É precisamente porque a adoração se processa no NOSSO ÍNTIMO, que Nosso Senhor disse estas palavras: "A hora vem, e agora é, quando os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em ESPÍRITO E VERDADE; porque tais quer também o Pai que sejam os que O adoram. Deus é espírito, e em espírito e verdade é que O devem adorar os que O adoram (S. Jo. IV, 23 e 24).
Nosso Senhor Jesus Cristo se refere aí à transformação que vem trazer o Cristianismo, substituindo-se àquela religião de meras exterioridades em que tinha caído o judaísmo: "Este povo honra-me com os lábios; mas o seu coração está longe de mim" (S. Mat. XV, 8). "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e desprezastes os pontos mais graves da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. São estas coisas que era preciso praticar, sem omitir as outras" (S. Mat. XXIII, 23).
Apesar de praticarem muitos atos exteriores de religiosidade, não praticavam os judeus A VERDADEIRA ADORAÇÃO; esta consiste em que a nossa alma esteja totalmente SUBMISSA A DEUS: a nossa inteligência, pela fé na sua palavra infalível; o nosso coração, pelo amor a Ele acima de todas as coisas; o nosso espírito, pela resignação à sua vontade; toda a nossa vida, pela exata observância dos seus mandamentos. Isto é que é realmente reconhecer a Deus como Supremo Senhor nosso e Supremo Senhor de todas as coisas.
Verdadeiro adorador, em qualquer época, em qualquer país, é aquele que se acha no estado de GRAÇA SANTIFICANTE, isto é, em situação de amizade com Deus, com os seus pecados perdoados e com o firme propósito de jamais voltar a cometê-los. Porque aquele que está nos estado de pecado mortal não pode dizer, em toda a extensão da palavra, que RECONHECE O SUPREMO DOMÍNIO DE DEUS sobre sua alma; se reconhece em teoria, não quer reconhecê-lo na prática, nas suas ações, no seu modo de agir, antes se coloca sob a servidão do demônio, pois, como disse a Sabedoria Eterna: "Todo o que comete o pecado é escravo do pecado" (S. Jo. VIII, 34). E é por isto que diz São Paulo, a respeito daqueles que têm contaminadas tanto a sua mente como a sua consciência: eles confessam que conhecem a Deus, mas NEGAM-NO com as obras" (Tito, I, 15 e 16).
A Igreja tem as belas cerimônias de sua liturgia, para a qual contribuem todas as artes: arquitetura, pintura, escultura, música, eloquência etc, todas a serviço da religiosidade que ela procura infundir nos seus filhos fiéis. Aliás, o centro de toda a liturgia é Jesus Cristo vivo realmente presente na Hóstia Consagrada, que é objeto de culto de latria, porque é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
Mas, ao mesmo tempo que nos emociona com as suas cerimônias, ela nos lembra sempre que isto é um meio e não um fim; ela quer sobretudo chegar à PURIFICAÇÃO DA ALMA e à SUA TOTAL DEDICAÇÃO A DEUS. Esta purificação da alma se opera com a confissão bem feita, a qual SÓ É POSSÍVEL quando o cristão não só está sinceramente arrependido de seus pecados, mas está sinceramente resolvido, custe o que custar, a jamais voltar a cometê-los. Recuperando assim a GRAÇA SANTIFICANTE que havia recebido no Batismo, o católico se habilita a ser um VERDADEIRO ADORADOR numa total submissão a Deus, e quanto mais santo for interiormente, tanto mais perfeita será a sua adoração. Por isto a Igreja OBRIGA os fiéis a se confessarem ao menos uma vez cada ano; e insiste sempre pela prática da confissão freqüente e da comunhão, até quotidiana.
Os protestantes, no seu velho sistema de interpretar as passagens da Bíblia tendo, antes de tudo, o pensamento de ver em cada uma destas passagens um meio de censurar a Igreja Católica, tomam a palavra de Jesus no sentido de que está condenado todo e qualquer culto externo e ficam satisfeitos com a idéia de que, tendo as paredes de suas igrejas completamente nuas e não tendo cerimônias impressionantes como o Catolicismo, são eles os únicos VERDADEIROS ADORADORES a que se refere Jesus.
