Caríssimos, quem nos deu mais provas de amor do que Nosso
Senhor Jesus Cristo?! Quem nos perdoou tantas vezes quantas Jesus nos perdoou?
E ainda nos dá a graça do arrependimento porque quer continuar a perdoar os pecadores arrependidos.
Mas o amor de Jesus pelas suas criaturas foi mais longe, chegou ao auge, ao
extremo. "Tendo amado os seus que estavam neste mundo, amou-os até ao
fim". Isto é, amou até ao fim de sua vida, instituindo a Santíssima
Eucaristia nas vésperas de Sua morte. Amou os homens até o fim do mundo:
"Não vos deixarei órfãos, estarei convosco até o fim dos séculos".
Mas, segundo a interpretação mais seguida pelos Santos Padres, este "ATÉ AO
FIM" significa "ATÉ AO
EXTREMO". E assim exclama Santo Agostinho: "Sendo poderosíssimo, não
poderia fazer mais; sendo sapientíssimo, não saberia fazer aos homens algo
melhor; sendo riquíssimo, não teria nada mais precioso que pudesse nos dar".
A Santíssima Eucaristia é um mistério de amor, considerando,
outrossim, as circunstâncias nas quais Jesus a instituiu. Justamente quando os
homens tramavam a sua morte e não queriam tê-Lo junto deles, Jesus encontrava
um meio para continuar vivo e vivificante junto aos homens, e como alimento
para os sustentar na travessia deste deserto em demanda da Jerusalém Celeste. Sendo Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo teve
certamente grande amargura no momento da última Ceia. Se era grande a sua
alegria de Se tornar o Companheiro e o Alimento divino da humanidade até à
consumação dos séculos, e se via quantos O cercariam de adoração, reparação e
amor... não foi menor, com certeza, a Sua tristeza ao ver tantos outros que O
abandonariam no Tabernáculo, ou não acreditariam na Sua presença real!. Mas
esta tristíssima previsão não impediu que o Amor do Coração de Jesus titubeasse
sequer em instituir a Santíssima Eucaristia.
Jesus via que em muitos corações manchados pelo pecado,
deveria entrar e quantas vezes a Sua Carne e o Seu Sangue profanados só
serviriam de condenação para essas almas culpadas, almas, pelas quais Ele iria
no outro dia tanto sofrer, e morrer pregado numa cruz. Assim, os sacrilégios,
os ultrajes e as abominações sem nome que se cometem contra o Santo Sacrifício
da Missa e contra a Santíssima Eucaristia, passaram qual cortejo fúnebre diante
dos olhos de Jesus no momento da última Ceia. Viu, também quantas horas, dias,
noites, ficaria sozinho no Tabernáculo, e quantas almas repeliriam os convites
que lhes dirigiria desde esta morada!
É por amor às almas que Jesus é Prisioneiro na Eucaristia.
Ali permanece para que possam vir com todas as suas mágoas consolar-se junto do
mais terno e melhor dos pais e do Amigo que nunca as abandona. A Eucaristia é
invenção do Amor!... E este amor que se esgota e se consome pelo bem das almas
não encontra correspondência!... Jesus quis habitar entre os pecadores para
lhes ser Salvação, Vida, Médico e ao mesmo tempo Remédio em todas as doenças
geradas pela natureza corrompida. Em paga, muitos e muitos pecadores
afastam-se, ultrajam a Jesus e O desprezam!... E, ao instituir a Eucaristia,
Jesus sabia que tudo isso iria acontecer!
Ah! pobres pecadores! Não vos afasteis de Jesus Cristo!
Ficai bem sabendo que Jesus, noite e dia, espera-vos no Tabernáculo... O divino
Salvador quer lavar os vossos crimes no Sangue de suas Chagas. Não tenhais medo
e ide enquanto é tempo. Jesus sabe que as exigências do mundo incessantemente
solicitam estas pobres almas. Mas será que não terão um instante para dar a
Jesus alguma prova de amor e gratidão? Pobres pecadores não desprezeis esta
misericórdia infinita de Jesus. Estai lembrados que a Sagrada Escritura diz que
a Justiça e a Misericórdia em Deus, andam juntas. Portanto, não vos deixeis
arrastar por mil preocupações inúteis e reservai um momento para ir visitar a
Jesus Aliás, quando vosso corpo enfraquecido ou doente não encontrais tempo
para ir ao médico que há de curar-vos? Ide, pois, Àquele que pode dar à vossa
alma força e saúde e dai uma esmola de amor a este Prisioneiro divino que vos
espera, chama e deseja!. Quer o teu coração generoso e dilatado pelo amor, e
não um coração acanhado e mesquinho. Ouvi esta lenda indiana que usarei como
parábola: "Um mendigo tinha saído a mendigar. E eis o ruído de um coche
real que sobrevém em direção a ele. Acreditou o pobre ter chegado afinal o dia
de sua fortuna. Mas eis que saiu da carruagem dourada, uma mão que se estendeu
para ele em atitude de pedir: "Que tens para me dar?" Que ironia
estender a mão para pedir esmola a um mendigo! Contudo, confuso e hesitante, o
mendigo puxou fora da sacola um punhadinho de grão e lho deu. Mas qual não foi
a sua surpresa quando, findo o dia, despejando a sacola no chão de seu tugúrio,
achou no lugar do escasso punhado de grão dado ao nobre rico, um punhado de
ouro! O mendigo chorou amargamente e exclamou: Por que não tive coração para
dar ao nobre pedinte tudo o que possuía?". Também nosso Rei dos Reis, Nosso Senhor Jesus
Cristo, veio até nós, pobres mendigos, estendeu sua mão e tomou nosso grãozinho
de trigo. Mas Ele não se contentou só em convertê-lo num grãozinho de ouro mas
o transformou n'Ele próprio, para nos oferecer ao Pai, e oferecer-Se a nós,
afim de que entre Deus e o homem não houvesse separação, mas uma santa e
inefável união. E pensar que muitos só se contentam em fazer a Páscoa, e só
Deus sabe a que custo!...
É evidente, caríssimos, que Jesus viu também o outro lado,
isto é, as almas adoradoras e amantes da Santíssima Eucaristia. Viu todas estas
almas privilegiadas que se haviam de alimentar do Seu Corpo e do Seu Sangue e
aí encontrariam, umas, remédio à sua fraqueza; outras, fogo para consumir suas
misérias e inflamá-las de amor por Jesus Eucaristia. Todas unidas com um mesmo
fim, seriam como que um jardim fechado, onde cada uma produziria sua flor e
recrearia Jesus com seu perfume. E Jesus aqueceria, no seu amor, as que
precisassem de calor e o Corpo sagrado de Jesus seria o Sol que as animaria.
Jesus iria a umas e outras, para repousar. O Homem-Deus que nos ama
infinitamente, depois de nos libertar da escravidão do pecado, semeia em nós a
graça incomparável do seu apelo e de maneira misteriosa atrai-nos ao jardim das
suas Delícias, aos seminários ou aos conventos. Quantas almas sacerdotais e
religiosas encontraram sua vocação junto ao sacrário! Amém!
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