terça-feira, 3 de dezembro de 2019

O CULTO DAS IMAGENS

   Observação: Se Deus quiser, faremos uma série de postagens sobre o culto relativo das imagens. Serão artigos extraídos de vários livros, especialmente do livro "Legítima Interpretação da Bíblia" escrito por Lúcio Navarro em Recife no ano de 1957. Era então Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife o célebre orador sacro D. Antônio de Almeida Morais Júnior que fez o Prefácio deste mesmo livro.

UTILIDADE DAS IMAGENS

   Caríssimos e amados leitores, primeiramente temos que desfazer algumas confusões que há sobre o assunto na cabeça dos protestantes, que, hoje, preferem ser chamados de "crentes". 
   É mister, logo de início, deixar claro, que o culto das imagens NÃO É OBRIGATÓRIO neste sentido de que alguém, para salvar-se, tenha que possuir imagens ou prestar-lhes culto, nem também no sentido de que sem elas nós não nos pudéssemos dirigir aos santos que elas representam e lembram. Se alguém adorasse imagens, a Igreja seria a primeira a condená-lo. Mas, então, pergunta-se: Por que a Igreja mantém o culto das imagens? Resposta: Porque resulta grande utilidade deste culto, que é legítimo, pois "a honra que se lhes tributa se refere aos protótipos por elas representados, de modo que, por meio das imagens que beijamos e diante das quais descobrimos a cabeça e nos curvamos, nós adoramos a Nosso Senhor Jesus Cristo e veneramos os santos, dos quais elas nos apresentam uma semelhança. Não se entende absolutamente "que nelas haja alguma divindade ou alguma virtude, pela qual devam ser cultuadas, nem que é a elas que se deva pedir alguma coisa, nem que se deva pôr a confiança nas imagens, como acontecia outrora com os pagãos que colocavam a sua esperança em ídolos" (Concílio de Trento: sessão XXV). O poder está em Deus que nos concede muitas graças pela intercessão dos santos, graças estas que são todas pedidas em nome de Jesus Cristo e alcançadas em virtude dos méritos de sua Paixão Redentora. 
   Outra interpretação diferente desta que acabei de dar, é pura calúnia dos protestantes, ou por ignorância ou por má fé. 
   Qual é então a grande utilidade das imagens?
   Fala-se muito hoje em ENSINO INTUITIVO, ou seja, fazer a criança, a pessoa VER em lugar de obrigá-la só a pensar e raciocinar. E um dos elementos mais eficazes para o ensino intuitivo é o desenho, a gravura, a representação do objeto. Pois, ente ENSINO INTUITIVO, a Igreja o vem empregando desde os primeiros séculos.
   A imagem é o livro do analfabeto.
   O Protestantismo pode dispensar a imagem, porque é uma religião inventada certamente só para grandes sábios, para homens de grande cultura. Pois cada protestante pretende ser, pelas suas próprias luzes, UM INTÉRPRETE DA BÍBLIA; para isto se requer conhecimento do grego e do hebraico, bem como uma inteligência muito acima do comum, porque há textos na Bíblia que qualquer criança entende, mas há outros intrincadíssimos que desafiam os maiores gênios; interpretar um ou outro texto aqui e acolá pode ser fácil e contradição não há na Bíblia, porque ela é infalível, mas entender perfeitamente todos os textos e harmonizá-los, tendo em mãos edições sem comentários que tanto estão difundidas entre os "crentes", isto é uma tarefa dificílima.
   Todos os protestantes são, portanto, ou pelo menos, deveriam ser grandes cabeças pensantes...
   Mas a Igreja Católica, como o seu próprio nome indica, é uma Religião para todos, pois Católica quer dizer Universal, ou seja, para o mundo todo; não só para os sábios, mas também para os rudes e os analfabetos. E um homem rude pode ouvir um sermão maravilhoso sobre a Paixão de Jesus Cristo e não ficar tão comovido como ao ver a Imagem de Cristo Crucificado, em que se pintam ao vivo os sofrimentos que Cristo aceitou por nosso amor. Sua cabeça pode ser fraca para guardar todas as idéias belíssimas do orador, mas o seu coração é grande e bastante sensível para se impressionar com a obra de arte que ele vê, que tem diante de seus olhos.
