LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
Fazemos estes esclarecimentos para que o demônio não engane
ninguém na confissão.
Primeiramente, a quantas pessoas devemos fazer conhecer os
nossos pecados? Resposta: Basta que
o digamos uma vez a um só confessor. E, como já tivemos ensejo de demonstrar,
temos obrigação de confessar somente os pecados mortais. Esta é a matéria
necessária. Por conseguinte, caríssimos, se o vosso pecado não é mortal, ou se,
quando o cometestes, não o considerastes como tal, não sois obrigado a
confessá-lo. Por exemplo: uma pessoa cometeu em sua infância uma ação
desonesta, ignorando então que isso fosse pecado mortal, não tendo mesmo a menor
dúvida a esse respeito; não é obrigada a confessar esse pecado.
Para desfazer outra possível tentação do demônio mudo para
afastar alguém da confissão, ou, para levá-la a fazer confissão nula e
sacrílega, vou formular mais alguns pretextos que o inimigo das almas costuma
apresentar:
Temo, dirá alguém, que o confessor me repreenda, quando
ouvir o meu pecado. Resposta: Isto,
caríssimo(a), é uma apreensão inteiramente sem fundamento. Repreender-te? Por
que? Isto é pura insinuação do demônio mudo, porque o ministro de Deus
coloca-se no confessionário, para aí ouvir, não a narração de êxtases e de
revelações, ou atestado de pretensas virtudes. O confessor, na verdade, se
senta no confessionário, esperando ouvir a acusação de pecados cometidos. E
caríssimos, o confessor não pode ter consolação maior do que quando uma alma
lhe descobre as suas misérias. Se pudésseis sem muita pena livrar da morte uma
rainha ferida pelos seus inimigos, que consolação não experimentaríeis
procurando a sua liberdade! Pois bem! é o que faz o confessor, quando uma
pessoa vai declarar-lhe o mal de que se tornou culpada: pela absolvição que lhe
dá, cura a sua alma ferida pelo pecado, e a livra da morte eterna. Os
sacerdotes zelosos têm alegrias que nenhum leigo poderá ter; mas estas alegrias
os confessores as levarão consigo para o túmulo. Nós padres, às vezes, parecemos
tristes, mas estamos sempre alegres e distribuindo alegrias espirituais.
Outra preocupação: O confessor, ao menos, escandalizar-se-á
e tomará para sempre horror de mim. Resposta:
Erro completo! Longe de se escandalizar com a vossa conduta, ficará edificado
por vos ver fazer a confissão sincera das vossas faltas, apesar da confusão que
experimentais. E, depois, pensais que o confessor não ouviu, confessando
outros, muitos pecados semelhantes aos vossos, e talvez mais graves? Oh! quem
dera que fôsseis só vós que tivésseis ofendido a Deus! Também não é verdade que
o confessor vos terá horror; ao contrário, mais vos estimará, e se aplicará de
boa vontade a ajudar-vos, comovido pela confiança que lhe testemunhastes,
descobrindo-lhe as vossas misérias. Eis o que se passou com um afortunado penitente de São Francisco de
Sales: Muito lutou consigo mesmo para fazer uma confissão geral dos numerosos
desvarios da sua mocidade. O bondoso S. Francisco de Sales, que ficara muito
comovido com o humilde arrependimento do
penitente, manifestou-lhe o seu contentamento e a sua alegria. "Quereis
consolar-me, padre, respondeu o penitente ainda todo confuso; pois, com
certeza, não podeis ter ainda estima por um miserável pecador como eu! - "Estais
muito enganado, replica logo São Francisco de Sales; eu seria um verdadeiro
fariseu, se, depois da absolvição, vos considerasse ainda pecador. A meus olhos
estais agora mais branco que a neve. Devo amar-vos duplamente: pela grande
confiança que me testemunhais, abrindo-me tão perfeitamente o vosso coração, e
porque vos tornastes meu filho em Jesus Cristo. De vaso de ignomínia, vejo-vos
transformado em vaso de glória; não é certo que a Nosso Senhor agradaram mais
as lágrimas do que desagradou a queda de São Pedro? Finalmente, eu teria muito
duro coração se não tomasse parte na alegria que experimentam os anjos.
Acreditai-me, acrescenta o Santo Bispo, as lágrimas que vi correr dos vossos
olhos fizeram em minha alma o que faz a água dos ferreiros, que mais depressa
abrasa do que extingue o fogo dos seus braseiros. Ó Deus! como eu vos amo deveras,
agora que o nosso coração ama a Deus!" Esse penitente retirou-se tão
satisfeito, que não sabia com que palavras exprimir a sua felicidade e o seu
reconhecimento. E não contendo dentro de si o oceano de felicidade, externou-o
a todos os que queriam ouvi-lo, contando tudo o que aconteceu com ele na
confissão feita com o bispo Francisco de Sales.
Outra tentação do demônio: Confessar-me-ei mais tarde. Resposta: Mas, neste caso, o que pode
acontecer é a pessoa ir acrescentando mais sacrilégios. E o sacrilégio é coisa
horrível!!! E assim, o remédio que Jesus Cristo vos preparou com seu sangue na
confissão, é convertido para vossa alma em um veneno mortal! É preciso também
pensar no seguinte: quantas mortes repentinas e imprevistas! E então, que será
daqueles que deixam a confissão para mais tarde, e são assim surpreendidos pela
morte? Que será destes tais para toda a eternidade?
Caríssimos, tomai, pois, coragem. O difícil é só até começar
a confissão. Desde que tiverdes começado a abrir o vosso coração, toadas as
apreensões se dissiparão, e ficai persuadidos de que , depois da confissão,
estareis mais contentes, por ter confessado as vossas faltas, do que um homem
do mundo que ficasse rei de toda terra. E ficai sabendo que, quanto maior for a
violência que tiverdes feito para vos vencerdes, maior será o amor com o qual
Deus vos abraçará.
Para terminar, quero contar um fato: O célebre orador Padre
Paulo Ségneri refere que uma mulher fez um tal esforço sobre si mesma, para
confessar certos pecados cometidos em sua infância, que desfaleceu. Em
recompensa deste ato generoso, Nosso Senhor lhe concedeu uma compunção tão
grande e um amor tão forte, que desde esse momento entregou-se à perfeição,
praticando austeras penitências. Morreu em odor de santidade. Amém!
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