quarta-feira, 17 de junho de 2020

A ABSOLVIÇÃO SACRAMENTAL DÁ A GRAÇA SANTIFICANTE

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, dia 17º

 A pessoa, com o pecado mortal, perde a graça santificante. Se foi o primeiro pecado mortal, perde a graça santificante recebida no batismo. Isto significa perder a inocência batismal. Quando o pecador, depois de ter recuperado a graça santificante, torna-a a perder, aí vem a segunda tábua de salvação que é o Sacramento da Confissão. Neste segundo caso, pela absolvição sacramental, o pecador recupera a graça santificante que tinha perdido.

Caríssimos, devemos observar a imensa diferença entre o perdão que os homens dão e o perdão que Deus dá. Quando os homens se decidem a perdoar as ofensas que lhes foram feitas, não tornam mais a ter os sentimentos de benevolência de que eram anteriormente animados para com aqueles que os ofenderam. Mesmo não guardando rancor, é muito difícil voltar a serem os mesmos, embora perdoem de fato. Deus, porém, não procede assim; perdoando-nos, dá-nos ao mesmo tempo a sua graça, a graça santificante que é o maior de todos os dons. é o SEGUNDO EFEITO da absolvição.

Meditemos um pouco sobre a graça santificante e teremos mais facilidade em compreender até onde vai o perdão divino. "O dom da graça, diz Santo Tomás, sobrepuja a todos os dons que uma criatura possa receber, visto que participa da mesma natureza de Deus". Dai-me um pecador, o mais miserável que possa haver, desde que ele tenha recebido a santa absolvição e o perdão dos seus pecados, tornar-se-á maior do que todos os reis da terra. Este pensamento arrebatava São Leão: "Reconhece, ó cristão, reconhece tua dignidade, e, tornando-te participante da natureza divina, guarda-te bem de voltares à tua antiga baixeza". Diz o Espírito Santo no livro da Sabedoria VII, 14: "Ela é um tesouro infinito para os homens, e aqueles que dela gozam tornam-se amigos de Deus". "Ó bondade de Deus, exclama S. Gregório, nós não merecemos o título de servos, e Ele digna-se chamar-nos seus amigos". Pela absolvição readquirimos não só a amizade divina, porém, o que é mais honroso ainda, a dignidade de filhos adotivos de Deus. E devemos observar ainda que não se trata de adoção só no papel, isto é, legal em cartório; mas uma adoção pela qual nos tornamos participantes da natureza divina. É claro que não recebemos toda a natureza divina, pois Deus é infinito e nós simples criaturas. Mas a participação da natureza divina pela graça santificante nos torna semelhantes a Deus, e esta participação embora limitada, é real.
Daí, Pai é o nome com que Jesus Cristo nos ensinou a dirigirmos-nos a Deus que está no Céu. Deus é o Senhor. Mas quer que nos dirijamos a Ele como a um Pai. São João exulta nestes termos: "Considerai que amor o Pai nos testemunhou, querendo que sejamos chamados e que sejamos, efetivamente, filhos de Deus" (S. João III, 1). E não satisfeito de nos dar o título tão honroso e tão excelente de filhos de Deus, tem ainda para conosco os sentimentos e os cuidados de um pai. Ele próprio exprime da mais terna maneira pelo profeta Jeremias, os sentimentos de seu coração paternal: "Efraim não é para mim um filho honrado, um filho da minha ternura? Por isso, embora eu tenha falado contra ele, ainda me lembrei dele. Por isso se comoveram as minhas entranhas por ele; e, compadecido, terei misericórdia dele, diz o Senhor." (Jeremias, XXXI, 20). E em continuação o profeta mostra que Deus terá misericórdia dos pecadores, enviando-lhes o Messias: "Eis que o Senhor criou uma coisa nova sobre a terra: Uma mulher cercará um homem" (Jeremias, XXXI, 22).

Que há de mais suave e de mais terno do que estas palavras? Esta divina filiação nos dá direito à herança de que Jesus Cristo goza no céu: "Pois, se somos filhos, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo" (Rom. VIII, 17). Somos herdeiros de Deus justamente porque Ele é nosso Pai, e somos co-herdeiros de Jesus Cristo, porque o Salvador é nosso irmão. Assim, temos direito à celeste herança e estamos inscritos entre os cidadãos do céu, benefício supremo pelo qual o Salvador convidou seus apóstolos a se alegrarem: "Alegrai-vos por ter vossos nomes inscritos nos céus" (S. Lucas X, 20).Ora, é certo que o homem, cada vez que cai em pecado mortal, é riscado do livro da vida, e inscrito, ao menos por momentos, no livro da morte eterna. Pois o Senhor disse: "Apagarei do meu livro aquele que tiver pecado contra mim" (Êxodo XXXII, 33). Mais terrível castigo não se pode imaginar. Contudo, tal é a força da absolvição bem recebida, que risca a cédula dos pecados, e inscreve de novo os homens no livro da vida, restituindo-lhes a dignidade de filhos e herdeiros de Deus. Isto prova que a graça é verdadeiramente em nós "o germe da glória", segundo a palavra de Santo Tomás de Aquino. 

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