terça-feira, 18 de outubro de 2011

"RESPONSABILIDADE TERRÍVEL!!!"

   Só o título é de minha autoria. A matéria é um trecho do PREFÁCIO do livro "A IGREJA, A REFORMA  E A CIVILIZAÇÃO" de autoria do sábio e erudito Padre Leonel França, S. J.

   "Grande é a responsabilidade de quem escreve. Agitar idéias é mais grave do que mobilizar exércitos. O soldado poderá semear os horrores da força bruta desencadeada e infrene; mas enfim o braço cansa e a espada torna à cinta ou a enferruja e consome o tempo. A idéia, uma vez desembainhada é arma sempre ativa, que já não volta ao estojo nem se embota com os anos. A lâmina do guerreiro só alcança os corpos, pode mutilá-los, pode trucidá-los, mas não há poder de braço humano que dobre as almas. Pela matéria não se vence o espírito. A idéia do escritor é mais penetrante, mais poderosa, mais eficazmente conquistadora. Vai diereito à cidadela da inteligência. Se a encontra desapercebida ( e quantas inteligências desaparelhadas para as lutas do pensamento!) toma-a de assalto, instala-se no seu trono e daí dirige e governa, a seu arbítrio, toda a atividade humana. Pelo espírito subjuga-se a matéria.
   Quantos crimes que se atribuem à força e são filhos da idéia! Se fora perfeita a justiça humana, muita vez, não sobre o braço que vibrou o punhal assassino mas sobre a pena que semeou a idéia homicida, é que deveram pesar os rigores da sua severidade.
   Grande sempre é a responsabilidade de quem escreve! Mas se é religioso o livro que se atira às multidões, essa responsabilidade assume quase proporções infinitas. Semear idéias religiosas é dirigir consciências. E dirigir consciências é orientar o homem no problema do seu destino, cuja incógnita se resolve na tremenda alternativa de duas eternidades, uma infinitamente feliz, outra infinitamente desventurada. À perspectiva destas inelutáveis e irreparáveis consequências, como devera tremer a mão do escritor que se abalança à gravidade de tamanha empresa! Que respeito religioso à verdade! Que prudência circunspecta nas asserções! Que certeza absoluta e inconcussa nas doutrinas que se querem inculcar às almas! Que delicadeza de escrúpulos em fulminar anátemas contra convicções que nutrem, vigoram e confortam a vida espiritual de milhões dos nossos semelhantes! Mais do que qualquer outro, um livro religioso deve ser obra de ciência e obra de consciência." (1).
   NOTA: (1) - Em argumento semelhante RUY BARBOSA: "A natureza de tais questões exigia que delas não se aproximasse ninguém senão com uma sinceridade absoluta e uma intensíssima percepção da sua gravidade... É dos interesses eternos do homem que se trata, das suas relações com Deus, das suas responsabilidades eternas, das bases morais da família e da sociedade. Com a consciência, a sua liberdade, os seus direitos não se especula, não se transige, não se joga". (Discurso proferido em Belo Horizonte em 1910).
   A este respeito leiamos também Sertillanges, La vie intellectuelle, Paris, 1921, p. 12: "Jouer avec les questions qui dominent la vie et la mort, avec la nature mystérieuse, avec Dieu, se faire um sort littéraire et philosophique aux dépens du vrai, ou hors la dépendance du vrai n'est-ce pas un sacrilége?"
   Para os que não sabem francês vou traduzir. Peço desculpas em não saber fazê-lo com a perfeição que merece tão belo idioma: "Jogar com as questões em cujo domínio, entram a vida e a morte, jogar com a natureza misteriosa, com Deus, habituar-se a um estilo literário e filosófico a espensas da verdade, ou independentemente dela, não é porventura, um sacrilégio?"

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