segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

IGUALDADE E DESIGUALDADE NA IGREJA

Extraído da INSTRUÇÃO PASTORAL SOBRE A IGREJA, escrita por D. Antônio de Castro Mayer em 2 de março de 1965.

 Assim, na Igreja somos"o corpo de Cristo, e cada um, de sua parte, é um de seus membros" (1 Cor. 12, 27). Inculca neste passo o Apóstolo - e nós julgamos conveniente sublinhar - que todos os membros da Igreja têm uma dignidade fundamental, que é a mesma em todos, como filhos de Deus, membros de Jesus Cristo, chamados todos à perfeição. Sob este ponto de vista, não há na Igreja discriminação entre os fiéis, sejam eles "judeus ou gregos, servos ou livres" (cf. Gal. 3, 28), isto é, pertençam a esta ou àquela nação, tenham esta ou aquela condição social.
  

   Ao lado dessa dignidade fundamental, comum a todos os membros da Igreja, que deve, por sua alta excelência, ser por todos reconhecida e respeitada, dispôs Deus uma desigualdade requerida pelas funções e ministérios, indispensáveis num corpo organizado. Semelhantes funções e ministérios importam novas dádivas que são outras tantas excelências, que devem, igualmente, ser reconhecidas e tomadas no devido respeito; como, numa família, sem inveja, antes com amor, todos acatam e veneram a autoridade dos pais, sem que nenhum filho pretenda tomar-lhes o lugar ou usurpar-lhes a dignidade.

   Por seu turno, os que foram distinguidos pela Providência com maiores dons, a fim de exercerem na Igreja funções ou ministérios especiais, não têm razão alguma de menosprezar os demais, consoante a palavra do Apóstolo: "que tens que não recebeste? e se recebeste, por que te vanglorias, como se o não tivesses recebido? (1 Cor. 4, 7).

   A economia da graça, caríssimos filhos, tem o sigilo da harmonia divina. Santo Agostinho afirma que onde há humildade, aí há majestade; "ubi humilitas ibi maiestas" (Sermão 24). Realmente, a majestade só se compreende à imitação de Jesus Cristo, que, apesar de suas prerrogativas divinas, veio ao mundo para servir os homens; assim todas as dignidades na Santa Igreja  (o mesmo se diga da sociedade), que, objetivamente, envolvem excelências singulares  -  o que é preciso reconhecer  -  são de fato constituídas em benefício da comunidade, como todas as partes do corpo servem ao bem comum do organismo. Além do mais, a escala ascendente dos graus de excelência na Igreja  -  como em geral na ordem dos seres  -  induz a alma a um conhecimento menos imperfeito da inefável grandeza de Deus. Tem, pois, outrossim, uma missão pedagógica. São Pio X dava como característica do espírito modernista, o desejo de despojar a autoridade religiosa de todo aparato exterior, dos ornamentos pomposos pelos quais ela se apresenta num como espetáculo. Nisso, acrescenta o Papa, esquecem-se os modernistas de que a Religião, se pertence à alma, nela não se confina; e de que as honras tributadas à autoridade redundam em homenagem a Jesus Cristo, que a instituiu. 

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