Dirão os protestantes: O culto das imagens não consta absolutamente da Bíblia, por isto não o aceitamos. No Antigo Testamente não há nenhum vetígio desse culto. Os querubins, de que fala a Bíblia, eram para ADORNO do templo, não para ser cultuados. A serpente de bronze serviu para curar os que estavam feridos pelas serpentes (Números XXI, 8 e 9). Mas quando os filhos de Israel começaram a queimar incenso diante dela, o rei Ezequias a fez em pedaços. E a Bíblia o louva por causa disto: "Ele fez o que era bom na presença do Senhor" (2 Reis, XVIII, 3 e 4). E no Novo Testamento não consta absolutamente, nem que Jesus, nem que os Apóstolos, nem que nenhum cristão mandasse fazer imagens ou a elas prestasse culto. Logo, o culto das imagens desagrada a Deus.
RESPOSTA: Caros amigos: Uma coisa é não se fazer um ato porque é pecado, porque desagrada a Deus. E outra coisa muito diferente é não se fazer um ato porque EM DETERMINADAS CIRCUNSTÂNCIAS NÃO É PRUDENTE, NEM CONVENIENTE e pode tornar-se uma ocasião para o pecado.
É preciso ver a situação em que estava o mundo DURANTE TODO O TEMPO ANTES DE CRISTO. Todas as nações estavam mergulhadas na idolatria, adorando estátuas de deuses falsos, como se fossem o verdadeiro Deus, e apenas um pequenino povo adorava o Deus Único, Invisível e Eterno.
Este pequeno povo, que era o povo hebreu, estava completamente cercado de nações idólatras e além disto tinha uma inclinação tremenda para a idolatria. Basta dizer que, depois de ter Deus manifestado tão estrondosamente a sua glória no monte Sinai, o povo, vendo que Moisés tardava de descer do monte, se ajuntou contra Arão e disse: Levanta-te, faze-nos DEUSES que vão adiante de nós, porque não sabemos o que aconteceu a Moisés (Êxodo XXXII, 1). E feito o bezerro de ouro, exclamava: "Estes são, ó Israel, os TEUS DEUSES que tiraram da terra do Egito"(Êxodo XXXII, 4). Teríamos dificuldade em acreditar nisso, se não fosse a Bíblia que o estivesse dizendo.
Basta ler qualquer parte do Antigo Testamento, para ver a facilidade com que o povo caia na idolatria, à qual não escapou, apesar de sua imensa sabedoria, o próprio rei Salomão, que inclusive escreveu livros da Bíblia Sagrada.
Pois bem, nestas circunstâncias, nesta situação tão delicada, Deus tinha um cuidado todo especial em evitar qualquer coisa que, mesmo de longe, pudesse dar ocasião a que os judeus se entregassem àquele culto dos ídolos, a que eram tão fortemente inclinados. Por isto tinha que privar a este povo e, se assim se pode dizer, privar-se a si mesmo de coisas que eram LÍCITAS, que eram JUSTÍSSIMAS, que eram SANTAS, para evitar o perigo da idolatria.
Só vou dar um exemplo: Deus, quando se revelou no monte Horeb, podia ter-se manifestado sob uma forma sensível, sob a aparência de alguma coisa material? Sim, podia. Tanto podia, que se encarnou em Jesus Cristo homem e viveu aqui na terra trinta e três anos. Tanto podia, que o Espírito Santo apareceu em forma sensível, na figura ou semelhança de uma POMBA (S. Lucas, III, 22).
Entretanto Deus, ao revelar-se no monte Horeb não tomou nenhuma forma sensível para se manifestar e, se assim procedeu, não foi porque isto fosse ilícito, mas para evitar aos judeus o perigo da idolatria. É a própria Bíblia que dá esta explicação: "Vós não vistes figura no dia em que o Senhor vos falou em Horeb do meio do fogo, por não suceder que enganados façais para vós alguma imagem de escultura ou alguma figura de homem ou de mulher, nem semelhança de qualquer animal que há sobre a terra ou das aves que voam debaixo do céu, ou dos répteis que se movem na terra ou dos peixes que debaixo da terra moram nas águas; não seja que, levantando os olhos ao céu, vejas o sol e a lua e todos os astros do céu, e, caindo no erro, adores e dês culto a essas coisas, que o Senhor teu Deus criou para serviço de todas as gentes que vivem debaixo do céu". (Deuteronômio, IV, 15 a 19).
Hoje é muito comum colocar-se na rua as estátuas dos grandes homens, dos grandes heróis da nossa Pátria e, em certos e determinados dias, prestar-se uma homenagem à memória destes homens, cobrir de flores as suas estátuas, fazer-se discursos etc. Isto é muito lícito e muito natural e nestas manifestações públicas feitas a um homem perante a sua estátua, o que é o mesmo que dizer, perante a sua imagem, tomam parte também os próprios protestantes, como cidadãos e patriotas que são, porque sabem muito bem que nisto não há nada de mais, que aí não há nenhuma idolatria. Talvez haja fanáticos que não o façam, mas isto é outra questão.
