quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PAZ E PAZES

Livro "Quer agrade, Quer desagrade", autor: Revmo. Padre Fernando, hoje Sua Excelência Revma. Dom Fernando Arêas Rifan, Bispo Administrador Apostólico.

   Quando do nascimento do Príncipe da Paz, os anjos de Belém anunciaram "paz na terra aos homens de boa vontade". E, no dia da Ressurreição, a sua saudação aos Apóstolos foi "a paz esteja convosco". A paz é um dom de Deus.
   Entretanto, quando se despedia dos Apóstolos na última ceia, Jesus lhes explicou: "Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não como o mundo dá, eu vo-la dou" (Jo. 14, 27). Isto significa que há duas espécies de paz: a paz de Cristo e a paz do mundo.
   A paz do mundo é fria, aparente, é a paz do homem e não a paz de Deus. Consiste apenas na mera coexistência pacífica entre os povos mantida pelo temor uns dos outros e pelo recíproco desengano; ou então na convivência sossegada e respeitosa entre a religião verdadeira e as religiões falsas, na tranqüila cordialidade entre a verdade e o erro, bem ao estilo da maçônica fraternidade universal.
   "Não há paz para os ímpios", nos adverte a Sagrada Escritura. Na verdade, entre os males que mais nos afligem está a falta de paz. Falta a paz internacional, faltam a paz política e social, a paz doméstica e econômica.
   A causa destes males está justamente na ausência de Deus da sociedade e da vida dos homens. Quando veio ao mundo o Príncipe da Paz, não houve lugar para ele nos lares e nos corações. "A luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más" (Jo 3, 19). Hoje, o mesmo se repete. Não há lugar para Nosso Senhor nas sociedades, nas leis, nas escolas, nas famílias. Procura-se expulsá-lo até das igrejas instalando nelas a religião dos direitos humanos com detrimento dos direitos de Deus. O mundo atual substituiu a honra do Deus verdadeiro pelo culto de outros deuses, pela ânsia imoderada dos bens terrenos e pela busca desenfreada do prazer. Assim não se tem a paz.
   "A paz verdadeira é o fruto da Justiça" (Is. 32, 17). A paz de Cristo, a única verdadeira, não existirá enquanto os homens não seguirem fielmente os ensinamentos e os exemplos de Nosso Senhor na vida pública ou particular. Paz de Cristo no Reino de Cristo.
   A paz é "a tranqüilidade da ordem" (Stº Agostinho). A ordem é condição para a paz. Por isso não há paz no pecado, que é a desordem na nossa relação com o Criador. O pecado das nações,  o pecado das famílias, o pecado das consciências é que destrói a paz. Só haverá paz das armas quando houver a paz das almas.
   E não se constrói a paz batendo-se apenas pelos direitos do homem. A paz virá quando forem respeitados os direitos de Deus. O restabelecimento da paz será concomitante com a restauração do reino de Cristo. Não é pela religião do homem que se faz Deus, mas pela religião do Deus, que se fez homem, para nos salvar, que reconstruiremos a paz.
   Por isso, a paz exige luta. Combate às paixões; ao erro, ao mal. Neste sentido foi que Jesus disse: "Não vim trazer a paz e sim a espada" (Mt 10, 34). Alguns, com a falsa idéia da paz, pensam que para salvaguardar a união não se deve se indispor com os outros em hipótese alguma. A estes São Paulo responde: "Se eu procurasse agradar aos homens não seria servo de Cristo" (Gal. 1, 10).
   Que Nossa Senhora, Rainha da Paz, nos alcance de Deus a paz verdadeira, sinônimo de felicidade.

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