplicação, dizemos que o pecado venial é leve em comparação com o mortal, mas em si mesmo é o maior mal que existe sobre a terra depois do pecado mortal. Não é difícil entendermos, pois, se é pecado, ofende a Deus que é de uma dignidade, perfeição e majestade infinitas. Daí dizer São Jerônimo: "Não é falta leve desprezar a Deus nas coisas pequenas". É chamado venial (de venia em latim que significa perdão)porque significa coisa perdoável, ou, melhor dizendo "coisa mais facilmente perdoável", porque o pecado mortal também é perdoável. Mas não esqueçamos que para os pecados (mortais e veniais) poderem ser perdoados, Jesus Cristo sofreu o morreu numa Cruz.

Mas o que é pecado venial? Bom! se é pecado é porque tem os três elementos que constitui um pecado: transgressão da lei de Deus, advertência sobre esta transgressão e apesar disto há o consentimento da vontade. Quando se dá o pecado venial? Nestes casos: Quando a matéria da transgressão é de si mesma leve; ou é grave mas a advertência sobre esta malícia não é total e o consentimento da vontade não é pleno. É, portanto, qualquer pensamento, palavra, ação ou omissão contra a lei de Deus, mas que não  é tão grave, que nos faça perder a amizade do Senhor e dê a morte à alma. Acha-se neste gênero de faltas, tudo o que constitui o pecado: Deus que manda, o homem que recusa obedecer. A única diferença que há entre o pecado mortal e o venial, é o consentimento mais ou menos completo, matéria mais ou menos grave. Quanto ao mais, em um e outro há uma indigna preferência dada à vontade do homem sobre a de Deus; é uma ofensa de Deus; e feita por quem, e porque? Por uma vil criatura, por um desprezível motivo. Há portanto no pecado venial um verdadeiro desprezo de Deus, uma verdadeira injúria feita a todas as perfeições de Deus; injúria leve comparativamente com a que resulta do pecado mortal, mas de uma gravidade como que infinita, já que ofende a dignidade infinita de Deus.

Vamos dar alguns exemplos de pecados veniais: pequenas iras passageiras, ligeiras intemperança no  comer ou beber, falar mal dos outros em coisas que não causam graves danos a reputação do próximo, mentiras oficiosas, manifestações de amor próprio, distrações e curiosidades que me alheiam de mim mesmo e me perturbam o coração, negligências nos exercícios espirituais e religiosos, donde resultam tantas faltas contra o respeito devido ao Senhor. Se não vigiarmos, quantas faltas cometemos pelo mau humor, pela liberdade da língua etc.

Os teólogos e também autores espirituais fazem algumas suposições e comparações para se fazer compreender melhor o mal que é o pecado venial. Eis alguns exemplos: Seria um grande mal aquele que não pudesse ser reparado com todas as lágrimas do gênero humano, com os tormentos dos mártires, as austeridades dos anacoretas, os sofrimentos, a caridade de todos os Santos, e com todas as boas obras que se têm feito desde o princípio, e se farão até ao fim do mundo. E todavia, todas estas satisfações, se não se lhes ajuntassem as satisfações infinitas do Verbo encarnado, não bastariam para reparar a ofensa que faz a Deus um só pecado venial. Outro exemplo: a mentira quando não prejudica gravemente o próximo é sempre de si mesma um pecado venial. Pois bem! Se fosse para tirar todos os condenados do inferno ou evitar que fossem expulsos do Céu todos os Santos, não se poderia cometer tal mentira, que é um pecado venial. Será que haverá alguém ainda afirmando com tanta desenvoltura que o pecado venial é coisa de nada, e que se pode fazê-lo com a mesma facilidade com que se bebe um copo d'água? Se houver, por ventura algum pecador que ouse afirmá-lo, ouça também o que diz os santos dos quais citarei apenas alguns: Santa Catarina de Gênova: "Lançar-me-ia em um oceano de chamas, sendo preciso, para evitar a ocasião do menor pecado, e ali ficaria sempre, antes do que sair de lá por um pecado venial";  Santa Catarina de Sena: "Se a alma que é imortal, pudesse morrer, a vista de um só pecado venial, que manchasse a sua beleza, seria capaz de lhe dar a morte"; Santo Inácio de Loiola dizia: "Todo o homem que é zeloso da pureza da sua consciência, deve humilhar-se diante de Deus pelos pecados mais leves, considerando que aquele Senhor contra quem são cometidos, é infinito em todo o gênero de perfeições, o que lhes agrava infinitamente a malícia" ; Dizia Santo Tomás de Aquino: "Antes morrer que pecar venialmente". Eis mais um exemplo: "O Santo Cura d'Ars tinha recebido  uma cédula de mil francos, para as suas obras. Quando foi acender a vela, não tendo fósforo, tirou do bolso  um pedaço de papel e o chegou ao fogo. O padre coadjutor deu um grito: "Senhor Vigário, é uma nota de mil francos que queimais". "Antes isso, disse o Santo, que um pecado venial".


E, caríssimos, quem pode contar a multidão dos pecados veniais. Santo Agostinho dizia; "Se não temes os pecados veniais, quando pensas na sua gravidade, temei-os quando os contas". Milhares de pecados veniais somados não constitui um mortal, a não ser quanto àqueles mandamentos em que a matéria se soma, como é o caso do 7º mandamento (pode chegar a uma soma que já passe a constituir pecado mortal). Fora disto não. Mas se não se combate os pecados veniais e estes se tornam um hábito, a alma se torna tíbia e aí vai aos poucos escorregando para o abismo do pecado mortal. E uma circunstância que nos deve atemorizar: é mais difícil sair do pecado mortal, quando se chegou a ele aos poucos através de pecados veniais não combatidos. Os pecados veniais diminuem as luzes e as forças da alma. Num naufrágio pouco importa se ele acontece por uma furiosa tempestade ou pelo fato de a água entrar por um fenda gota a gota. Se muitos pecados veniais não constituem um mortal, é, no entanto, certo que dispõem para o mortal. Depois, se Deus quiser, falaremos sobre a tibieza, e, então explicaremos isto melhor. 

Ó meu Deus, eu pensaria como os Santos a respeito de tudo o que vos ofende, se vos conhecesse e vos amasse com eles! Meu Deus e Pai do Céu fazei de eu Vos ame sobre todas as coisas e aí odiarei o pecado seja mortal, seja venial. Amém!

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