Pois bem, esta mesma cena realizada outrora no seio do povo judaico, seria completamente inconcebível. Terem os judeus, nas praças públicas, estátuas de Abraão, de Isaque, de Jacó, de Moisés e prestar-lhes homenagens, cobri-las de flores - não se consentiria de forma alguma. Por que? Por que era ilícito? Se é lícito hoje, também o podia ser naquele tempo. Isto não se consentiria, porque seria uma grandíssima imprudência; o povo não estaria em condições de bem compreender o sentido de tais homenagens e aquilo fatalmente iria dar numa indébita adoração à criatura, pecado este de que o mundo estava cheio naquela época.
Por isto se explica muito bem o fato de não ter havido entre os judeus nem o culto dos santos, nem o culto das imagens. O povo não tinha capacidade para distinguir entre uma simples veneração e a adoração propriamente dita. Lemos na Epístola de S. Judas Tadeu, versículo 9, que o Arcanjo Miguel contendeu com o diabo e disputou a respeito do corpo de Moisés. Segundo os intérpretes, o diabo certamente queria levar o povo a idolatria, porque Moisés foi um homem super extraordinário, e o povo com aquela terrível inclinação para a idolatria, poderia acabar adorando seus restos mortais. Hoje, veneramos com muito respeito e carinho os túmulos de nossos entes queridos e, graças a Deus, não há mais o mínimo perigo de idolatria.
Foi natural, portanto o gesto do rei Ezequias, ao fazer em pedaços a serpente de bronze. Mas, se os judeus soubessem que aquela serpente de metal era figura do Messias, Jesus Cristo Salvador Nosso, pendente da haste da cruz e queimassem incenso e se curvassem diante dela exclusivamente com o pensamento de homenagear, através de seu símbolo, Aquele que havia de morrer por nós para nos salvar da mordida da serpente infernal, ou seja do pecado, assim como a serpente de bronze curara a muitos de seus ferimentos, Deus não se incomodaria com isto, porque Ele só podia achar justa, santa e razoável uma homenagem prestada a seu Divino Filho.
Mas não era, nem podia ser com este pensamento que os judeus queimavam o seu incenso; aquilo, se já não era idolatria, estava arriscado a sê-lo. Por isto foi preciso fazer desaparecer a serpente de metal. Vejam bem que foi o próprio Deus que mandou fazer aquela serpente de metal, mas para ser venerada e não adorada como se a cura viesse diretamente daquela imagem ou semelhança de serpente e não de Deus através dela, que como o próprio Jesus vai dizer mais tarde, O simbolizava suspenso na Cruz. Assim veneramos as imagens não pelo que elas são em si, mas pelo que elas representam. E Deus também faz milagres, através das imagens, como aconteceu e acontece em quase todo o mundo. No Brasil temos a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Quantos e quantos milagres! Alíás desde a pesca milagrosa após o seu encontro nas águas do rio Paraíba. A nossa veneração não pára na imagem, dirige-se a Nossa Senhora, Mãe de Jesus e que está viva no céu. E mesmo assim, não adoramos a Nossa Senhora; adoramos a Nosso Senhor Jesus Cristo porque Ele é Deus, igual ao Pai e ao Espírito Santo. A Nossa Senhora, justamente por ser a Mãe de Deus, nós a veneramos e acima dos demais santos. Isto se chama CULTO DE HIPERDULIA.
Para teminar quero fazer mais uma observação: Não foi num dia que o paganismo idólatra deixou de dominar o mundo. A substituição do paganismo pelo Cristianismo foi-se processando progressivamente no decorrer de alguns séculos. E no tempo em que viviam os Apóstolos a situação era praticamente a mesma que tinha existido antes de Cristo: o mundo ainda estava mergulhado na idolatria. Se aparecessem os Apóstolos mandando fazer imagens de Jesus Cristo e reverenciá-las, seria a maior das imprudências: uma vez que, como explicamos, este culto não é necessário para a salvação, mas apenas um método, um meio para instruir, para excitar à devoção, a imagem naqueles tempos seria totalmente contraproducente. Não só causaria repugnância aos judeus, mas iria fazer uma confusão tremenda na cabeça dos pagãos, os quais não lhe saberiam compreender o verdadeiro sentido e pensariam que, à semelhança deles, os cristãos também tinham seus ídolos.
Vamos provar, se Deus quiser, na próxima postagem que o uso das imagens foi aparecendo aos poucos através dos séculos da era cristã.
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