quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Epístola aos Hebreus, XI, 1: Definição clássica da Fé

São Paulo na sua Epístola aos Hebreus, XI, 1 dá a definição clássica da Fé. Como poucos sabem o grego, vou dar a tradução da Vulgata, portanto, em latim, depois traduzir para o nosso idioma e, finalmente dar a explicação dos termos segundo o grego e o latim. 
   Em Hebreus, XI, 1 diz São Paulo: "Est autem fides sperandarum substantia rerum, argumentum non apparentium". Em Português: "A fé é, pois,  a realidade das coisas que esperamos, e a prova das que não vemos". 

  No hebraico há um paralelismo, como é comum neste idioma. Há dois membros, sendo um como eco do outro. No primeiro a fé seria o apoio sólido de todas as nossas esperanças. Seria a tradução da palavra latina "substantia" que quer dizer realidade e também fundamento. Em grego é "hipóstasis" que quer dizer fundamento, realidade. O Padre Prat como também o Padre Leonel Franca preferem traduzir "substantia" por realidade, no sentido que as coisas que "esperamos" começariam pela fé, a ter, no nosso espírito, uma realidade subsistente, tão certa e indubitável como se as víramos com os olhos. Este segundo significado ou segunda exegese, acentua mais vivamente a fé-crença, o sentido de convicção intelectual. Eis o que diz o Padre Prat: "A fé é o fundamento da esperança e em geral de toda a nossa vida sobrenatural; é outrossim, uma persuasão firme, tão segura que não deixa lugar à dúvida; é, enfim, a realidade das coisas que esperamos, enquanto constitui uma tomada de posse antecipada dos bens futuros e impede sejam vãs ou fantásticas as nossas esperanças... " E o Padre Prat acrescenta que este último sentido, ou seja, o de realidade, lhe parece preferível. (Cf. "La Theologie de Saint Paul", I T. p. 543). 
   É importante notarmos que os Santos Padres gregos, (como, por exemplo, São João Crisóstomo), preferem este segundo sentido.                                                                                  
  Bom! Este é o primeiro membro do paralelismo. Vejamos agora o segundo. No segundo membro da definição paulina, a fé se descreve com uma palavra toda intelectual. "Elegkos" (argumento, prova) tanto no grego antigo quanto no uso dos primeiros tempos cristãos, equivale a prova, argumento, refutação, ato de convencer, demonstração objetiva. E a palavra latina que corresponde exatamente a este termo grego "elegkos" é a palavra "argumentum". E assim traduziu muito bem São Jerônimo na Vulgata. 
   
    Depois de dar o significado mais adequado dos termos, devemos concluir que a fé não é uma persuasão subjetiva. De modo nenhum. É, sim, uma convicção sólida e fundada no que se não vê. O que é a experiência para as coisas sensíveis e a demonstração para as verdades científicas da ordem natural, é a fé para o mundo das realidades invisíveis, isto é, a fé é prova segura e indubitável de sua existência. Aliás, nada mais seguro, mais sólido do que a Fé, baseada que é na autoridade do próprio Deus, e concedida com o auxílio da graça de Deus. E as verdades reveladas são imutáveis, são válidas por todos os séculos dos séculos. Se aparecer um anjo pregando algo diferente do que Jesus Cristo nos revelou e a Santa Igreja nos transmitiu, seja anátema. Se olharmos bem, veremos que este "anjo" é um anjo mau. "Vade retro!  São Judas Tadeu disse na sua Epístola, versículo 3: "Caríssimos, desejando eu com toda a solicitude escrever-vos acerca da vossa comum salvação, tive necessidade de vos escrever agora, para vos exortar a combater pela fé, que foi dada aos santos uma vez por todas".

   Relembrando a definição de fé dada pelo Concílio Vaticano I: "É uma virtude sobrenatural, pela qual, prevenidos e auxiliados pela graça de Deus, cremos, como verdadeiro, o conteúdo da revelação, não em virtude de sua verdade intrínseca, vista pela luz natural da razão, mas por causa da autoridade de Deus que não pode enganar-se ou enganar-nos". 
    O Concílio Vaticano I não fez senão resumir, com uma precisão técnica perfeita, o ensino tradicional da Igreja. E desta definição se depreendem duas coisas: 1ª - É um ato da inteligência pelo qual admitimos como verdadeira uma doutrina atestada pela autoridade divina; 2ª - é um ato livre, dependente da nossa vontade e, por isso, sob o domínio da nossa responsabilidade moral, digna de mérito como virtude ou de condenação como pecado. "Quem crer, será salvo; quem não crer, será condenado". 

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