   Tive ocasião de assistir a uma cena bem expressiva nesta matéria. Era num lugarejo do interior. Às quatro da tarde estávamos na Igreja Matriz, quando vimos três homens do interior (era um dia de feira) deixarem à porta os seus sacos, cheios de mantimentos, porque regressavam para casa, e começarem a percorrer o templo sagrado Logo lhes chamaram a atenção os quadros da Via Sacra, em que estão gravadas as cenas passadas com Jesus no caminho do Calvário. Um dos visitantes, mais desembaraçado, ia procurando interpretar para os outros as cenas que iam vendo. E entremeava as suas explicações com exclamações como esta: "Está vendo? Ele era Deus e sofreu tanto! E nóis? Nóis não queremo sofrer nada!" Percebia-se claramente ali quanto a pintura é intuitiva para o analfabeto. Na sua muda linguagem estava a Via Sacra fazendo o mais eloqüente dos sermões.
   Para que é que se fazem as estátuas dos grandes homens e se põem aos olhos de todos na praça pública? É para avivar sempre a sua memória e para que o exemplo de sua vida fique sempre patente diante de todos.
   É o que acontece com as imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Maria Santíssima e dos santos nas nossas igrejas. Sem que ninguém precise fazer um sermão, elas estão continuamente RELEMBRANDO seus protótipos, EVOCANDO A RECORDAÇÃO daqueles que não devemos jamais esquecer, para copiarmos a santidade de suas vidas.
   E aqui entra o protestante com o seu espírito pirrônico: E quem pode garantir que aquilo é o retrato fiel de Jesus, de Maria ou dos santos? Resposta a esta objeção: - Para que a imagem produza o bom resultado de nos despertar a lembrança do santo, não é necessário que seja A CÓPIA FIEL DAS FEIÇÕES do protótipo. Aliás só isso já seria suficiente para mostrar ao protestante que o católico não pára na imagem em si. Já que não somos puros espíritos, mas temos corpo, a imagem é apenas um auxiliar no culto que prestamos aos santos vivos no céu, primeiro Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo Nossa Senhora e depois os anjos e os santos. Isto é o que chamamos de culto relativo. Dizer o contrário, é calúnia.
   Estabeleceu-se na arte cristã de todos os tempos um sistema tradicional de representar o Divino Redentor, sua Santa Mãe e os santos, de tal modo que sem ser preciso colocar-se o nome no pedestal, o homem mesmo rude, mesmo o camponês analfabeto, sabe que aquela imagem é de Jesus, aquela de Maria Santíssima, aquela de São José, ou de São Pedro ou de Santo Antônio etc. Isto é o bastante para que evoque imediatamente estas augustas pessoas, desperte a sua lembrança, excite  demonstrações de respeito, amor e veneração por elas.
   A bandeira do país suscita imediatamente no indivíduo a lembrança de sua Pátria querida. E para isto não é necessário que o brasileiro ou o alemão ou o japonês veja naquela bandeira A CÓPIA FIEL de sua Pátria. É um simbolo convencional que a representa, e é quanto basta para acender-lhe o entusiasmo patriótico.
   O mesmo se dá com as imagens. Elas têm por fim excitar a devoção, alimentar a piedade dos fiéis, fazendo-os imediatamente transportar o seu pensamento para os protótipos que elas representam e provocando o desejo de imitá-los sinceramente na sua vida.
   Como não posso escrever toda a matéria de uma vez, é preciso ter paciência, e o protestante que por ventura queira fazer alguma objeção, espere a exposição total do assunto. Por exemplo, mais na frente, se Deus quiser, vamos provar que adoramos a Deus em espírito e verdade. Na próxima postagem falaremos sobre a NOÇÃO DE ÍDOLO E DE IMAGEM. Por gentileza: aguardem!
    

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