LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
Em primeiro lugar, vamos ouvir a palavra do grande doutor da
Igreja, Santo Agostinho: "Que desgraça para vós! Pensais somente na
vergonha e não pensais que, se não confessardes, vos condenareis! Ó loucura!
não receastes fazer uma ferida mortal em vossa alma, e corais de lhe aplicar o
remédio que a pode curar".
O Sacrossanto Concílio de Trento diz: "Se o médico não
vê e não conhece bem a chaga, não pode curá-la". Caríssimos, que desgraça
para uma alma que se confessa, calar por vergonha qualquer pecado grave!
"O que devia reparar o mal causado por este pecado, torna-se um novo
triunfo para o demônio", exclama Santo Ambrósio.
Prestai atenção nesta comparação: Os soldados vitoriosos
fazem alarde das armas que tomaram ao inimigo; e assim que o demônio se gloria
das confissões sacrílegas, armas de que
despojou àqueles que podiam servir-se delas para o vencer. Realmente, como são
dignas de lástima estas almas, que mudam assim seu remédio em veneno!
Na parte superior: símbolo de uma alma no estado de graça após uma santa confissão. Na parte inferior do quadro: símbolo de uma alma dominada pelo demônio após confissão sacrílega. |
Dizei-me: se, por não ter confessado vosso pecado, devêsseis
ser mergulhado em uma caldeira de azeite a ferver, e que depois este pecado
devesse ser conhecido por todos os vossos parente e todos os vossos
concidadãos, ocultá-lo-eis? Seguramente que não, tanto mais quanto sabeis que,
depois de uma boa confissão, o vosso pecado ficaria escondido, e não teríeis de
vos sujeitar a esse horrível suplício. Ora, é muito certo que, se não
confessais o vosso pecado, ardereis no fogo do inferno durante toda a
eternidade, e, no dia do julgamento, esse pecado será conhecido, não só dos
vossos parentes e dos vossos concidadãos, mas de todos os homens: "Pois devemos todos comparecer ao
tribunal de Jesus Cristo" (2 Cor. V, 10). Se não confessais o mal que
fizestes, diz o Senhor, "manifestarei
vossas ignomínias a todas as nações" (Naum, III, 5).
Suponhamos: Cometestes o pecado mortal; se não o confessais,
sereis condenado. Por conseguinte, se vos quereis salvar, deveis confessá-lo um
dia; e, se deveis confessá-lo um dia, por que não agora? Quereis esperar que
chegue a morte, depois da qual não podereis mais confessá-lo! Ficai sabendo
que, quanto mais diferirdes a sua confissão, multiplicando com isto os
sacrilégios, tanto mais hão de aumentar em vós a vergonha e a obstinação, ou o
endurecimento do coração. Sabei, outrossim, que, se não confessais o vosso
pecado, nunca tereis repouso durante a vossa vida. Ah! que tormento experimenta
em si mesmo uma pessoa que sai do confessionário, sem ter declarado o seu
pecado" É uma víbora que traz continuamente em seu seio, e que não deixa
de lhe dilacerar o coração. Dupla desgraça: sofrerá um inferno nesta vida e na
outra! Coragem, pois, o pecador demasiadamente temeroso; se tivestes a desgraça
de não confessar algum pecado por vergonha, tomai a resolução de vos acusar
dele o mais depressa possível. Isto não é difícil; basta que digais ao
confessor: "Padre, tenho vergonha de confessar um pecado". Ou, então,
dizei: "Tenho inquietação de
consciência sobre minha vida passada". Será depois trabalho do confessor
arrancar o espinho que vos mortifica. Oh! que alegria quando tiverdes expulsado
do vosso coração aquela funesta víbora!
Para terminar esta postagem, quero contar um fato histórico:
Santa Ângela de Foligno, que também teve, em sua mocidade, a desgraça de
ocultar pecados em confissão. Desde muitos anos, o cuidado da sua reputação lhe
fechava a boca, quando uma noite, não podendo mais suportar-se a si mesma,
levantou-se, ajoelhou e, derramando lágrimas, invocou com fervor o socorro de
S. Francisco de Assis, em quem tinha tido sempre uma grande confiança. O santo
apareceu-lhe e lhe disse com suave compaixão: "Pobre filha, se me
tivésseis chamado mais cedo, desde muito tempo que eu teria vindo em teu
auxílio! Amanhã, ao amanhecer, sai de casa; o primeiro padre que encontrares,
será este que te envio para te confessar e te salvar". No dia seguinte, de
manhã, Ângela encontrou diante da sua casa um bom padre capuchinho que entrou
na igreja, para celebrar a missa. Ela seguiu-o; depois da missa, confessou-se
com grande arrependimento. Fez desde então tais progressos na virtude, que
chegou a uma santidade sublime e foi enriquecida do dom dos milagres. Tal foi sua humildade que fez questão de contar esta passagem de sua vida! Mas ela não tinha obrigação de contar. E realmente só no dia do juízo final, veremos quantas almas se salvaram, por terem rezado para conseguir esta graça de sair de uma vida de sacrilégios!
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