quarta-feira, 6 de agosto de 2014

LIBERDADE RELIGIOSA DO VATICANO II - (continuação)

Por  D. Lefebvre, obra citada

  A Mansidão Evangélica

  Assegura o Concílio que a revelação divina "mostra o grande respeito que Cristo teve pela liberdade do homem, no cumprimento de seu dever de crer na palavra de Deus (DH. 9); Jesus manso e humilde de coração, manda deixar crescer o joio até a colheita, não quebra a cana rachada nem apaga a chama bruxuleante (DH. 11, cf. Mt. XIII, 29; Is. XLII, 3). Eis a resposta: quando o Senhor manda deixar crescer o joio, não lhe concede o direito de não ser arrancado, mas aconselha aquilo aos que colhem, "para evitar que sejam arrancados os grãos bons". Conselho de prudência: às vezes é preferível não escandalizar os fiéis com o espetáculo da repreensão dos infiéis; algumas vezes mais vale evitar a guerra civil, que despertaria a intolerância. Igualmente, se Jesus não quebra a cana rachada e faz disso uma regra pastoral para seus apóstolos, é por caridade para com os que erram, para não separá-los mais da verdade, o que poderia acontecer se usassem os meios coercitivos. 

  É claro, às vezes existe um dever de prudência e de caridade por parte da Igreja e dos Estados católicos para com os adeptos dos falsos cultos, mas este dever não confere ao outro nenhum direito. Por não distinguir a virtude da justiça (a que dá os direitos) da prudência e da caridade (que por si, só dá deveres), o Vaticano II mergulha no erro. Fazer da caridade uma justiça é perverter a ordem social e política da cidade.  

  Mesmo quando se considerar que Nosso Senhor dá, apesar de tudo, ao joio o direito "de não ser arrancado" este direito seria totalmente relativo às razões particulares que o motivaram, não seria nunca um direito natural e inviolável. Diz Santo Agostinho: "Ali onde se deve temer arrancar o grão bom ao mesmo tempo que o ruim, que a severidade da disciplina não durma", que não se tolere o exercício dos falsos cultos. E São João Crisóstomo, também não partidário das supressão dos dissidentes, não exclui a supressão de seus cultos: "Quem sabe, diz ele, se algum joio não se transformará em boa semente? Se o arrancais agora, prejudicareis a próxima colheita, arrancando os que poderiam mudar e chegar a ser melhores. Ele (o Senhor) certamente não proíbe reprimir os hereges, fechar suas bocas, negar-lhes a liberdade de falar, dispersar suas assembleias, e repudiar seus juramentos; o que Ele proíbe é derramar seu sangue e mata-los" (Cf. Homilia 46, sobre São Mateus, citado por Santo Tomás).  A autoridade destes Padres da Igreja me parece suficiente para refutar a interpretação abusiva que faz o Concílio da mansidão evangélica. Sem dúvida Nosso Senhor não pregou medidas militares, o que não é motivo para transformá-lo em um apóstolo da tolerância liberal. 

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