"Não toqueis nos meus cristos" (Salmo CV, 15).
No tocante a este assunto seríssimo por se tratar de uma
advertência do próprio Divino Espírito Santo, decidi não empregar uma só
palavra minha. Lembrei-me do "DIÁLOGO" do próprio Deus com Santa Catarina de Sena.
Eis o que Deus lhe disse atinente ao título do artigo em apreço:
"Os ministros
são ungidos meus. A respeito deles diz a Escritura: "Não toqueis nos meus cristos" (Sl 105, 15). Quem os punir
cairá na maior infelicidade. Se me perguntares por que a culpa dos
perseguidores da santa Igreja é a maior de todas e, ainda, por que não se deve
ter menor respeito pelos meus ministros por causa de seus defeitos,
respondo-te: porque, em virtude do sangue por eles ministrado, toda reverência
feita a eles, na realidade não atinge a eles, mas a mim. Não fosse assim,
poderíeis ter para com eles o mesmo comportamento de praxe para com os demais
homens. Quem vos obriga a respeitá-lo é o ministério do sangue. Quando desejais
receber os sacramentos, procurais meus ministros; não por eles mesmos, mas pelo
poder que lhes dei. Se recusais fazê-lo, em caso de possibilidade, estais em
perigo de condenação. A reverência é dada a mim e a meu Filho encarnado, que
somos uma só coisa pela união da natureza divina com a humana. Mas também o
desrespeito. Afirmo-te que devem ser respeitados pela autoridade que lhes dei,
e por isso mesmo não podem ser ofendidos. Quem os ofende, a mim ofende. Disto a
proibição: "Não quero que mãos humanas toquem nos meus cristos"!
Nem poderá alguém escusar-se, dizendo: "Eu não ofendo a
santa Igreja, nem me revolto contra ela; apenas sou contra os defeitos dos maus
pastores"! Tal pessoa mente sobre a própria cabeça. O egoísmo a cegou e
não vê. Aliás, vê; mas finge não enxergar, para abafar a voz da consciência.
Ela compreende muito bem que está perseguindo o sangue do meu Filho e não os
pastores. Nestas coisas, injúria ou ato de reverência dirigem-se a mim.
Qualquer injúria: caçoadas, traições, afrontas. Já disse e repito: não quero
que meus cristos sejam ofendidos. Somente eu devo puni-los, não outros. No
entanto, homens ímpios continuam a revelar a irreverência que têm pelo sangue
de Cristo, o pouco apreço que possuem pelo amado tesouro que deixei para a vida
e santificação de suas almas. Não poderíeis ter recebido maior presente que o
todo-Deus e todo-Homem como alimento. Cada vez que o conceito relativo aos meus
ministros não coloca em mim sua principal justificativa, torna-se inconsistente
e a pessoa neles vê somente muitos defeitos e pecados. De tais defeitos falarei
em outro lugar. Mas quando o respeito se fundamenta em mim, jamais desaparece,
mesmo diante de defeitos nos ministros; a grandeza da Eucaristia não é
diminuída por causa dos pecados. A veneração pelos sacerdotes não pode cessar;
se tal coisa acontecer, sinto-me ofendido.
São muitas as razões que fazem desta ofensa a mais grave.
Vou lembrar apenas três. A primeira, é porque os perseguidores agem contra mim
em tudo o que fazem em oposição aos meus ministros. A segunda, é porque
desobedecem àquela ordem pela qual proibi que meus sacerdotes fossem tocados.
Ao persegui-los, os homens desprezam a riqueza do sangue de Cristo recebida no
batismo. Desrespeitando o sangue de Jesus e perseguindo os ministros,
rebelam-se e tornam-se membros apodrecidos, separados da jerarquia
eclesiástica. Caso venham a morrer obstinados em tal revolta e desrespeito,
irão para a condenação eterna. Se reconhecerem a própria culpa na última hora,
humilhando-se e desejando a reconciliação, mesmo que não o consigam fazer
exteriormente, serão perdoados. Mas não devem esperar pelo momento da morte,
pois será incerto o próprio arrependimento. A terceira razão, pela qual este
pecado é o mais grave, está no seguinte: é uma falta maldosa e deliberada. Os
perseguidores têm consciência de que o não devem cometer, sabem que vão pecar;
cometem um ato de orgulho, em que não entram atrações sensíveis, muito pelo
contrário. Tais pecadores arriscam a alma e o corpo: a alma, privando-se da
graça, muitas vezes em meio a remorsos da consciência; o corpo, gastando seus
bens a serviço do diabo e indo morrer como animais. Não, este pecado cometido
contra mim não possui características de satisfação ou prazer pessoais;
acompanham-no apenas os desvarios e a maldade do orgulho! Um orgulho que nasce
do egoísmo e daquele medo próprio de Pilatos, quando matou meu Filho por temor
de perder o cargo. É o que sempre fizeram e fazem os perseguidores. Os demais
pecados procedem de uma certa simploriedade, de ignorância ou satisfação
pessoal desordenada, de certo prazer ou utilidade presentes no ato mau.
Naqueles pecados, o homem prejudica a si mesmo, ofende a mim e ao próximo.
Ofende-me por não me glorificar; ao próximo, por não o amar. Na realidade, não
se ergue frontalmente contra mim; ergue-se contra si mesmo, e isso me
desagrada. Já no pecado de perseguição contra a santa Igreja, sou ofendido
diretamente. Os outros vícios possuem uma justificativa, uma razão
intermediária. Já afirmei que todo pecado e virtude são feitos no próximo. O
pecado é ausência de amor por mim e pelos homens; a virtude é amor caritativo.
Neste pecado, os maus perseguem o próprio sangue de Cristo ao se investirem
contra meus ministros, e privam-se de sua riqueza espiritual. Entre todos os
homens, os distribuidores do sangue do meu Filho, em quem vossa natureza está
unida à minha. Quando consagram a Eucaristia, os ministros, o fazem na pessoa
de Jesus. Como vês, realmente este pecado é dirigido contra meu Filho; por
conseguinte, contra mim, pois somos um. É uma falta gravíssima. Não se dirige
aos ministros, dirige-se a mim. Também o respeito demonstrado para com eles,
considero-os como se fossem para mim e meu Filho. Por tal motivo te dizia que,
se colocasses de um lado todos os demais pecados e este, sozinho, do outro, o
último ser-me-ia mais ofensivo. (...) Em suma, ninguém deveria perseguir meus
sacerdotes por causa de defeitos seus!"
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