Ma é o caso de perguntar: será isto que resolve a questão? Se ADORAR é reconhecer o supremo domínio de Deus, é reconhecer a Deus como Supremo Senhor da nossa inteligência, do nosso coração, da nossa vida, suponhamos que um protestante, com esta ampla autorização que tem, pelo LIVRE EXAME, de interpretar a Bíblia como bem entende, se põe a TORCER a palavra de Deus, diante de uma doutrina de Jesus, em que não quer acreditar. Será um verdadeiro adorador? Não; porque não quer reconhecer a Deus, como Supremo Senhor de sua inteligência; em vez de adorar a Deus, Verdade infalível, adora o ídolo de sua opinião própria. Nem venham os protestantes afirmar que ninguém no Protestantismo TORCE as palavras de Bíblia. Pois todos dizem que se baseiam na Bíblia. Ora, a palavra de Deus é uma só. A verdade não muda. Mas, por que existem milhares de seitas protestantes? Enquanto algumas seitas aceitam certas coisas, outras negam. Baseados na Bíblia falam mal umas das outras. Conclusão lógica: é sinal de que aí neste meio há gente TORCENDO o sentido da Bíblia.
Suponhamos que mesmo com suas igrejas de paredes branqueadas e com a ausência de cerimônias litúrgicas, haja um protestante que vive enganando os outros em matéria de dinheiro, ou que vive escravizado a uma paixão carnal e desonesta. Será um verdadeiro adorador? Não; porque São Paulo é o primeiro a dizer que há pecados que equivalem ao culto dos ídolos: "Nenhum fornicador ou imundo, ou avaro, o QUE É CULTO DE ÍDOLOS, não tem herança no reino de Cristo e de Deus" (Efésios, V, 5).
Ñão é nosso intuito com estas hipóteses humilhar nem ofender aos protestantes. Absolutamente não! Há católicos errados e há protestantes errados; é a conseqüência inevitável da fragilidade humana. Mas quererem alguns insinuar que todo homem, abraçando uma seita chamada "evangélica" se torna por este só fato, uma criatura angélica e impecável, que no seio do Protestantismo só há puros e perfeitos, que o cristão logo que se convence que já está salvo por Jesus, se torna uma nova criatura modelo de virtudes, isto é conversa para boi dormir. Nesta canoa ninguém embarca. E quanto à Igreja Católica, ela mesma é que ensina os seus filhos a rezar assim: pequei, Senhor, muitas vezes por pensamentos, palavras e obras, por minha culpa, por minha culpa, por minha máxima culpa!
O que queremos frisar aqui é simplesmente isto: que não é o fato de freqüentar igrejas lisas ou de não assistir a cerimônias litúrgicas, que faz de um homem UM VERDADEIRO ADORADOR. E que a adoração é uma COISA INTERNA, é um sentimento da alma e do coração, é o reconhecimento, no nosso íntimo, do supremo domínio do Ser a quem nós adoramos. Não é o fato de nos ajoelharmos, de nos curvarmos, de trazermos ofertas que constitui a adoração.
E o católico, por mais rude e analfabeto que seja, sabe muito bem que não é aquela imagem que está no altar, imagem que não vê, não sente, não ouve, não fala, não tem inteligência, nem sensibilidade, não é aquela imagem que tem o supremo domínio sobre a sua alma, sobre a sua vida. Se os pagãos caíram neste erro tão grosseiro, a respeito de seus ÍDOLOS, isto mostra apenas a degenerescência em que tinha caído a razão humana antes da doutrinação de Jesus Cristo, o que serviu para mostrar quanto era necessária a vinda do Salvador.
Sabe muito bem o católico que não é aquela imagem que o ouve, nem que o socorre; mas ela serve para ele erguer melhor o seu pensamento ao protótipo que ela representa. No futuro mostraremos que o próprio Deus mandou fazer a Arca da Aliança com esta mesma finalidade.
E assim como ficaríamos alegres, se soubéssemos que alguém cercou de flores o nosso retrato ou quis diante dele render-nos carinhosa homenagem, Jesus Cristo, a Virgem Maria e os santos só podem receber com agrado as homenagens que lhes prestamos diante de suas sagradas e venerandas imagens, que tão insistentemente estão avivando aos nossos olhos a sua memória e a sua recordação.
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