terça-feira, 6 de março de 2018

OBSESSÃO DIABÓLICA



"Sede sóbrios e vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda ao redor, como um leão que ruge, buscando a quem devorar" (1 Pedro V, 8).

Extraí este artigo, em quase sua totalidade, do COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA escrito pelo célebre teólogo Padre Ad. Tanquerey.

Caríssimos, primeiramente é de grande utilidade trazer aqui a observação inicial do autor: "Sobre a ação do demônio, diz Tanquerey, há dois extremos que evitar: há quem lhe atribua todos os males que nos sucedem; é esquecer que existem em nós não só estados mórbidos que não supõem qualquer intervenção diabólica, mas também as tendências más que vêm da tríplice concupiscência, e que estas causas naturais bastam para explicar muitas tentações. Outros há, pelo contrário, que, esquecendo o que a S. Escritura e a Tradição nos dizem da ação do demônio, não querem admitir em caso algum a sua intervenção. Para nos conservarmos no justo meio, a regra que devemos seguir é não aceitar como fenômenos diabólicos senão aqueles que, ou pelo seu caráter extraordinário, ou por um complexo de circunstâncias denotem a ação do espírito maligno".

 O que é afinal obsessão diabólica? "A obsessão é em substância uma série de tentações mais violentas e duradouras que as tentações ordinárias. "É externa, quando atua sobre os sentidos externos, por meio de aparições; interna, quando provoca impressões íntimas. É raro que seja puramente externa, visto o demônio não atuar sobre os sentidos senão para perturbar mais facilmente a alma. Há, contudo, Santos que, com serem obsediados exteriormente por toda a qualidade de fantasmas, conservam na alma uma paz inalterável".

1º - "O demônio pode atuar sobre todos os sentidos externos: a) Sobre a vista, aparecendo umas vezes em formas repelentes, para aterrar as pessoas e afastá-las da prática das virtudes (...); outras, em formas sedutoras, para atrair ao mal, como sucedeu frequentes vezes a Santo Afonso Rodrigues. (Hoje podemos dar exemplos na vida do Padre Pio de Pietrelcina). b)  Sobre o ouvido, fazendo escutar palavras ou cantos blasfemos ou obscenos, como se lê na vida de Santa Margarida de Cortona; ou fazendo algazarra, para atemorizar, como sucedia ao Santo Cura d'Ars. c) Sobre o tato, de duas maneiras, infligindo golpes e feridas, como se lê nas bulas de canonização de Santa Catarina de Sena, de S. Francisco Xavier, e na vida de Santa Teresa (...).

Há casos, como nota o P. Schram, em que estas aparições são simples alucinações, produzidas por uma super-excitação nervosa; ainda mesmo nesse caso, são temerosas tentações.

2º - "O demônio atua também sobre os sentidos internos, a imaginação e a memória, e sobre as paixões, para as excitar. Como contra a própria vontade, é o homem invadido por imagens importunas, obsessoras, que persistem a despeito de enérgicos esforços; sente-se empolgado pela efervescência da cólera, pelas ânsias do desespero, por movimentos instintivos de antipatia, ou, ao contrário, por ternuras perigosas e que nada parece justificar. Não há dúvida que é por vezes dificultoso decidir se há obsessão verdadeira; mas, quando estas tentações são juntamente repentinas, violentas, persistentes e difíceis de explicar por uma causa natural,[sublinhado meu] pode-se ver nelas uma ação especial do demônio. Em caso de dúvida, é bom consultar um médico cristão, que possa examinar se estes fenômenos não serão devidos a um estado mórbido..."

Como deve proceder o Diretor Espiritual em relação às vítimas de obsessão diabólica? Diz Tanquerey: "Deve juntar a prudência criteriosa com a bondade mais paternal.

a) É claro que não há de crer, sem provas sérias, numa verdadeira obsessão. Haja, porém, ou não obsessão, deve o diretor ter compaixão dos penitentes assaltados de tentações violentas e persistentes, e sustentá-los com sábios conselhos (...).

b) Se, na violência da tentação, se produziram desordens sem consentimento algum da vontade, lembrar-lhes-á que não há pecado sem consentimento. Em caso de dúvida, julgará que não houve falta, ao menos grave, quando se trata de pessoa habitualmente bem disposta.
c) Tratando-se de pessoas fervorosas, perguntar-se-á a si mesmo o diretor se essas tentações persistentes não farão talvez parte das provações passivas... e neste caso, dará a essas pessoas os conselhos apropriados ao seu estado de alma.

d) Se a obsessão diabólica é moralmente certa ou muito provável, podem-se empregar, PRIVADAMENTE, os exorcismos prescritos pelo RITUAL ROMANO, ou fórmulas resumidas: neste caso, é bom não prevenir a pessoa que se vai exorcizá-la, havendo receio de que esta declaração lhe perturbe e exalte a imaginação; basta avisá-la de que se vai recitar sobre ela uma oração aprovada pela Igreja. Quanto aos exorcismos SOLENES, não é permitido empregá-los senão com licença do Ordinário, e com as precauções..." [que foram expostas quando falamos da possessão].

 Quero expor um exemplo que não é dado por Tanquerey mas que dele fui testemunha: Faz já alguns anos quando fui transferido de uma paróquia para outra. E a primeira coisa que topei na nova paróquia foi um caso que me pareceu preternatural, ou seja, de uma ação do demônio. Um menino, aliás não inteiramente normal mentalmente, mas, como usamos dizer aqui, um pouco retardado, fora por muito tempo molestado pelo demônio.  Suas roupas que estavam no varal dentro de casa e à noite,  eram jogadas pelo chão. Às vezes, o menino amanhecia vestido de mulher. Embora à noite ninguém visse, e as portas e janelas fechadas, apareciam pedras e barros dentro da casa onde estava o menino. Como já faz muitos anos, não me lembro de tudo.  O pároco já havia feito exorcismos e levou até o Santíssimo para benzer a casa. Mas os fenômenos continuavam e por meses e meses. Bom! Primeiro pedi que vigiassem dia e noite o menino, sem ele perceber, é óbvio. Ficou constatado que não era ele que fazia tudo aquilo, mas o fato é que não viam ninguém fazendo.  Instruído já por um fato acontecido em outra paróquia, disse para seus pais de criação que procurassem averiguar bem se aquele menino era batizado. Todos achavam que sim, tanto que já tinha feito a primeira comunhão e se confessava e comungava regularmente. Mas, averiguando cuidadosamente, fora constatado que não era batizado porque seus pais eram espíritas e o "batizaram" no Espiritismo. Foi logo preparado e foi batizado. E a partir do dia do batismo desapareceram todos aqueles fenômenos estranhos.E assim, podemos dizer que o feitiço virou contra o Feiticeiro! Amém!

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