sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Colóquio do sacerdote com Jesus

Livro IV da Imitação de Cristo,  capítulos VI e VII



   1. VOZ DO DISCÍPULO: Senhor, quando penso em vossa dignidade e em minha vileza, tenho grande temor e me acho confuso. Porque se não me chego a Vós, fujo da vida; e se indignamente me atrevo a chegar-me, incorro em vossa indignação. Que farei pois, meu Deus, meu protetor, meu conselheiro, em minhas necessidades?
    2. Mostrai-me o caminho direito, ensinai-me algum breve exercício para me preparar à santa comunhão. Importa-me muito saber com que fervor e reverência devo preparar meu coração, para receber com fruto vosso Sacramento, ou para oferecer tão grande e divino sacrifício.

O Apóstolo São João, a quem Jesus mais
amava, reclinado sobre o coração de Jesus
   1. A VOZ DO SALVADOR: Sobre todas as coisas é necessário que o sacerdote de Deus se prepare para celebrar os santos mistérios, tocar e receber o corpo de Jesus Cristo; chegue a este sacramento com profunda humildade de coração, devota reverência, inteira fé e piedosa intenção de dar honra e glória a Deus.
    Examina diligentemente tua consciência e, segundo tuas forças, purifica-a e orna-a com verdadeira dor e humilde confissão; de maneira que, livre do peso de tuas culpas, isento de turbação ou remorsos, possas livremente vir a mim.
    Tem aborrecimento de todos os teus pecados em geral, e pelas faltas diárias doe-te e geme mais particularmente. E se o tempo permite, confessa a Deus, no segredo de teu coração, todas as misérias de tuas paixões.
    2. Chora e geme por estares ainda tão carnal e mundano, tão pouco mortificado nas paixões, tão cheio do movimento de concupiscência; tão pouco diligente na guarda dos sentidos exteriores, tão envolto muitas vezes em vãs imaginações; tão inclinado às coisas exteriores; tão negligente nas interiores; tão fácil ao riso e à dissipação, tão duro para as lágrimas e compunção; tão disposto à relaxação e regalos da carne, tão lento para seguir vida austera e fervorosa; tão curioso para ouvir novidades e ver coisas formosas, tão remisso em abraçar as humildes e desprezadas; tão cobiçoso de ter muito, tão avaro em dar; tão sôfrego em reter; tão inconsiderado em falar, tão pouco acautelado no calar; tão pouco regulado nos costumes, tão indiscreto nas ações; tão intemperante no comer e beber; tão surdo às vozes de Deus; tão pronto para o descanso; tão preguiçoso para o trabalho; tão esperto para ouvir contos e fábulas; tão sonolento para velar na oração; tão impaciente por chegar ao fim e tão vago na atenção; negligente em rezar o Ofício Divino, tão tíbio em celebrar a Missa, tão indevoto na comunhão, tão fácil em te distraíres, tão difícil em te recolheres, tão ligeiro em irar-te, tão fácil em magoar os outros; tão precipitado em julgar; tão rigoroso em repreender, tão alegre na prosperidade, tão abatido na desgraça; tão fecundo em bons propósitos e tão estéril em boas obras.
   3. Depois de teres confessado e chorado com grande dor e vivo sentimento de tua fraqueza estes defeitos e tantos outros que em ti conheces, propõe firmemente emendar tua vida e adiantar na virtude.
   Oferece-te depois, com absoluta  e inteira resignação, no altar de teu coração, como perpétuo holocausto, em honra do meu nome, entregando-me fielmente o teu coração e a tua alma, para alcançares assim a graça de celebrar dignamente o santo sacrifício e receber com fruto o Sacramento de meu Corpo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário