ORIGEM
Padres e fiéis vestiam-se da mesma túnica de mangas largas, toga e manto, na primitiva Igreja. Veio depois, com as invasões bárbaras, o uso de vestes curtas e exóticas, Só então é que, no Concílio de Macom em 581, a Igreja tornou obrigatório aos clérigos o uso da toga. Começa daí a distinção entre leigos e clérigos, no modo de trajar. E os cânones castigavam com penas severas os clérigos que ousassem trajar vestes seculares. No século XIII introduziram-se abusos na toga. Usavam-na muitos clérigos de cores berrantes e de ricos tecidos. Diversos Concílios protestaram contra estas vaidades pouco edificantes em homens consagrados ao serviço de Deus. Foi regulamentado o uso das cores: o vermelho e o verde eram reservados só aos bispos. Os sacerdotes e clérigos inferiores podiam escolher entre o roxo, o preto e o branco. Mas, ai! a impenitente vaidade humana ainda achou pábulo na veste clerical. Vieram as golas plissadas e bordadas com arte e fino gosto, as sobre-mangas de seda, etc. Era mister uma reforma. Vem Xisto V, o severo Pontífice das reformas. Em 1588 pela Bula "Sacrosanctum", fica definitivamente introduzido o uso da batina como hoje a temos. Os termos da Bula de Xisto V são enérgicos. A veste eclesiástica será toda preta, longa e bem fechada. A vaidade de alguns clérigos e os alfaiates encontraram, na batina da Bula "Sacrosanctum" , uma barreira intransponível. Que fariam diante desta mortalha preta e simplificada ao extremo (Dictionaire des connaissances religieuses....(soutaine) tomo VI).
SIMBOLISMO
A Igreja de Deus, dirigida pelo Divino Espírito santo, faz transparecer nas coisas sensíveis e exteriores o quanto possível, o que há de mais oculto nos seus mistérios. Pelos gestos, vestes litúrgicas, cerimônias etc. Traduz na medida do possível o que se passa nas profundezas da alma. A veste clerical, a batina, não foi arbitrariamente imposta ao clérigo. Tem um simbolismo profundo e belo. Ela nos repete as palavras de Jesus Cristo aos discípulos: "Vos de mundo non estis". "Vós não sois do mundo". E como não é o padre do mundo, diz Bossuet, nos recorda que ela é a bandeira mortuária do mundo.
E sob este aspecto é que é preciso considerá-la. Estamos mortos para o mundo para vivermos com o Cristo para sempre. O beato Olier no seu admirável "Traté des saintes Odres" nos dá o simbolismo da batina, da santa batina, "la sainte soutaine", como ele sempre a chamava. "A santa batina, diz o bem-aventurado Olier, é um sudário que nos traz sepultados, e exprime ao bispo o estado de morte e de sepultura em que pela obediência o clérigo se apresenta diante de seu prelado. Eu digo a santa batina, porque sendo a Igreja um mundo novo, um mundo de santidade, na qual fomos chamados a representar Deus e Jesus Cristo, Seu Filho, nada pode aí haver que não seja santo. A santa batina diz que o clérigo morreu para o século e dele há de se separar pelo coração como está separado pelo hábito. A santa batina cobre todo o seu corpo para testemunhar que toda a carne está morta em Jesus Cristo. São Paulo diz que todo cristão deve estar cercado em todo o seu corpo da morte de Jesus Cristo: "Semper mortificationem Jesu in corpore nostro circumferentes" (2 Cor., IV, 10).
É o que simboliza a santa batina cobrindo todo o corpo do clérigo como um hábito de morte, que só deixa ver a cabeça, os pés e as mãos. A cabeça para nos dizer a nós padres, que somos: "Viri caput Christus"; mãos livres, para as boas obras, para a luta pelo reino de Deus; dos pés para a evangelização; " Bem-aventurados os pés daqueles que evangelizam"... Quanta lição no simbolismo da santa batina!!!
Exortação do Santo Padre João Paulo II (hoje santo) ao Clero de Bolonha, no dia 19 de abril de 1979.
Não é cedendo às sugestões de uma fácil laicização que se exprima, ou no abandono do hábito eclesiástico, ou na assimilação dos costumes mundanos, ou na adoção de um ofício profano, não é assim que se aproxima eficazmente do homem de hoje. Tal assimilação poderia talvez, à primeira vista, dar a impressão de vantagem nos contatos imediatos mas que vantagem haveria se ela devesse ser paga com a perda da específica função evangelizadora e santificadora que faz do sacerdote "Sal da terra" e "Luz do mundo"? O risco que o sal se torne insípido e que a luz se apague, é claramente previsto por Jesus no Evangelho. A que serviria um sacerdote assim "assimilado" ao mundo que se torne diminuído e não seja mais o fermento transformador"?
Exortação do Papa João XXIII, santo: " Convém saber usar por toda a parte e com grande dignidade o traje eclesiástico, nobre e distinto: imagem da túnica de Cristo, sinal resplandecente da veste interior da graça".
Gosto imensamente do testemunho de convertidos, almas profundamente trabalhadas pelo Divino Espírito Santo: Em primeiro lugar uma poesia escrita por um protestante convertido:
Aquela simples batina
Que o Sacerdote trazia
Aos meus olhos de menino
Lindas coisas traduzia.
Era o emissário divino,
Tinha que ser diferente,
Fosse grande ou pequenino,
A consolar sempre a gente.
Hoje me vai adiante
Um moço todo frajola
Será "aquele estudante",
Ou o padre que vem da escola?
Meu padre, estou muito triste...
Poderei chamá-lo assim?
Será que em ti ainda existe,
O pai de todos enfim...?!
Se do pastor protestante
Tu fizeste à imitação,
Deve ter sido um instante
De uma grande tentação.
Pode o pastor protestante
Ser um grande pregador.
Tu, porém, vais adiante:
És um Ministro do Senhor!
Se um ministério do mundo
Ao protocolo obedece,
Ministério tão profundo
Ser distinguido carece!
Agora o testemunho também de uma convertida, não em versos mas não menos valioso. É da caríssima Juliana Fragetti Ribeiro Lima já de todos muito conhecida e estimada pelo seu blog "Diligit anima mea". Eis apenas um trecho de seu post "Até um cético vê": "Acreditem, padres, não há coisa mais linda que ver um sacerdote que ama e tem orgulho - no bom sentido desta palavra - do chamado que Deus lhe fez. Que não se envergonha de ser sacerdote, ao contrário. Isso é um colírio numa sociedade secularizada. O padre nos lembra do sagrado, nos lembra de rezar, nos lembra de Deus. Se estivermos afastados, irá nos tocar a consciência: volta a Deus. Se estivermos bem, iremos procurar com mais desejo que nunca a santidade, seremos lembrados que temos muito que caminhar nessa senda da santidade ainda. É lindo andar no centro de uma metrópole como Rio de Janeiro, São Paulo etc e ver um sacerdote de batina. Faz você parar e pensar: dediquei tempo hoje para Deus? Saímos dessa inércia que muitas vezes nos toma."
A batina também é uma defesa para o padre e para o próximo. Hoje nem tanto, mas nas décadas de 70 e 80 nós padres que conservamos a santa batina, sofremos muito. Comigo mesmo se deram algumas passagens tristes ou melhor divertidas. Uma vez, em plena rua, umas pessoas me chamaram de urubu. Mas continuei andando e pensando com os botões de minha santa batina: não é que elas têm razão?! Quem tira a podridão e o mau cheiro dos pecados e vícios do mundo? Não é o pobre sacerdote?! Com uma grande diferença: os sacerdotes ressuscitam os mortos espirituais, uns, como a filha de Jairo , logo após a morte; outros, como o jovem filho da viúva de Naim, já sendo levados à sepultura; e outros, como Lázaro, já cheirando mal na sepultura dos vícios e pecados. E também os padres devem por muito tempo ficar pairando nas alturas dos ares puros do silêncio, da oração e da contemplação, bem perto de Deus, para que não se deixem contaminar pelos miasmas do mundo. Outro exemplo: Umas moças ficaram rindo e dizendo: quem será que morreu? Eu respondi: "Quem morreu foi eu mesmo.. Morri para o mundo, e talvez haja uma outra defunta: a fé de vocês". Mas isto mostra como a batina mexe nas consciências, como bem explicou a Filotéia. "O mundo vos odeia", disse Jesus. São Paulo diz: "Aqueles que querem viver piedosamente com Jesus Cristo, hão de sofrer perseguições". Afinal muitos acham que os padres de batina são tristes. Não é verdade: somos felizes por sofrer por amor a Jesus as ofensas dos maus e também felizes por ter o apoio e alento dos bons. Como diz São Paulo: "Parecemos tristes, mas sempre alegres..."
Vale a pena terminar com mais uma poesia, esta de autoria de Dom Aquino Correia:
A MINHA BATINA
Minha pobre batina mal cerzida,
Tu vales mais que todos os amores,
Pois, negra embora, enches-me de flores
E de esperanças imortais a vida.
Com seus sorrisos escarnecedores,
E de esperanças imortais a vida.
Com seus sorrisos escarnecedores,
Zomba o mundo de ti, de ti duvida,
Porque não sabe a força, que na lida,
Tu me dás, do teu beijo aos resplendores.
Tu serenas de orgulho as brutas vagas,
E a mostrar-me do mundo a triste sina,
Toda volúpia das paixões apagas.
Oh! como o bravo envolto na bandeira,
Contigo hei de morrer, minha batina,
Ó minha heroica e santa companheira.
Tu serenas de orgulho as brutas vagas,
E a mostrar-me do mundo a triste sina,
Toda volúpia das paixões apagas.
Oh! como o bravo envolto na bandeira,
Contigo hei de morrer, minha batina,
Ó minha heroica e santa companheira.
Padre, muito me honra seu post fazendo um lindo estudo a respeito - detalhes que eu desconhecia - e ainda mais tendo a graça de ser mencionada pelo senhor. Aos que quiserem ler minhas elocubrações, o link está aqui.
ResponderExcluirSim, realmente é verdade, padre: podem gostar ou não, mas ninguém nesse mundo fica INDIFERENTE a um sacerdote de batina. Chama-nos a Deus, nos faz repensar nossa comunhão com Deus, nos constrange até. Há quem zombe, como o senhor conta. Mas isso só prova que sem dizer uma palavra o sacerdote com sua batina fala mais que muita gente... Pois se nos incomoda, para o bem ou para o mal (zombarem do senhor), algo tem, né?
E nunca, padre, esqueça: os católicos que amam sua fé tem real paixão pelo sacerdócio e claro, amamos encontrá-los na rua e ver que ali vai, como diz na poesia, um ministro de Deus. Deo gratias.
Sua bênção e volte ao meu blog quando quiser.